Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Arquivo do Conflito Moderno arquiteta circo caótico em exposição em Madri https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/08/arquivo-do-conflito-moderno-arquiteta-circo-caotico-em-exposicao-em-madri/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/08/arquivo-do-conflito-moderno-arquiteta-circo-caotico-em-exposicao-em-madri/#respond Fri, 08 Jun 2018 16:45:23 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/1528475717b2228f45af2d8e4f33c72a1cd9dd3995-320x213.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=20113 O edifício do centro cultural Fernán Gómez, em Madri, concentra três exposições desta 21ª edição do PHotoEspaña. Após percorrer a mostra coletiva Grande Final Mundial e o espaço dedicado ao camaronês Samuel Fosso, o espectador do festival será massacrado por uma enxurrada de imagens de “O Maior Espetáculo do Mundo”. A exposição traz centenas de registros do Arquivo do Conflito Moderno, coleção privada dedicada inicialmente à fotografias de guerras e de violência, mas que ampliou seu escopo, e hoje concentra diversos temas, confundindo a história em geral com a história da própria fotografia.

A mostra faz parte da carta branca concedida pela organização do festival a Cristina de Middel, responsável por selecionar curadores e/ou artistas de cinco exposições do evento. Vencedora do Prêmio Nacional de Fotografia da Espanha em 2017, De Middel convidou o britânico Kalev Erickson para organizar a mostra a partir do acervo do Arquivo do Conflito Moderno. A condição é que a curadoria gravitasse em torno do tema da carta branca –a relação entre jogo e fotografia.

Obcecado por animais, Erickson recorreu ao circo, universo que constantemente revisita devido ao interesse por bichos. “Quando Cristina me convidou, foi uma oportunidade de dar fluxo a essa obsessão, ao mesmo tempo que, por coincidência, nesta ano se completa o aniversário de 250 anos do circo moderno”, diz. Assim, registros de animais obrigados a participar de jogos cobriram as paredes do centro cultural, que também recebeu imagens de malabaristas, acrobatas e mágicos, organizados de maneira caótica no espaço expositivo a fim de reforçar o volume do arquivo e criar constelações de fotos.

Há, por exemplo, grupos de imagens dedicados a formas circulares, que remetem à origem da palavra circo e ao formato clássico das tendas. Outra parte é dedicada à dualidade entre os artistas e o público. “Um circo não funciona se não tiver essas duas peças”, afirma Erickson. “Se falta uma, a outra não tem sentido, e por isso precisava ressaltar a posição de que assiste ao espetáculo.” Já os palhaços foram colocados em um lugar mais escondido, para que aqueles com fobia aos bufões pudessem passar direto pela seção sem vê-los. O fio condutor que percorre toda a mostra é a dualidade entre real e imaginário, como a ideia de que homens podem voar –representada no circo pelo número do canhão. “No final, tudo tem a ver com as coisas espetaculares que imaginamos, alcançamos e desejamos, e que existem fora das tendas do circo, na vida real.”

Erickson trabalha há 11 anos no arquivo e, ainda assim, diz não ter visto nem metade da coleção. Tampouco arrisca dizer o tamanho do acervo. Em artigo publicado sobre o AMC (na sigla em inglês), em 2013, pela revista “Aperture”, o número do registros à época era de 4 milhões, com fotografias armazenadas em Londres, Beijing e Toronto. O Canadá é importante para o instituto, porque seu fundador, o empresário David Thomson, dono do grupo de mídia Thomson Reuters, é canadense. Discreto, pouco se sabe sobre as razões que o levam a financiar o arquivo, apenas que é interessado em fotografia vernacular. O gigantismo e a variedade de opções que o AMC oferece já serviu de base para diversos fotolivros. O mais conhecido deles é “Holy Bible”, da dupla Adam Broomberg e Oliver Chanarin, mas há outros, como “Illustrated People”, de Thomas Mailaender.

