Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Só tara por fogo explica escolha da melhor foto do ano no World Press Photo https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/04/12/so-tara-por-fogo-explica-escolha-da-melhor-foto-do-ano-no-world-press-photo/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/04/12/so-tara-por-fogo-explica-escolha-da-melhor-foto-do-ano-no-world-press-photo/#respond Fri, 13 Apr 2018 00:17:22 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/520314be7b35ea7b71f6151093a4c0365341926356f6bd129c67c89b67442636_5acfc49dec046-320x213.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=20005 O que era ruim conseguiu ficar pior. Após divulgar uma das mais fracas seleções de premiados dos últimos anos, o World Press Photo anunciou nesta quinta (12) o vencedor na categoria foto do ano. A ganhadora, do venezuelano Ronaldo Schemidt, mostra um manifestante contrário a Nicolás Maduro em conflito com a polícia. Com uma máscara de gás,  ele corre enquanto seu corpo está em chamas.

Só a tara por fogo explica a escolha. Espetaculosa, a imagem impressiona na mesma velocidade com que é esquecida. Tem impacto visual, mas não apresenta contexto —a foto poderia ter sido feita tanto em Caracas quanto num protesto nos arredores da rodoviária do Tietê, em São Paulo. Há, para ser justo, mais do que o fetiche por chamas. O registro de Schemidt remete à imagem do monge budista Thich Quang Duc, que jogou gasolina sobre o próprio corpo e se queimou em frente a dezenas de espectadores, num protesto contra o governo vietnamita nos anos 1960.

A imagem feita por Malcolm Browne, porém, mostra uma pessoa parada, em posição de meditação, enquanto o corpo se torna cinzas. Não há gritos nem melodrama, e a foto choca porque exibe alguém derretendo em silêncio. É diferente do maneirismo pirotécnico do registro vencedor do maior prêmio do fotojornalismo neste ano.

Pela primeira vez, o World Press Photo anunciou o principal ganhador somente meses após a divulgação dos premiados nas demais categorias —naquele momento, também publicou a lista dos seis finalistas a foto de 2017.

Outro fator que pode ter influenciado a escolha é a intenção dos organizadores de chamar a atenção para temas importantes do noticiário. A Venezuela, mergulhada em caos político e econômico, encaixa-se nessa condição. Também atende a esse requisito a guerra no Iraque, cenário de duas imagens finalistas do irlandês Ivor Prickett. Em uma delas, um combatente segura um menino nu, dormindo, numa posição comum a crianças de qualquer lugar do mundo. Se a composição estética não é das melhores, a imagem de Prickett traz humanidade a uma paisagem desoladora.

Havia ainda a crise dos rohingyas, representada pela foto do australiano Patrick Brown. Outros trabalhos, melhores que o de Brown, como os do canadense Kevin Frayer e do chileno Tomás Munita —este nem ao menos mencionado pelo júri—, também foram esnobados.

Se a ideia era premiar o instinto, havia opções mais dignas. O atropelamento durante um protesto em Charlottesville contra grupos supremacistas era mais impactante, assim como os registros de David Becker, feitos minutos após um atirador abrir fogo contra o público de um festival de música em Las Vegas.

A escolha do júri parece mais absurda quando se sabe que uma imagem similar à de Schemidt, feita pelo venezuelano Juan Barretto, com o mesmo manifestante em chamas, fotografado no mesmo local, também foi premiada. Mas ficou em terceiro lugar na categoria Spot News/Stories.

A distância entre a fotografia do ano e o terceiro lugar de uma das categorias do World Press Photo parece ser grande demais.

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Com imagem de morte de embaixador, World Press Photo prioriza fotojornalismo cru e menos cerebral https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/02/13/com-imagem-de-morte-de-embaixador-world-press-photo-prioriza-fotojornalismo-cru-e-menos-cerebral/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/02/13/com-imagem-de-morte-de-embaixador-world-press-photo-prioriza-fotojornalismo-cru-e-menos-cerebral/#comments Mon, 13 Feb 2017 14:04:52 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/62678615-APTOPIX_World_Press_Photo-142x180.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19482 Em 19 de dezembro, 12 dias antes de 2016 terminar, Burhan Ozbilici tornou-se o autor da imagem do ano. Com o dedo em riste e expressão de fúria, o policial turco Mevlut Mert Altintas foi fotografado segundos após assassinar o embaixador russo Andrey Karlov em uma galeria de arte em Ancara. O enquadramento cambaleante, fruto do pavor do momento, quando jornalistas e convidados acompanhavam a abertura de uma exposição, corta um dos pés e uma das mãos do político, estendido no chão. Um pedaço do microfone no qual Karlov discursava também aparece. Embora a imagem escorra instinto e informação, elementos fundamentais do fotojornalismo clássico, os elegantes trajes do assassino e a luz fria da galeria aproximam a foto de uma cena de cinema. Nesta segunda (13), o registro de Ozbilici, da Associated Press, foi escolhido como a fotografia do ano pelo World Press Photo, o mais importante prêmio de fotojornalismo no mundo.

