Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 ‘A Cosac foi muito mal administrada’, afirma diretora de arte Elaine Ramos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/a-cosac-foi-muito-mal-administrada-afirma-diretora-de-arte-elaine-ramos/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/a-cosac-foi-muito-mal-administrada-afirma-diretora-de-arte-elaine-ramos/#respond Tue, 01 Dec 2015 19:46:20 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2015/12/25_Fotolivros_-180x120.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16646 Com o fim da Cosac Naify, anunciado nesta segunda (30/11), criou-se uma “clareira” no mercado. A opinião é de Elaine Ramos, 41, diretora de arte da editora, na qual trabalha há 15 anos. “É uma série de perfis de livros que não tem ninguém publicando aqui. É trágico.” Referência para títulos de design, fotografia e arquitetura, a Cosac fechará após quase 20 anos de existência.

Embora a editora tenha passado por um grande corte de 30% em sua folha de pagamento, em maio, Charles Cosac, fundador da casa, não atribui o encerramento das atividades a razões financeiras. A diretora de arte vai na mesma linha, mas afirma que a Cosac foi “muito mal administrada”. “É uma editora fruto do desejo de apenas uma pessoa, alguém que não tem como objetivo primeiro ganhar dinheiro. Acho que o objetivo do Charles era que a editora se pagasse, mas isso deu margem para muita má administração.”

Procurado pela Folha por e-mail e telefone, ele não foi localizado para comentar o caso. Confira abaixo a íntegra da entrevista com Elaine Ramos.

O que significa o fim da Cosac Naify para o mercado editorial?

O fim da editora abre uma clareira no mercado. É uma série de perfis de livros que não tem ninguém, além da Cosac, publicando aqui. Livros de arquitetura, história da arte, de fotografia, de teoria da fotografia, design… Isso é bastante trágico. Agora, eu acho também que é uma experiência que abriu caminhos. Hoje existem muitas editoras novas que têm um cuidado com o design, um cuidado que não existia há dez anos. Isso tem a ver com a Cosac.

Qual é a razão para ser a única que publica livros desse tipo aqui?

Acho legal falar que não vejo a Cosac como um fracasso financeiro. Não acho que seja. Acompanhei os números da editora ao longo de anos, sei exatamente o que vende de cada livro. O perfil da Cosac seria viável com concessões, não exatamente do jeito que era, mas com concessões pequenas do ponto de vista cultural da editora. A Cosac foi muito mal administrada. O fim da editora é como se esse perfil fosse inviável, e eu não acho que seja. Só acho que é um perfil que tem de estar aliado a um projeto cultural. Se o único objetivo é o de ganhar dinheiro, aí não é uma possibilidade. Teria sido viável dentro de uma equação de se pagar e de intervenção cultural, o que o Charles sempre quis.

Pode exemplificar que concessões seriam essas?

É difícil dizer. A Cosac possui um modelo que claramente é lucrativo para a editora, que é o de livros de domínio público com boas traduções e um bom design. Esse era um carro-chefe em termos de lucratividade, que conseguiria equilibrar alguns títulos que apenas se pagam. Acho que os livros de arte só são viáveis com patrocínio, eles não têm um mercado que pague a matriz, que pague o processo industrial envolvido em um livro no Brasil. Difícil elencar exatamente as concessões, porque elas são sutilezas. O Charles sempre foi uma pessoa muito generosa, e a Cosac sempre foi um lugar que abraçou e acomodou os projetos de muitas pessoas. Isso deu para a editora um espectro muito amplo de atuação, mas que é difícil de manter. E a editora tinha, até hoje, compromissos assumidos por pessoas que trabalharam lá há dez anos.
A Cosac sempre teve como perspectiva um dono cujo objetivo não era ganhar dinheiro, um dono às vezes presente, às vezes ausente, mas dentro de uma generosidade. Isso gerou desde pessoas que roubaram até aqueles que, na melhor das intenções, depositaram ali seus projetos. A soma de tantos trabalhos ao longo dos anos deixou a Cosac numa estrutura muito pesada.

Você está dizendo “roubar” no sentido literal?

Isso é um episódio insignificante, de um menino do site que desviou livros.

Entrevistando pessoas da editora, esse episódio é comentado ora como boato ora como verdadeiro. Qual foi o tamanho deste caso?

A gente não sabe o tamanho disso porque uma parte tem controle, tem registro, tem inventário, e uma parte, não. Os livros sumiam das mesas. Mas o fim da Cosac, de maneira alguma, pode ser atribuído a isso. Porque não é uma pessoa que roubou dinheiro, é alguém que roubou livros.

O Charles já havia ameaçado terminar com a Cosac várias vezes.
O que leva a crer que o fim da editora é para valer desta vez?

Ele está totalmente no direito dele de parar, de mudar de assunto. Ele cansou, foram muitos anos. Teve um passo que a editora deu, que foi a mudança de depósito, que deu errado, virou um problema grande, muito pesado para ele… O Charles abriu a editora por uma coisa voluntariosa, por um projeto, e agora fecha da mesma maneira, porque ele quer fazer outros projetos.

Ele já disse quais são esses outros projetos?

Não [risos]. Mas acho que é isso, a editora sempre teve isso em seu DNA, ela é uma editora fruto do desejo de apenas uma pessoa, alguém que não tem como objetivo primeiro ganhar dinheiro. Para o bem e para o mal.

