Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Fotógrafo da Magnum registra 7 homens que dizem ser a reencarnação de Jesus https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/03/14/fotografo-da-magnum-registra-7-homens-que-dizem-ser-a-reencarnacao-de-jesus/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/03/14/fotografo-da-magnum-registra-7-homens-que-dizem-ser-a-reencarnacao-de-jesus/#respond Wed, 14 Mar 2018 23:21:08 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/maxresdefault-320x213.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19994

“The Last Testament”, de Jonas Bendiksen, foi o vencedor do prêmio Pictures of the Year na categoria de melhor fotolivro de 2017. Publicado em setembro pela Aperture junto à GOST, a obra do norueguês conta a história de sete homens que dizem ser a segunda reencarnação de Jesus Cristo.

Enquanto esteve com eles, o fotógrafo contou em entrevistas que se esforçou para acreditar em tudo o que diziam. Assim entenderia por que a história do retorno do Messias sempre se manteve tão poderosa. Embora exista esse discurso de respeito, a visão retratada no trabalho muitas vezes é cética e escorrega para o sarcasmo.

Isso fica mais evidente quando Bendiksen registra a rotina de Inri Cristo, figura popular no imaginário brasileiro. Como se veste com o mesmo visual de Jesus, com uma coroa de espinhos, e é acompanhado por Inricretes, Inri exala comicidade.

Para ser justo com o norueguês, a maneira como fotografar não é ácida. São as histórias que, por si só, provocam o riso –ainda mais para quem é cético.

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‘Halo’, novo fotolivro de Rinko Kawauchi, é mais do mesmo, mas agradará fãs da japonesa; assista https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/11/06/halo-novo-fotolivro-de-rinko-kawauchi-e-mais-do-mesmo-mas-agradara-fas-da-japonesa-assista/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/11/06/halo-novo-fotolivro-de-rinko-kawauchi-e-mais-do-mesmo-mas-agradara-fas-da-japonesa-assista/#respond Mon, 06 Nov 2017 12:00:02 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/Captura-de-Tela-2017-11-06-às-10.02-180x101.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19759

Quem costuma acessar o Entretempos sabe que o interesse principal do blog é a discussão em torno dos fotolivros. Como o tempo anda curto para os pequenos textos da seção Haikai, resolvi fazer as críticas por meio de vídeos. Assim é possível ver as obras comentadas com mais detalhes.

Escolhi o título mais recente da japonesa Rinko Kawauchi para começar. O fotolivro se chama “Halo” e foi lançado pela Aperture, editora americana que já publicou outros trabalhos dela. Rinko ficou bem conhecida no começo dos anos 2000 ao lançar três livros ao mesmo tempo. A obra mais recente não difere muito de outras que ela já produziu. Traz a luz eclipsar, a ode à natureza e transformação de tudo que é pequeno no cotidiano em algo majestoso, com ar monumental.

Quem é fã da fotógrafa ficará satisfeito com mais esse livro. É como aquelas bandas que gravam sempre o mesmo disco, e sempre com muita qualidade. Não chega perto da força de outras obras da japonesa, como “Illuminance” e “Ametutsi”, mas é um livro coerente dentro de sua carreira.

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‘ZZYZX’, de Gregory Halpern, é eleito livro do ano na 5ª edição do prêmio da Aperture e Paris Photo https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/11/11/zzyzx-de-gregory-halpern-e-eleito-livro-do-ano-na-5-edicao-do-premio-da-aperture-e-paris-photo/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/11/11/zzyzx-de-gregory-halpern-e-eleito-livro-do-ano-na-5-edicao-do-premio-da-aperture-e-paris-photo/#respond Fri, 11 Nov 2016 14:47:57 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/zzyzx4-180x110.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19022 Em sua quinta edição, o Photobook Awards, prêmio promovido pela fundação Aperture junto à feira Paris Photo, elegeu “ZZYZX”, do norte-americano Gregory Halpern, como o melhor fotolivro de 2016. Na obra, o fotógrafo parte de um deserto a leste de Los Angeles e faz uma jornada para o oeste, terminando no Pacífico. Durante a trajetória, Halpern retrata pessoas, paisagens e objetos que encontra pelo caminho, evocando a tradição americana na fotografia e na literatura.