A vitória do fotógrafo turco é a confirmação de que a competição busca, ao menos em sua principal categoria, um retorno a um fotojornalismo mais direto. O resultado do ano passado já exibia a preocupação em celebrar um tema que dominou o noticiário durante o período –o drama dos refugiados–, mas, ainda assim, sem deixar o cuidado extremo com a estética de lado. Em preto e branco, o australiano Warren Richardson fotografou um homem passando um bebê por baixo de uma cerca de arame farpado em Röszke, na fronteira entre Hungria e Sérvia. Foi uma quebra em relação às duas premiações anteriores, centradas em assuntos contemporâneos. Em 2015, o registro de um casal gay, realizado pelo dinamarquês Mads Nissen, na Rússia, foi o vencedor. Um ano antes, a imagem do americano John Stanmeyer sobre um grupo de imigrantes somalis em busca de sinal de celular na costa de Djibuti, no leste da África, foi a escolhida. Ainda que tratasse de imigração, o elemento que mais chamava a atenção era o tema da disseminação da tecnologia.

A foto de Ozbilici está longe de ser esteticamente pobre. Mas a característica que salta aos olhos é, sobretudo, a coragem para capturar o flagra. Trata-se de imagem cheia de onomatopeias, com conexão direta ao leitor, sem deixar espaço para raciocinar. Em vez do preparo, a reação ao inesperado. Mais intenso, menos cerebral. A foto escolhida em 2017 é como um nocaute de um soco só, enquanto as vencedoras de anos mais recentes são como surras em câmera lenta. Contudo, segundo reportagem da revista “Time” com pessoas ligadas aos jurados deste ano, a escolha da imagem do turco foi apertada. O chefe do júri, Stuart Franklin, por exemplo, discorda da decisão. Para ele, que também é fotógrafo da Magnum, conceder o prêmio mais importante do World Press Photo ao registro de um assassinato premeditado é amplificar a sua mensagem. Em um ótimo texto para o jornal britânico “Guardian”, Franklin deu mais detalhes sobre sua posição.

LALO DE ALMEIDA

Pela primeira vez, um fotógrafo da Folha está entre os vencedores do World Press Photo. Lalo de Almeida ficou em segundo lugar na categoria para histórias de temas contemporâneos com o ensaio sobre vítimas da zika no Nordeste, parte de um especial publicado pelo jornal em dezembro. Além do olhar fora da curva, Lalo é uma pessoa de inteligência e elegância admiráveis. Fico extremamente feliz com o resultado, tanto no plano profissional quanto no pessoal. Parabéns também ao brasileiro Felipe Dana, que ficou em terceiro lugar na categoria Spot News.

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World Press Photo premia foto sobre drama dos refugiados e recua de tendência comportamental https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/02/18/world-press-photo-deste-ano-premia-foto-sobre-refugiados-e-recua-de-tendencia-comportamental/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/02/18/world-press-photo-deste-ano-premia-foto-sobre-refugiados-e-recua-de-tendencia-comportamental/#comments Thu, 18 Feb 2016 11:44:45 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/02/1802WEBAPPworldPress7-180x120.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=17332 Em preto e branco, um homem passa um bebê por baixo de uma cerca de arame farpado em Röszke, na fronteira entre Hungria e Sérvia. A imagem, realizada pelo fotógrafo Warren Richardson em agosto do ano passado, venceu o principal prêmio da edição 2016 do World Press Photo, que anunciou sua lista de ganhadores na manhã desta quinta (18). O tema dos refugiados quebra a tendência, nos últimos dois anos, de celebrar temas comportamentais como “a” foto.

Em 2014, a imagem do americano John Stanmeyer sobre um grupo de imigrantes somalis em busca de sinal de celular na costa de Djibuti, no leste da África, foi a vencedora da maior honraria do fotojornalismo no mundo. Embora tratasse de imigração, o elemento que mais chamava a atenção era o tema da disseminação da tecnologia. No ano seguinte, o registro de um casal gay durante um momento íntimo, tomada pelo dinamarquês Mads Nissen em São Petersburgo, na Rússia, foi a vencedora. Ambas as fotos também levaram a categoria de temas contemporâneos.

O australiano Richardson e o júri desta 59ª edição colocam a política de volta ao topo do World Press Photo. Na categoria de notícias gerais, segundo texto publicado pelo prêmio, a crise dos refugiados foi o tema dominante entre os registros enviados pelos concorrentes. “A guerra na Síria, os ataques em Paris em janeiro e novembro, o devastador terremoto no Nepal e os confrontos nos Estados Unidos desencadeados pela polícia também estiveram muito presentes.”

