Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Constelação Clarice – Ensaio Palavra-Imagem com Clarice Lispector https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/constelacao-clarice-ensaio-palavra-imagem-com-clarice-lispector/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/10/24/constelacao-clarice-ensaio-palavra-imagem-com-clarice-lispector/#respond Sun, 24 Oct 2021 12:09:59 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/Autoria-desconhecida-sem-data.-Acervo-Clarice-Lispector-Acervo-IMS-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22546 Que Ensaio especial! Sim, todos são, mas essa exposição “Constelação Clarice” que o Instituto Moreira Salles criou é de uma lindeza sem fim. Clarice Lispector – que dispensa qualquer apresentação – e suas palavras, com trechos de muitos de seus livros e imagens de artistas contemporâneos a ela, em um diálogo afinado e poético. Um atravessamento de poesia, feminilidade e muita matéria bela. A exposição abriu ontem, 23, no IMS Paulista e fica até o fim de fevereiro. Por tudo, vale a visita. 

Um sopro de vida, de Clarice Lispector

“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.” A HORA DA ESTRELA.

A hora da estrela, de Clarice Lispector
“Quando entrou com seus olhos, por um momento tive um erro de visão: a sala era essa mulher, essa mulher era a sala. Ambas se confundiam como águas da mesma cascata. Esta senhora de olhos azuis extravasados, assim como a salinha – conseguia fechá-los para dormir. E a sala? onde guardaria toda a sua claridade para dormir? Se pudéssemos por um instante desligar a sala – que sucederia? Que grande escuridão, feita de trevas mortas, se seguiria. Mas a sala não tinha onde guardar a sua claridade. Porque esqueci de dizer: o aposento tinha tal nudez, apesar dos objetos, dos móveis, das pessoas. Nesta sala: impossível esconder-se. A pessoa estava exposta.”
A BRAVATA.
Vera Chaves Barcellos (Foto: Everton Ballardin)
(Foto:Erico Verissimo)
“Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer?”

A HORA DA ESTRELA

“Se a gente ficasse em silêncio – de repente nasce um ovo. Ovo alquímico. E eu nasço e estou partindo com meu belo bico a casca seca do ovo. Nasci! Nasci! Nasci!

UM SOPRO DE VIDA

Ninhos, de Celeida Tostes (Foto: Vicente de Mello)

“Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.”

A HORA DA ESTRELA

Wilma Martins

“Se me viesse de noite uma mulher. Se ela segurasse no colo o filho. E dissesse: cure meu filho. Eu diria: como é que se faz? Ela responderia: cure meu filho. Eu diria: também não sei. Ela responderia: cure meu filho. Então – então porque não sei fazer nada e porque não me lembro de nada e porque é de noite – então estendo a mão e salvo uma criança.”

A LEGIÃO ESTRANGEIRA

“Quem sou eu? perguntou-se em grande perigo. E o cheiro do jasmineiro respondeu: eu sou o meu perfume.”

UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES

Lygia Clark (Foto: Everton Ballardin)

“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.”

ÁGUA VIVA.

Maria Martins (Foto: Everton Ballardin)

“Eu me dou melhor com os bichos do que com gente. Quando vejo o meu cavalo livre e solto no prado – tenho vontade de encostar meu rosto no seu vigoroso e aveludado pescoço e contar-lhe a minha vida. E quando acaricio a cabeça de meu cão – sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique.”

A HORA DA ESTRELA

Amassadinhos, de Celeida Tostes (Foto: Vicente de Mello)

“Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido.

Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo.

Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez.”

O OVO E A GALINHA

Constelação Clarice
Abertura: 23 de outubro de 2021
Visitação: até 27 de fevereiro de 2022
IMS Paulista
Entrada gratuita

Para visitar a mostra, é preciso realizar agendamento prévio no seguinte site:
www.sympla.com.br/imspaulista

 

 

