Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sem regras nem teoria: os tapetes feitos de paixão da coreógrafa Noa Eshkol https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/09/23/sem-regras-nem-teoria-os-tapetes-feitos-de-paixao-da-coreografa-noa-eshkol/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/09/23/sem-regras-nem-teoria-os-tapetes-feitos-de-paixao-da-coreografa-noa-eshkol/#respond Thu, 23 Sep 2021 10:59:28 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/noa_eshkol_01-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22484 Por Iara Biderman

Tapeçarias flutuam no salão sem forro e com vigas aparentes da Casa do Povo. Os tapetes foram criados coletivamente por integrantes do Chamber Dance Quartet, fundado por Noa Eshkol, coreógrafa nascida em 1924, em um kibutz na Palestina.

Noa Eshkol na Casa do Povo (Foto: Edouard Fraipont)

Costurados sobre lençóis ou mantas, os retalhos coloridos recolhidos nas ruas sugerem formas, padrões, simetrias inusitadas – como os movimentos de uma dança.

Noa Eshkol, Heavy Soil Fields, c. 1980, Cortesia da Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel, and Neugerriemschneider,
Berlin.© The Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel
(Foto: Jens Ziehe, Berlin)

São também uma não-dança. Começaram a ser criados em 1973, quando um dos dançarinos, o único homem do quarteto, foi convocado para a Guerra de Yom Kippur e Noa decidiu que o grupo não dançaria até ele voltar. Enquanto esperavam, ela e as outras integrantes do grupo juntavam os panos descartados e teciam.

Penélopes modernas, não desfaziam o trabalho do dia durante a noite, como a rainha grega à espera de Ulisses. Agiam quase intuitivamente, sem estratégia nem metas precisas, desprovidas de “explicação ou ideologia”, como afirma Eshkol em seu único texto sobre as obras têxteis.

Noa Eshkol, Insects in the Sun, 1990, Cortesia da Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel, and Neugerriemschneider,
Berlin.© The Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel
(Foto: Jens Ziehe, Berlin)

“[O trabalho] começou por um anseio totalmente pessoal de fazer alguma coisa, algo que não envolvesse uma decisão intelectual”, escreve a artista no texto intitulado “Sem regras, sem teorias – somente paixão”.

Se não havia regras racionais, o trabalho proposto pela coreógrafa era conduzido por algumas restrições: os tecidos não podiam ser comprados, só eram usados retalhos, trapos e roupas descartadas recolhidas de forma fortuita, que não podiam ser cortadas: as peças eram apenas descosturadas para serem aplicadas aos painéis.

“O material é ‘vulgar’, vernacular: tecidos encontrados no dia a dia, disponíveis em qualquer lugar em quase todas as culturas atuais, de forma que passam despercebidos a maior parte do tempo, quase como o ar que respiramos.”

Noa Eshkol, Sunsets, 1975, Cortesia da Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel, and Neugerriemschneider,
Berlin.© The Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel
(Foto: Jens Ziehe, Berlin)

Quase dançantes em suas composições abstratas, em suas formas tão orgânicas descosturadas de mangas, colarinhos e outras partes de roupas que redesenham as formas do corpo. Recompostas nas tapeçarias, lembram plantas, riachos, astros, aves, peixes. Ou seriam apenas gravatas desconstruídas?

A produção iniciada no tempo em suspensão do início da guerra de 1973 continuou mesmo depois da volta do soldado-bailarino e faz parte do acervo da Noa Eshkol Foundation, fundada por integrantes do quarteto de dança após a morte da coreógrafa, em 2007.

Noa Eshkol, Yellow Tree, 1998, Cortesia da Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel, and Neugerriemschneider,
Berlin.© The Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel
(Foto: Jens Ziehe, Berlin)

Sediada na casa onde Noa viveu, em Holon (Israel), a fundação também mantém todo o material sobre o sistema de notação do movimento, espécie de partituras ou guias gráficos de coreografias elaborado por Noa e o arquiteto Avraham Wachman na década de 1950.

Parte desse material também está na Casa do Povo, na exposição Corpo Coletivo, que integra a programação da 34ª Bienal de São Paulo, neste ano espalhada por espaços da cidade em uma rede de mostras paralelas de artistas participantes.

Noa Eshkol na Casa do Povo (Foto: Iara Biderman)

“Recebemos o convite da Bienal e a sugestão de realizar uma mostra com as obras de Noa. Pesquisamos seu trabalho, para ver o que tinha mais relação com a Casa do Povo. Há muita coisa, como o fato de ela trabalhar coletivamente, propor novas práticas pedagógicas. Além das tapeçarias com sobras de confecções: todo dia às 19h vemos sacos de retalhos nas ruas do Bom Retiro [onde fica o centro cultural]”, diz Marilia Loureiro, curadora da exposição.

Noa Eshkol
Musical Carpet – Fugue, 1978, Cortesia da Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel, and Neugerriemschneider,
Berlin.© The Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel
(Foto: Jens Ziehe, Berlin)

Há um processo para se chegar aos tapetes. É preciso subir um lance de escadas para entrar nos bastidores do trabalho de Noa. A primeira parada da exposição não mostra as obras tecidas, mas o ambiente no qual foram criadas. São cápsulas arquivísticas (método de organização usado pela Fundação Noa Eshkol) com fotos de encontros, viagens, Noa conversando em casa, quase sempre com um cigarro na mão – uma Pina Bausch no kibutz. E livros, catálogos, partituras de movimento desenhadas por crianças e filmes delas dançando passando em aparelhos antigos de TV.

Noa Eshkol na Bienal de SP (Foto: Iara Biderman)

Os documentos vindos de Israel conversam com outras cápsulas de arquivo, criadas na Casa do Povo: fotos e trabalhos das crianças da escola progressista que existiu no centro cultural do Bom Retiro, jantares comunitários, cartazes mimeografados sobre as atividades.

Noa Eshkol, Vase with White Apples, 1997, Cortesia da Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel, and Neugerriemschneider,
Berlin.© The Noa Eshkol Foundation for Movement Notation, Holon, Israel
(Foto:Jens Ziehe, Berlin)

“Procuramos as pontas onde o trabalho de Noa encontra o da Casa do Povo, criando um diálogo entre a história da artista e a da instituição. É memória viva: usar o passado como ferramenta do presente para pensar o futuro”, diz Loureiro.