O maior vencedor desta edição do World Press Photo, aliás, parece ser um sinal de volta às origens do prêmio da maneira menos complicada possível: uma imagem clássica, em preto e branco, sem o tratamento que faz as fotos parecerem telas de videogame –e que gerou mudanças para evitar suspeitas de manipulação– e de um assunto que esteve no noticiário à exaustão.

Para Francis Kohn, chefe do júri e diretor de fotografia da agência de notícias France Presse, “a foto de Richardson tem potência por sua simplicidade, especialmente pelo simbolismo da cerca de arame farpado”. “Achamos que tinha quase todos os elementos para dar uma imagem forte do que está ocorrendo com os refugiados. É uma foto muito clássica e ao mesmo tempo atemporal.”

Combatente do Estado Islâmico é atendido em hospital no Curdistão, foto de Mauricio Lima
Foto de Mauricio Lima registra índios Munduruku brincando no rio Tapajós

Também em preto e branco, Francesco Zizola, experiente fotógrafo italiano da agência Noor, ficou em segundo lugar na categoria de histórias contemporâneas com o ensaio sobre um navio de pesca que saiu da Líbia em direção à Itália com 500 imigrantes. Ele ficou atrás do português Mário Cruz, que registrou a vida de talibes, garotos que vivem em uma rotina de abusos e miséria em escolas islâmicas no Senegal. Eles são forçados a pedir dinheiro nas ruas, enquanto seus responsáveis religiosos tomam o que eles arrecadam. O ensaio também foi feito em… preto e branco.

Destoa nesta categoria o trabalho da terceira colocada, Sara Lewkowicz, que já havia sido premiada pelo World Press Photo em 2014, com um polêmico ensaio sobre violência doméstica. Desta vez, ela retrata o cotidiano de duas mulheres, Emily e Kate, que ficaram grávidas por meio de inseminação artificial e fertilização in vitro. As crianças nasceram com quatro dias de diferença, e elas decidiram criá-los juntos. Este parece ser o assunto que mais se aproxima da tendência comportamental e contemporânea que dominava a premiação nos últimos dois anos.

Já o fotógrafo brasileiro Mauricio Lima foi lembrado duas vezes. Venceu o prêmio de notícias gerais com uma forte imagem de um combatente de 16 anos do Estado Islâmico sendo atendido em um hospital na Síria. O garoto foi fotografado em frente a um pôster de Abdullah Ocalan, líder do partido dos trabalhadores do Curdistão e que está preso. Na categoria de vida diária, Lima ficou em segundo lugar ao registrar índios Munduruku brincando no rio Tapajós, no Brasil. O sueco Paul Hansen, vencedor da foto do ano em 2013 que provocou uma avalanche de críticas e mudanças nas regras do prêmio devido às questionáveis pós-produções aplicadas à imagem, ficou em segundo lugar na categoria em que Lima foi o vencedor. O assunto desta vez? De novo, refugiados.

Em Lesbos, na Grécia, imigrantes viajam na escuridão para não serem descobertos pela polícia. Nada poderia ser mais distante do colorido artificial que deu a ele o prêmio em 2013. A 59ª ediçnao do World Press Photo reuniu 5775 fotógrafos de 128 países, totalizando 82951 imagens.

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World Press Photo define código de ética para edição 2016 do concurso https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/26/world-press-photo-define-codigo-de-etica-para-edicao-2016-do-concurso/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/26/world-press-photo-define-codigo-de-etica-para-edicao-2016-do-concurso/#respond Thu, 26 Nov 2015 14:16:44 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16535 Regras – A organização do World Press Photo, maior prêmio dedicado ao fotojornalismo no mundo, anunciou nesta quarta (25) novas mudanças nas regras do concurso, incluindo um código de ética que pretende barrar manipulações nas imagens. A alteração ocorre após uma série de polêmicas que permeou as últimas edições do WPP. Em março deste ano, o italiano Giovanni Troilo perdeu o prêmio na categoria de ensaios contemporâneos depois da descoberta que algumas fotografias de  “La Ville Noir – The Dark Heart of Europe” foram encenadas. Ainda na competição de 2015, 20% das imagens no penúltimo turno do concurso foram desqualificadas por causa de manipulações. Já em maio de 2013, um especialista em segurança digital afirmou que a foto do sueco Paul Hansen, vencedor da categoria principal, era uma composição de três diferentes imagens. Agora, fotógrafos classificados para a rodada final terão de mostrar o arquivo original de suas imagens junto às três fotos realizadas antes e depois da selecionada para o concurso, que serão examinadas por especialistas em arquivos digitais. As regras do código de ética alertam para “a influência que a presença do fotógrafo pode exercer sobre uma cena” e “alterações não intencionais nos quadros”. Para ler todas as novas especificações é só clicar aqui.