“Os ritmos da visão de Halpern encontram expressão aparentemente sem esforço, ainda que a sequência de imagens seja claramente consciente”, diz David Campany, que participou do júri deste ano. “O livro é sincero e honesto sem ser sentimental. Uma obra para rever muitas vezes.” Além do trabalho de Halpern, lançado pela editora britânica Mack, o fotolivro “An Other View of the Berlin Wall”, de Annett Gröschner e Arwed Messmer, recebeu menção honrosa do júri.

Na categoria destinada aos fotolivros de estreia, o vencedor foi o fotojornalista da lendária agência Magnum Michael Christopher Brown com “Libyan Sugar”. Brown é conhecido por ter sido um dos fotógrafos retratados na série de minidocumentários “Witness”, da HBO, ao lado de nomes como Véronique de Viguerie e Eros Hoagland. Com o prêmio, o autor do fotolivro sobre os episódios trágicos durante a guerra civil na Líbia em 2011 receberá 10 mil euros. A lista de vencedores é anunciada durante a realização da feira Paris Photo, que ocorre até o dia 13. Em 2015, o evento foi encurtado devido aos atentados terroristas do Estado Islâmico na capital francesa.

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Melhores fotolivros de 2015: Claudio Silvano https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/01/06/melhores-fotolivros-de-2015-claudio-silvano/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/01/06/melhores-fotolivros-de-2015-claudio-silvano/#respond Wed, 06 Jan 2016 11:43:20 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/01/500-1-180x135.jpeg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16995 Feliz ano novo! Antes de começar 2016 para valer, ainda temos uma última lista de melhores fotolivros do ano passado. Quem mostra seus eleitos é o fotógrafo brasileiro Claudio Silvano.

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JH Engström – ‘Tout Va Bien’ (Aperture)

Em uma entrevista recente, o sueco JH Engström afirma que “acredita na poesia”. Essa afirmação é bem evidente nas páginas de seu último livro: cada imagem é como um pequeno poema autobiográfico. “Tout Va Bien” é o seu 15º livro e, como em outros trabalhos, mistura diferentes tipos de formatos, fotos em preto e branco com imagens em cores e diversos sujeitos. Não existe uma narrativa bem definida, as imagens estão soltas em uma linha temporal imersa em memórias.

André Penteado – ‘Cabanagem’ (Editora Madalena)

“Cabanagem” é sem dúvidas um dos trabalhos mais ricos e inovadores da fotografia brasileira. E, sendo o primeiro capítulo de uma série, me deixa bastante ansioso pelos próximos projetos.

Alec Soth – ‘Songbook’ (MACK)

Mesmo tendo uma boa sequência e impressão, sem boas fotografias um fotolivro é apenas um objeto. Alec Soth continua explorando a vida nos EUA e criando imagens incríveis. Aqui ele reedita as fotos do seu projeto autopublicado “LBM Dispatch”, espécie de pequeno jornal para o qual viajava fotografando pelo país na companhia do escritor Brad Zellar. Usando um flash superpotente, Soth captura todos os detalhes de pequenas cenas das cidadezinhas que ele visitou.

Paul Kooiker – ‘Nude Animal Cigar’ (Art Paper Editions)

Fiquei hipnotizado quando folheei “Nude Animal Cigar”. Como o título explica, o livro é uma compilação de fotografias de charutos, animais e pessoas nuas. Parecem fotografias encontradas em mercados de pulgas, mas todas foram feitas pelo fotógrafo durante vários anos. O tema pode soar bobo e vazio, mas seu mérito está exatamente na nossa reação ao livro. A cada virada de página você explora um pouco mais desse mundo não linear da obra de Kooiker.

Dana Lixenberg – ‘Imperial Courts 1993-2015’ (Roma Publications)

Imperial Courts” é um monumental trabalho de mais de 20 anos que a fotógrafa Dana Lixenberg fez em uma região da cidade de Los Angeles. O livro é composto de retratos dos vizinhos, amigos e familiares intercalados com paisagens dessa comunidade. É um trabalho complexo sobre a passagem do tempo e a vida dessas pessoas.