Noa Eshkol na Bienal de São Paulo (Foto: Iara Biderman)

Mais um lance de escadas e o preto e branco dos documentos e fotos ganha outro sentido na explosão de cores das tapeçarias suspensas. Contraste e continuidade da dança minimalista e precisa do Chamber Dance Quartet, os tapetes são exuberantes, com formas que parecem brotar incontidas: o sol no lago e mil sóis se pondo, maçãs brancas transbordando de vasos, insetos, notas de uma música clássica numa partitura de retalhos.

No dia 15 de outubro, os tapetes se moverão, voarão do Bom Retiro ao Ibirapuera, para encontrar outras tapeçarias de Noa, expostas no pavilhão da Bienal. O movimento continua, agora numa conversa à distância entre as cápsulas de arquivo e as obras têxteis. A parte “acervo em diálogo” da exposição de Noa Eshkol fica na Casa do Povo e o conjunto de tapeçarias estará reunido na Bienal. As mostras nos dois espaços estão abertas à visitação até o dia 5 de dezembro.

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O artista mexicano Bosco Sodi e suas obras de terra com destino cósmico https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/09/17/o-artista-mexicano-bosco-sodi-e-suas-obras-de-terra-com-destino-cosmico/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/09/17/o-artista-mexicano-bosco-sodi-e-suas-obras-de-terra-com-destino-cosmico/#respond Fri, 17 Sep 2021 10:31:10 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/645170_df501e7a88ae440aa093d0b5f8fa9f5dmv2_d_4902_3268_s_4_2-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22442 “Esse tempo da dureza das pedras, esse litocronos, não pode se definir senão como o tempo ativo de um trabalho, um tempo que se dialetiza no esforço do trabalhador e na resistência da pedra; ele se manifesta como uma espécie de ritmo natural, de ritmo bem condicionado. E é por esse ritmo que o trabalho obtém ao mesmo tempo a sua eficácia objetiva e a sua tonicidade subjetiva.” Gaston Bachelard, A terra e os devaneios da vontade.

Bosco Sodi, 1970, o “homem da terra”. Mexicano, diagnosticado desde cedo com dislexia, mergulhou nas artes plásticas inspirado pela mãe para tentar driblar sua condição. Do pai engenheiro químico, veio a admiração pelos experimentos.

“Dislexia te dá um pouco mais de liberdade de pensar e entender o mundo em pequenos fragmentos, como haikais” disse ele em nossa conversa no último sábado, 11 de setembro, pelo telefone.

Conhecido por usar materiais naturais e crus e por se apropriar da intimidade das substâncias para criar pinturas e objetos em grande escala, sua obra carrega múltiplas camadas de tempo, nas quais o destaque está mais no processo do que no resultado A impermanência e os estados porosos de cada acontecimento são sua bússola. Aos 17 anos, com o livro Wabi sabi na cabeceira, iniciou sua busca na não-busca, na atração pela natureza e pela imperfeição, se deixando atravessar pelos acidentes e pelo acaso dos materiais e dos estados da matéria-duração, respeitando seus devires e suas derivas. Tudo é transitório, incompleto e imperfeito, a perfeição é impossível e a imperfeição é o estado natural de todas as coisas.

“Acredito muito na troca de energia entre os quadros e o material. Respeito a natureza e tento entender e intensificar essa troca constante.” Bosco

Quando se mudou para Barcelona em 2001, não tinha uma linguagem própria e era sempre atraído pela matéria e nem tanto pela cor. Ainda eram pinturas planas. A cor se separava da matéria. Alguns cafés com o artista catalão Antonie Tapies abriram seus caminhos para a junção das duas em suas explosões de texturas, sentimentos e percepções. “A matéria fala por si própria” dizia Tapies.

“Por que não juntar cor e matéria e incitar o estômago e as vibrações no corpo?” Questionava-se. E assim seguiu com seu mantra, acreditando que quando há um processo sólido, há tudo que é necessário para uma obra de arte. Nessa anarquia de texturas e materiais, o melhor exemplo é sua obra Pangea, de 2010, uma reflexão sobre este grande continente numa explosão de lava em um painel de 4×12 metros, criado para o museu do Bronx.

 

A influência do budismo aplicada em todas as suas obras, traz a não dualidade, a unicidade de cada fazer e se ausenta de toda e qualquer repetição possível. Sua obra é muito mais resultado de processos intensos do que de inspirações. Ele escolhe na maioria de seus trabalhos não dar título para não sugestionar o espectador. Definido por ele como um processo xamânico, sua busca vem muito da solidão e de atuar diretamente em cada etapa do processo.

Seu diálogo afinadíssimo com a essência da matéria-prima e seu espaço as preenche de memórias únicas. A qualidade de tempo na peça, o sol, a brisa, o vento…. isso dita o resultado e é a maior aliada de sua potência, com uma estética japonesa e expressionista. Seus quadros como paisagens inventadas/topografias. São pigmentos trazidos de diferentes partes do mundo e extraídos de infinitas pedras com as histórias de seus territórios.

Colecionador de pedras de todos os cantos – assim como eu – e sem limites para aumentar sua coleção, acredita que nós somos escolhidos por elas e na energia que pulsa em cada uma. E também nas marcas de história e de tempos que nelas se acumulam para a obra-vida.

Com diferentes casas espalhadas pelo mundo e pedras e mais pedras acumuladas, em sua terra natal, Oaxaca, Bosco mantém a fundação de arte filantrópica Casa Wabi, projetada por ninguém mais ninguém menos que o gênio do concreto, o arquiteto japonês Tadao Ando. Há três anos, abriu a Casa NaNo em Tóquio. Sua conexão com o mundo oriental é longa. E não só a dele. A conexão do Japão com o México também vem de longa data. No início do século XVII, lideranças do atual Japão enviaram o samurai Hasekura Tsunenaga para a Nova Espanha para ser uma espécie de diplomata nipônico no que hoje é o México. Bosco acredita que o silêncio da cultura japonesa com o ruído dos latino americanos fomentam uma relação. Contou-me que em uma de suas exposições no Japão, um monge budista foi como espectador e seu entendimento da obra foi uma das mais bonitas. “Acho que os orientais entendem mais minha obra do que nós, do Ocidente.”

Com um discurso de novos começos e de que tudo sempre há de recomeçar e renascer, sua obra-performance-instalação “Tabula Rasa” começou ao amanhecer na Washington Square Park, em Nova York, com a instalação de 439 esferas de argila em pequena escala, terminando mais tarde quando os passantes eram convidados a levar pra casa uma delas, como parte precisa da obra.