Não ter como objetivo ganhar dinheiro levou à má administração?

Com certeza. Acho que o objetivo do Charles era que a editora se pagasse, isso estava muito claro. Agora, isso deu margem para muita má administração.

Existe mercado consumidor para uma editora como a Cosac Naify?

Olha, 2015 é um ano de crise, fato. Tem o impacto da queda das compras governamentais, que é um impacto para todas as editoras, algo que já atingiu 2014, mas 2015 não teve compra. Isso tem um impacto muito significativo nas finanças da editora. Fora isso, as vendas da Cosac sempre foram ascendentes, e a editora tem um faturamento, em 2015, que justificaria a sua continuidade. Só que tem uma energia para adequar uma estrutura com essa inércia, com esse acúmulo dos projetos ao longo dos anos, uma estrutura que é pesada. Nesse ano nós já fizemos um movimento para torná-la mais leve. Mas eu o entendo, ele tem direito de se dedicar a outras coisas, a fazer nada, se quiser.

Existia alguma pista que indicava o fechamento da editora?

A gente vem há alguns anos tentando se adequar. A Florência [Ferrari, diretora editorial] fez muito esse movimento de tentar combinar livros mais lucrativos com um rol cada vez menor de livros não lucrativos, além da procura de apoios, patrocínio e parcerias. Era o caminho de viabilidade que a gente acreditava até ontem. Mas o Charles sempre foi uma pessoa instável. Então, ele já havia demonstrado cansaço, exaustão, falta de vontade de fazer os ajustes necessários, porque são ajustes de fato dolorosos, em relação às pessoas, aos projetos. Para mim, não é uma surpresa.

Como você ficou sabendo da decisão?

Numa mensagem dele no domingo [29] e depois numa conversa na segunda.

Comecei a entrevista te perguntando sobre o que significa o fechamento da Cosac para o mercado. E, para você, pessoalmente?

Uma sacudida gigante, que pode ser boa. Eu estava há muito tempo ali. Agora, para a minha área, que é o design editorial, é trágico. Porque, embora existam editoras novas fazendo coisas mais legais do que há dez anos, a Cosac ainda era uma referência muito forte. Não só publicando livros de design, como no design dos livros. Espero que seja algo positivo, uma sacudida numa certa altura da vida. Considero missão cumprida, fiz o que eu pude, aproveitei o quanto pude, fiz coisas legais, tenho orgulho do que fiz. Tenho essa leveza.

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Ponto crítico: ‘Ramos’ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/09/ponto-critico-ramos/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/09/ponto-critico-ramos/#respond Mon, 09 Nov 2015 17:47:13 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16341 À convite da “Ilustríssima”, uma das metades do blog escreveu mais uma vez sobre “Ramos”, de Julio Bittencourt. A crítica foi publicada neste domingo.

Em frente à câmera ninguém é inocente. Quando alguém percebe que está sendo fotografado, torna-se ator. No piscinão de Ramos, praia artificial na zona norte do Rio, esse espetáculo é feito de litros de descolorante, boias e formas generosas, que transbordam de sungas e biquínis diminutos.

“A praia é um parque de diversões”, escreveu o fotógrafo britânico Martin Parr no texto que acompanha “Ramos”, de Julio Bittencourt, ensaio lançado agora como fotolivro [Cosac Naify e editora Madalena, 80 págs., R$ 80].

Corpos esbeltos e outros nem tanto se divertem em piqueniques, rodas de fofoca e nas horas gastas em busca do bronzeado perfeito. No piscinão do subúrbio carioca, mas principalmente nas tintas pesadas de Bittencourt, a praia ganha ares ainda mais folclóricos. Numa das cenas, enquanto o blondor escorre pelo corpo de uma garota de biquíni com estampa de flores, o desenho do Cristo Redentor abre os braços em uma toalha estendida sobre a areia escura, na qual ainda repousa uma garrafa de refrigerante Convenção.

Em outra, uma mulher de costas, também com descolorante, está bem no centro de uma página dupla, o que escancara um grave problema de encadernação para uma publicação de fotografia. As folhas não abrem por inteiro, e muitas vezes é preciso forçar a obra para ver as imagens com clareza. Trata-se de uma falha frequente nos fotolivros brasileiros.

Publicado pela primeira vez há seis anos, o ensaio do fotógrafo paulista ganhou prêmios e rodou exposições mas também despertou críticas. Há muitos que condenam esse tipo de abordagem sobre camadas populares, que traria um olhar sarcástico de superioridade sobre seus personagens.

A influência da linguagem consagrada por Martin Parr, que declarou sua admiração pelo trabalho de Bittencourt, é inegável. Nas fotografias do artista britânico, porém, as críticas ao comportamento consumista da classe média vem banhado em um humor corrosivo, mas ainda assim sutil.

O artista paulista deixa a leveza escapar na edição posterior à realização das imagens. Confere às fotos um tratamento de cor pesado, que dá ao ensaio um visual forçado. Embora Bittencourt não priorize o absurdo –o espetáculo da praia está ali por si só–, os tons sombrios acabam por reforçar a estética do excêntrico. É uma contraposição à captação das imagens.

Durante todo o livro, não se vê a busca pelo bizarro. Quem for até o piscinão de Ramos certamente encontrará os elementos retratados pelo fotógrafo em abundância, e não como uma exceção. Ele também trata seus personagens com respeito. Em muitas fotos, opta por esconder os rostos –importa o espírito coletivo do que retrata, e não a personificação. Quando é inevitável revelar expressões, o faz com consentimento dos retratados –alguns deles claramente posaram para Bittencourt.