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O infarto da alma – Ensaio Palavra-Imagem com Diamela Eltit e Paz Errázuris https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/03/14/o-infarto-da-alma-ensaio-palavra-imagem-com-diamela-eltit-e-paz-errazuris/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2021/03/14/o-infarto-da-alma-ensaio-palavra-imagem-com-diamela-eltit-e-paz-errazuris/#respond Sun, 14 Mar 2021 11:10:21 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/FM002579_Infarto-30-Santiago-de-Chile1994-320x213.jpg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=22052 Neste Ensaio Palavra-Imagem: o retrato do amor sob a loucura. Com as palavras de Diamela Eltit e as imagens de Paz Errázuris no livro “O Infarto da alma”, marco do foto-livro latino-americano publicado em 1994 no Chile e ano passado pelo Instituto Moreira Salles. Diamela, um dos mais importantes nomes da literatura contemporânea chilena, foi convidada pela fotógrafa a acompanhá-la nessa jornada no Hospital Psiquiátrico Philippe Pinel, em Putaendo, cidadezinha chilena a 200 quilômetros ao norte de Santiago, na região turística de Valparaíso. Paz, fotógrafa com atuação marcante no contexto da ditadura de Pinochet,  já havia avançado bastante nas visitas e no registro dos casais apaixonados quando convidou a escritora. O livro, feito ao longo de dois anos,  traz fotografias de uma riqueza emocional ímpar, distantes das tradicionais representações visuais da loucura; imagens que ajudam a dar corpo e voz a pessoas que beiram o esquecimento e que, ao se entregarem ao amor, resistem a toda despersonificação que já lhes foi imposta pela sociedade e pelo Estado. Paz alugou um apartamento a três quilômetros do hospital para poder ir repetidas vezes ao local e ficar por períodos extensos. A dupla criou um trabalho lindo, forte e tão cheio de reflexões sobre o ser humano, o amor, as relações e a troca.

Infarto 29, Putaendo, da série O infarto da alma, 1994. Coleções Fundação Mapfre © Paz Errázuriz, cortesia da artista.

Os casais me deixam confusa. Há uma grande quantidade de enamorados. Enamorados, eles existem? Margarita com Antonio, Claudia com Bartolomé, Sonia com Pedro, Isabel e Ricardo e assim por diante. Qual é a linguagem desse amor? Me pergunto enquanto os observo, pois nem palavras inteiras eles têm, possuem apenas, quem sabe, o extravio de uma sílaba terrivelmente fraturada. Então, o que concluo? Desde que momento? Que estética amorosa os mobiliza? Vejo, diante de mim, a matéria da desigualdade; quando eles rompem com os modelos estabelecidos, presencio a beleza aliada a feiura, a velhice vinculada a juventude, a relação paradoxal do coxo com a coalha, da letrada com o iletrado. E aí, nessa descompostura, encontro o cerne do amor. Compreendo exemplarmente que o objeto amado é sempre uma invenção, a máxima desprogramação do real, e, nesse mesmo instante, devo aceitar que os apaixonados possuem outra visão, uma visão misteriosa e subjetiva. Afinal de contas, os seres humanos se apaixonam como loucos. Como loucos.

“Na noite de anteontem e ontem a noite e nesta manhã… Na noite de anteontem e ontem a noite e nesta manhã… canta uma das asiladas pelos corredores de um dos setores. Canta uma melodia, uma melodia que me parece simétrica a seu corpo, que por sua vez se dilata retorcido por uma paralisia lateral, um corpo parcialmente impedido, mas não por isso menos afetuoso. Canta com uma voz sentimental que me sobressalta. Sobressaltada por seu canto, saúdo o último casal da manhã. Não se lembram há quanto tempo estão juntos: “Muito… muito”, dizem. Não sabem ver a hora, não sabem ler, não sabem há quantos anos estão internados no hospital, não sabem nada de seus familiares. Mas ele dá a ela chá e pão com manteiga. Ela cuida dele.

O INFARTO DA ALMA
Te escrevo:
Nunca encontrei uma única palavra que te retivesse. Minhas costas são as que ofendem o tempo todo. Minha mão me obedece com aspereza, meus olhos se nublaram só de te contemplar. O bairro se tornou tosco quando recebeu teus passos. Uma vidente pálida me disse que o abandono regia o simulacro dos meus dias.
Infarto 23, Putaendo, da série O infarto da alma, 1994. Coleções Fundação Mapfre © Paz Errázuriz, cortesia da artista.
Infarto 22, Putaendo, da série O infarto da alma, 1994. Coleções Fundação Mapfre © Paz Errázuriz, cortesia da artista.
**Obrigada IMS por ceder os direitos de publicação das imagens e deste trecho do texto que eu adoro. <3
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Revista debate obra de fotógrafo de periferia alçado a observador histórico https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/04/27/revista-debate-obra-de-fotografo-de-periferia-alcado-a-observador-historico/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/04/27/revista-debate-obra-de-fotografo-de-periferia-alcado-a-observador-historico/#respond Fri, 27 Apr 2018 19:40:37 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Retratistas_Afonso_Pimenta_TRATADAS_06-1-320x213.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=20031 Ao apontar a câmera, Afonso Pimenta quer todo mundo sorrindo. Fotógrafo do Aglomerado da Serra, periferia de Belo Horizonte, o ex-gari, segurança de prostíbulo, pedreiro e metalúrgico tem predileção por celebrações.