Estas esferas foram feitas à mão pelo artista, simbolizando um dia da duração da pandemia de Covid-19. Trazendo práticas agrícolas indígenas mexicanas para os Estados Unidos, são recipientes para uma nova vida, contendo dentro delas três tipos de sementes – milho, abóbora e feijão – que sustentam e nutrem umas às outras, fornecendo um sustento equilibrado. Metáfora potente para a necessidade de cooperação e assistência mútua, essas plantas simbióticas encorajam a reflexão sobre nossa própria interdependência e confiança mútua e, crucialmente, no mundo natural que habitamos.

 

Essa e todas as suas obras trazem à tona essa efemeridade dos materiais elementares, podendo ser lapidado pelo entorno, sempre. Água, ar, fogo e terra contêm em si a própria essência da vida. A escolha de Bosco pelo barro e por pigmentos naturais, numa relação integral entre arte e terra o mantém numa linha de pensamento do devir e de um destino cósmico.

 

 

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Um corpo apocalíptico – resistência, angústia e presença https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/05/06/um-corpo-apocaliptico-resistencia-angustia-e-presenca/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/05/06/um-corpo-apocaliptico-resistencia-angustia-e-presenca/#respond Thu, 06 May 2021 10:24:31 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/iGNANT_Photography_Clara_Giaminardi_12-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22231 “A reação catastrófica, que no homem se manifesta como angústia, não seria o fim, porém a condição para um novo começo”

– Peter Pal Pelbart, O Avesso do Niilismo, p. 41

Weronika Izdebska

Olhos vidrados. Corpos em combate. Escuridão. Pulsa. Pulsa no vazio, na dor, no não ver, não saber, não ser. Um outro estar, no escuro, na brutalidade de um hoje efêmero. Pulsa. Veias abertas em angustias, desejos, medos e aflições. Pulsa.

Helen Sobiralski

Um momento, um lugar, uma existência que agoniza sem chegar ao fim. A incapacidade de transitar em fluxos controlados. O esgotamento como o último suspiro. O desgarramento, o desmoronamento, o deslocamento radical das forças que sustentam o real.

Moritz Jekat

A vida esgotada visível e não apreendida é nosso campo de batalha. Esse é o afeto dominante de nossos tempos. É preciso voltar a dominar o hoje e o amanhã. Dominar nossos corpos e a matéria que nos habita por inteiro, neste presente dilatado. Sermos presença, com voz, força e unicidade, potência absoluta em ser e estar, nessa condição de existência ao chegar no limite de si mesmo, na beira do abismo e atravessá-lo. É a realidade que se esgota e se racha! As fissuras causam barulhos ensurdecedores e vazios. É possível o silêncio nos rachar os ouvidos?

Suzie Howell

O tolerável torna-se intolerável. Do esgotamento nasce o impossível. Do fim de tudo que conhecemos nasce o que ainda não sabemos, aquilo que ainda não temos palavras para descrever. A face da existência se rasga, as máscaras caem, vem à superfície o anômalo, o indizível. Onde estão as linhas de fuga para fazer fugir o estado de profundo esgotamento? Estamos à espera, observando cuidadosamente. Nosso objetivo é que os escombros da sensibilidade esgotada encontrem um novo modo micropolítico de afetar e ser afetado. É do esgotamento dos possíveis que brota o impossível.

Chrissie White

“Assistimos impotentes ao reaparecimento do pensamento apocalíptico, porque a ciência e a cultura da razão ainda não conseguiram encontrar uma mitologia que possa competir com o encanto do fim”. Ian McEwan, blues do fim dos tempos.

Melissa Schriek

O esgotamento pode ser a partida do ser dentro da própria existência. A angústia como resultado amargo de uma impossibilidade de reinvenção, exigindo do homem uma morte constante em um eterno devir.

Malin Bulow

“Trata-se de uma redistribuição dos afetos que redesenha a fronteira entre o que se deseja e o que não se tolera mais. Ora, não se poderia usar esse critério igualmente para diferenciar as formas de vida? Uma vida não poderia ser definida também pelo que deseja e pelo que recusa, pelo que a atrai e o que lhe repugna?”

– Peter Pal Pelbart, O Avesso do Niilismo, p. 412

Evelyn Bencicova

É preciso estar desperto para todos os processos de transmutações sensíveis que os momentos de crise propiciam, de recusa subjetiva e de afirmação ética, isto é, de criação de novos modos de existência. Esse contexto insinua uma metamorfose antropológica e exige do pensamento outro estilo de nomear os encontros da vida e no entendimento absoluto do que força o corpo, por dentro e por fora, a pulsar. O corpo produz significados, quer queiramos quer não. Ele quer pulsar, mesmo preso, confinado, isolado e deseja que o outro pulse junto, ainda que distante, em sístoles e diástoles coletivas. O corpo reage, rebelde, à pretensa autossuficiência que nossas mentes criam, quer transgredir os espaços aos quais o confinamos. O corpo quer criar, se mover, se expressar, estar na natureza, ser parte integrante dela, ser morada e ser oficina das nossas mentes. Nossos corpos são os nossos home offices e cada ser humano estará para sempre em quarentena consigo mesmo. Não há vacina para o desejo de um corpo pulsar com outro.

Melissa Schriek
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Cantos de um Livro Sagrado – uma conversa dos diretores com Cao Guimarães https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/04/23/cantos-de-um-livro-sagrado-uma-conversa-dos-diretores-com-cao-guimaraes/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/04/23/cantos-de-um-livro-sagrado-uma-conversa-dos-diretores-com-cao-guimaraes/#respond Fri, 23 Apr 2021 12:20:59 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/entretempos-cantos-2-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22205 Este Entretempos é um pouco diferente. Eu e Cesar Gananian estamos lançando nosso novo filme, dirigido, produzido e sentido na Armênia. “Cantos de um Livro Sagrado” terá sua pré-estreia online amanhã, 24/04, dia que marca os 106 anos do início do genocídio armênio perpetrado pelo governo otomano em 1915, crime ainda negado pela República da Turquia. Conversamos com o cineasta e artista plástico Cao Guimarães sobre suas impressões sobre o filme, ele no Uruguai e nós em São Paulo.

conversa dos diretores Cassiana Der Haroutiounian e Cesar Guimarães pelo zoom com o cineasta e artista plástico Cao Guimarães

Com a chamada “Revolução de Veludo” ocorrida na República da Armênia em 2018 como cenário, o filme recria em 5 cantos – Microcosmos, Eu, Casa, Sociedade e Macrocosmos – a sinergia que gera as revoluções.