Mais: em lugares públicos como esta praia artificial, que concentram grande fluxo de pessoas ao mesmo tempo, não há como ser totalmente honesto, justo ou qualquer outro adjetivo que satisfaça a sanha do politicamente correto. Talvez quem critique essa abordagem acredite que ser flagrado usando blondor, tomando cerveja, comendo farofa ou com areia grudada nas costas seja um demérito.

“Ramos” vem na esteira de obras da fotografia brasileira contemporânea relançadas em formato de fotolivro. Assim como o ensaio de Bittencourt, são exemplos desse movimento “Ninguém É de Ninguém”, de Rogério Reis, e “Aeroporto”, de Cássio Vasconcellos, além do já publicado “Albinos”, do mineiro Gustavo Lacerda.

O fotolivro finalmente se consolida no país como a forma mais completa de expressão para fotógrafos. Não se trata apenas de enfileirar fotografias. É preciso uma narrativa que conduza o leitor a partir de uma estrutura coerente. É assim no cinema, é assim na literatura, é assim na fotografia.

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‘Ramos’, de Julio Bittencourt https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/09/16/ramos-de-julio-bittencourt/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/09/16/ramos-de-julio-bittencourt/#comments Wed, 16 Sep 2015 15:52:46 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=15957
Fotos: Eduardo Knapp/Folhapress

‘Ramos’, de Julio Bittencourt (Cosac Naify e Editora Madalena) – É curioso como trabalhos importantes da fotografia brasileira publicados há alguns anos vêm sendo relançados como fotolivros. Ocorreu dessa forma com “Albinos”, de Gustavo Lacerda, ganhador do Conrado Wessel em 2011 e publicado no ano passado pela editora Madalena, e ocorrerá da mesma maneira com “Ninguém É de Ninguém”, de Rogério Reis, prestes a virar livro pela edições Olhavê. “Ramos”, de Julio Bittencourt, segue essa trajetória.
Em 2009, o ensaio sobre o piscinão de Ramos, no Rio, começou a aparecer com frequência na imprensa e logo conquistou o prêmio Porto Seguro de Fotografia. Agora, por meio de uma parceria entre Cosac Naify e editora Madalena, a série feita de tintas sarcásticas e de formas generosas que transbordam de biquínis e sungas torna-se livro. Enquanto o blondor escorre pelas páginas, e um sem número de corpos suados desfilam, a capa estampa letras douradas –bem no estilo ostentação. É um acerto do projeto gráfico –de ótima qualidade de impressão–, embora carregue o pesadelo constante das publicações brasileiras: as páginas não abrem por inteiro, e é preciso forçar o livro para ver as fotos. No pior caso, a imagem de uma mulher de costas, com litros de bronzeador e usando fio-dental, está exatamente no centro de uma página dupla. O registro virou qualquer outra coisa que não a foto pensada pelo artista –parece que a personagem fez uma lipoaspiração. Se as imagens remetem à acidez e à temática da obra de Martin Parr, a referência é declarada. O próprio britânico escreve o texto do livro, no qual coloca Bittencourt entre os dois fotógrafos de praia que o impressionou. Há muitos que reclamam desse tipo de abordagem sobre camadas populares, que traria um olhar supostamente de superioridade sobre os retratados. Discordo. Em várias imagens, Bittencourt opta por esconder os rostos. Em outras, é inevitável não mostrar suas expressões. Quando feitas com consentimento dos personagens, as fotos me parecem ainda mais justas. Além disso, em lugares públicos como o piscinão, não vejo como ser completamente honesto, justo ou qualquer outro adjetivo que contemple a sanha do politicamente correto. Talvez quem critique essa abordagem acredite que ser flagrado com blondor, comendo farofa ou dando uns malhos na areia diminua alguém.

Avaliação: bom 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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Cao Guimarães e outros lançamentos neste sábado em São Paulo e no Rio https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/31/cao-guimaraes-e-outros-lancamentos-neste-sabado-em-sao-paulo-e-no-rio/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/31/cao-guimaraes-e-outros-lancamentos-neste-sabado-em-sao-paulo-e-no-rio/#respond Fri, 31 Jul 2015 14:34:06 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=14911 Arquivo – “Cao”, primeiro livro a reunir a obra do cineasta Cao Guimarães, será lançado neste sábado (1º/8) , às 16h, no Pivô (av. Ipiranga, 200, loja 200, SP, tel. 11-3255-8703). Editada pela Cosac Naify, a publicação compila o trabalho do diretor do longa “O Homem das Multidões” a partir de seu arquivo fotográfico. O curador Moacir dos Anjos, autor do glossário no qual analisa as produções do mineiro e faz correlações entre elas, fará uma conversa com o também curador Paulo Miyada durante o lançamento.

Fotografia que estampa capa de “Cao”, de Cao Guimarães

Vínculos – Já no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio, às 10h, ocorre a abertura da exposição “Álbum de Família”. Entre pinturas, fotos, videoinstalações e filmes, a mostra trará cerca de 40 trabalhos de mais de 20 artistas brasileiros e estrangeiros, como Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Bill Viola, Jonathas de Andrade e Zanele Muholi, que fazem reflexões sobre a família, tema recorrente em suas produções. Organizada pela curadora Daniella Géo, a exibição, até 19/9, acontece na r. Luís de Camões, s/nº, tel. (21) 2242-1012. A visitação acontece às segundas, quartas e sextas, das 12h às 20h, e às terças, quintas, sábados e feriados, das 10h às 18h.