Cine – Após receber, em dezembro do ano passado, um dos acervos mais importantes da história da fotografia brasileira, o Masp exibirá a partir do próximo dia 26 obras do Foto Cine Clube Bandeirante. Com curadoria de Rosângela Rennó, a mostra apresentará 279 trabalhos de 85 artistas, todos ex-integrantes do fotoclube paulistano formado na década de 1940. Entre eles estão German Lorca, José Oiticica Filho (1906-1964), Marcel Giró (1913-2011), Thomaz Farkas (1924-2011), Geraldo de Barros (1923-1998) e outros nomes que começaram os experimentos que levaram à compreensão da fotografia como expressão artística. Num primeiro momento, as obras entram para o museu em regime de comodato, passando a integrar o acervo de forma permanente daqui a 50 anos. Outras quatro fotografias farão parte da mostra —duas de Ademar Manarini, uma de Jorge Radó e uma de Paulo Pires da Silva— também do fotoclube e já doadas ao museu no ano passado. O Masp (av. Paulista, 1578, tel. 11-3149-5959) funciona de terça a domingo, das 10h às 18h; quinta, das 10h às 20h. Os ingressos custam R$ 25 e R$ 12 (meia).

‘Arquitetura ou Crepúsculo’, foto datada por volta de 1957, de José Yalenti

Joop latino – Também pela primeira vez, o World Press Photo, competição mais importante do fotojornalismo mundial, realizará uma edição regional do masterclass Joop Swart. As oficinas, que ocorrem anualmente em Amsterdã há mais de duas décadas, serão feitas na América Latina. Em parceria com a fundação mexicana Pedro Meyer, o World Press Photo montará workshops entre 7 e 11/12. Esta edição do Joop Swart contará com quatro brasileiros: os fotógrafos Felipe Dana e Tiago Coelho, além de Adriana Zehbrauskas e Veronica Cordeiro, curadora do Centro de Fotografia de Montevideo, que lecionarão no evento. Para ver a lista completa de participantes clique aqui.

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World Press Photo retira prêmio dado ao fotógrafo italiano Giovanni Troilo https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/03/05/world-press-photo-retira-premio-dado-ao-fotografo-italiano-giovanni-troilo/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/03/05/world-press-photo-retira-premio-dado-ao-fotografo-italiano-giovanni-troilo/#comments Thu, 05 Mar 2015 15:19:30 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=13081 O júri da 58ª edição do World Press Photo, maior competição dedicada ao fotojornalismo no mundo, decidiu retirar o prêmio dado ao italiano Giovanni Troilo em fevereiro. O fotógrafo havia vencido na categoria de ensaios contemporâneos com o trabalho “La Ville Noir – The Dark Heart of Europe”, em que, supostamente, ele teria registrado a cidade belga de Charleroi.

Na descrição sobre sua série, Troilo diz que a região “sofreu o colapso da produção industrial, o aumento do desemprego, da imigração e o surto de micro-criminalidade”. “As estradas, que um dia foram frescas e puras, aparecem hoje desoladas e abandonadas, as indústrias estão fechando e a vegetação cresce nos velhos distritos industriais”, completa o italiano.

A polêmica em torno do trabalho começou após declarações do prefeito de Charleroi, Paul Magnette, que enviou uma carta à organização do prêmio. O político afirma que viu o ensaio com surpresa e consternação: “O objeto fotográfico construído pelo fotógrafo é uma grave distorção da realidade, que mina a cidade e seus habitantes, bem como a profissão de fotojornalista.”

Ainda na carta enviada pelo prefeito, revelada pela revista americana “Time”, ele diz que Troilo utiliza técnicas que contribuem para a dramatização das imagens –como iluminação artificial–, o que caracterizaria uma cena montada. “Se fosse uma obra de arte, não seria uma problema. Mas o fotógrafo não apresenta seu trabalho como tal. Ele afirma fazer jornalismo investigativo; um ensaio fotográfico que reflete uma realidade simples. Mas isso está longe de ser o caso: as legendas são falsas, é uma caricatura da realidade, uma construção de imagens impressionantes e encenadas”, defende. “É desonesto e não respeita os códigos de ética jornalística”.

Em seguida, Magnette chama a atenção para uma das fotos enviadas ao World Press Photo, em que um casal faz sexo dentro de um carro. A legenda que acompanha a imagem informa que “locais conhecem estacionamentos famosos por casais que querem ter relações sexuais”. Porém, em seu site, Troilo admite que a cena foi construída. “Meu primo aceitou ser fotografado enquanto transava com uma garota no carro de um amigo.”

Mas segundo o júri da organização, o que foi determinante para a retirada do prêmio foi outra fotografia. O registro de um pintor criando uma obra com modelos vivos foi produzido na região de Molenbeek, próximo à Bruxelas. Troilo confirmou por telefone e e-mail que a imagem não foi feita em Charleroi, ao contrário do que ele havia informado anteriormente.