Cassi: Quero só ver como vou publicar esse papo, Cao.

Cao: Publica como se fosse uma conversa, Cassiana

Cassi: Boa, Cao. Ótima ideia.

Cao: Eu acho que é um filme cheio de camadas e narrativas. Achei tão bonita essas relações entre o microcosmos e o macrocosmos em coisas ordinárias da vida: coisas, a princípio, “banais” e as grandes coisas da vida. Pequenas revoluções cotidianas e grandes revoluções sociais.

Vocês tiveram que se distanciar de vocês mesmos para fazer esse trabalho. Queria que vocês falassem um pouco mais sobre isso. Achei bonita a forma como vocês estruturaram os 5 cantos: Microcosmos, Eu, Casa, Sociedade e Macrocosmos. No primeiro, existe a fábula maravilhosa e achei lindo esse começo. A guerra, a paz. As gerações mais velhas e as mais novas caladas para não machucar os sonhos dos pais, a utopia comunista.

Cesar:  A Cassi chegou em julho de 2018 com essa ideia depois de todos os acontecimentos na Armênia e com a imagem de uma pedra sendo cortada. Programamos uma viagem para o país em outubro e eu falei “A gente precisa elaborar isso. Não vamos chegar lá e filmar. Vamos conhecer, saber o que aconteceu, nos estruturarmos e programar as filmagens para depois. O roteiro nasceu em São Paulo, depois dessa viagem, e decidimos que todo o filme seria em armênio.”

Cassi: Conhecemos um roteirista por lá e a fábula do primeiro canto partiu de um conto dele, já antigo. E juntos fomos chegando no embrião dessa sequência. Ele sempre disse que é um conto sobre a decadência moral do país pós-soviético. A culpa nessa sociedade cristã ortodoxa sempre acontece. O que você definiu sobre o primeiro capítulo é maravilhoso!

Cao: É a frustração de uma geração mais velha por não ter dado certo uma viagem utópica. Depois entra esse capítulo ‘Eu’, do individualismo, que é o oposto do comunismo. Queria saber de vocês por que na hora do ‘Eu’ tem a imagem da pedra e das ruínas?

Cesar: Esse é um dos capítulos que demoramos para chegar. A ideia era ser uma abertura poética na qual cada espectador construísse a sua metáfora. A criação e a destruição. Existe um provérbio armênio de que quando Deus construiu o mundo, as pedras que sobraram na Sua peneira ele jogou naquela região e assim surgiu a Armênia.

Cassi: O país é inteiro rodeado por montanhas. Em todos os cantos existem essas fábricas que transformam esse macrocosmos ‘montanha’ virar esse pedaço de pedra que se torna uma construção do país. E claro, existe também a relação com o Sisifo. A Armênia carrega fardos milenares e essa coisa geracional está muito ligada a Armênia. ‘Ancestralidade’ é uma palavra muito forte no país. Nós, como imigrantes, carregamos essa história. Os armênios sempre estão na questão de sobrevivência: o genocídio em 1915, o terremoto em 1988, a Guerra de Nagorno-Karabakh contra o Azerbaijão.

Cao: Qual a população armênia no país?

Cesar: Mais ou menos 3 milhões. Mais 10 milhões espalhados pelo mundo.

Cao: Nossa. É quase o Uruguai. E vocês são dois desses 10 milhões. Bom, agora voltando para o filme, eu queria que vocês falassem um pouco sobre o capítulo ‘Casa’. Os móveis, elas vazias, um mood comunista… Achei interessante o discurso sobre aquelas lugares vazios, tanto de Nikol Pashinyan, o revolucionário,quanto de Serj Sargsyan, que renunciou. Existe outra camada que são os três senhores jogando gamão e discutindo a revolução. Existe essa coisa das mãos no filme e é muito simbólica, né?! Eu gostei muito das pequenas nuances no filme. Me falem um pouco sobre esse pano de fundo dos cientistas no último capitulo ‘Macrocosmo’ e dessa troca de cartas entre os dois.

Cesar: Mergulhamos nas teorias do cosmólogo Mario Novello para criar esse diálogo por trocas de cartas, para trazer a criação do início do universo por meio da energia da transformação.

Cassi: Depois de uma pesquisa sobre observatórios no país, achamos este de Byurakan, que foi o segundo maior da União Soviética. Tinha essa decadência ali vivida por esse casal, em um país que se desintegrava.

Cao: Tem essa coisa do sonho dele, do início do mundo. Algo que nasce dentro dela e você começa a relacionar com a revolução. Parece que ela está grávida de uma nova utopia, de uma nova possibilidade social.

Cassi: Buscamos fazer um filme que permitisse o espectador entrar em um transe. Esse filme é mesmo um filme para ver em grupo, num ato ritualístico.

Cao: O ‘Eu’ em armênio é ‘tu’, né?! Você lê ‘tu’, se tentamos ler o alfabeto armênio com o referencial que temos. Totalmente paradoxal. Nossa, eu passei o inverno aqui no Uruguai, no meio da pandemia, escutando duduk (instrumento armênio).

Cassi: E você saiu vivo Cao? Parabéns!

Cao: Graças ao duduk. Gosto de acentuar a melancolia da coisa.

Cassi: A Armênia é melancólica. Existe uma dor em todas as camadas do povo e do país.

Cao: Então é a perfeição para vocês. Ter essa bagagem melancólica morando do Brasil.

O carnaval no filme, com as manifestações e o os desfiles juntos… aquelas imagens das pessoas em transe é maravilhosa. Eu gostei da evolução do ‘eu’, para ‘casa’ e para ‘sociedade’ e lembrei muito do filósofo francês Georges Perec e seu livro “Species of Space”, que vai do micro para o macro, do travesseiro até o cosmos. No filme, achei muito interessante essas interrelações que vocês constroem entre microcosmos e macrocosmos. Esses três fundamentos sociológicos, três instituições que vocês propõem, são maravilhosos. Fiquei muito intrigado com a pedra e fiquei viajando como se o indivíduo, que simboliza muito essa ideia do liberalismo e do capitalismo, oposto ao comunismo que a Armênia viveu por anos, já em ruínas. Como se acabasse o sonho utópico comunista e entrássemos em um mundo capitalista se destruindo. Claramente, o filme é interessante por isso. Tem um tanto de informações e o filme se faz diferente para cada espectador. Os brasileiros dançando com aquelas máscaras, aqueles rostos, as emoções, é super bonito relacionar como se fosse o ponto de fusão de um átomo. Pensando na ideia do micro com o macro, é como se fosse explodir, na ideia da revolução. Da força que existe na sociedade, na possibilidade de união, cisão, fusão e explosão.

