Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Magnum desfaz carranca e mostra lado risonho em exposição em Madri https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/05/magnum-desfaz-carranca-e-mostra-lado-risonho-em-exposicao-em-madri/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/05/magnum-desfaz-carranca-e-mostra-lado-risonho-em-exposicao-em-madri/#respond Wed, 06 Jun 2018 00:04:42 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/image-6-320x213.jpeg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=20054 O fotógrafo alemão Thomas Dworzak quase fez um registro solene do túmulo de Robert Capa. Só que na imagem apareceu um Pokémon. Ele também quase fez um retrato singelo da fachada do Bataclan, clube parisiense onde 90 pessoas foram mortas por terroristas do Estado Islâmico. Só que na imagem apareceu um Pokémon.

As reproduções de telas do jogo de celular, no qual criaturinhas japonesas são caçadas virtualmente em lugares públicos, fazem parte da exposição “Players – Os Fotógrafos da Magnum Entram no Jogo”, que explora o lado divertido da lendária agência fundada por Capa e Henri Cartier-Bresson há mais de 70 anos.

Conhecida por registros de eventos históricos, principalmente guerras e pautas sociais, a Magnum revela agora, no Espacio Telefónica, em Madri, uma parte de seu arquivo centrada no lazer, na descontração e em cenas que escorrem sarcasmo. Junto às reproduções de telas, por exemplo, Dworzak documentou os caçadores de Pokémon em ação. Ali, os retratados aparecem como se fossem zumbis, com as cabeças sincronizadamente inclinadas para ver seus telefones.

Jogadores de Pokémon Go! em Paris, na França

As quase 200 fotografias de 46 autores foram selecionadas por Cristina de Middel, que recebeu carta branca do festival PhotoEspaña para realizar a escolha de artistas e curadores de cinco mostras durante o evento realizado a partir desta quarta (6) a 26 de agosto. Ela é a segunda fotógrafa espanhola indicada a integrar a Magnum, mas, diferentemente da primeira, Cristina García Rodero, que possui o status de membro permanente, De Middel está em período de aprovação –a exposição em Madri faz parte desse processo. Quem divide a organização da mostra é o britânico Martin Parr, ex-presidente da cooperativa e conhecido por fotos sobre consumo em massa.

“Estou em fase de descobrimento”, explica a autora de fotolivros celebrados, como “The Afronauts” e “Party”. “Descobri diversos nomes da Magnum que não conhecia, afinal são mais de 90 fotógrafos. E, desde que fui nomeada, tudo que faço tem mais transcendência, ao mesmo tempo que sinto uma pressão sem igual em minha carreira.”

Foto do italiano Paolo Pellegrin de atleta olímpico

De Middel conta que, quando sugeriu a exposição a Parr, o britâncio associou a palavra “players” literalmente a esportes, embora o significado do termo seja mais amplo. Há, é verdade, muitas cenas esportivas na mostra, como uma série de atletas em contra-luz realizada pelo italiano Paolo Pellegrin ou capturas de telas de TV da Olimpíada de Munique feitas por Harry Gruyaert –o que comprova a diversidade estética da Magnum–, mas a exposição se desdobra em outros universos.

É possível encontrar fotos dos jazzistas Charles Mingus, Birdland e John Coltrane pelo francês Guy Le Querrec, close-ups de membros de bandas de black metal pelo norueguês Jonas Bendiksen e cenas tomadas por Elliott Erwitt, a personificação da fotografia feita para rir.

Erwitt, no entanto, não é fotógrafo de gargalhadas. É fotógrafo da risada de canto de boca, de cenas tão ridículas que só resta rir. O autorretrato que fez com a cabeça de um gorila está na entrada da exposição, em tamanho gigante. Dali se alternam imagens, grandes e pequenas, de diferentes tipos de impressão, e também vídeos, “sem uma narrativa que os una”, diz De Middel, porque quer o espectador seja jogado no espaço como se fosse uma bola de máquina de pinball.

Membro de banda norueguesa de black metal em foto de Jonas Bendiksen

A fotografia mais clássica do acervo da Magnum sobre diversão, contudo, não está na mostra. O retrato feito por Cartier-Bresson, de um menino sorridente desfilando pelas ruas de Paris com garrafas quase maiores que ele, teve de ficar de fora da exposição. Uma série de condições técnicas para exibir as imagens do fundador da agência faria com que as impressões ficassem caríssimas.

Há ainda um outro eixo da exposição que, de alguma forma, junta guerra e diversão. O americano Peter van Agtmael, por exemplo, registra uma cena de aparente normalidade. Um pai brinca com os dois filhosm com sabres de luz e máscara da saga Star Wars. O homem, porém, tem uma perna mecânica, pois é veterano da Guerra no Iraque. Já Moises Saman fotografou um apoiador de Muammar Gaddafi ao segurar um retrato do ex-ditador líbio, enquanto fogos de artifício explodem atrás. Embora a celebração tenha sido encenada para jornalistas, a imagem parece Gaddafi fungindo de ataques –algo que viria a ocorrer.

Apoaiador de Gaddafi segura retrato do ex-ditador líbio. Foto de Moises Saman

A cena foi documentada em 2011. Desde então, a situação política mundial parece tão ou mais intensa do que na época da Primavera Árabe. Se a polêmica em torno da eleição de Trump nos EUA, a deterioração da crise da imigração, as discussões comportamentais sobre gêneros e até a troca recente no governo espanhol parecem pautas mais urgentes, De Middel discorda. “Relaciono-me com a realidade a partir do humor”, diz. “A realidade chegou a um ponto que ou você faz piada ou tudo será insuportável. A ver se por meio da quebra da lógica encontramos ideias novas. Nunca vi na fotografia a função de salva-vidas. Se ela tem, não a quero mais. Que cada um encontre a linguagem que mais o agrada e assim esteja tudo bem.”