Em vez da imagem desgastada de desalento nas favelas, Pimenta registra, desde o início da década de 1980, batizados, aniversários, casamentos e bailes de música black. A forma de sustentar os 14 filhos, frutos de nove relacionamentos, ganhou nos últimos anos status de documentação histórica do cotidiano desses moradores das franjas da capital mineira.

Nas fotos, crianças e adultos do Aglomerado posam com altivez, junto a eletrodomésticos e vestidos elegantemente. Já os registros das festas black desfilam a moda vibrante da época.

O trabalho de Pimenta, 63, foi descoberto pelo pesquisador e artista Guilherme Cunha, 37. Durante a produção do projeto Memórias da Vila, em que entrevistou moradores do Aglomerado, uma das personagens mostrou a ele cerca de 70 monóculos com imagens de diversos profissionais, entre eles o mineiro e seu mentor, João Mendes. O achado gerou um outro projeto, Retratistas do Morro, no qual Cunha pesquisa fotógrafos que atendiam às demandas daquela comunidade entre as décadas de 1960 e 80.

Para bancar a iniciativa, criou uma campanha de financiamento online, que chamou a atenção de Thyago Nogueira, editor da ZUM, revista de fotografia do Instituto Moreira Salles. Agora, uma imagem de Pimenta, de uma noiva reencenando seu casamento em meio a barracos, estampa a capa da edição mais recente.  A revista será lançada neste sábado (28), com a presença do fotógrafo, que conversará com Cunha e Ana Paula Orlandi, autora de um perfil do mineiro na ZUM.

“Afonso não construiu imagens documentais, mas biográficas, das transformações sociais e políticas de sua própria comunidade”, diz Cunha. “Essa representação não vem de um observador externo. Mostra uma dignidade que ficava restrita a classes mais altas e, assim, saímos de um apartheid simbólico”, afirma.

À Folha o fotógrafo diz que, à época, só visualizava o sustento. “Nunca pensei que um dia meu trabalho ganharia essa proporção e que conviveria com pessoas de nobre quilate.” Dos mais de 300 mil negativos que Pimenta estima ter produzido, cerca de 80 mil foram preservados em sua casa, em condições precárias.

O editor da ZUM conta que, para publicar as imagens, recorreu ao núcleo de digitalização do IMS, que fez uma recuperação parcial das fotos. A ideia era restabelecer as cores, ainda que, segundo ele, não seja possível garantir a fidelidade cromática. “Era importante preservar algumas imperfeições dos originais.”

Diferentemente de João Mendes, de quem Pimenta foi assistente, o fotógrafo não se limitou ao estúdio e “fui onde o cliente está”. Gosta do “corpo a corpo”, como ele mesmo define a abordagem. “Ele circulava com naturalidade dentro das casas e, nos bailes, mostrava uma identidade que não se via”, afirma Nogueira, editor da revista.

Lançamento da ZUM #14
IMS Paulista – Av. Paulista, 2.424, tel. 2842-9120
Neste sábado (28), às 11h30
retirar ingresso com uma hora de antecedência

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‘Clap!’, catálogo de fotolivros latino-americanos contemporâneos, é lindo de ver e terrível de usar https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/12/05/clap-catalogo-de-fotolivros-latino-americanos-contemporaneos-e-lindo-de-ver-e-terrivel-de-usar/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/12/05/clap-catalogo-de-fotolivros-latino-americanos-contemporaneos-e-lindo-de-ver-e-terrivel-de-usar/#respond Tue, 05 Dec 2017 14:01:21 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Captura-de-Tela-2017-12-04-às-18.08-180x100.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19833

Assim como no último vídeo, trago um fotolivro que não faz parte da minha coleção, mas do acervo da biblioteca de fotografia do Instituto Moreira Salles, em São Paulo. Na verdade, esse nem é um fotolivro. É um catálogo. Trata-se do catálogo “Clap!”, uma pesquisa sobre a produção contemporânea de fotolivros latino-americanos entre 2000 e 2016.

O grande problema é que, embora a publicação seja linda, com design do venezuelano Ricardo Baez, ela é difícil de ler. Mostra vários livros ao mesmo tempo, muitos deles colocados na diagonal, de um jeito bem caótico. Cada um dos livros tem um número, com uma correspondência num tabelão. É confuso, complicado demais.