Obrigada, Cao querido! <3

Para adquirir seu ingresso, acesse este link.

Nos vemos na sessão!

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Infinitude movente – uma coleção de nuvens na arte contemporânea para refletir sobre o tempo https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/03/25/infinitude-movente-uma-colecao-de-nuvens-na-arte-contemporanea-para-refletir-sobre-o-tempo/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/03/25/infinitude-movente-uma-colecao-de-nuvens-na-arte-contemporanea-para-refletir-sobre-o-tempo/#respond Thu, 25 Mar 2021 19:26:17 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/nuvens-11-Vik_Muniz_1-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22067 “Vamos sonhar com o efêmero, e demoremo-nos um pouco mais na formosa tolice das coisas.” Kakuzo Okakura

Leandro Erlich

Sempre estive desperta a pequenos rituais diários que permitissem a porosidade das coisas, a tempos suspensos, vividos segundo por segundo em seus micro acontecimentos, respeitando os brilhos, as sombras, os aromas e todas as mutações que o tempo carrega. Talvez, desde o início da pandemia há um ano, cada mini ritual tenha mais importância a cada dia que passa entre o ontem e o amanhã. Octavio Paz define: “instante privilegiado da corrente temporal, ungido com uma luz especial. Nesse aqui e nesse agora algo principia. O tempo cronológico sofre uma transformação decisiva: cessa de fluir, deixa de ser sucessão instante que vem depois e antes outros idênticos e se converte em começo de outra coisa.” Observar os ciclos que se formam ao nosso redor e deixar que nos atravessem em forma de imagem, palavra ou de um profundo suspiro. 

Fabian Burgy

“O presente é a infinitude movente, a esfera legítima do relativo… O taoísmo aceita o mundano conforme é e, diferentemente dos confucianos e dos burgueses, tenta encontrar beleza em nosso mundo de angústia e inquietude. ” Kakuzo Okakura

Glenda León

Há duas semanas participei do Curso-Experiência “Chanoyu – a essência da arte do chá com a Erika Kobayashi na plataforma Momonoki. Dois sábados de tempos suspensos com um apanhado de conceitos importantes da cultura japonesa que se expressam através da cerimônia do chá, passando por aspectos históricos, filosóficos e estéticos refletidos pelo olhar contemporâneo de Erika, que começou a estudar a cerimônia do chá em 2011. Mestre em Sociologia pela Sorbonne, ela faz parte do “World Tea Gathering, grupo de artistas que compartilham a essência da cerimônia do chá no mundo contemporâneo, tendo feito performances em diversas capitais desse mundo. Eu precisaria de anos para entender todas as sutilezas e nuances que permeiam o universo do chá, mas essas duas aulas já foram um bálsamo para o meu ser-sensível abrir-se à porosidade dos pequenos acontecimentos. 

Olafur Eliasson

“A utilidade de um jarro de água está no vazio onde a água pode ser posta, não na forma do jarro ou no material de que ele é feito. O vácuo é todo poderoso porque tudo contém. Só no vácuo o movimento se torna possível. Aquele que fizer de si mesmo um vácuo, no qual outros possam entrar livremente, se tornará dono de todas as situações. O todo sempre domina a parte.” Kakuzo Okakura

Ian Fisher

Habitar a morada do vazio que abriga um impulso poético, leva ao vácuo que tudo contém, criando rituais que atravessem a poeira do mundo que chamamos de cotidiano. A sala do chá é como um refúgio para o viajante, da mesma forma que o corpo é um refúgio viajante para a alma. Kazuo Ohno, o maior nome do butô, diz para não termos receio do nada, da pausa, do silêncio, pois o espaço vazio é um espaço cheio e é nele que precisamos submergir.

Araki Nobuyoshi
Vik Muniz

“O aposento do chá era um oásis no monótono deserto da existência, um lugar onde viajantes exaustos podiam se encontrar para beber dessa fonte comunitária que é a apreciação da arte.” Kakuzo Okakura

Cailtin r.c. Brown & Wayne Garrett

Com isso tudo voltei ao meu “O livro do chá”, de Kakuzo Okakura, para pensar esses conceitos japoneses e relacionar com a arte. “Mas são conectados?’ vocês podem se perguntar.  Na minha forma de enxergar arte, sim. Cada artista cria seus pequenos rituais para se conectar ao processo criativo. Cada espectador também, para aguçar o sensorial, abrir canais e penetrar no significado de cada obra ou simplesmente observá-la por horas. O caminho que uma obra percorre até cada um de nós é único e reverbera de acordo com o nosso repertório. Apesar de se propor uma experiência coletiva, quando se está no presencial.

Benjamin Lozninger

Diante dessa experiência e desses devaneios, decidi fazer uma seleção de imagens de nuvens de diferentes artistas para ilustrar o tempo: algum tempo, nosso tempo ou a ausência dele. Talvez seja um convite para visitar o avesso de todas as coisas e a imensidão íntima das pequenas coisas. Estar presente no aqui-agora e a apropriação do devir.

Daniel Arsham
Rinko Kawauchi
Tomas Saraceno
Berdnaut Smilde
Candice Japiassu
Kohei Nawa
Cassiana Der Haroutiounian
Calen Knauf
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O outro lado – um devaneio sobre a montanha na arte contemporânea https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/03/12/o-outro-lado-um-devaneio-sobre-a-montanha-na-arte-contemporanea/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/03/12/o-outro-lado-um-devaneio-sobre-a-montanha-na-arte-contemporanea/#respond Fri, 12 Mar 2021 11:21:57 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/tacita-dean-2-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22017 “Estou sempre pensando

que lá por detrás dele

acontecem outras coisas que

o morro está tapando de mim

e que eu nunca hei de

poder ver”

Guimarães Rosa.

Yuji Hamada

Na última segunda-feira assisti ao filme “La Cordillera de los Sueños“do cineasta chileno Patricio Guzmán. Inspirada por ele e por todas as montanhas que venho colecionando há anos, senti vontade e necessidade de agrupá-las aqui, durante esses tempos sombrios que pedem, ao mesmo tempo, quietude e ação e nos obrigam a estar presentes, com a necessidade de viver o hoje e acreditando no amanhã. Para mim, ela, a montanha, é o símbolo maior de presença, quietude e solitude. No hexagrama 52 do I Ching – o livro das mutações – da filosofia chinesa, diz: “os pensamentos negativos devem ser mantidos em silêncio”. Talvez. Ou não. Somos inundados de pensamentos negativos que mantêm os positivos numa névoa permanente. E a montanha segue em seus pequenos acontecimentos, imperceptíveis a olho nu. Cicatrizes, fissuras, sangue, poeira e terra são as consequências. 