O jornalista viajou a convite do festival PhotoEspaña

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Abbas, fotógrafo iraniano que registrou a política das religiões, morre aos 74 anos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/04/25/abbas-fotografo-iraniano-que-registrou-a-politica-das-religioes-morre-aos-74-anos/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/04/25/abbas-fotografo-iraniano-que-registrou-a-politica-das-religioes-morre-aos-74-anos/#respond Wed, 25 Apr 2018 20:07:18 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/par341650-teaser-story-big-320x213.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=20015 O fotógrafo iraniano Abbas, membro da Magnum, morreu nesta quarta (25), aos 74 anos. Radicado em Paris, ele documentou conflitos em diversos países, como Bangladesh, Vietnã, Cuba e Irã, onde registrou a Revolução Islâmica. Durante toda a carreira, Abbas se dedicou a fotografar a relação entre religião e sociedade. A causa da morte não foi divulgada.

Em nota publicada no site da Magnum, o atual presidente da empresa, Thomas Dworzak, classificou Abbas como “um pilar da agência, um padrinho para uma geração de jovens fotojornalistas”. “Ele era um cidadão do mundo que documentou implacavelmente. Guerras, desastres, revoluções, convulsões e crenças –toda sua vida. É com imensa tristeza que o perdemos.”

O período em que documentou a Revolução Islâmica, entre 1978 e 1980, e o retorno ao país, em 1997, 17 anos após um auto-exílio, geraram as imagens do livro “Iran Diary 1971-2002”. Estruturada em três partes, a obra é, segundo a Magnum, “uma interpretação crítica da história iraniana, fotografada e escrita como um jornal particular”.  Em “Faces of Christianity: A Photographic Journey”, lançado em 2000, Abbas dedicou-se a entender o cristianismo como um fenômeno não só espiritual, mas também político.

O interesse pela transformação da religião em ideologias políticas levou o fotógrafo a documentar outras crenças, como o budismo, o hinduísmo e o judaísmo. Em entrevista ao jornal inglês “The Guardian”, em 2008, Abbas escolheu o debate sobre as fronteiras entre fotojornalismo e arte como um tema que o aborrece. “Eu costumava me descrever como fotojornalista, e me orgulhava muito disto”, disse ele à Magnum no ano passado.

“Eu pensava que o fotojornalismo fosse superior, mas já não me considero mais um fotojornalista. Porque embora eu use técnicas de um fotojornalista e publique em revistas e jornais, eu estou trabalhando os assuntos com profundidade e por longos períodos de tempo. Eu não faço histórias sobre o que está acontecendo. Faço histórias sobre minha maneira de ver o que está ocorrendo.” Abbas passou a integrar a Magnum em 1981, mas se tornou membro permanente quatro anos mais tarde. Antes, trabalhou nas agências Sipa e Gamma.

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Fotógrafo da Magnum registra 7 homens que dizem ser a reencarnação de Jesus https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/03/14/fotografo-da-magnum-registra-7-homens-que-dizem-ser-a-reencarnacao-de-jesus/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/03/14/fotografo-da-magnum-registra-7-homens-que-dizem-ser-a-reencarnacao-de-jesus/#respond Wed, 14 Mar 2018 23:21:08 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/maxresdefault-320x213.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19994

“The Last Testament”, de Jonas Bendiksen, foi o vencedor do prêmio Pictures of the Year na categoria de melhor fotolivro de 2017. Publicado em setembro pela Aperture junto à GOST, a obra do norueguês conta a história de sete homens que dizem ser a segunda reencarnação de Jesus Cristo.

Enquanto esteve com eles, o fotógrafo contou em entrevistas que se esforçou para acreditar em tudo o que diziam. Assim entenderia por que a história do retorno do Messias sempre se manteve tão poderosa. Embora exista esse discurso de respeito, a visão retratada no trabalho muitas vezes é cética e escorrega para o sarcasmo.

Isso fica mais evidente quando Bendiksen registra a rotina de Inri Cristo, figura popular no imaginário brasileiro. Como se veste com o mesmo visual de Jesus, com uma coroa de espinhos, e é acompanhado por Inricretes, Inri exala comicidade.

Para ser justo com o norueguês, a maneira como fotografar não é ácida. São as histórias que, por si só, provocam o riso –ainda mais para quem é cético.

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Aos 70, Magnum encara o fato de ser uma empresa https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/06/23/aos-70-magnum-encara-o-fato-de-ser-uma-empresa/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/06/23/aos-70-magnum-encara-o-fato-de-ser-uma-empresa/#respond Fri, 23 Jun 2017 15:41:04 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/06/65868707-ERE2000001W00051_23-180x119.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19705

Em vez de comemorar 70 anos olhando a vela do bolo derreter, a Magnum preferiu reformar o salão antes que ninguém mais pudesse ir à festa. Pela primeira vez em sua história, a agência de fotografia mais célebre do mundo recorreu a investidores, uma mudança profunda para se manter de pé e que provocou o pedido de demissão de um de seus membros.