Mike Mandel – ‘Good 70s’ (J&L Books)

Fotografia e humor são coisas difíceis de misturar, e muitas vezes o resultado acaba sendo mais constrangedor do que engraçado. Poucas pessoas conseguiram sucesso nessa combinação. Uma delas é Mike Mandel. “Good 70s” é uma caixa com diversos trabalhos do artista, principalmente a coleção completa dos míticos cartões de baseball que criou no começo dos anos 1970. Cada um deles mostra um grande fotógrafo –entre eles Larry Sultan, Ed Ruscha e William Eggleston– posando como jogador de baseball e com sua descrição no verso.

Ron Jude – ‘Lago’ (MACK)

Ron Jude explora sua infância nesse livro que é uma aula de construção de narrativa. Gosto do jeito sutil e eficaz que consegue transmitir uma ideia abstrata utilizando objetos e paisagens.

Mark Steinmetz – ‘The Players’ (Nazraeli)

O fotógrafo Mark Steinmetz continua fazendo bons livros um após o outro. Dessa vez o trabalho é um conjunto de fotos de adolescentes e crianças em pequenos campos de baseball entre 1987 e 1990. Sempre me impressiona a atmosfera poética que ele consegue criar ao capturar a luz natural.

Boris Mikhailov – ‘Diary’ (Walther Konig)

Drama e comédia são elementos definidores da obra de Mikhailov. Esse livro mostra quase 50 anos de momentos capturados por ele, organizados sem cronologia definida e em forma de diário. Às vezes é difícil olhar para algumas de suas imagens, mas a gente sabe que as coisas difíceis também fazem parte das nossas vidas. No final aceitamos isso e continuamos seguindo em frente.

Sohrab Hura – ‘Life is Elsewhere’ (autopublicado)

Quando um projeto é bastante pessoal, ele corre o risco de não conseguir transmitir a essência de sua ideia e, no final, a obra se torna bastante egocêntrica. No caso do emocionante “Life is Elsewhere”, do indiano Sohrab Hura, a ideia é transmitida de forma doce e carinhosa. No livro ele registra o dia a dia de sua mãe, que foi diagnosticada com esquizofrenia e paranoia. Ao mesmo tempo que sua mãe começa a esquecer as lembranças, o fotógrafo usa imagens e textos para guardar para sempre as suas próprias memórias.

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Daniel Mayrit e Thomas Mailaender vencem o Photobook Awards de 2015 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/daniel-mayrit-e-thomas-mailaender-vencem-o-photobook-awards-de-2015/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/daniel-mayrit-e-thomas-mailaender-vencem-o-photobook-awards-de-2015/#respond Fri, 13 Nov 2015 22:05:07 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16448 Photobook Awards – A feira Paris Photo e a fundação Aperture anunciaram nesta sexta (13) os vencedores da edição 2015 do Photobook Awards, a mais importante premiação para fotolivros no mundo. Na categoria para livros de estreia, o ganhador foi o espanhol Daniel Mayrit, que receberá 10 mil euros por “You Haven’t Seen Their Faces”, obra publicada pela editora Riot Books. Com retratos das “100 pessoas mais influentes de Londres”, editados com a estética de câmeras de segurança, Mayrit constrói uma resposta aos panfletos entregues pela polícia local após os protestos na cidade em 2011, quando imagens de vigilância de “desordeiros” foram distribuídas como se os acusados já fossem considerados culpados. “Nós não podemos saber se os jovens retratados pela polícia são mesmo criminosos, da mesma forma que não podemos assumir que esses indivíduos aqui destacados estão todos envolvidos em escândalos financeiros… mas eles não estão?”, pergunta o espanhol. Já o escolhido como fotolivro do ano é “Illustrated People” (RVB Books), de Thomas Mailaender, no qual o alemão aplica negativos escolhidos no Arquivo do Conflito Moderno no corpo de 23 modelos. Depois, os expôs a lâmpadas de UV, revelando as imagens na pele. Ainda foram anunciados o prêmio para catálogo do ano —“Images of Conviction: The Construction of Visual Evidence”, de Diane Dufour and Xavier Barral— e a menção especial do júri para “Deadline”, de Will Steacy. Para saber mais clique aqui.