Liu Guo Song

Segundo Guzmán, estar rodeado por montanhas – no caso, a Cordilheira dos Andes – é estar cercado de uma beleza integral, trágica e maravilhosa, carregada de força e ternura. “E tem o odor das rochas, o aroma do vento”, define um dos entrevistados.  Cada montanha é um baú que contém as leis políticas mais importantes de um território, de um povo. Tudo acontece dentro delas, mantendo a sensação de um grande container de rochas e memórias. Um labirinto de tempos, esperas, conflitos e sonhos em uma rocha. Em suas tonalidades, texturas, formas e linhas. 

Robert Smithson

“Existe uma alma dentro da alma. Procure-a. Há um tesouro em sua montanha. Procure-o. Um místico movimento, se é isso que você é, não procure por aí; procure dentro.” Rumi

Kimihiko Okada

Nessa muralha de pedras, pensar a cordilheira como um mar que nos converte em ilhas, tendo a montanha como testemunha. São pedaços de histórias em pequenos fragmentos do Universo em cada traço dessa potência da natureza. 

Noémie Goudal

É muito mais um devaneio do que qualquer outra coisa… Propor uma imersão em montanhas de diferentes lugares, junto de uma imersão sensorial sobre o ser e estar agora. Com este governo. Com uma pandemia. Com tantos adiamentos e frustrações.

Laura Hendricks

“Estuários freqüentes
Desviam nossas velas.
E de que lado, onde
Uma visão mais bela
Se o único prazer
É ter o mar, o vento
E naufrágios além
E descobertas
E permanências veladas…
Muita ausência…
Em que montanha azul a nossa meta?”

Hilda Hilst

Emilio Ambas

Se para mim existe algo que pode se comunicar bem é a conexão entre a montanha e a arte. Em uma relação de estar desperto, de proporcionar o sonho do outro lado e os atravessamentos que elas causam em cada um de nós. Na contemplação da beleza e do estado de atenção que provocam e exigem. 

Chloe Deve Mathews

“Mas o sonhador de mundo não olha o mundo como um objeto, precisa apenas do olhar penetrante. É o sujeito que contempla. Parece então que o mundo contemplado percorre uma escala de clareza quando a consciência de ver é consciência de ver grande e consciência de ver belo. A beleza trabalha o sensível. A beleza é a um tempo relevo do mundo contemplado e elevação na dignidade de ver. […] No mundo da palavra, quando o poeta abandona a linguagem significativa pela linguagem poética, a estetização do psiquismo se torna o signo psicológico dominante. O devaneio que quer exprimir-se torna-se devaneio poético. É nessa linha que Novalis pôde dizer claramente que a liberação do sensível em uma estética filosófica se fazia conforme a escala: música, pintura, poesia. ” Gaston Bachelard

Cassiana Der Haroutiounian

Cuidem-se. Nutram-se de coisas bonitas. Cultivem um olhar para o amanhã e para o outro. Tudo depende de nossas montanhas internas.

Axel Hutte
Patricia Kaersenhout
Cristina Ataíde
Marcelo Moscheta
Veronica Ungureanu
Olafur Eliasson
Alice Aycock
Nishant Shukla

 

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Dança da terra, dança dos mártires – Ensaio Palavra-Imagem com Maria Saakyan e Tamar M. Boyadjian https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/02/21/danca-da-terra-danca-dos-martires-ensaio-palavra-imagem-com-maria-saakyan-e-tamar-m-boyadjian/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/02/21/danca-da-terra-danca-dos-martires-ensaio-palavra-imagem-com-maria-saakyan-e-tamar-m-boyadjian/#respond Sun, 21 Feb 2021 10:47:10 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/images-w1400-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=21944 Para esta edição do Ensaio Palavra-Imagem juntei, mais uma vez, duas armênias: uma da Rússia, outra do Líbano. Ambas artistas: Tamar M. Boyadjian da palavra, Maria Saakyan da imagem.

Tamar M. Boyadjian, expert em poesia concreta em armênio ocidental (com forte influência da poesia concreta brasileira), publicou o livro de poesia concreta e experimental “ինչ որ է ան է – it is what it is” em Yerevan, Armênia, traduzido para outras línguas, além de ter outro livro a ser lançado este ano. Sua poesia foi apresentada e incluída em uma série de revistas literárias, de tradução e antologias criativas ao redor do mundo. Ela faz parte ainda da organização internacional de tradutores armênios e dá aulas de Literatura na Michigan State University.

Saakyan (1980-2018), cineasta, fez sua estreia com The Lighthouse ‘Mayak’ (disponível no mubi) o primeiro longa armênio dirigido por uma mulher em 2006. Retrata os devaneios de uma jovem (basicamente um autorretrato) em um vilarejo remoto na Armênia durante uma guerra. 

Tamar, inspirada pelas imagens de Saakyan criou uma poesia concreta como como uma dança, melódica e ritmada entre perdas, ancestralidades, sonhos e sinestesias.

Dedico este ensaio a Maria, que tive o prazer de conhecer de forma linda e de fotografá-la para o meu projeto “I am the mountain”, em 2014, quando morei na Armênia. Tive também a chance de me despedir dela na abertura da exposição quando soube de sua doença em uma ligação que tivemos e ela me pediu seu retrato para deixar para as filhas. E assim foi. 

E um agradecimento especialíssimo ao querido historiador Heitor Loureiro e a artista  Tatiana Boudakian por transformarem a poesia de Tamar em vídeo.