Por anos, a idealização sobre a importância da Magnum nublou a percepção de que, na prática, trata-se de uma empresa, e não de uma ONG. Além da disseminação de equipamentos digitais, que democratizou a produção e diminuiu o poderio da agência, a queda do mercado editorial foi determinante para jogá-la em situação financeira delicada. É um aniversário melancólico, mas agora ao menos há perspectiva.

De fato, é difícil enxergar a Magnum como uma firma em que funcionários batem cartão e precisam atingir metas ao final do mês. Tampouco funciona assim. Um de seus fundadores, o francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), representa a fotografia de rua clássica, aquilo que se idealiza ao começar na profissão. Outro fundador, o húngaro Robert Capa (1913-1954), definiu o que é registrar uma guerra com seus trabalhos em vários conflitos na primeira metade do século 20. Assim, mais do que fotógrafos, viraram símbolos de uma estrutura sólida que depois reuniria excelentes nomes de estilos muito diferentes.

O alemão Thomas Hoepker flagra grupo de jovens no Brooklyn após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001

Que outro lugar reuniria Martin Parr, Alec Soth, Marry Ellen Mark, Sergio Larrain, Alessandra Sanguinetti, Eve Arnold, Miguel Rio Branco, Susan Meiselas, Cristina García Rodero, Bruce Davidson, Alex Majoli, Alex Webb, Olivia Arthur e Antoine d’Agata?

Entre fotojornalismo, documentário, moda e trabalhos mais experimentais, a agência sempre contou com o topo da cadeia alimentar. Impressiona ainda o fôlego para abraçar jovens. Entre os candidatos a membros permanentes, por exemplo, está o belga Max Pinckers, que ainda nem completou 30 anos. Em 2016, a também belga Bieke Depoorter, 31, foi incorporada à equipe da agência em definitivo. Impressiona ainda mais que a Magnum tenha sobrevivido por sete décadas a tantos egos. Fotógrafo é uma raça complicada, cheia de vaidade, reclamações e ingenuidades.

FOTO A US$ 100

Mesmo que na parte financeira ela tenha sido golpeada pela criação de grupos com o mesmo espírito, como a VII e a Noor, a agência nunca teve sua santidade ameaçada. Preservar o legado, no entanto, é caro. Em 2014, a Magnum contratou David Kogan para ser CEO da empresa. A primeira mudança do gerente foi reforçar o relacionamento da marca com o público em geral, em vez de estreitar laços com meios de comunicação.

Cortou etapas e criou uma venda anual de fotografias assinadas, por US$ 100 cada uma (cerca de R$ 333) –um preço acessível. Quem comprou, porém, deve ter ficado um tanto chateado com o tamanho acanhado das cópias. Ao aceitar investimento externo, fica claro que a estratégia não tapou o buraco. Agora, a mudança significa a criação de uma subsidiária, a Magnum Global Ventures, que controlará todos os ativos da empresa. Para John Vink, o membro desertor que curiosamente votou a favor da modificação, assinar o novo contrato significa ter de aceitar trabalhos impostos pela agência, o que restringiria sua liberdade.

“Tenho certeza de que o material produzido pela Magnum continuará a nos inspirar”, afirmou Vink ao “British Journal of Photography”. “O contexto em que será produzido será um ajuste ao mundo em que vivemos. É assustador e aparentemente inevitável. Por sorte, existem salvaguardas na configuração da agência que garantem que a Magnum estará aí por muito tempo. E é claro que isso é algo muito bom.” Se dessa vez a mudança se mostrar efetiva, a agência chegará bem aos cem anos. E, se cada vez mais pessoas fotografam nos dias de hoje –um dos motivos que diminuiu a força financeira da agência–, mais pessoas se interessarão pela história da fotografia. E essa história passa pelo legado da Magnum.

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Fotos perdidas de Robert Capa, David Seymour e Gerda Taro na Guerra Civil Espanhola vêm a SP https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/12/fotos-perdidas-de-robert-capa-david-seymour-e-gerda-taro-na-guerra-civil-espanhola-vem-a-sp/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/12/fotos-perdidas-de-robert-capa-david-seymour-e-gerda-taro-na-guerra-civil-espanhola-vem-a-sp/#respond Tue, 12 Jul 2016 13:40:32 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/cpa-180x172.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=17905 Mexicana – Numa parceira com o ICP (International Center of Photography), a Caixa Cultural de SP inaugura no próximo dia 23 a exposição “A Valise Mexicana: A Redescoberta dos Negativos da Guerra Civil Espanhola”, com fotos tomadas pelo casal Robert Capa e Gerda Taro, além de imagens realizadas por David “Chim” Seymour. A mostra gratuita exibe cerca de 4.500 negativos que foram encontrados na Cidade do México em uma valise que estava desaparecida desde o fim do conflito, em 1939. Capa, húngaro que morreu aos 40 anos, em 1954, célebre pelos registros do Dia D, na Segunda Guerra, e Seymour, conhecido até então por ter documentado o cotidiano dos espanhóis à sombra da guerra, foram dois dos quatros fotógrafos fundadores da lendária agência Magnum. Ao mesmo tempo em que é ultravenerado, Capa também vive sob diversas polêmicas póstumas. Uma de suas imagens mais conhecidas, “A Morte do Soldado Legalista”, por exemplo, feita em Córdoba durante a Guerra Civil Espanhola, é alvo de controvérsia desde os anos 1970. Pesquisadores dizem que ele estaria em outra cidade quando a foto foi feita –ou até mesmo que Gerda seria a real autora do registro. A exposição na Caixa (pça. da Sé, 111, tel. 11-3321-4400) é uma grande oportunidade para ver imagens de profissionais que mudaram a natureza da fotografia de guerra, reinventando-a de modo que encontra ecos até hoje. Junto à mostra, haverá um minicurso de fotojornalismo nos dias 6 e 13/8; 3 e 10/9. As inscrições poder ser feitas até 5/8 em valisemexicana@gmail.com