Imagem de “Amor e Felicidade no Casamento”, de Jonathas de Andrade, de 2007

Vida loka – A Pinacoteca do Estado inaugura, também neste sábado (1º/8), às 10h, a exposição “Antoni Abad – megafone.net/2004-2014”, retrospectiva do trabalho realizado pelo artista espanhol nos últimos 10 anos. No projeto, representantes de diferentes grupos sociais marginalizados –pessoas com mobilidade reduzida, imigrantes ilegais, refugiados políticos, prostitutas, taxistas, motoboys, entre outros– foram convidados a compartilhar suas experiências por meio de áudios, vídeos, textos e fotos feitas a partir de celulares e publicadas na internet. A iniciativa soma hoje 261 participantes e mais de 54 mil publicações. A mostra, gratuita e com curadoria de Cristina Bonet, Soledad Gutiérrez e Roc Parés, ocorre até 18/10 na pça. da Luz, 2, SP, tel. (11) 3324-1000. A visitação acontece de ter. a dom., das 10h às 17h30.

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Christian Cravo exibe olhar tropical em livro de fotos feitas na juventude https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/01/30/christian-cravo-exibe-olhar-tropical-em-livro-de-fotos-feitas-na-juventude/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/01/30/christian-cravo-exibe-olhar-tropical-em-livro-de-fotos-feitas-na-juventude/#respond Fri, 30 Jan 2015 10:30:07 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=12593 O texto abaixo foi publicado originalmente na “Ilustrada” em 30/1.

Muitos livros nascem de recusas amorosas, mas poucos são produzidos após um pé na bunda editorial. O fotógrafo Christian Cravo é um exemplo dessa segunda categoria. Ao oferecer seu ensaio mais recente para Charles Cosac, o artista baiano de 40 anos viu o dono da editora Cosac Naify argumentar que não seria possível publicá-lo.

“Quando Charles pediu para ver outro trabalho, fiquei sem chão”, conta Christian, filho do lendário fotógrafo Mario Cravo Neto (1947-2009). “Então minha mulher sugeriu apresentar o material antigo sobre Salvador.”

Meio a contragosto, ele reuniu os 10 mil registros feitos na juventude, no início da década de 1990, quando tinha entre 17 e 19 anos. Na época, o fotógrafo havia voltado ao Brasil após 11 anos vivendo em Copenhague, na Dinamarca –terra natal de sua mãe.

Nas imagens em preto e branco, o jovem Christian capta a espontaneidade de crianças na praia, a religiosidade local e os contornos e os movimentos de corpos masculinos, tão negros que quase se tornam sombras.

“Apesar de ser filho de uma dinamarquesa, meu temperamento sempre foi tropical. Não havia nada na Dinamarca que me inspirasse”, explica. “Não vejo as imagens como uma visão estrangeira, seria limitado. Essas fotografias representam a antítese de tudo o que vivi anteriormente.”

Entre registros de mulheres nuas e grafismos nos mercados de Salvador, Christian fotografou um rapaz, de costas, segurando um peixe. A imagem lembra uma das fotografias mais emblemáticas de seu pai, também em preto e branco, em que um homem suado carrega dois peixes cruzados em seu dorso. O filho conta que os bichos foram comprados por Mario Cravo Neto para produzir o icônico retrato.

Mas se engana quem pensa que Christian se inspirou no pai. Foi ao ver o negativo do filho que Mario Cravo “roubou” a pose. “Meu pai foi pouco pai e eu, pouco filho. Nossa verdadeira amizade se deu pela fotografia”, conta. “Assim como ele roubou a imagem do peixe, eu fiz outras de autoria dele.”

Mas e “Luz & Sombra”, último trabalho de Christian, que abre este texto? Segundo o artista, o livro com fotos de países africanos deve ser lançado no fim deste ano. Em paralelo, Charles Cosac planeja outro lançamento com o autor. “Recebi dois outros materiais do Christian: um sobre a Índia e outro com fotos intimistas. Escolhi o segundo”, diz Charles. “Isso não desmerece as fotos da Índia, apenas favorece as intimistas. Editar é escolher.”

CHRISTIAN CRAVO
AUTOR Christian Cravo
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 160 (240 págs.)

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Em ‘Parallaxis’, Vicente de Mello mistura linguagens fotográficas https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/11/21/em-parallaxis-vicente-de-mello-mistura-linguagens-fotograficas/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/11/21/em-parallaxis-vicente-de-mello-mistura-linguagens-fotograficas/#respond Fri, 21 Nov 2014 13:57:13 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=11607 O texto abaixo foi publicado na “Ilustrada” desta sexta (21).

A ideia inicial para o novo livro de Vicente de Mello, 47, era publicar 14 séries desenvolvidas pelo fotógrafo desde o começo do ano 2000, organizadas em cadernos separados e reunidas dentro de uma caixa. A multiplicidade de estilos entre os trabalhos e a divisão em cadernos, porém, não permitiriam
a leitores desavisados ligar as diferentes coleções ao mesmo artista.