Em vez de viabilizar uma maneira mais fácil de conhecer esses livros, “Clap!” traz obstáculos. É como uma cadeira muito bonita, mas pouco confortável: linda de ver, difícil de usar.

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‘The Americans’, de Robert Frank, será exibido na inauguração do novo Instituto Moreira Salles https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/06/13/the-americans-de-robert-frank-sera-exibido-na-inauguracao-do-novo-instituto-moreira-salles/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/06/13/the-americans-de-robert-frank-sera-exibido-na-inauguracao-do-novo-instituto-moreira-salles/#comments Tue, 13 Jun 2017 22:13:31 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/184366c2-5333-46ab-ac49-ad5d3fb169bd-180x116.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19693 com Silas Martí

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Um dos fotógrafos mais influentes de todos os tempos, Robert Frank vai mostrar a série clássica “The Americans” numa das mostras inaugurais do novo Instituto Moreira Salles, que abre as portas na avenida Paulista em agosto. Em 1955, o suíço deixou Nova York, onde vivia, e dirigiu um Ford usado pelos Estados Unidos, fotografando os americanos que ele dizia invisíveis –crianças, negros, brancos, políticos, pobres e ricos.

Essas imagens, editadas num livro com prefácio escrito pelo beatnik Jack Kerouac, autor de “Na Estrada”, se transformaram num dos retratos mais contundentes da vida no país, das contradições, desilusões e paradoxos do sonho americano, em especial a violência da segregação racial nos Estados do sul. Publicadas em 1958, as 83 imagens de “The Americans” viraram um marco da fotografia não só por fazer um panorama da nação na época, mas também por introduzir nos fotolivros a lógica sequencial das narrativas literárias.

Não é possível, por isso, entender a obra por meio de imagens isoladas. Com elementos que se repetem por toda a série, Frank traça uma linha que vai costurando o trabalho, uma estratégia usada com frequência em ensaios fotográficos contemporâneos.

“Fotografei pessoas sempre mantidas um passo atrás, que nunca podiam ultrapassar um certo limite”, disse o artista, em entrevista ao jornal “The New York Times”. “Simpatizava com as pessoas que lutavam. Também desconfiava daquelas pessoas que inventavam as regras.”

Nesse sentido, a série desfaz a ideia de uma América heroica, escancarando o lado trágico da bonança econômica. Frank, hoje com 92 anos e recluso num vilarejo do norte do Canadá, negocia com o Instituto Moreira Salles vir ao Brasil para participar da abertura de sua exposição.

Na inauguração do novo prédio do IMS, com projeto arquitetônico da dupla Andrade Morettin, a mostra de Frank vai dividir espaço com o filme “The Clock”, do americano Christian Marclay, e outras exposições coletivas organizadas por Guilherme Wisnik e Thyago Nogueira.

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Nova sede do Instituto Moreira Salles em SP terá biblioteca especializada em publicações fotográficas https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/11/08/nova-sede-do-instituto-moreira-salles-em-sp-tera-biblioteca-especializada-em-publicacoes-fotograficas/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/11/08/nova-sede-do-instituto-moreira-salles-em-sp-tera-biblioteca-especializada-em-publicacoes-fotograficas/#comments Tue, 08 Nov 2016 11:31:33 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/11/IMS_PE_BLI_01_59140475-180x119.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18935 Embora a nova sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo vá comportar um auditório de 150 lugares para exibições de cinema e concertos, a menina dos olhos do centro cultural é a fotografia.

Além de mostras de artistas que trabalham com o suporte, o prédio na avenida Paulista, com inauguração prevista para julho de 2017, terá uma biblioteca de 230 metros quadrados especializada em publicações fotográficas e com capacidade para 30 mil títulos –10 mil livros ficarão na parte aberta ao público, enquanto o restante será alocado numa reserva técnica.

Para formar a biblioteca, o instituto comprou acervos inteiros de colecionadores, caso do produtor cultural Iatã Cannabrava, que vendeu seu arquivo de cerca de 4.000 volumes, entre fotolivros, periódicos e folhetos, por R$ 450 mil. É uma coleção extensa, que vai de títulos brasileiros clássicos –e raros–, como “Amazônia”, de Claudia Andujar e George Love, a livros recentes que ganharam relevância instantânea, como “Surrendered Myself to the Chair of Life”, do japonês Jin Ohashi.