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Um ponto de princípio e de fim para surgir a manhã de um novo ano https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2020/12/31/um-ponto-de-principio-e-de-fim-para-surgir-a-manha-de-um-novo-ano/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2020/12/31/um-ponto-de-principio-e-de-fim-para-surgir-a-manha-de-um-novo-ano/#respond Thu, 31 Dec 2020 12:49:12 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/carbon12-olaf-breuning-smoke-bombs-2-2011-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=21876 Hoje não é dia de Ensaio Palavra-Imagem, mas decidi escolher esses poemas do Carlos Drummond de Andrade acompanhados de imagens com muita luz, cor e beleza para fechar o ano do entretempos. Não foi um ano fácil, não mesmo. Que 2020 termine de um jeito doce e potente. Afinal, são potências fabulosas que nos fazem seguir dia após dia, na esperança de finais que sugiram grandes (re)começos. Que venha 2021! Estou ansiosa pelo que ele nos reserva!
Ryan McGinley
Alwin Lay
Passagem do ano
 O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
E coral,
Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
Uma mulher e seu pé,
Um corpo e sua memória,
Um olho e seu brilho,
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus…
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
O recurso da bola colorida,
O recurso de Kant e da poesia,
Todos eles… e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
Lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
Olaf Breuning
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Samantha Fields
Samantha Fields

O ano passado

O ano passado não passou,

continua incessantemente.

Em vão marco novos encontros.

Todos são encontros passados.

As ruas, sempre do ano passado,

e as pessoas, também as mesmas,

com iguais gestos e falas.

O céu tem exatamente

sabidos tons de amanhecer,

de sol pleno, de descambar

como no repetidíssimo ano passado.

Embora sepultos, os mortos do ano passado

sepultam-se todos os dias.

Escuto os medos, conto as libélulas,

mastigo o pão do ano passado.

E será sempre assim daqui por diante.

Não consigo evacuar

o ano passado.

Ryan McGinley
Samantha Fields
Olaf Breuning, Smoke Bombs
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Um pensar pedra: Mono-ha – o movimento de arte criado em Tokyo nos anos 60 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2020/12/17/um-pensar-pedra-mono-ha-o-movimento-de-arte-criado-em-tokyo-nos-anos-60/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2020/12/17/um-pensar-pedra-mono-ha-o-movimento-de-arte-criado-em-tokyo-nos-anos-60/#respond Thu, 17 Dec 2020 11:00:12 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/lee-ufan-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=21833 pensar pedra

apesar de tudo

e rochas e rochedos e picos e topos

e lajes e seixos e declives e escarpas

e torsões e sobras e erosão

restos de pedra domesticada em ruas

mesas lápides chãos quem escultura

lamentos de poeira

urros vulcânicos

pedra

Lee Ufan

“O que estou procurando é [gerar] uma experiência através da sua percepção e evocar algo diferente do que vemos no mundo normalmente – algo original, poético e transcendental”. Lee Ufan, artista sul-coreano radicado no Japão.

Representar a essência dos materiais, pensando em elevar suas potências absolutas em instalações únicas e efêmeras, sem nunca se repetir completamente é parte do manifesto do movimento artístico Mono-ha -もの派 – (traduzido literalmente como “escola das coisas”), surgido já como contemporâneo em Tóquio no fim dos anos 1960.

Lee Ufan

A pedra é um dos elementos mais importantes de todo o movimento. Ela é a mãe de tudo e permite ao homem a sociedade industrial. Uma massa que data o tempo geológico da terra. Também o aço, feito a partir dos elementos minerais retirados da pedra.

“Quando criança, eu me deitava entre as pedras da margem quando estava cansado de nadar no rio, eu e as pedras nos tornávamos um com o céu.” Lee Ufan

Kishio Suga, na galeria Mendes Wood

O movimento japonês Mono-ha, usando muitas vezes materiais orgânicos e industriais, foi inicialmente formado por Lee Ufan, que tinha acabado de se graduar em filosofia, e escreveu sobre a escultura Phase – Mother Earth (1968) de Nobuo Sekine. Os integrantes do movimento compartilhavam interesses como rejeitar a arte representacional e se esforçavam para alcançar expressões autênticas da essência dos materiais além das qualidades superficiais. Outros artistas japoneses foram agregados ao movimento, sendo muitos frequentadores da Tama Art University, em Tóquio. Além de Ufan, muitos deles eram escritores ávidos, utilizando a teoria estética para contrariar as suposições do minimalismo ocidental.

Phase Mother Earth, 1968, Nobuo Sekine

pedra armadura para vento

praia
deserto com mar
deserto

praia sem mar

água faz diferença
pedra seca dura
árida ríspida rígida
olhar seco estanca
lágrimas
saudade de umidade
noite
copo que engole luz
sombra deságua
noite esparrama tentáculos
desperta inacabados
portas e janelas de casa
cerrada
serrada

este é um olhar que desarma

Phase of Nothingness, 1969, Nobuo Sekine

Os artistas Mono-ha imaginaram a arte como um projeto experiencial, enfatizando a fisicalidade ao invés da opticidade. A obra de Mono-ha desobjetificou essencialmente o material e descentrou o homem como sujeito da arte. Talvez um dos percalços mais comuns dos escritores contemporâneos seja identificar o Mono-ha como um movimento derivado da arte minimalista convencional. Enquanto os artistas japoneses eram frequentemente mostrados ao lado de seus contemporâneos ocidentais em contextos internacionais, Mono-ha era decididamente não-humanista e abordava o material e a pureza das formas de maneiras muito diferentes dos artistas na Europa e na América.

Kishio Suga

O movimento, de curta duração,  questiona o antropocentrismo e ultrapassou os limites entre o observador, o objeto e o local e, consequentemente, entre o homem e a natureza. Ele propõe reconsiderar a relação entre a natureza e a humanidade olhando para ambas e se preocupa com o processo de revelar sempre em termos concretos essa diferença de sensibilidade, como cada um de nós pensa sobre essas coisas, com as séries de coisas e fenômenos inexplicáveis que existem no espaço que habitamos.

Kishio Suga

e céu e céu e céu o seu eco

para onde o topo de pedra aponta
céu toalha de mesa
palco da dramaturgia
rasurada pelo vento
vento assopra ares
água de nuvem
escorre por dentro
nuvem em fresta de pedras
vapores emanam de pedras
pedras agitam os nervos
brumas de manhã
brumas da manhã
às alturas
torpor leve estende
do chão para o alto
espreguiçando vento sem fôlego
céu grande
tela translúcida de sessão contínua
cinema a céu aberto
ar e fogo e vento e lava
e pedra eleva seu peso
à potência de porção de eternidade
poção da eternidade

este é um olhar que assombra

 

Lee Ufan

Eles acreditavam que o artista não cria, mas adiciona um gesto as obras, modificando algumas partes, apresentando as coisas como elas são, numa tentativa de minar essa modernidade e a ideia de mostrar o mundo como ele é. Eles se interessaram pela relação entre o homem e o material, sem ênfase na autoria. Essa rejeição por parte dos artistas Mono-ha também envolveu a rejeição do crescente mercado de arte moderna, como pode ser encontrado nas composições lúdicas, performáticas e muitas vezes acidentais, questionando profundamente o modernismo ocidental e suas motivações humanistas.