“O World Press Photo precisa se basear na confiança nos fotógrafos que enviam seus trabalhos e em suas éticas profissionais”, diz Lars Boering, diretor do concurso. “Agora nós temos um caso claro de informação
enganosa e isto muda a maneira como a história é percebida. Uma
regra foi quebrada e uma linha foi cruzada”, completa ele.

A decisão de retirar o prêmio de Troilo acontece dois dias depois de o Visa Pour L’Image, tradicional festival francês de fotojornalismo, criado em 1989 e que atrai cerca de 300 mil visitante em casa edição, afirmar que não exibiria nenhuma imagem vencedora do World Press Photo em 2015 em protesto às cenas montadas pelo fotógrafo italiano.

Em entrevista ao jornal americano “The New York Times” na quarta (4), Troilo afirma que a decisão é uma “grande injustiça”. Ele diz que a controvérsia começou quando o próprio World Press Photo reescreveu as legendas originais das imagens, o que interpretou como uma “saída estratégica” da organização. Sobre a foto em que registrou um pintor, o fotógrafo diz se tratar de um “erro técnico, e não deturpação”.
“Eu cometi um erro, não posso negar isso”, admite Troilo.

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Foto de casal gay na Rússia é a grande vencedora do World Press Photo 2015 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/02/12/foto-de-casal-gay-na-russia-e-a-grande-vencedora-do-world-press-photo-2015/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/02/12/foto-de-casal-gay-na-russia-e-a-grande-vencedora-do-world-press-photo-2015/#comments Thu, 12 Feb 2015 12:10:15 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=12851 Uma imagem realizada pelo fotógrafo dinamarquês Mads Nissen é a fotografia do ano segundo o júri da 58ª edição do World Press Photo, maior prêmio dedicado ao fotojornalismo no mundo. O registro mostra o casal gay Jon e Alex durante um momento íntimo, em São Petersburgo, na Rússia.

Nissen, fotógrafo do jornal dinamarquês “Politken”, também venceu na categoria temas contemporâneos. É o segundo ano seguido em que a imagem ganhadora desta seleção também é escolhida para o prêmio principal. Em 2014, John Stanmeyer levou o WPP ao registrar imigrantes somalis em busca de sinal de celular na costa de Djibuti, no leste da África.

Chefe do júri nesta edição, Michele McNally, diretora de fotografia do jornal “The New York Times”, comentou ao site do World Press Photo que “a imagem vencedora precisa ter estética, impacto e potencial para se tornar icônica”. “Esta foto é esteticamente forte e tem humanidade”, completou ela.

A escolha tem a ver com uma mudança radical na premiação nos últimos dois anos. O World Press Photo deixou de priorizar imagens realizadas em zonas de conflito, como aconteceu com o sueco Paul Hansen em 2013 e o espanhol Samuel Aranda em 2012, para mostrar temas comportamentais. Com Stanmeyer, embora sua fotografia tratasse de imigração, o elemento chave
do registro era o telefone celular. Mostrando apenas silhuetas e a luz do visor, o que está em foco é o gesto universal de erguer a mão para conseguir sinal.

Já na fotografia vencedora deste ano, o contexto de discriminação social e crimes de ódio na Rússia contra homossexuais certamente contribuiu para que Mads Nissen fosse o escolhido. Pamela Chen, jurada desta edição, disse que a organização estava “buscando um foto que poderia importar amanhã, e não apenas hoje”. “Isto é um tema contemporâneo, é a vida diária, tem ressonância jornalística tanto local quanto geral, mas também traz à tona a questão de uma forma muito profunda e desafiadora. É bastante universal.”

Nissen já havia sido escolhido pelo WPP em outra oportunidade. Em 2011, ficou com o terceiro lugar na categoria vida diária, além de ter participado do Joop Swart, masterclass ligado ao prêmio. Ele também é o autor de dois livros, um deles realizado no Brasil. “Amazonas”, de 2013, é um mergulho pela floresta, enquanto “De Faldne”, de 2010, mostra dinamarqueses mortos na guerra no Afeganistão. Com o prêmio, o fotógrafo de 36 anos levará 10 mil euros (cerca de R$ 32.500). A edição 2015 do World Press Photo recebeu 97.912 imagens de 5.692 fotojornalistas de 131 países.

MANIPULAÇÕES
Segundo Lars Boering, diretor do WPP, 20% das imagens no penúltimo turno da competição foram desqualificadas por causa de manipulações. A categoria esportes foi a mais afetada e, por isso, não foi possível indicar o terceiro lugar.

Outros ótimos trabalhos foram premiados em oito categorias. Em notícias gerais, por exemplo, a norte-americana Glenna Gordon levou o segundo posto ao documentar o caso das 300 estudantes nigerianas sequestradas pelos militantes islâmicos do Boko Haram. Ela registrou pertences das garotas como roupas, bilhetes e cadernos, sempre em fundo preto.