Programada – Também na Caixa Cultural de SP, a pesquisadora e professora da FAU-USP Giselle Beiguelman inaugura no sábado (16) a exposição “Cinema Lascado”. Recorte dos últimos 10 anos de produção da artista, a mostra gratuita com curadoria de Eder Chiodetto exibe fotos, vídeos e obras inéditas que se utilizam de softwares, ferramentas e aparatos eletrônicos de várias gerações para discutir, entre outras questões, o consumo desenfreado de tecnologia e a obsolescência programada. “Cinema Lascado” fica em cartaz até 25/9, de terça a domingo, das 9 às 19h.

Segundo ato – A fotógrafa Lenise Pinheiro lança, no dia 19, o livro “Fotografia de Palco II”, com imagens de sua trajetória documentando o universo do teatro, desde cenas no palco até bastidores das montagens. Colaboradora da Folha desde 1998, ela publica a segunda parte de “Fotografia de Palco” oito anos depois do primeiro lançamento e dois depois de produzir “Teatro Oficina”, coletânea de fotos que realizou do grupo encabeçado por Zé Celso Martinez Corrêa. O evento do dia 19 ocorrerá no Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 11-3871-7700), às 20h, com sessão de autógrafos.

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Martin Parr fará fundação para preservar sua obra https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/06/27/martin-parr-fara-fundacao-para-preservar-sua-obra/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/06/27/martin-parr-fara-fundacao-para-preservar-sua-obra/#respond Mon, 27 Jun 2016 11:00:13 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/06/2013_parr_martin_1500-180x144.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=17744 Há pouco mais de uma semana, o fotógrafo britânico Martin Parr inaugurou no MIS-SP (Museu da Imagem e do Som) uma grande retrospectiva de sua obra. No sábado (18), dia da abertura, ele participou de uma entrevista, aberta ao público, junto ao curador da mostra, Iatã Cannabrava.

Além de fotógrafo cuja linguagem sarcástica foi copiada por milhares de artistas, Parr, 64, é curador, pesquisador, colecionador e professor. Expandiu seus tentáculos de tal maneira que, hoje, é um dos principais elementos inflacionários do pequeno, mas relevante mercado de fotolivros.

Na conversa, mediada pelo Entretempos, Parr discorreu sobre a principal mudança em sua carreira, ainda na década de 1980, quando deixou as imagens em preto e branco para mergulhar nas cores e em enquadramentos menos ortodoxos. Ele, porém, foi muito além: falou sobre a então possível saída do Reino Unido da União Europeia, a atual situação financeira da Magnum, agência da qual é presidente, e revelou que planeja abrir uma fundação para preservar sua obra.

O instituto, que nunca havia sido comentado publicamente, será em Bristol, na Inglaterra, a cerca de 190 km de Londres. Além de manter o acervo do artista, a fundação de Parr terá como objetivo estimular a produção de fotógrafos documentais britânicos. Quando perguntado pelo público se a instituição seria destinada a promover educação visual para crianças, Parr respondeu, com a costumeira ironia, que “não pode resolver todos os problemas do mundo”.

Essa não seria a única alfinetada do britânico durante a entrevista. Ao mesmo tempo em que elogiou os fotolivros latino-americanos, que, segundo ele, são carregados de muita energia, criticou a “superconceitualização” de muitos trabalhos produzidos no Brasil. Afirmou também que há entre os fotógrafos nacionais uma insistência no tema indígena, ao ponto de se perguntar qual era, afinal, a contemporaneidade do país. Em alguma –grande– medida, é impossível discordar de Parr.

Para saber mais informações sobre a retrospectiva no MIS, leia a reportagem de Silas Martí. Há ainda uma análise do Entretempos, também publicada na “Ilustrada” de sábado (18), sobre por que Martin Parr se tornou um nome tão importante na fotografia contemporânea. Abaixo, você pode assistir ao vídeo com a íntegra da entrevista realizada no dia da abertura da exposição.

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Teju Cole faz saga em São Paulo para encontrar local da foto de René Burri https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/08/23/teju-cole-faz-saga-em-sao-paulo-para-encontrar-local-da-foto-de-rene-burri/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/08/23/teju-cole-faz-saga-em-sao-paulo-para-encontrar-local-da-foto-de-rene-burri/#respond Sun, 23 Aug 2015 07:00:43 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=15560
‘Men on a Rooftop’, foto de René Burri feita em São Paulo, em 1960

No topo de um edifício, quatro homens engravatados desfilam suas sombras alongadas ao fim da tarde. Ao lado do prédio de linhas retas, uma avenida onde corriam bondinhos rasga a fotografia em preto e branco. As silhuetas dos pedestres na via parecem miniaturas das famosas esculturas de Alberto Giacometti, comparou o escritor e fotógrafo americano Teju Cole, em artigo publicado na quarta (19), na versão on-line da revista do “New York Times”.

Os engravatados, por sua vez, bem poderiam lembrar os personagens da série “Mad Men” ou os gângsteres de “Cães de Aluguel”, de Quentin Tarantino. Mas é a obra de outro artista, suíço como Giacometti, que se tornou a obsessão
de Cole, 40, autor do romance “Cidade Aberta” (Companhia das Letras).