Nobuo Sekine

“A arte não deve envolver-se com o universo do homem, mas com a essência do verdadeiro universo que inclui o homem.” Lee Ufan

Lee Ufan

Uma crítica que Ufan faz a arte moderna é de que ela é ocular e perde a relação com o mundo externo. Uma arte que começa e termina no olho sem passar pelo mental. A ideia dessas obras Mono-há é uma conversa entre a sociedade moderna e a natureza, na intensificação da propriedade de cada coisa, numa relação de alteridade em que o artista constrói. As coisas não são fixas, o mundo não é estável. Tudo está o tempo todo em um constante devir.

 

*todos os poemas acima, são do livro “A pesar, a pedra” de Edith Derdyk.

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Paisagens reinventadas e oníricas – a fotografia da dupla Inka e Niclas https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2020/11/19/paisagens-reinventadas-e-oniricas-a-fotografia-da-dupla-inka-e-niclas/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2020/11/19/paisagens-reinventadas-e-oniricas-a-fotografia-da-dupla-inka-e-niclas/#respond Thu, 19 Nov 2020 10:45:22 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/4KultraHD_I-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=21735 “Mesmo que tentemos nos preparar o máximo possível com antecedência, geralmente acabamos ficando sem tempo, sem luz e precisamos trabalhar muito intensamente na cena. Quando terminamos, nos encontramos, frequentemente, sozinhos nessa paisagem totalmente escura. Nossos filhos se acostumaram a estar nessa floresta escura como breu e montanhas ventosas. Então é bom voltar ao trailer e encontrar algo para comer e algumas cervejas geladas”

Becoming Wilderness V

Um pequeno resumo de como é a vida da dupla de fotógrafos suecos, Inka e Niclas Lindergard, que vivem e trabalham em Estocolmo – quando não estão imersos em paisagens inóspitas pelo mundo atrás de imagens incrivelmente lindas. A história dos dois como casal e como dupla de profissionais começou quase ao mesmo tempo. Juntos há 15 anos, eles se conheceram no curso de fotografia e decidiram, no final da temporada, viajar para a cabana de uma amiga em um cafezal na Tanzânia, com 300 rolos de filme na mala e muitas ideias não concretas de qual projeto poderiam realizar juntos, sendo que cada um já tinha sua forma de fotografar.

The Belt of Venus and the Shadow of the Earth IV

As fotografias de Inkas e Niclas têm como ponto de partida representações genéricas e comuns de paisagens e fenômenos naturais, investigando como as fotografias formam nossas expectativas da natureza e das paisagens e sobre o que constitui os poderosos efeitos psicológicos destes diferentes fenômenos, que mobiliza pessoas ao redor do mundo para apreender por um segundo o inalcançável.

A partir dessa viagem para a cabana, o pensar e observar a paisagem, os eventos mágicos e exuberantes da natureza e o tempo de cada coisa estão latentes em suas obras. Em 3 meses de muitas provas, decidiram ir a um safari e observar os turistas quase sempre vestidos iguais, com as mesmas expectativas e a câmera/celular disparando sem parar na espera “do grande fenômeno”. Assim surgiu o projeto “watching humans watching”.

Watching Humans Watching VIII

“Muitas vezes, esperávamos as pessoas nesses lugares e pensávamos no que as levavas a irem para esses lugares, na expectativa de acontecer alguma coisa espetacular, longe do palpável, observando a natureza.”  Vendo o momento de exposição como fundamental, muitas vezes pensam a fotografia como instalações temporárias e am ações feitas exclusivamente para a câmera. Desde sempre se questionam o que esse fluxo incessante de imagens de paisagens nos provoca e o que acontece durante o ato de tirar uma fotografia, numa intersecção entre a realidade de uma foto e a realidade física.

SAGA XI

Eles, que viajam com seu motorhome há uns sete anos, podem experimentar a paisagem ao redor de uma maneira muito mais intensa e profunda, resultando em fotografias de paisagens reinventadas, que transitam entre o real e o imaginário – e sempre ouvindo música. Segundo eles, a paisagem quase sempre está ligada a uma trilha sonora.

Family Portraits XIII

Na série “Family portraits”, a dupla e seus dois filhos, em autorretratos com flash, se colocam em paisagem exuberantes com casacos refletores e se tornam parte dela, anônimos, como um objeto de luz no horizonte. Uma reflexão sobre a representação e consumo excessivo de grandes cenários, mas também sobre o momento mágico da exposição.

Family Portraits VI

De tanto exercitarem a observação de cada ação da natureza, sem pressa, respeitando o microcosmos e o macrocosmos, eles sabem com precisão o que estão buscando e têm propriedade sobre a nuvem por exemplo – o filho mais velho deles já sabe o que cada um deles espera de uma imagem. Permanecem atentos até o clique perfeito: “agora mesmo estou sentindo muita saudade de sentar numa pedra e ficar observando a natureza”, refletiu Inka, saudosa.

Becoming Wilderness VI

Ao invés de chegarem com uma surpresa ao local escolhido, fazem uma pesquisa detalhada no google e nas hashtags do instagram, referentes ao lugar. Não para saturar o próprio olhar, mas para se apropriarem de todos os ângulos e checarem as condições climáticas do lugar, já que o tempo é um fator bem importante para a imagem que decidem fazer.

Luminous Matter I

Assim como todos nós, nas diferenças marcantes deste ano de 2020, os planos deles têm sido postergados. Sem poder viajar ou planejar qualquer coisa, a quarentena os deixou mais introspectivos e experimentando paisagens do lado de fora de casa. O trabalho atual são flores típicas suecas que remetem às infâncias de ambos e em paisagens impressas como esculturas em tecidos ou pedras. Em janeiro de 2021, depois de tantos adiamentos, eles têm agendadas três vernissages: duas em Berlim e uma em Malmo, na Suécia. Se elas acontecerão, só o amanhã poderá nos dizer.

Sunset Photography IV

A potência fabulosa entre os dois é perceptível na conversa fácil e na troca de olhares durante nosso papo que se prolonga para paisagens exuberantes, mágicas, oníricas e inventadas, com mares rosa, céus de purpurina, e profundos pontos de luz em paisagens espalhadas pelo mundo. Em tempos sombrios, incertos e adiados, são especialmente necessárias.

Becoming Wilderness IX

 

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