Assim como a notícia do sequestro foi destaque nos jornais em todo o mundo em 2014, outras histórias de relevância também apareceram no prêmio. A dramática imagem de uma garota turca de 15 anos, presa em um protesto em Istambul, deu ao fotógrafo da agência France Press Bulent Kilic o primeiro lugar na categoria notícias locais. A imagem já havia sido selecionada nas galerias de melhores do ano do “New York Times” e da revista “Time”.

O mesmo aconteceu com o registro monumental do italiano Massimo Sentini, que flagrou náufragos resgatados a 20 km ao norte da Líbia. A foto, aérea, é um delírio visual. O surto de ebola na África e um Messi melancólico após a derrota da Argentina na final da Copa do Mundo realizada no Brasil também saíram vencedoras. O americano Pete Muller e o chinês Bao Tailiang receberam o primeiro lugar em notícias gerais e esportes, respectivamente.

Náufragos resgatados no mar Mediterrâneo

Mas poucos trabalhos são tão bonitos quanto os dois vencedores na seleção de histórias com temas contemporâneos –ambos produzidos por italianos. Enquanto Giovanni Troilo transformou o colapso industrial da cidade belga de Charleroi em um filme de terror non-sense, com pessoas em gaiolas e orgias, Giulio di Sturco documentou com rara sensibilidade os bastidores de Chollywood, a Hollywood chinesa. São cenas teatrais, com luz impecável.

‘SELFIE’
Em um exercício de provocação, o blog sentiu falta de uma imagem entre os selecionados. Nenhuma fotografia foi tão importante em 2014 quanto a “selfie” promovida pela apresentadora Ellen DeGeneres durante a cerimônia de entrega do Oscar. Embora não tenha apuro estético, nenhum registro teve o mesmo impacto, magnetismo e recordes que este autorretrato coletivo.

A “selfie” que o ator Bradley Cooper tirou com outras estrelas, entre as quais Kevin Spacey, Angelina Jolie, Brad Pitt, Jennifer Lawrence e Meryl Streep, vale entre US$ 800 milhões (R$ 1,7 bilhão) e US$ 1 bilhão (R$ 2,2 bilhões), segundo um especialista em marketing. Foi também centro de discussão sobre autoria, já que Samsung, marca do celular, foi quem concebeu a propaganda travestida de brincadeira. Por fim, também quebrou o recorde de compartilhamentos de uma imagem no Twitter à época.

Se a guinada para temas comportamentais do WPP for definitiva, que tenham a ousadia de premiar uma imagem que tem valor histórico e de contexto imensurável como esta do Oscar. Pois não há nenhuma palavra que defina melhor esta geração de milhões de fotógrafos do que “selfie”.

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Curadores selecionam brasileiros para workshop do World Press Photo https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/curadores-selecionam-brasileiros-para-workshop-do-world-press-photo/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/curadores-selecionam-brasileiros-para-workshop-do-world-press-photo/#respond Thu, 05 Feb 2015 15:16:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=12672 WPP – Os curadores Eder Chiodetto e Mônica Maia indicarão fotógrafos brasileiros para uma vaga no Joop Swart, masterclass promovido pelo WPP (World Press Photo) –fundação que organiza o prêmio de fotojornalismo mais importante do mundo. O responsável pela curadoria do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e a sócia da DOC Galeria receberão portfólios de jovens fotógrafos até a próxima terça-feira (10). O candidato deve ser fotojornalista e/ou fotodocumentarista profissional, ter até 32 anos completados neste ano e ser fluente em inglês –escrito e falado. Segundo Chiodetto, o perfil ideal é o fotógrafo que “conta suas próprias histórias e não fica apenas a reboque de veículos da imprensa”. “Pessoas que façam reportagens de fôlego e fujam da superficialidade do fotojornalismo diário”, completa ele. Já Maia diz que os interessados devem “contar uma história de modo autoral, com identidade”. Portfólios podem ser enviados para eder@ederchiodetto.com.br e monicamaia@docgaleria.com.br. Mais informações sobre a seleção
do workshop, que acontece na Holanda, você encontra aqui.

Foam – A revista de fotografia contemporânea Foam busca jovens fotógrafos por meio de seu programa anual “Foam Talent”. Se você tem entre 18 e 35 anos e algo diferente para mostrar, as inscrições começam nesta sexta-feira (6) e vão até o dia 20/3. O programa, que já revelou nomes como Lucas Foglia, Christto & Andrew e o brasileiro Fabio Messias, oferece a publicação na edição especial da revista holandesa, além da participação em uma exposição itinerante. Todas as informações se encontram aqui.