Em 1960, o fotógrafo René Burri veio a capital paulista para produzir uma reportagem para a revista alemã “Praline”. Autor de retratos clássicos de
Che Guevara e artistas como Picasso e Yves Klein, o membro da lendária agência Magnum visitou, desde o final da década de 1950, Rio, Salvador, Brasília e São Paulo, cidade que lhe ofereceu uma de suas imagens mais emblemáticas, “Men on a Rooftop” (homens em um telhado, em português).

Quando Burri morreu, no ano passado, aos 81, Cole vivia em Zurique, local
de nascimento e morte do fotógrafo. A coincidência reacendeu no escritor a admiração que tinha pela fotografia do telhado e transformou esse fascínio em investigação. Em março, ele então veio ao Brasil tentar descobrir de que lugar Burri havia feito o registro. “Tivemos um inverno muito pesado em Nova York, e eu precisava desesperadamente de uma pausa”, explica o autor de origem nigeriana à Folha. “Em vez de uma praia ou um resort tropical, comprei a passagem para São Paulo e entrei na fase mais forte da obsessão.”

Cole sabia apenas que a foto havia sido feita na capital paulista, cidade que visitou há três anos quando veio ao país como convidado da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). No site da Magnum, conseguiu a reprodução do verso da imagem original, que não serviu para muita coisa.

HOMENS DE NEGÓCIO
Ali, apenas as palavras “Brasil”, “homens de negócio”, carimbos e alguns números. Ao desembarcar na cidade, procurou o curador Thyago Nogueira, coordenador de fotografia contemporânea do Instituto Moreira Salles, cuja sede local fica na avenida Paulista. Avenida Paulista? Rua da Consolação? Avenida da Liberdade? Burri teria fotografado a partir do edifício Martinelli? Ou do Copan? O Edifício Itália também poderia ser uma boa opção.

Foto feita pelo escritor americano Teju Cole do alto do Banespão

Nada. Durante nove dias, Cole subiu no topo destes e de muitos outros prédios. Sem falar português, mostrava quando necessário uma carta escrita por colegas que trabalham –ou trabalharam– na editora que publicou seu livro no Brasil. Nogueira então apelou. Indicou Cristiano Mascaro, 70, um
dos maiores nomes da fotografia brasileira, cujos registros geométricos, cheios de sombras e linhas, dissecam com elegância a arquitetura paulistana.

Sem vacilar, Mascaro reconheceu a avenida São João, no centro da cidade, tema de seu mestrado e local que concentrava as salas de cinema de rua de sua adolescência. Daquele ângulo, Burri só poderia ter feito a foto a partir do edifício Altino Arantes, o popular Banespão. Cole foi ao prédio, hoje fechado para reforma, fez algumas fotos com sua lente de curto alcance e foi embora desanimado, sem encontrar a cena. Achou que, de novo, era o local errado.

Mascaro insistiu. “Eu já havia subido no Banespão em 1986, e a foto do Burri é manjada, todo o mundo conhecia. Eu não tinha dúvida, era lá”, justifica. Já o escritor se lembrou de uma entrevista em que Burri contou detalhes da foto misteriosa. Naquela época, Henri Cartier-Bresson, um dos fundadores da Magnum, proibia o uso de lentes de longo alcance por fotógrafos da agência —o escopo permitido era de 35 a 90 milímetros. O suíço se rebelou e usou uma lente de 180mm. “Ali eu rompi com meu mentor”, disse o suíço na entrevista.

Cole então conseguiu com Nogueira uma objetiva de maior alcance, de 85mm, e correu para refazer a imagem que o perseguia. Com uma lente mais próxima daquela usada por Burri, enfim encontrou a mesma cena, embora ainda em um enquadramento mais aberto. Do alto do Banespão, viu a avenida São João muito diferente daquela dos anos 1960. Em vez de bondes, apenas ônibus, carros e pedestres. Os homens engravatados estavam, na verdade, não no topo, mas num terraço do edifício do Banco do Brasil da rua Líbero Badaró.

Era véspera de sua volta aos EUA, e Cole ainda tinha de devolver a objetiva emprestada. No dia da partida, tentou deixá-la na portaria do Instituto Moreira Salles, sem sucesso. “Foi uma cena cômica com os porteiros: ‘Não’, eles diziam. ‘Por favor’, eu replicava. ‘Não’, eles diziam”, relembra o escritor. “E eu tentando convencê-los de que aquilo não era uma bomba. Mas quando é não é não.” Levou então a lente consigo e, no caminho para o aeroporto, colocou o recepcionista do hotel onde se hospedou em contato com o taxista.

Assim o instrumento-chave para viabilizar sua descoberta não foi levado para Nova York. As imagens realizadas do alto do Banespão, feitas em película, porém, só foram reveladas nos Estados Unidos. “Uma história maluca a desse rapaz, pena que ele fez uma foto bem ruinzinha”, brinca Mascaro.

PROCURA-SE
“Eram gângsteres? Eram banqueiros?”, pergunta o escritor Teju Cole sobre os personagens que aparecem no terraço do edifício na fotografia de René Burri. O autor norte-americano encontrou o prédio registrado na imagem, mas os engravatados no telhado seguem anônimos. Se você sabe algo sobre eles, envie informações para o e-mail ilustrada@grupofolha.com.br.