No final, os cadernos soltos foram abandonados em favor de um único livro compacto, mas a ideia de variedade de linguagens e de formas, proposta por esse artista paulistano radicado no Rio, se manteve intacta. Nas 320 páginas da nova obra de Mello, recém publicada pela editora Cosac Naify, é possível passear pelas diversas facetas do fotógrafo.

“Parallaxis”, palavra grega que significa alteração, dá nome à nova obra e é também a pegada que guia a publicação. O fotógrafo vai das experimentações na série “Noite Americana”, em que usa um polarizador para transformar a luz diurna em noite, passando pela reinterpretação das formas de objetos cotidianos em “Galáctica”, às explosões de cores de “Strobo” e “Sete Dias”.

“Queria criar a sensação de que são vários fotógrafos dentro de um só. É uma súmula de quem eu sou”, filosofa o artista. “Abro uma janela dentro da fotografia em preto e branco, de um pensamento quase modernista, para ir a uma fotografia colorida usando uma câmera de bolso, digital”, explica ele.

PAPEL-BÍBLIA
Todas as páginas têm o título da série à qual cada imagem pertence. Com design de Maria Carolina Sampaio, a publicação tem uma capa destacável que concentra os textos explicativos sobre as coleções. As diferenças entre os trabalhos são percebidas não só pela mudança nas linguagens, mas também pelos vários tipos de papel, formando uma narrativa além das imagens.

Em “Sete Dias”, série que remete à criação da Terra —com imagens que lembram corpos celestes vistos por um microscópio—, as fotos foram impressas em papel-bíblia, finíssimo e com cor de pele.

Em algumas séries de Mello, há uma forte ligação com os fotógrafos modernistas brasileiros Geraldo de Barros (1923-1998) e José Oiticica Filho (1906-1964), que nos anos 1940 e 1950 subverteram o registro da arquitetura, transformando-a em formas geométricas no limite do abstrato.

Barros e Oiticica, ao lado de Thomaz Farkas (1924-2011), fizeram parte do Foto Cine Clube Bandeirante, núcleo célebre por reunir a elite da fotografia brasileira à época. Assim como Farkas, Mello também registrou Brasília, mas se distanciou do olhar documental do húngaro radicado no Brasil para recriar a cidade de um modo quase irreconhecível. “Quando eu faço Brasília, eu sou o vingador do ‘fotoclubismo’”, brinca ele.

“Para não cair no lugar comum, construí uma ‘transvisão’ do modernismo, busquei ângulos que quebrassem ainda mais a arquitetura de Niemeyer”. Essa mesma “transvisão” permeia todas as séries da obra, com Mello transitando entre diferentes linguagens com a mesma intensidade.

PARALLAXIS
LANÇAMENTO
sexta (21), às 19h30, na Fnac do Park Shopping, Área 6580, Piso 01, Brasília, tel. (61) 2105-2000; terça (25), às 19h30, na Livraria da Travessa, r. Visconde de Pirajá, 572, Rio de Janeiro, tel. (21) 3205-9002
AUTOR Vicente de Mello
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$130 (320 págs.)

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‘A Natureza das Fotografias’, de Stephen Shore https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/08/19/haikai-a-natureza-das-fotografias-de-stephen-shore/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/08/19/haikai-a-natureza-das-fotografias-de-stephen-shore/#respond Tue, 19 Aug 2014 16:29:34 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=9809

‘A Natureza das Fotografias’, de Stephen Shore (Cosac Naify) — No fim do ano passado, ao comentar o fotolivro “A Period of Juvenile Prosperity”, de Mike Brodie, o fotógrafo da Magnum Alec Soth disse a seguinte frase: “Tentei de todas as formas não gostar dessa publicação, mas fui vencido”. Com “A Natureza das Fotografias”, livro teórico de Stephen Shore, lançado agora em português, tive a mesma sensação. Mas ao contrário. Tentei amar este clássico de todas as maneiras, mas não consegui me apaixonar. O que me deixou com sérias preocupações se eu estaria louco. Como negar a qualidade de um texto considerado essencial para entender a fotografia?

Shore analisa aspectos técnicos das imagens numa visão quase científica. Hiper didático, explora o foco, o enquadramento, o tempo e a bidimensionalidade das imagens destacando seus aspectos físicos, descritivos e mentais por meio de exemplos de nomes importantes. Porém, algumas dessas passagens soam como uma série de obviedades para quem não é um iniciante. Acredito que exista um espaço intermediário entre o texto que peca pelo excesso de didatismo e aquele que se torna um punhado de poesias sem objetividade, escritos com a única finalidade de parecer inteligente. “A Natureza das Fotografias” está na primeira ponta deste estranho jogo textual. Por outro lado, quando Shore debate questões mentais da leitura fotográfica, ele destrincha ideias complexas de forma simples e agradável.

Ao abordar pontos de observação, compara duas imagens de diferentes autores feitas em um mesmo local. Assim, ele decreta a atividade do fotógrafo como a ordenação do caos em meio à paisagem. Isto é lindo. Por se tratar de uma reedição –o livro foi publicado pela primeira vez em 1998–, poderia ter havido um esforço para atualizar alguns dos verbetes. Fala-se muito sobre cópias impressas e Shore apenas toca no campo digital. Deixa a sensação de obra datada. Indico o livro para quem nunca fotografou, mas tem vontade de iniciar na atividade. Começar o estudo a partir de exemplos como Thomas Struth, Garry Winogrand, Guido Guidi e tantos outros é a melhor introdução possível ao assunto. Paro aqui, pois já deixou de ser um haikai há séculos.