Sítio – Vai até o dia 1º/3 a exposição coletiva Sítio, na nova sede do espaço Comuna, no centro do Rio. Sempre aos finais de semana –menos durante o Carnaval–, das 11h às 19h, os quatro andares do local recebem o público para visitação de trabalhos de 19 artistas. Pinturas, esculturas e performances de Rafael Salim, Luiza Crosman, Eduarda Estrella e Gabriel Secchin, entre outros, são algumas das obras que compõem a segunda edição do evento. Embora a exposição seja gratuita, o espaço pede colaboração voluntária de
R$ 10 para os visitantes. A mostra fica na rua Frei Caneca, 57, Rio; tel. (21) 98862-2406. Mais informações sobre o Sítio é só clicar aqui.

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World Press Photo surpreende ao premiar fotografia sobre imigração https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/02/14/world-press-photo-surpreende-ao-premiar-fotografia-de-imigrantes-africanos-buscando-sinal-de-celular/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/02/14/world-press-photo-surpreende-ao-premiar-fotografia-de-imigrantes-africanos-buscando-sinal-de-celular/#comments Fri, 14 Feb 2014 16:37:27 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=6717 A imagem de um grupo de imigrantes somalis em busca de sinal de celular na costa de Djibuti, no leste da África, foi a vencedora do prêmio principal do World Press Photo deste ano.

A fotografia, de autoria do norte-americano John Stanmeyer, fundador da agência VII, para a revista National Geographic, também ganhou o primeiro lugar na categoria de “assuntos contemporâneos”.

Diferente da linha adotada pela instituição ao premiar os últimos vencedores do concurso, “Sinal”, como foi batizada a imagem, não retrata conflitos sangrentos nem cenas chocantes de mortes e violência.

Em 2013, o ganhador foi o sueco Paul Hansen com o registro do funeral de duas crianças palestinas mortas em um ataque aéreo israelense. No ano anterior, o espanhol Samuel Aranda se consagrou ao documentar, no Iêmen, uma mulher segurando o filho ferido dentro de uma mesquita improvisada como hospital. A imagem se tornaria um dos símbolos da Primavera Árabe.

A fotografia vencedora deste ano mostra um grupo de imigrantes na tentativa de estabelecer contato com seus familiares em uma zona onde também se reúnem outras populações africanas em busca de trabalho.

Ao premiar uma imagem considerada “fria” no jargão jornalístico e que vai além da questão pontual da imigração, o WPP avança na discussão do que o fotojornalismo pode representar atualmente. “Sinal” aborda também a disseminação da tecnologia em todo o mundo e a globalização, sem deixar de ser uma imagem esteticamente forte e com peso editorial.

Me senti como se estivesse fotografando um de nós, desesperadamente tentando se conectar aos nossos entes queridos“, declarou Stanmeyer sobre a fotografia em sua página no Facebook.

No entanto, o concurso seguiu sua linha histórica nas outras divisões do prêmio. O primeiro lugar dado a Goran Tomasevic na categoria “Spot News”, com mais uma sequência de fotos sangrentas na Síria –em que rebeldes são mortos por tropas do governo– deixou para trás um dos favoritos da antiga lógica da premiação: o norte-americano Tyler Hicks e as imagens do massacre em um shopping center no Quênia invadido por terroristas.

Seguramente uma das melhores histórias de 2013.

Junto às imagens de Hicks, outras histórias consagradas durante o ano também foram premiadas. A fotografia de John Tlumacki, do atentado durante a maratona de Boston, o fantástico abraço de Taslima Akhter e o ensaio sobre violência doméstica, de Sara Lewkowicz –todos compartilhados à exaustão nas redes sociais–, mostram que o WPP também se tornou uma instituição que chancela o que já foi celebrado pelo público.

Mas ainda há outras lindas imagens e ensaios que passam ao largo da grande audiência e que se mostram importantes pelas mãos do júri.

Essa ainda é a principal função do concurso.

Ao premiar uma imagem surpreendente e inusual como a de Stanmeyer, em que se faz necessária uma leitura menos direta e mais vagarosa da notícia, o próprio World Press Photo se faz relevante.

* dois links interessantes sobre o World Press Photo pós-publicação:

– o sempre relevante Jorg Colberg faz uma bela análise sobre o prêmio (que, de certa maneira, vai na contramão deste blog): clique aqui.

– 8% dos finalistas do WPP foram eliminados por manipulação das imagens utilizando o Photoshop: clique aqui.

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World Press Photo altera regulamento para evitar especulações sobre manipulação https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/10/03/world-press-photo-altera-regulamento-para-evitar-especulacoes-sobre-manipulacao/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/10/03/world-press-photo-altera-regulamento-para-evitar-especulacoes-sobre-manipulacao/#comments Thu, 03 Oct 2013 14:16:08 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=5367 Michiel Munneke, diretor do World Press Photo, maior prêmio do fotojornalismo mundial, declarou nesta quarta-feira (02) que a próxima edição da disputa terá consideráveis mudanças quanto a avaliação no tratamento das imagens.