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Desespero e tesão de Antoine D’Agata vêm ao Brasil para o Paraty em Foco https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/28/desespero-e-tesao-de-antonie-dagata-vem-ao-brasil-para-o-paraty-em-foco/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/28/desespero-e-tesao-de-antonie-dagata-vem-ao-brasil-para-o-paraty-em-foco/#comments Tue, 28 Jul 2015 07:00:23 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=14743 O texto abaixo foi publicado na “Ilustrada” desta terça-feira (28).

Imagem realizada em São Paulo, em 2006, em prostíbulos da região da Luz. Foto: Antoine D’Agata/Cortesia Magnum Photos

Depois de uma punhalada, muitos socos e um olho perdido, o fotógrafo francês Antoine D’Agata volta ao Brasil. A punhalada ocorreu no México, há dois meses. O olho se foi aos 20 anos, quando brigou com a polícia e tomou três tiros. Já a saraivada de murros é a lembrança mais marcante de uma das três passagens por São Paulo, quando tentaram roubar sua câmera.

Maior festival de fotografia do país, o Paraty em Foco recebe D’Agata, 53, como destaque de sua 11ª edição, que será realizada entre 23 e 27/9. O universo em desconstrução do francês, no qual registra a si mesmo com dois de seus amores —prostitutas e agulhas cheias de heroína—, será o gancho para discutir representação e autorrepresentação na fotografia atual.

Como em quadros de Francis Bacon (1909-1992), os corpos captados nas imagens de D’Agata aparecem em simbiose, todos retorcidos —misto de desespero e tesão. “Vejo as selfies [publicadas em redes sociais] como uma maneira de trazer conforto. As pessoas tranquilizam suas inquietudes com fotos que digam: ‘Eu estive aqui com essa pessoa, e fizemos isso’”, comenta.

“Mas o autorretrato é uma forma de confrontar. São perguntas, enquanto as selfies são respostas. Esquecemos que fotografia é explorar e mudar a percepção sobre o mundo.” Percepção essa que ele controla por meio de períodos de abstinência e de imersão nas drogas.

Imagem realizada em São Paulo, em 2006, em prostíbulos da região da Luz. Foto: Antoine D’Agata/Cortesia Magnum Photos

Segundo D’Agata, cada vez que se vê dominado por elas, sem poder trabalhar, impõe a si mesmo um “detox”. Da mesma forma, quando se vê muito lúcido, retorna à antiga rotina porque sabe que é preciso “se perder”. Este “jogo perigoso, cheio de riscos” está longe de ser divertido, mas o também membro da Magnum afirma que esta é uma maneira necessária para se manter vivo.

Após visitar prostíbulos na região da Luz, em São Paulo, e pontos de venda de crack em Salvador —viagens registradas no fotolivro “Noiá”—, D’Agata vai a Paraty junto com o australiano Max Pam, o historiador espanhol Horácio Fernández e o finlandês Arno Rafael Minkkinen, entre muitos outros nomes.

Leia abaixo a íntegra da entrevista, por telefone, com Antoine D’Agata.

Entretempos – Você realizou ensaios em São Paulo e em Salvador. Qual é a memória mais marcante que tem do país?

Antoine D’Agata – Nos últimos anos, trabalhei três vezes no Brasil. E as três experiências foram muito fortes, muito intensas, com encontros muito densos. E com muita violência também. Em uma das vezes, em São Paulo, acabei no hospital. Três garotos quase me mataram, bateram-me na cabeça, mas fiquei com a câmera, nunca deixei a câmera. Em Salvador também passei muito medo. Fotografei por duas semanas um lugar de venda de crack e foi intenso, com muito medo, muita tensão. O trabalho que desenvolvi no Brasil
é muito importante, mas agora eu não tenho força para continuá-lo.

Então não vai aproveitar a viagem para fotografar no país?

Não sei. Gostaria de fazer mais um livro, porque foram três viagens e muitas fotos. Sempre busco esse nível de tensão, mas em algum ponto esse nível de tensão chega a outra coisa. E então se torna impossível trabalhar. Quando o nível de medo e violência vai além de um ponto, você fica sem ter o que fazer.

Fotografia tomada em 2008, no Camboja. Foto: Antoine D’Agata/Cortesia Magnum Photos

O que aconteceu com você em São Paulo?

Queriam roubar a câmera. Em Salvador foi o mesmo. Eu tive que tomar coisas para ter coragem de trabalhar. É como um círculo vicioso. Ao mesmo tempo, isso gerou uma experiência muito preciosa, muito única, muito forte.

O tema do festival é representação e autorrepresentação. Como você vê esse tsunami de selfies na fotografia atual?

Vejo as selfies como uma maneira de trazer conforto. As pessoas têm que confortar seus medos e inquietudes fazendo fotos que digam: “Eu estive aqui com essa pessoa, e fizemos isso”. Para mim, o autorretrato não é uma maneira de conforto. É uma maneira de perguntar, de explorar, de confrontar. Os autorretratos são perguntas, as selfies são respostas. São muito diferentes.

Ao mesmo tempo há muitos trabalhos que discorrem sobre a vida dos artistas. Estamos mais narcisistas?

Nos últimos 20 anos, vi uma evolução muito forte da fotografia. Chamo essa geração de geração Facebook, porque está muito interessada em si mesma. Com intenções boas: querem viver melhor, com pessoas melhores, em um ambiente ecológico. Mas a melhor maneira de conhecer o mundo é confrontando-o, confrontando os outros. Tomando alguma atitude de risco, abrindo-se à comunidade, aos estrangeiros. Sim, vejo a fotografia mais narcisista, mais egocêntrica. E esquecemos que a fotografia é explorar o mundo e mudar o entendimento sobre ele. A missão da fotografia é enfrentar a realidade e regressar a uma outra maneira de se relacionar com o mundo.