Assim como Cannabrava, o fotógrafo Paulo Leite também negociou seu acervo com o IMS. Entre os cerca de 500 livros que vendeu, há todos os títulos de Miguel Rio Branco e um exemplar original de “The Americans”, de Robert Frank. O local também abrigará as 483 edições da “IrisFoto”, revista brasileira criada em 1947 pelo austríaco Hans Koranyi e que publicou obras de nomes como Mário Cravo Neto, Boris Kossoy, Otto Stupakoff e Jorge Bodanzky. O arquivo da publicação, extinta em 1999, estava em poder de Beatriz de Azevedo Marques, neta do criador do periódico.

“Uma grande instituição se propor a fazer uma biblioteca especializada em fotografia é iniciativa única no Brasil”, diz Miguel Del Castillo, responsável pela curadoria. “Espero que contribua para a reflexão em torno da fotografia e dos fotolivros no país, bem como para a difusão dos mesmos.”

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Sábado reserva programação gratuita com palestra sobre Diane Arbus e lançamento de 12 fotolivros https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/08/26/sabado-reserva-programacao-gratuita-com-palestra-sobre-diane-arbus-e-lancamento-de-12-fotolivros/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/08/26/sabado-reserva-programacao-gratuita-com-palestra-sobre-diane-arbus-e-lancamento-de-12-fotolivros/#respond Sat, 27 Aug 2016 01:44:13 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/AAAAAA-122x180.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18558 Arbus – Neste sábado (27), às 17h, no Instituto Moreira Salles do Rio, o curador-chefe de fotografia do MET, Jeff Rosenheim, fará palestra sobre a obra da norte-americana Diane Arbus (1923-1971). Rosenheim é o curador da exposição “In the Beginning”, em cartaz no MET Breuer, em NY, até 27 de novembro, e dedicada aos primeiros sete anos de trabalho da artista conhecida por fotos de marginalizados, como travestis, nudistas, deficientes físicos e mentais. O evento será em inglês e sem tradução. A entrada é gratuita, com retirada de senhas 30 minutos antes do início do evento. O IMS fica na r. Marquês de São Vicente, 476, Gávea, tel. (21) 3284-7400.

Fotolivros – Também neste sábado (27), mas em São Paulo, os artistas André Penteado, Gilberto Tomé, Letícia Lampert e Lucia Mindlin Loeb receberão o público para um bate-papo organizado por Denise Gadelha na Livraria da Vila do JK Iguatemi. O evento ocorre paralelamente à feira SP-Arte/Foto, realizada no 3º piso do shopping até este domingo (28). O encontro com os fotógrafos, que discorrerão sobre a “fotografia em livros experimentais”, ocorre entre 17h e 19h. A Livraria da Vila fica no 2º piso do JK Iguatemi (av. Presidente Juscelino Kubitschek, 2041, tel. 11-3152-6800).

Lançamentos – Já o stand da Livraria Madalena na SP-Arte/Foto promove o lançamento de 12 livros neste sábado. Entre 16h e 17h, Oscar Pintor e Letícia Lampert divulgam “@Pintor” e “Chai”, respectivamente. Em seguida, das 17h às 18h, Roberto Vámos, Fernando Lemos e André Hauk e Camila Otto mostram suas obras novas. Na hora seguinte é a vez de Celso Brandão, Misha Vallejo, do veterano Penna Prearo e de Jordi Burch. O trio Alexandre Furcolin Filho, Mariana Tassinari e Carine Wallauer fecha a programação das 19h às 20h. A entrada da feira também é gratuita.

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]]> 0 Arquitetura da Barra Funda e sonhos da rua das Noivas se mesclam em exposição de Dulce Soares https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/30/arquitetura-da-barra-funda-e-sonhos-da-rua-das-noivas-se-mesclam-em-exposicao-de-dulce-soares/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/30/arquitetura-da-barra-funda-e-sonhos-da-rua-das-noivas-se-mesclam-em-exposicao-de-dulce-soares/#respond Sat, 30 Jul 2016 11:56:30 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/021BF14n28-180x119.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18211 Dulce Soares é cheia de contradições. Começou a fotografar porque queria registrar a infância dos filhos, mas passou grande parte de sua carreira documentando prédios. Carioca, encontrou em São Paulo os assuntos que buscava. E, quase 40 anos depois, exibe dois ensaios que realizou nos anos 1970 juntos pela primeira vez. Ao mesmo tempo, porém, Dulce é coerente. Para atender à Secretaria de Cultura do Estado, que lhe pediu para retratar o bairro da Barra Funda, a fotógrafa estabeleceu uma linguagem coesa que reúne edifícios da região dentro de uma mesma tipologia.