Avaliação: bom 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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Em livro lançado no Brasil, Stephen Shore defende o realismo da cor https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/08/11/em-livro-lancado-no-brasil-stephen-shore-defende-realismo-da-cor/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/08/11/em-livro-lancado-no-brasil-stephen-shore-defende-realismo-da-cor/#respond Mon, 11 Aug 2014 21:18:19 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=9702 O texto abaixo foi publicado na Ilustrada de domingo (10) por Silas Martí.

Stephen Shore, 66, é um fotógrafo que nasceu e cresceu em Nova York.

Mas as janelas de seu apartamento, cobertas por cortinas amarelas, e os objetos que povoam sua sala de estar, entre eles a estátua de um lince alado, parecem surgidos de um universo mais colorido do que o cinza de Manhattan.

No livro que lança agora no Brasil, “A Natureza das Fotografias”, Shore defende a cor como o elemento mais vivo de uma imagem, aquilo capaz de tornar tudo mais real. Sua obra também foge da paleta urbana.

Shore é desde os anos 1970 um dos maiores retratistas da América profunda, de estradas que cortam desertos e subúrbios modorrentos, ou lugares que sob a pele banal escondem uma gama de cores berrantes.

“Há paletas distintas para épocas e países distintos. É só olhar para as cores dos carros e dos prédios”, diz Shore. “A visão de um estacionamento cheio de carros consegue traduzir todo o sentido de cor de uma era. Isso me ajudou a construir um retrato mais verdadeiro da América.” Ou mais transparente. “Como o mundo é colorido e enxergamos em cores, uma imagem colorida é mais transparente do que uma em preto e branco”, explica o artista. “Quem vê a imagem não fica pensando em que escolhas eu fiz na hora de fotografar.”

CORES DE AMARILLO

Shore, aliás, gosta de dizer que não faz escolhas muito precisas, fotografando só o que vê pelo caminho. E conta que trocou o preto e branco platinado de suas primeiras fotografias —ele começou retratando Andy Warhol na Factory, o mítico ateliê que o artista pop forrou com papel alumínio— pelo registro colorido quando foi pescar no oeste dos Estados Unidos e parou em Amarillo, cidadezinha no Texas batizada com o nome de uma cor.

Junto do também norte-americano William Eggleston e do italiano Luigi Ghirri, Shore abriu caminho para uma geração de fotógrafos que abraçaram o filme colorido numa seara até então dominada pelo estoico registro em preto e branco. “Tudo era colorido, os pôsteres, os filmes, a TV, sendo que a fotografia artística era o único campo ainda em preto e branco”, diz Shore.

“Senti que era hora de questionar isso, mas, nós, no centro dessa geração, chegamos à solução da cor por caminhos distintos, só que reagindo a uma série de forças semelhantes.” Mas nem tudo são cores. Em seu misto de ensaio e livro técnico, publicado pela primeira vez em 1998, Shore explora a natureza das imagens analisando o foco, a textura e as composições.

É uma reflexão que agora poderia ter um novo capítulo sobre comportamento —Shore é um adepto do Instagram, e diz que, depois do advento da cor, a produção em massa de fotografias nas redes sociais abriu um novo e fértil campo de experimentações. “Isso me deixou livre para produzir coisas que eu nunca pensaria em fazer há dez anos”, conta. “O digital ajuda a dar espontaneidade ao registro. Sem uma intenção clara por trás da foto, as pessoas não se censuram mais.”

A NATUREZA DAS FOTOGRAFIAS
AUTOR Stephen Shore
TRADUÇÃO Donaldson Garschagen
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 89,90 (136 págs.)

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Fotolivros com pequenas tiragens são aposta de editoras independentes https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/06/04/fotolivros-com-pequenas-tiragens-sao-aposta-de-editoras-independentes/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/06/04/fotolivros-com-pequenas-tiragens-sao-aposta-de-editoras-independentes/#respond Wed, 04 Jun 2014 13:30:07 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=8762 Em um encontro com artistas e interessados em fotolivros no MIS, em São Paulo, um fotógrafo falava empolgado sobre seu próximo projeto. Ao explicar detalhes do ensaio e o tipo de estrutura gráfica que imaginou para a obra, ele enfatizou uma meta: “Desta vez, agora sim, vou lançar mil cópias”.

O desejo por tiragens robustas vai na contramão de uma tendência cada vez mais comum entre editoras independentes de publicações de fotografia.

No lugar de milhares de cópias, que dificilmente se esgotam, pequenos núcleos gráficos apostam em um número reduzido de exemplares. Em média, as edições giram em torno de 50 peças –quase sempre reimpressas.

Em janeiro, as paulistanas Ivy Folha, 32, e Bianca Muto, 25, fundaram a editora Pingado-Prés. A estrutura e experiência na gráfica do pai de Ivy foi a base para o lançamento de 21 publicações –nove delas sobre fotografia. Em pouco menos de seis meses, a dupla editou títulos com tiragens de 40 cópias, como “Autotomy”, da pernambucana Adelaide Ivánova, e outras quatro dezenas de “Amulet World”, com retratos do tailandês Miti Ruangkritya.