Em entrevistas anteriores, você fala abertamente sobre consumo de drogas e a sua dificuldade para se manter sóbrio. Como está a sua situação hoje em relação a este tema?

Eu sigo experimentando. Sempre usei das drogas e do sexo para chegar em algum tipo de inconsciência, de pureza. Quando vejo que a droga me domina, e não posso pensar nem trabalhar, faço “detox”. Agora mesmo estou em um momento em que o vórtex, a espiral, parece-me improdutivo. Não me afasto para me salvar disto, mas para voltar com mais controle. É um jogo perigoso, com riscos muito grandes. Tenho o privilégio de fazer as coisas que eu escolho fazer. Conheço muitas pessoas na fotografia que nunca puderam escolher nada. Essa liberdade me permite desenvolver o que faço, ver o mundo como vejo e compartilhá-lo. Tenho muito respeito pelas pessoas que eu fotografo, porque elas vão muito mais além do que eu nunca poderia ir. Estou numa posição complicada em relação às pessoas que fotografo. Trato de me levar a elas, mas ao mesmo tempo sei que tenho uma liberdade de movimento que eles não têm. Minha fotografia está em um equilíbrio impossível entre a vida e a arte. Interessa-me muito esse limite ideal quando a vida e a arte se confrontam. Quando a fotografia supera a vida, tudo fica muito consciente e vazio. E quando a vida supera a arte já não há arte. Estou sempre lutando, mesmo que saiba ser impossível chegar a um ponto. Ando de um lado para o outro como uma onda que nunca para. Quando vejo que o vício me pega e me mata, sei que tenho de tomar um pouco mais de controle para algum nível de lucidez. Quando estou muito lúcido, sei que tenho que me perder.

Imagem realizada em São Paulo, em 2006, em prostíbulos da região da Luz. Foto: Antoine D’Agata/Cortesia Magnum Photos

É verdade que você é cego de um dos olhos? O que aconteceu?

Perdi o olho em uma briga com a polícia, quando tinha 20 anos. Tomei três tiros: um na bunda, outro no ombro e o terceiro no olho. Há dois meses, no México, uma pessoa me apunhalou. Mas é importante porque me sinto vivo. Você sente a carne, o liquido que escorre. Não é um jogo divertido, mas é necessário sentir os riscos para seguir vivo. Tenho que fazer o que escolhi, dizer o que tenho que dizer e viver o quanto for possível da maneira mais intensa, mais honesta e mais justa que posso.

Há poucos meses, a Magnum escolheu um novo CEO para resolver suas finanças. Qual é a sua visão sobre a agência hoje?

Obviamente, a agência, assim como muitos meios de comunicação, estão vivendo mudanças muito importantes. Creio que o problema não seja econômico. Tenho muito carinho pela história, pelo mito fundador da agência, pelos seus fotógrafos e seus ideais, mas o que vejo hoje é que as coisas são muito mais pragmáticas, muito mais comerciais. Ainda assim, a Magnum e eu seguimos tentando encontrar um terreno de entendimento, porque não estou de acordo com o pragmatismo financeiro e comercial deles hoje. Ainda que alguns poderiam me acusar de idealismo ou de niilismo, acredito que seja mais um problema de valores do que de sobrevivência econômica. Há um desacordo profundo com a agência neste momento.

Você está na Dinamarca neste momento para uma série de workshops, algo que faz com certa frequência. Qual é a lição mais importante que você quer passar aos seus alunos?

Mais do que falar sobre fotografia, trato de dar responsabilidade para as pessoas. É sobre a vida. No final, é tudo uma questão de assumir uma posição na vida, em sua existência. Ser o mais coerente possível, e que esse é o dever do humano. Não sabemos muito, não sabemos nada no final, e com o pouco que sabemos temos de inventar um destino mais digno possível. É sobre isso que trato de compartilhar com eles: de ir um pouco mais além, de esquecer um pouco o meio profissional. Não é um problema da fotografia, é um problema da vida. É a força de cada dia de reinventar riscos e destinos.

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Um velho DVD sobre fotografia https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/20/um-velho-dvd-sobre-fotografia/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/07/20/um-velho-dvd-sobre-fotografia/#comments Mon, 20 Jul 2015 13:08:48 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=14472 O texto abaixo foi publicado na edição deste domingo (19) da Ilustríssima.

Alguém que tenha vivido entre o século 19 e a metade do 20 certamente testemunhou um mundo em rápida transformação. Nada comparável, porém, à velocidade dos avassaladores primeiros 15 anos do século 21.

A fugacidade com que conceitos e práticas foram criados ou abandonados neste período faz do primeiro dos três volumes da série “Contatos”, lançado agora no Brasil, em DVD, pelo Instituto Moreira Salles, não apenas um momento de nostalgia mas também uma peça de museu.

Criada no final da década de 1980 por William Klein, a coleção reúne depoimentos dos mais importantes nomes do fotojornalismo sobre suas folhas de contato –prática até então indispensável para a edição. Contra a mesa de luz, com lentes de aumento, os negativos eram dispostos na mesma sequência em que foram produzidos, e os artistas debruçavam-se sobre as imagens, marcando os quadros finais que seriam enfim revelados.

Hoje, as folhas de contato foram pulverizadas à força pelo digital. É comum encontrar jovens fotógrafos que nunca trabalharam dessa forma ou que até mesmo desconhecem o método –o que não denota ignorância, mas a marca de um período que solapou tradições como se nunca tivessem existido.