Quem for ao IMS (Instituto Moreira Salles) de São Paulo a partir deste sábado (30) encontrará imagens de fachadas que seguem certas regras. Nos registros, os prédios são vistos na maioria das vezes a partir de suas esquinas, enquanto a perspectiva das construções se espalha pelos cantos das fotos. Diferentemente da estética modernista em voga no país naquele período, os registros de Dulce prezam por uma abordagem direta, seca –sem sombras voluptuosas ou construções visuais hipergeométricas–, na qual a identificação dos lugares se sobrepõe a uma plasticidade exuberante.

Adquirida pelo IMS em 2003, a obra da carioca ainda não havia sido exibida pelo instituto desde então. A ideia de trazer o trabalho à tona foi de Valentina Tong, 27, curadora da mostra. “Eu sou arquiteta, e isso criou laços com a Dulce”, diz ela. A série sobre o bairro, que domina grande parte da exposição, partiu de um projeto do Estado para documentar os bairros do Brás, do Bixiga e da Barra Funda. Enquanto Cristiano Mascaro e Pedro Martinelli foram escolhidos para registrar o Brás, Dulce ficou com a região da zona oeste. O Bixiga, por sua vez, acabou não sendo fotografado.

Além de dividir a encomenda com Dulce, Mascaro foi professor da artista na famosa escola Enfoco, cuja orientadora era Maureen Bisilliat. Ele lembra da aluna como uma pessoa “extremamente organizada”. “Uma vez fui visitá-la e vi que tudo na casa dela era etiquetado. Tudo demandava um cuidado excessivo, o que se reflete em seu trabalho”, afirma ele. Talvez por isso, Dulce ressalte que, antes de sair fotografando pelo bairro, fez uma grande pesquisa sobre a área, o que a guiou até pontos como a Chácara do Carvalho, as Indústrias Matarazzo, o Theatro São Pedro, a casa do escritor Mário de Andrade e o salão São Paulo Chic, onde hoje existe a boate gay Blue Space.

O perímetro fotografado pela artista é o miolo onde o bairro originou-se, entre a Chácara do Carvalho e o Minhocão. “Essa região ficou espremida e não se desenvolveu tanto, diferentemente de outros pontos da Barra Funda, onde a especulação imobiliária avançou”, explica Valentina. “Essa área documentada está ‘preservada’. Há muitos prédios novos, as coisas mudam, mas muitas dessas esquinas permanecem. Mudam os usos, mas os edifícios antigos continuam lá.”

A arquitetura, contudo, é uma parte da exposição. Uma sala menor apresenta a série “Vestidos de Noiva”, realizada na rua São Caetano, conhecida como a rua das Noivas. Dulce vai a lojas de vestidos e fotografa vendedoras, costureiras e vitrines. “É a coisa da mulher, do manequim, essas indagações que a gente tem”, diz ela. Indagações que aparecem representadas numa fileira de retratos de cabeças de manequins intercaladas a rostos de mulheres, confundindo o que é sonho e realidade. Essa dualidade é reforçada pelos depoimentos femininos que colheu.

021SC02n27

“O que o casamento significa para mim?”, perguntava um concurso da época cujo prêmio era um Fusca. Além de tomar algumas das respostas dadas à competição, Dulce replicou a questão para lojistas e noivas que entrevistou. As réplicas quase invariavelmente discorriam sobre ilusão.

Se a ilusão permeia as imagens das noivas, Dulce teve a certeza de que era fotógrafa a partir de um comentário de Bisilliat. Ao analisar as fotos que fez do Palace Hotel, em Poços de Caldas, em 1974, a autora de importantes ensaios sobre sertanejos e índios percebeu que Dulce havia impresso ali uma linguagem própria e exclamou: “Nasce aqui uma fotógrafa”. As imagens do hotel também serão exibidas, mas a partir do próximo sábado (6/8), na entrada das salas de cinema do Espaço Itaú no shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, 3º andar , tel. 11-3472-2368).

A linguagem própria desenvolvida no ensaio foi a base para obras da carioca desde então. Dulce ainda trabalhou para publicidade e revistas, editou livros, participou da formação do bacharelado em fotografia do Senac e documentou agências do Unibanco, muitas delas desenhadas pelo arquiteto Roberto Loeb. As imagens de “Barra Funda” e “Vestidos de Noiva”, no entanto, estavam intocadas há quase quatro décadas. Aos 72 anos, a artista afirma que “o intercâmbio com Valentina está sendo muito interessante, porque ela está trazendo um olhar mais jovem à obra”. “O trabalho é o mesmo, mas a forma de apresentar de lidar com ele é bem diferente.”