Constelações – Neste sábado (14), às 12h, os curadores Eder Chiodetto e Fabiana Bruno promovem bate-papo na Zipper galeria (rua Estados Unidos, 1494, tel. 11-4306-4306) sobre a exposição “Constelações, Intermitências e Alguns Rumores”, em cartaz até o próximo dia 21. A mostra reúne a produção de sete artistas visuais: Ana Lucia Mariz, Carolina Krieger, Natasha Gamne, Elaine Pessoa, Marcelo Costa e Marilde Stropp. Para saber mais clique aqui.

León – Também neste sábado (14), o Masp (av. Paulista, 1578, tel. 11- 3251-5644) realizará, das 11h às 13h, palestra sobre o artista León Ferrari, cuja obra é tema de exposição em cartaz no museu. A conferência, ministrada por Virgínia Gil Araujo, doutora em história e crítica de arte pela ECA (Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo), analisará a produção do argentino presente na coleção do Masp, destacando as obras vinculadas ao período em que se exilou na capital paulista. Os interessados devem retirar a senha no dia, a partir das 9h. Para saber mais é só clicar aqui.

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Mesmo na era digital, fotografia ainda é válida para tratar do real, diz crítico https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/27/mesmo-na-era-digital-fotografia-ainda-e-valida-para-tratar-do-real-diz-critico/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/27/mesmo-na-era-digital-fotografia-ainda-e-valida-para-tratar-do-real-diz-critico/#respond Mon, 27 Jul 2015 13:17:27 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=14711 O texto abaixo foi publicado na “Ilustrada” por Francisco Quinteiro Pires.

David Levi Strauss é um otimista. Embora corra o risco de ser chamado de arcaico, o crítico americano defende uma antiga crença sobre a fotografia em seu livro “Words Not Spent Today Buy Smaller Images Tomorrow”. Para ele, as imagens permanecem na era digital como instrumento de evidência e conscientização sobre a realidade.

Na obra, coleção de “ensaios sobre o presente e o futuro da fotografia”, Strauss analisa o poder político de fotos documentais e artísticas no momento em que a pós-fotografia propõe novo entendimento sobre o uso da imagem.

O ensaísta britânico John Berger elogiou os escritos de Strauss, professor da School of Visual Arts, em Nova York, e um dos críticos de fotografia mais prestigiados dos EUA, por priorizarem “o que tem sido esquecido, o que é sistematicamente censurado e o que nós precisamos lembrar amanhã”.

Nos ensaios, o norte-americano alerta para os efeitos de uma produção crescente e uma distribuição mais ampla em plataformas como Flickr, Snapchat, Instagram, Facebook e WhatsApp. Segundo o Yahoo, 880 bilhões de fotos foram produzidas em 2014.

“Massacre de My Lai”, obra fotográfica do americano John Wood, realizada em 1969

“Podemos produzir, guardar, manipular e selecionar fotografias com uma rapidez inédita, mas não conseguimos decifrá-las. Esse é um processo que exige mais tempo do que aquele imposto pela economia de mercado”, diz ele.

“Nós examinamos as imagens com menos frequência e menos cuidado”. De acordo com o crítico, uma observação descuidada leva à perda de autonomia política. “As fotografias perdem significado e viram informação, um elemento que precisa ser apenas administrado.” Ao contrário da escritora Susan Sontag e dos críticos pós-modernos, Strauss considera as fotografias uma oportunidade legítima para lidar com o mundo real e o aparente.

“Muitos têm tratado o ponto de vista dos pós-modernos como uma verdade inquestionável. Mas com o 11/9, que abalou as teorias persistentes sobre os significados das imagens, o nosso pensamento pôde tomar um rumo novo.”

ESCOLHA HUMANA

“Mais uma vez reconhecemos e confrontamos a nossa atração irracional e persistente pelas fotografias, capazes de ser um termômetro confiável das aspirações que orientam um sistema político e social.”

Ao argumentar a favor dessa opinião, Strauss analisa os trabalhos de artistas (Chris Marker, Frederick Sommer, Carolee Schneemann, Jenny Holzer, Larry Clark), de fotojornalistas (Susan Meiselas, Kevin Carter, James Natchwey) e de fotógrafos de rua (Helen Levitt, Daido Moriyama).