O lançamento da série no país acontece mais de 20 anos após sua concepção. Quando Klein concebeu os vídeos, portanto, a fotografia não estava tão próxima da avalanche digital. Assim, “Contatos” soa muito mais como uma homenagem às folhas de contato, e não como o resgate de algo já esquecido. Mesmo que banhado em certo anacronismo, este lançamento também serve como ponte para elementos da fotografia que ainda permanecem.

A análise dos negativos revela que imagens antes consideradas únicas não foram fruto de um simples golpe de sorte, mas da insistência numa cena ou história específica –nada distante do que ainda é praticado hoje.

TROCAR DE ROLO

Em todos os 12 minidocumentários que compõem o primeiro DVD da coleção, a câmera percorre os negativos, quadro a quadro, como se emulasse o olhar dos fotógrafos no momento da mesa de luz, até chegar à fotografia definitiva.

Esse caminho da câmera sobre os trabalhos de Henri Cartier-Bresson (1908-2004), Robert Doisneau (1912-94), Raymond Depardon e muitos outros nomes da lendária agência Magnum, exibe a repetição de um mesmo assunto até atingir a perfeição final. Diferente do que se imaginava, esses fotógrafos produziram uma enorme quantidade de imagens para alcançar poucas cenas, mesmo com as limitações impostas pelo número de poses de um rolo de filme –é angustiante imaginar Josef Koudelka ao ter de trocar a película em meio à invasão soviética nas ruas de Praga, em 1968.

Ao longo dos anos, essa prolixidade foi ampliada e banalizada brutalmente pela capacidade quase inesgotável oferecida pelos equipamentos digitais.

O que era minimizado muitas vezes como o fotógrafo que estava apenas no “lugar certo e na hora certa” dá lugar ao entendimento de que tudo parte da construção do olhar e da teimosia perfeccionista. Por outro lado, esse suposto dom de capturar cenas únicas de forma espetacular também conferiu a esses artistas um ar glorioso.

Visto desse ângulo, “Contatos” também desnuda fotógrafos tratados como seres sobrenaturais. Talvez essa seja a explicação pela qual Elliott Erwitt não goste de mostrar seus arquivos brutos e Bresson tenha definido a análise de suas fotos pela folha de contatos como uma ida ao divã.

Terapia essa que não se concentra apenas em seu tema central. Embora tudo gire em torno das folhas de contato, todos os entrevistados se dedicam a discorrer sobre o ato de fotografar. E escutar Helmut Newton, Mario Giacomelli e o próprio William Klein papearem sobre fotografia é atemporal.

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Fotógrafa documental Mary Ellen Mark morre aos 75 em Nova York https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/05/26/fotografa-documental-mary-ellen-mark-morre-aos-75-em-nova-york/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/05/26/fotografa-documental-mary-ellen-mark-morre-aos-75-em-nova-york/#respond Tue, 26 May 2015 21:46:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=13930

Conhecida por projetos documentais com temas sociais e retratos, a fotógrafa americana Mary Ellen Mark morreu nesta segunda (25), aos 75 anos, em Nova York. A causa da morte não foi divulgada. Nascida em Elkins Park, próximo à cidade de Filadélfia, ela foi membro da lendária agência Magnum até 1981 e produziu ensaios para revistas como “Life”, “The New York Times Magazine”, “The New Yorker”, “Rolling Stone” e “Vanity Fair”.

Em seu ensaio mais conhecido, realizado em 1976, a fotógrafa passou 36 dias em um hospital psiquiátrico do Estado de Oregon, nos EUA, para documentar a ala feminina da instituição. O trabalho gerou o fotolivro “Ward 81”, lançado no mesmo ano. Em entrevista à “Time”, em 1978, Mark disse que “queria fazer um ensaio sobre pessoas que são trancadas longe da sociedade e mostrar quem realmente são”. “Não queria exibi-las como malucas exóticas.”

Entre os prêmios que recebeu ao longo de sua carreira estão o Cornell Capa, em 2001, e o Lifetime Achievement in Photography, entregue no ano passado. Em 1988, pelo conjunto de sua obra, a americana recebeu o World Press Photo, maior prêmio dedicado ao fotojornalismo. Ela voltaria a vencer o concurso em 2004 com a série de retratos “Twins”, na qual fotografou gêmeos com uma câmera de grande formato. Em texto publicado no site da artista, Mark diz que o equipamento possibilitou mostrar, em detalhes, não só como gêmeos são parecidos, mas também as sutilezas que os diferenciam.

Mark ainda participou da produção de diversos longas, nos quais registrava os bastidores das filmagens. Além de “Ânsia de Amar” (1971) e “Peixe Grande” (2003), a fotógrafa trabalhou em “Babel” (2006), do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu. Ao lado dos fotógrafos Patrick Bard, Graciela Iturbide e Miguel RioBranco, Mark acompanhou o processo do filme ambientado em Japão, México e Marrocos.

Ela também ficou conhecida pela série “Streetwise”, sobre adolescentes que sobreviviam como prostitutas e traficantes nas ruas de Seattle. Concebida a partir da reportagem “Streets of the Lost” (ruas da perdição), que realizou para a revista “Life”, a obra originou um documentário dirigido por Martin Bell, cineasta e marido da fotógrafa. Mary Ellen Mark morreu antes de concluir seu 19º livro, que seria baseado na prostituta Tiny, fotografada durante “Streets of the Lost”. Ela não deixa filhos.

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