VITRINES E FACHADAS
ARTISTA
Dulce Soares
ONDE Instituto Moreira Salles, r. Piauí, 844, tel. (11) 3825-2560
QUANDO abertura nesta sábado (30), às 11h, com visita guiada junto à fotógrafa e a curadora; de ter a sex., das 13h às 19h, sáb. e dom., das 13h às 18h; até 20/11
QUANTO grátis 

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Dora Longo Bahia e Vijai Patchineelam vencem bolsa de fotografia promovida pela revista ‘ZUM’ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/25/dora-longo-bahia-e-vijai-patchineelam-vencem-bolsa-de-fotografia-promovida-pela-revista-zum/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/25/dora-longo-bahia-e-vijai-patchineelam-vencem-bolsa-de-fotografia-promovida-pela-revista-zum/#comments Mon, 25 Jul 2016 10:00:34 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/FILUS1301PATCHINEELAM4_41989375-180x101.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18199 Os projetos “Brasil x Argentina (Amazônia e Patagônia)”, da paulista Dora Longo Bahia, e “Sambashiva”, do fluminense Vijai Patchineelam, são os vencedores da quarta edição da bolsa de fotografia ZUM/IMS, concedida pela revista “ZUM” e pelo Instituto Moreira Salles.

“Brasil x Argentina” prevê a construção de uma instalação audiovisual que faça um paralelo entre o derretimento das geleiras de Perito Moreno, na Patagônia argentina, e as queimadas na Amazônia. Ex-aluna do artista Nelson Leirner, Dora Longo Bahia, 54, dedica-se a criações multimídia. Transita pela pintura e usa a fotografia como base de muitos de seus trabalhos.

Patchineelam, filho de um indiano e de uma brasileira, cria obras de cunho político. Seu projeto, “Sambashiva”, propõe-se a cavoucar o acervo fotográfico de seu pai, o cientista Sambasiva Rao Patchineelam, e questionar temas como autoria e apropriação das imagens.

Cada um desses dois projetos receberá uma bolsa de R$ 65 mil e terá oito meses para desenvolver o trabalho. Já foram contemplados em outras edições coletivos como o Trëma e o Garapa, além dos fotógrafos Letícia Ramos, João Castilho, Bárbara Wagner e Helena Martins-Costa. Neste ano, o edital recebeu mais de 800 projetos, enviados de todas as regiões do Brasil.

Participaram do júri da bolsa Luiz Camillo Osório, crítico de arte e professor de estética e história da arte na UniRio e na PUC-RJ, Thyago Nogueira, editor da “ZUM” e coordenador de fotografia contemporânea do IMS, Heloisa Espada, coordenadora de artes visuais do IMS, Lorenzo Mammì, curador de programação e eventos do IMS, e Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS.

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Revista ‘Zum’ lança décimo número com bate-papo no MAM de São Paulo; leia trecho de reportagem https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/04/06/revista-zum-lanca-decimo-numero-com-bate-papo-no-mam-de-sao-paulo-leia-trecho-de-reportagem/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/04/06/revista-zum-lanca-decimo-numero-com-bate-papo-no-mam-de-sao-paulo-leia-trecho-de-reportagem/#respond Wed, 06 Apr 2016 14:26:09 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/04/saopaulo_Neka_m65297_a81954_image_resized-180x135.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=17723 No sábado (9), a revista “ZUM” promove o lançamento de sua décima edição com um bate-papo entre os fotógrafos Tatewaki Nio e Michael Wesely e o crítico de arte Guilherme Wisnik. O evento ocorre no auditório do MAM-SP (Museu de Arte Moderna), durante a feira SP-Arte.

No mesmo dia, o IMS (Instituto Moreira Salles), responsável pela publicação da revista, anuncia a abertura das inscrições para a 4ª edição da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS. Cada bolsa tem o valor de R$ 65 mil, e os selecionados terão oito meses para a entrega dos projetos, que serão incorporados ao Acervo de Fotografia do IMS. O objetivo é selecionar dois projetos inéditos, sem restrição de tema, perfil ou suporte. A bolsa já premiou nomes como Barbara Wagner, os coletivos Trema e Garapa, além de Letícia Ramos. As inscrições vão até vão até 24 de junho.