Haveria entre eles um elemento comum: “O testemunho de um escolha humana sendo realizada em uma certa circunstância”. Tal noção, diz Strauss, “é o que faz o exame das fotografias importante para qualquer discussão sobre a liberdade humana”. Leia abaixo trechos da entrevista de Strauss à Folha.


O fotojornalismo tem sido criticado sobre seu suposto esgotamento como retrato de realidades desoladoras. Concorda?

Não. A percepção inicial da [crítica de arte] Susan Sontag era de que, à medida que o número de imagens se ampliasse, a influência delas diminuiria.
E isso aconteceria sobretudo com as fotografias de conflitos e sofrimento. A nossa capacidade de reação seria menor diante de uma produção crescente. Sontag mudou esse ponto de vista em seu último livro [“Diante da Dor dos Outros”, 2003, Companhia das Letras] e eu concordo com essa mudança. Os fotojornalistas ainda são capazes de ser influentes, como é o caso de James Nachtwey. A fotografia tem experimentado mudanças tecnológicas fundamentais, mas não se alterou a necessidade básica por imagens icônicas.

Ícone é uma palavra com viés sagrado e doutrinador. As imagens icônicas não seriam ameaças a visões mais democráticas das experiências humanas?

A capacidade de responder ou de pelo menos acompanhar essas transformações vai depender da nossa vontade de encontrar novas maneiras de analisar e compreender o fluxo incessante de imagens. Por ser tão grande, o volume de fotos sendo armazenadas prevaleceu sobre o poder do indivíduo para resgatá-las e usufruí-las.

Quais são os efeitos da produção e do armazenamento crescentes de fotografias em câmeras e smartphones?

Nós podemos tirar, guardar, manipular e selecionar as imagens com uma rapidez inédita, mas não conseguimos mais decifrá-las. Observamos as fotografias com menos frequência e menos cuidado. As fotografias perdem significado e viram informação, um elemento que precisa ser apenas administrado. Nós precisamos desacelerar a nossa relação com as fotografias, mesmo sabendo que o ciclo mercadológico só reduz a sua duração.

Em seu livro, o senhor constata que os seus alunos tratam como verdade inquestionável a opinião de que fotos podem banalizar o sofrimento. Como é possível discutir o papel da fotografia em um cenário de descrença e cinismo?

Percebi que os alunos, quando querem escrever sobre arte, têm dificuldade de observar obras sem a influência prévia de uma teoria. A interpretação vem antes da percepção. Muitos tratam o ponto de vista dos pós-modernos como uma verdade inquestionável, e não uma resposta que pode ser prematura ou ultrapassada. Mas com o 11 de Setembro, que abalou as teorias persistentes sobre os efeitos e os significados das imagens, o nosso pensamento pôde tomar um rumo novo. Mais uma vez reconhecemos e confrontamos a nossa atração irracional e persistente pelas imagens, capazes de ser um termômetro confiável das aspirações que orientam um sistema político e social.

WORDS NOT SPENT TODAY
BUY SMALLER IMAGES TOMORROW

AUTOR David Levi Strauss
EDITORA Aperture
QUANTO US$ 19 (192 págs.)

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‘Playground’, de James Mollison https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/05/06/playground-de-james-mollison/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/05/06/playground-de-james-mollison/#respond Wed, 06 May 2015 18:56:18 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=13622 Depois de quase um mês de férias de uma das metades do blog, esperamos retornar ao ritmo normal das postagens no Entretempos. Vamos nessa?