“Não tínhamos ideia da quantidade que venderíamos, pois ninguém nos conhecia, e a curadoria foi feita a partir do nosso gosto pessoal, por isso não podíamos arriscar em grandes quantidades”, justifica Ivy. “Outro fator é que bancamos todos os custos de produção. Como o próprio nome da editora diz, as tiragens devem ser pequenas para viabilizar mais trabalhos”.

“Autotomy”, sobre garotos transexuais, livro da Pingado-Prés

A exceção da editora foi o livro do mineiro Gui Mohallem. “Tcharafna”, lançado em abril, teve sua primeira edição publicada com 400 cópias. A dupla diz que o número só foi possível por causa da experiência do fotógrafo com publicações independentes e o interesse prévio de compradores.

Para o segundo semestre, a dupla prepara o primeiro fotolivro do paulista Breno Rotatori. A previsão para “Do Que é Objeto” é voltar à tiragem ao redor dos 50 exemplares. Segundo Rotatori, uma produção com acabamentos que não poderiam ser realizados facilmente em larga escala, tornam o número de cópias ideal. “Prefiro que tenha um cuidado quase artesanal em cada publicação. Penso em uma tiragem pequena para que o trabalho manual tenha espaço, como a construção de um envelope”.

O argumento de Rotatori é reforçado por Guilherme Falcão, 30. Embora já tenha produzido outras publicações em projetos anteriores, foi em 2013 que ele fundou a editora Contra. Desde então, o designer editou quatro fotolivros, todos com tiragens de 50 cópias. Sempre que esgotados, ele reimprime os títulos. Em “Interstício”, da paulistana Laura Gorski, o acabamento da obra é feito com costura manual. “Na medida em que você industrializa esse processo, ele sai caro. Mesmo para obras de grande escala e grande orçamento, um acabamento fino custa caro”, explica.

Mas faz uma ressalva. “Entendo que o cuidado manual faz diferença para o público, porque as pessoas criam a associação com o artístico e com o artesanal, mas é um pouco equivocado. Claro que há investimento de tempo, cuidado e paciência, mas muitas vezes o motivo é falta de grana para fazer fora. Não pode achar que, só porque é artesanal, é melhor”. 

Em média, os títulos lançados pela Contra custam R$ 20. Para viabilizar a venda, ele diz contar com três caminhos: lojas on-line, uma loja física especializada em publicações independentes –a Tijuana, localizada dentro da galeria Vermelho– e eventos como a Feira Plana e a Pão de Forma. Segundo Falcão, as feiras são a melhor forma de vender as obras. Além da ausência de descontos intermediários, o contato com o público é decisivo. “Posso contar sobre a publicação, tirar dúvidas, isso cativa as pessoas”.

PLANOS E PÃES

Há três meses, a segunda edição da Feira Plana, no MIS, em São Paulo, recebeu cerca de 15 mil pessoas em um único fim de semana, segundo estimativa do museu. Inspirada na NY Art Book Fair, a feira reuniu 150 expositores de obras de fotografia, ilustração, colagem, entre outros suportes, selecionados a partir de edital. Para Bia Bittencourt, 29, criadora do evento e editora de vídeo da TV Folha, o sucesso da mostra também se deve ao contato com as publicações. “Lá, você pega no papel, sente o cheiro da tinta, descobre materialidades que nunca seriam descobertas pela internet”.

“E tem o impulso do momento. Um monte de gente junta que gosta de coisas parecidas, comprando loucamente. Aí você vai lá e compra também”.

Raquel Gontijo, 35, organizadora da feira Pão de Forma, no Rio de Janeiro, corrobora com a ideia de que as feiras humanizam a relação com o consumidor, pois o “público está de saco cheio dessa distância de quem produz“. Porém, vê nos eventos uma reação ao mercado editorial tradicional.

“Se você coloca uma publicação independente numa livraria grande, eles vão querer consignar o produto, depois vão pegar 50% do preço final. O mercado editorial, como ele é hoje, não é um espaço para que essas iniciativas se desenvolvam, é um espaço para manter o não-sucesso”.

Miguel Del Castillo, 27, da Cosac Naify, pondera as críticas de Gontijo. “Não posso avaliar totalmente porque não estou no boca do caixa de uma livraria, mas quando uma editora chega com uma quantidade grande de títulos, ela talvez tenha mais chances, diferente de uma menor. Mas é um espaço que poderia ser cavado, e essas feiras mostram que existe mercado”, explica o editor. Em 2013, a Cosac lançou mil cópias de “Belvedere”, de Bob Wolfenson, e outros 1500 exemplares de uma retrospectiva do fotógrafo German Lorca.

Livro de Haroldo Saboia, publicado pela editora Contra

Gontijo, que também toca uma editora, A Bolha, conta que a segunda edição da Pão de Forma, realizada em um final de semana de abril, reuniu 3 mil visitantes. Um aumento de público significativo em relação à estreia, em agosto de 2013, quando mil pessoas visitaram a feira em um casarão no bairro de Botafogo. Além dos eventos –a loja Tijuana também promove uma feira–, o Sesc Pompeia realizou no último fim de semana a segunda edição da “Feira de Publicações Independentes”, com banquinhas e oficinas.

Mesmo que os números de visitantes sejam impressionantes, tanto organizadores quanto editores afirmam que o sucesso de audiência ainda não se converteu em lucro. “Sobra zero para mim”, diz Bia, que ainda gerencia uma distribuidora de publicações, a Kaput Livros.