O novo número da revista traz uma série inédita de Odires Mlászho, os experimentos fotográficos de José Oiticica Filho e a íntegra do já clássico ensaio “As Irmãs Brown”, de Nicholas Nixon, acompanhado de entrevista realizada por Sarah Meister, curadora do departamento de fotografia do MoMA. Outros destaques são a série “Escritório”, do sueco Lars Tunbjörk, morto no ano passado e venerado pelo blog, e “Sobreposições”, trabalho do ucraniano Boris Mikhailov.

A “ZUM” ainda publica um texto sobre o Canal Motoboy, projeto desenvolvido pelo artista espanhol Antoni Abad entre 2004 e 2015. Abad criou o Megafone.net, um canal de internet que dá voz a grupos discriminados socialmente, como taxistas na Cidade do México e imigrantes em Nova York. Na versão brasileira, o artista entregou celulares com câmera a motoboys de São Paulo para que registrassem sua rotina. Fotos e vídeos expunham em tempo real o cotidiano da rua e os momentos de lazer. O projeto ajudou a dar visibilidade ao grupo e redefinir alguns estereótipos. O texto é de Daigo Oliva, autor do Entretempos. Leia abaixo um pequeno trecho da reportagem.

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Próximo à avenida Rudge, na região central de São Paulo, o motoboy Ronaldo Simão da Costa publica a foto de um cachorro que encara a câmera de seu telefone celular. Ele anexa à imagem um arquivo de áudio de apenas seis segundos. “Alô, alô, teste?”, ensaia, verificando o funcionamento do sistema do canal*Motoboy, um publicador on-line de áudio, foto e vídeo que faz parte do projeto Megafone. A pergunta, feita em 1 de agosto de 2015, fecha o ciclo iniciado por Ronaldo quase nove anos antes, quando inaugurou sua participação na iniciativa do artista catalão Antoni Abad com a foto de um bebê de óculos escuros e com a língua de fora. Na legenda, uma frase mais imponente do que a da fotografia do cão: “Essa é a minha vida”.

Daquele momento em diante, imagens de sua família intercalaram-se com milhares de registros da cidade, de cenas que se repetem diariamente – engarrafamentos e acidentes envolvendo colegas de profissão – a eventos singulares, como uma tentativa de suicídio numa ponte da zona oeste de São Paulo, de onde um homem, “cansado dessa vida louca”, ameaçava se atirar abraçado a uma garrafa de pinga. Assim como Ronaldo, outros 16 motoboys se tornaram cronistas da metrópole a partir do final de 2006, quando Abad deu a eles telefones celulares com câmera, algo que começava a se popularizar na época, e os incentivou a documentar em tempo real o cotidiano de uma classe detestada no imaginário comum da cidade.

O paulistano ama odiar os motoboys. Ao mesmo tempo imprescindíveis, graças à agilidade nas entregas que realizam em meio ao truculento trânsito de São Paulo, esses profissionais se tornaram sinônimo do comportamento agressivo que se disseminou entre parte significativa da classe.

A “vida loka” dos cachorros loucos tem números impressionantes. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego do município, dos 28.618 acidentes de trânsito com vítimas em 2014, 49% envolveram motociclistas. Na média de vítimas fatais desse mesmo ano, 1,2 das 3,4 mortes diárias foram de pessoas que dirigiam motos. Embora o estudo use a palavra “motociclista”, e não “motoboy”, no dia a dia não faz muita diferença: a ligação entre a imagem da categoria e os acidentes com motocicletas está cristalizada há anos.

Ao olhar para grupos como esse, Abad vislumbrou a criação do projeto Megafone.net, no qual um conjunto de ferramentas de comunicação era oferecido a categorias marginalizadas para que pudessem se expressar. Além do trabalho com os motoboys, ele distribuiu celulares e montou um publicador de áudio, foto e vídeo para prostitutas em Madri; imigrantes nicaraguenses em San José, na Costa Rica; ciganos em León e Lérida, na Espanha; e cadeirantes em Barcelona, Genebra e Montreal. Mas foi em 2004, com 17 taxistas, na Cidade do México, que Abad colocou o projeto em prática pela primeira vez. A experiência serviu de ensaio para a ação em São Paulo, cidade na qual o Megafone havia sido idealizado um ano antes.

Leia a matéria na íntegra na edição #10 da revista “ZUM”.

ZUM #10
LANÇAMENTO sábado (9), às 15h, no MAM (Museu de Arte Moderna), pq. Ibirapuera, portão 3
QUANTO R$ 57,50 (184 págs.)

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