‘Playground’, de James Mollison (Aperture) – Ao fechar o novo livro do britânico James Mollison, a única coisa que veio à minha cabeça foi: “Como é ótimo folhear uma edição bem feita”. “Playground” não é uma daquelas publicações com design ousado e traquinagens, mas explicita bem
o que pode ser feito para que um fotolivro não seja chato nem uma sequência interminável de imagens. Assim como fez em “Where Children Sleep”, Mollison volta ao tema da infância e retrata áreas de lazer em escolas para crianças em todo o mundo. Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, Quênia –onde o fotógrafo nasceu–, Nepal, Jordânia e Butão são alguns dos locais registrados, sempre de uma perspectiva pré-definida, calculada, pensada. Além do rigor técnico, muito da beleza do livro está na inacreditável “sorte”
de Mollison para captar momentos fantásticos. Numa mesma cena é possível encontrar micro histórias –garotos brigando, um menino isolado pensando na vida, meninas cantando–, o que torna o livro uma espécie de “Onde Está o Wally?”. A quantidade de situações em cada foto é tão assustadora que, talvez, as imagens sejam o resultado da colagem de inúmeros registros feitos de um mesmo lugar. Por meio de um tema muito pop, você conhece questões sociais, políticas, geográficas e, ao fim, o fotógrafo ainda conta histórias de cada lugar. É maravilhoso. No canto de cada página, uma ilustração destaca uma das crianças da fotografia e aí sim o livro se torna um jogo de esconde-esconde. Sobre os aspectos técnicos da obra, “Playground” tem ótima encadernação, que garante a abertura total das páginas sem esforço, e um tamanho que possibilita perceber todos os detalhes das imagens. Não era para ser uma publicação pequeninita muito menos um trambolhão. Em uma época em que fotografar crianças virou quase um sinônimo de pedofilia, imagine só todo o trabalho de produção que Mollison teve para conseguir acesso a todas essas escolas. Um trabalho que merece reconhecimento e atenção.

Avaliação: ótimo 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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Paris Photo e Aperture anunciam ganhadores do Photobook Awards https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/11/14/paris-photo-e-aperture-anunciam-ganhadores-do-photobook-awards/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/11/14/paris-photo-e-aperture-anunciam-ganhadores-do-photobook-awards/#respond Fri, 14 Nov 2014 13:44:02 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=11387 A feira de arte Paris Photo e a fundação americana Aperture anunciaram na manhã desta sexta-feira (14) os vencedores do Photobook Awards 2014.

A categoria de melhor fotolivro do ano –vencido em 2013 pela brasileira Rosângela Rennó– ficou com o alemão Oliver Sieber pela obra “Imaginary Club”. A publicação mistura retratos de punks, góticos, skinheads e mods
na Europa, EUA e Japão com cenas de ruas e portas de shows. Para a revista “American Photo”, “o livro combina a tradição tipológica de retratos coloridos da escola de Düsseldorf [onde o fotógrafo nasceu] com o preto e branco fora de foco no estilo de artistas japoneses como Daido Moriyama.

Junto ao trabalho de Sieber, houve também uma menção honrosa na mesma categoria ao fotolivro “Photographs for Documents”, de Vytautas V. Stanionis. São fotografias de identificação de lituanos em 1946, quando
os cidadãos deste país foram obrigados a obter documentos soviéticos.
Impresso pelo filho do fotógrafo, que possui o mesmo nome do pai, a obra não tem detalhes ou nomes dos retratados. Consiste em rostos estáticos em fundo branco, quase uma alegoria à perda de identidade no pós-guerra.

Na seleção mais legal do prêmio, dedicada a publicações de estreia, o vencedor foi o italiano Nicoló Degiorgis por “Hidden Islam”. O bonito livro revela locais escondidos no nordeste da Itália onde muçulmanos se reúnem para rezar. O curador Sebastian Hau, membro do júri, diz que a
obra “condensa anos de pesquisa e interação com a comunidade muçulmana”.
“É um livro sincero que tenta estabelecer pontes entre as condições locais
na Itália e um contexto mais amplo na Europa. É também um exemplo do conceito de produção de fotolivros independentes nos dias de hoje.”

Com um interessante jogo de esconde-esconde, Degiorgis combinou imagens em preto e branco das fachadas dos espaços com um design que explora a abertura das páginas, em que fotografias coloridas revelam o interior dos locais de oração. O italiano levou 10 mil euros pela vitória. Por fim, O Paris Photo também divulgou o vencedor da nova categoria criada nesta edição: o prêmio de melhor catálogo ficou com “Christopher Williams: The production Line of Happiness”. Além dos ganhadores, é possível conferir trabalhos que foram finalistas do Photobook Awards. Há obras que não foram premiadas, mas podem render horas de deleite visual.