Em comunicado no site da fundação, Munneke declarou que “há muita discussão e especulações sobre os níveis permitidos no pós-processamento de imagem no concurso”.

“Nós avaliamos as regras e protocolos e examinamos como criar mais transparência. Mudamos os procedimentos para examinar os arquivos durante o julgamento”, continua.

No entanto, o WPP não especificou quais medidas serão tomadas para evitar especulações.

Em fevereiro de 2013, quando o resultado da “foto do ano” foi anunciado, muito se falou sobre o nível de tolerância com o agressivo tratamento de imagem realizado por alguns fotógrafos, principalmente Paul Hansen, vencedor da maior categoria.

Em maio, um especialista em segurança digital, afirmou que a foto do sueco tratava-se de uma composição de três diferentes imagens. A foto mostra duas crianças palestinas mortas em um ataque aéreo israelense sendo levadas para o funeral.

Logo após a acusação, o World Press Photo realizou uma análise com dois especialistas contratados pela fundação que atestaram a veracidade da foto.

Mesmo assim, a ferida ficou aberta.

“Iremos anunciar mais detalhes quando o concurso de 2014 abrir para inscrições no final deste ano, mas o resultado final é que teremos de ser capazes de confiar na integridade e profissionalismo dos fotógrafos participantes”, finalizou.

Você pode conferir a íntegra do comunicado, que também anunciou o co-fundador da agência VII, Gary Knight, como o chefe do júri da disputa no ano que vem, clicando aqui.

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A fotografia ativista de Samuel Aranda https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/08/26/a-fotografia-ativista-de-samuel-aranda/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/08/26/a-fotografia-ativista-de-samuel-aranda/#respond Mon, 26 Aug 2013 14:41:58 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=4675 Desde que ganhou o prêmio principal do World Press Photo em 2012, quem não conhecia, acabou por descobrir o catalão Samuel Aranda.

A imagem no Iêmen, de uma mulher segurando seu filho ferido nos braços dentro de uma mesquita usada como hospital, se tornou um dos símbolos da Primavera Árabe.

Aranda sempre buscou retratar conflitos.

Documentou os embates entre Palestina e Israel, as revoluções árabes na Tunísia, Líbia, Iêmen, Egito e os imigrantes africanos que tentam chegar a Europa.

Por e-mail, o fotógrafo conversou com o Entretempos.

A fotografia premiada foi feita em seu segundo dia no Iêmen, em meio a bombardeios e caos. Naquela ocasião, doze pessoas morreram e trinta ficaram feridas.

“Todo mundo estava chorando. Mas Fatima, a mulher da foto, estava completamente calma enquanto esperava por um médico para ver seu filho, de 18 anos. A perna do rapaz foi ferida e pensei que tivesse sido baleada, mas ele estava caído, intoxicado por gás lacrimogêneo.

Depois que tirei a foto, ele passou três dias em coma. Quando Fátima ouviu que os manifestantes haviam sido mortos, ela foi direto para a mesquita ver se Zayed estava lá. Este é o momento em que ela encontra seu filho vivo.”

Samuel passou mais de dois meses no Iêmen fotografando para o New York Times. O fotógrafo protesta que na Espanha “a situação é triste e não há oportunidades”, o que o leva a trabalhar para publicações na França, Alemanha, Reino Unido e nos EUA.

“Nos dias de hoje, são poucos os países onde ainda existem meios que investem na fotografia, incentiva reportagens internacionais”, reclama Aranda. “E não é apenas pela situação econômica espanhola, mas como, por exemplo, o New York Times planeja as reportagens, a confiança que te dão, o tempo para produzir”, continua.

Há dois meses, ao lado dos também multi-premiados Pep Bonet, Olmo Calvo e Guillem Valle -todos espanhóis- Samuel realizou a mostra “Inéditos”, uma provocação contra a “falta de interesse das instituições e meios de comunicação em criar uma cultura gráfica, crítica e social”.

Todos os ensaios presentes em “Inéditos” possuem forte conteúdo político. Aranda exibiu sua documentação dos países rebeldes durante a Primavera Árabe.

“Acredito muito em ser fotojornalista, ser neutro, ou pelo menos tentar ser. Mas tem vezes que a situação é tão clara, que o simples fato de mostrar a realidade é um ato de ativismo.

Gente como [Sebastião] Salgado ou James Natchwey, estão tão envolvidos com o fotojornalismo que, no fim, se tornam ativistas, mas sempre sendo muito fiéis com a verdade”, explica o catalão.

Samuel acaba de abrir uma galeria/estúdio no norte de Barcelona para grupos de estudos, vendas de fotos, workshops e está envolvido na produção de um livro sobre o Iêmen.

*

“Lens”, precioso blog de fotos do New York Times, publicou o encontro posterior de Samuel Aranda com os personagens de sua já clássica foto no Iêmen. Você pode conferir aqui.

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