“Ninguém faz zine para ganhar dinheiro. Dá trabalho e você vende aos pouquinhos. E no fim, quando a gente faz uma publicação mais sofisticada, sai mais caro também”, diz Isadora Brant, fotógrafa da TV Folha e uma das quatro mulheres que integram o coletivo Vibrant. Ao lado de sua irmã, a designer Martina, e das fotógrafas Ju Nadin e Luiza Sigulem, a editora lançou oito obras, todas com tiragens de 50 cópias. “Minotauro”, um caprichado fotolivro com capa em papel craft, esgotou rapidamente e o coletivo produziu uma segunda edição, com o mesmo número de exemplares. Como em um círculo vicioso, para fazer as impressões, usaram a gráfica da… Pingado-Prés.

Uma das 50 cópias de “Novelo”, lançado pela editora Vibrant

O custo de produção é muito variável, depende muito do projeto. Por termos a estrutura gráfica, conseguimos enxugar bastante esses valores, porém custos de matéria prima são caros. As publicações que já fizemos até agora variaram bastante, de R$7 a R$40″, explica Ivy, da Pingado. No site da editora, o livro mais barato, “Irashaimasse”, um guia divertido de botecos japoneses, de Clara Canepa e Flavio Seixlack, sai por R$ 15, enquanto o mais caro, “Tcharafna”, de Gui Mohallem, custa R$ 70.

Mas há, ainda, casos de editoras que lançaram títulos sem cobrar nem um centavo. A Criatura, do geólogo Andrei Dignart, 34, e da jornalista Elisa Freitas, 30, distribuiu cem cópias do fanzine “Influeza #1” gratuitamente.

O lançamento, uma das 14 publicações da editora, está obviamente esgotado e mistura fotos dos dois autores com imagens do começo do século 20 do norueguês Paul Stang. Além de fotografia –a Criatura já lançou uma interessante série de postais que mostram mulheres angolanas–, trabalhos de ilustração também estão no catálogo da editora criada em 2012.

“Uma vez, vi alguém falar que todo livro tem um público. Pode ser de uma pessoa, então você só vai imprimir uma cópia, como pode ser um milhão. Você tem que descobrir qual é o número de pessoas interessadas no negócio. Só não lembro quem falou”, diz Dignart.

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Bússola 3D https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/03/17/bussola-3d/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/03/17/bussola-3d/#respond Mon, 17 Mar 2014 19:27:00 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=7016 O texto abaixo foi originalmente publicado na edição de sábado da Folhinha, o caderno para crianças da Folha. Aqui, o blog edita uma versão um pouco maior da entrevista com o artista gráfico Andrés Sandoval, 40.

Seu livro, “Os Pontos Cardeais Acrobatas”, utiliza o efeito do 3D de maneira delicada para reproduzir a brincadeira infantil da cama de gato. Com detalhes sofisticados, como as mãos dispostas em diferentes páginas que se unem ao fechar a publicação, a obra surpreende crianças e adultos.

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Talvez você não saiba o nome desse jogo, mas com certeza já deve ter brincado de cama de gato. Um pedaço de barbante, amarrado nas pontas, é esticado entre as mãos. Com a ajuda de outra pessoa, o fio é embaralhado para criar novos desenhos, mas sempre recuperar a forma da letra “X”. Lembrou? Agora, imagine fazer uma cama de gato 3D, que “salta” do papel.

Pode parecer louco, mas o artista gráfico Andrés Sandoval, 40, levou a ideia em frente e produziu o livro tridimensional “Os Pontos Cardeais Acrobatas”, lançado pela editora Cosac Naify (R$ 49,90). Como no cinema, para enxergar os movimentos da brincadeira, são necessários óculos especiais, que vêm dentro do livro. Sandoval, que também ilustra a coluna “Cafuné”, da “Folhinha”, explica como fez o livro: “Foi preciso produzir duas imagens do mesmo objeto, fotografadas com uma pequena diferença de ângulo“.

As duas fotos são montadas uma em cima da outra, com cores diferentes. Quando as olhamos com os óculos, temos a sensação de que é uma imagem só com profundidade“, explica o artista. A sensação é de profundidade, mas tudo de maneira bem sutil. Diferente dos filmes de ação 3D em que explosões e jatos d’água quase encostam no rosto do espectador, “Os Pontos Cardeais” preza por um efeito mais delicado.

Muitas vezes, essas nuances passam despercebidas pelas crianças, mas o autor defende que o livro não pode subestimar a interpretação da garotada. Segundo Sandoval, os pais têm papel fundamental na leitura, acompanhando e explicando pontos específicos da obra.

“O mundo infantil está complexo também. É um livro que demanda atenção e hoje em dia as crianças estão cada vez mais dispersas. O livro também é uma relação que se estabelece com os pais e a leitura que se faz da obra tem muito a ver com o que você vê a partir da visão do mundo infantil”.

Em cima do barbante, Sandoval desenhou outros fios, bem fininhos, que representam os pontos cardeais e se equilibram no cordão como malabaristas. Assim, Norte, Sul, Leste e Oeste dançam pela cama de gato e orientam as direções da brincadeira. Sandoval desenhou o livro para que cada mão ficasse em uma página diferente, com os fios passando pelo meio. “Fiz isso para que, quando o livro fosse fechado, as mãos se juntassem para reproduzir a própria brincadeira do barbante.

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