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MIS abre inscrições para programa dedicado a novos fotógrafos de SP https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/01/mis-abre-inscricoes-para-programa-dedicado-a-novos-fotografos-de-sp/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/01/mis-abre-inscricoes-para-programa-dedicado-a-novos-fotografos-de-sp/#respond Tue, 02 Sep 2014 01:59:44 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=9925 Nova de novo – Até 14/10, o MIS receberá inscrições para a edição 2015 do programa Nova Fotografia. Voltado para artistas pouco conhecidos, a convocatória oferece uma mostra individual no espaço batizado como “Nicho”, no térreo do museu. Desde 2011, o MIS seleciona seis projetos fotográficos –e três suplentes– para serem expostos durante 45 dias cada um. Poderão participar apenas fotógrafos residentes no Estado de São Paulo, cujo trabalho nunca foi exposto no Brasil nem no exterior. O regulamento completo e a ficha de inscrição você encontra em mis-sp.org.br.

Oscar – Já as inscrições para o Paris Photo–Aperture Foundation PhotoBook Awards vão até o próximo dia 12. Um dos prêmios mais importantes para publicações de fotografia ocorre em paralelo à feira homônima realizada na capital francesa e foi vencido em 2014 por uma brasileira –Rosângela Rennó com a obra impronunciável “A01 [COD.19.1.1.43] — A27 [S | COD.23]” na categoria de melhor livro do ano– e pelo espanhol Óscar Monzón com “Karma”, que ganhou como melhor fotolivro de estreia. Nesta edição, a novidade é a inclusão de uma terceira categoria, para catálogos. Clique aqui para saber mais.

Globo de Ouro – Se o Paris Photo só acontece em novembro, o Dummy Award, prêmio dedicado a maquetes de fotolivros, já anunciou seus vencedores. Um júri formado por fotógrafos como Cristina De Middel, Todd Hido e Carlos Spottorno, deu o prêmio maior para “Island on My Mind”, de Irina Rozovsky. O segundo e o terceiro lugar ficaram para o trio Mafalda Rakos, Iuna Vieira, Raphael Reichl, pela obra “3rd Generation”, e para “Scrap Book”, de Hajime Kimura. O fotógrafo e amigo Fabio Messias fez o favor de conseguir o link com as imagens da publicação vencedora (confesso que eu não sei muito bem o que achar do trabalho). É só clicar aqui.

Métodos – A 10ª edição do Seminário Arte, Cultura e Fotografia – imagens: práticas e metodologias do MAC USP acontece no auditório da nova sede do museu, ao lado do Parque do Ibirapuera, entre os dias 15 e 19/9. Além de pesquisadores de universidades de Portugal, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo, o evento trará conferências da antropóloga Lilia Schwarcz e do historiador Charles Monteiro, além de depoimentos das artistas Dora Longo Bahia e Sandra Gamarra. Com coordenação do curador Tadeu Chiarelli, a programação tem como foco métodos e estratégias para a imagem no campo da pesquisa acadêmica. Para saber mais é só clicar aqui.

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‘The Photographer’s Playbook’ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/07/12/haikai-the-photographers-playbook/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/07/12/haikai-the-photographers-playbook/#respond Sat, 12 Jul 2014 13:36:47 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=9521

‘The Photographer’s Playbook’, organizado por Jason Fulford e Gregory Halpern (aperture) – Pode não ser o melhor, mas o livro de fotografia mais divertido de 2014 até agora é uma publicação de textos. Organizado por Jason Fulford e Gregory Halpern, “The Photographer’s Playbook” reúne 307 exercícios, ideias e lições de fotografia. A lista de “professores” é invejável: Philip-Lorca diCorcia (um banho moral), Nadav Kander (a diferença entre uma paisagem e uma foto de viagem), Alec Soth (uma boa foto sobrevive sem textos), Larry Sultan (óbvio e básico, mas sempre importante: “pegue um livro e leia”), Gerry Badger (como fotografar o invisível) e muitos outros mais. Não se trata de dicas técnicas, mas reflexões sobre como fotografar. Um ou outro exercício é mediano –natural em uma coleção de 307 nomes–, só que para cada página ruim, há outras 20 maravilhosas. Espero que o livro seja traduzido para muitas línguas, porque é de extrema importância: recomendado para professores e estudantes.

Avaliação: ótimo 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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