O curador conta que as imagens vêm das mais diferentes fontes. Pode ser tanto da compra de outras coleções privadas quanto de leilões ou garimpos em sites de compra online, como o eBay. Também calcula que cerca de 12 pessoas trabalhem no AMC em Londres –mesmo número de funcionários no Canadá–, além de outros 60 freelancers em todo o mundo. Se não crava o número de fotos presentes no acervo nem quantas pessoas trabalham no instituto, o britânico apenas sorri quando é questionado sobre o valor do Arquivo do Conflito Moderno. “Não tenho ideia. Eu diria que não tem preço.”

O jornalista viajou a convite do festival PHotoEspaña.

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Jason Fulford exibe em Madri fotos que flutuam em oceano de ambiguidades https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/07/jason-fulford-exibe-em-madri-fotos-que-flutuam-em-oceano-de-ambiguidades/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/07/jason-fulford-exibe-em-madri-fotos-que-flutuam-em-oceano-de-ambiguidades/#respond Thu, 07 Jun 2018 09:55:52 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/image-11-320x213.jpeg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=20097 Uma onda azul percorre a parede com fotos de Jason Fulford. No centro cultural Fernán Gómez, onde está montada a exposição coletiva “Grande Final Mundial”, as imagens do fotógrafo americano flutuam “num oceano de ambiguidade”.

Fulford exibe em Madri um recorte de um de seus trabalhos mais conhecidos e celebrados, “The Mushroom Collector” (2010), no qual analisa o desenvolvimento do olhar a partir de fotos de cogumelos. As imagens, enviadas por um amigo do artista dentro de um envelope, foram encontradas em um mercado de pulgas em Nova York.

Quanto mais olhava para as fotografias, mais Fulford enxergava conexões com outras imagens que estava produzindo na mesma época. “Percebi que os cogumelos estavam crescendo na minha cabeça e afetando a maneira como via o mundo”, diz o artista, presente durante a abertura da mostra no festival PHotoEspaña.

“O trabalho é, basicamente, sobre o desenvolvimento da observação. Como o que você vê agora afeta a olhar do que vem a seguir.” Diferentemente dos outros artistas da exposição, o jogo fotográfico de Fulford não é tão explícito. Mais conceitual, trabalha no inconsciente das associações imagéticas, em como as fotografias se agrupam, e como podem ser vistas de diversas maneiras –daí ter pintado, de fato, uma onda azul na parede da mostra, perpassando as fotos exibidas.

Essa parece ser uma obsessão do americano. Em 2014, ao lado de sua mulher, a ilustradora Tamara Shopsin, Fulford lançou “This Equals That”, fotolivro dirigido a crianças. Ali, os pequenos entendem didaticamente como conectar fotografias, seja por meio das cores, das formas ou pelas suas relações mais literais –a foto de um pescador está ao lado de uma banca de peixes, por exemplo.

Em ano de Copa do Mundo, a exposição “Grande Final Mundial” faz com que cada fotógrafo corresponda a uma parte do mundo. “São os melhores jogadores que tenho”, diz a espanhola Cristina de Middel, curadora da mostra cuja programação visual remete às linhas de uma quadra esportiva. Enquanto Fulford é a fotografia americana, o mexicano Miguel Calderón representa o universo latino-americano. Há ainda Ana Hell, com dezenas de imagens sobre o corpo. A espanhola pede a amigos para que se contorçam até se transformarem em criaturas bizarras e cômicas.

Também discorre sobre o corpo, mas com abordagem distante de Ana Hell, a dupla australiana Prue Stent e Honey Long. Pedaços de corpos femininos são envoltos em tecidos e fotografados em paisagens desérticas, tudo em tons azuis e rosas. Da Ásia, o cingapuriano Robert Zhao apresenta uma série de fotos de pegada botânica, como faziam os naturalistas do século 18.

Vêm da África os trabalhos mais interessantes da exposição. Em “A Sala de Aula”, o professor marroquino de arte Hicham Benohoud pede a seus alunos para que interrompam suas tarefas e posem com elementos encontrados na sala, enquanto os outros colegam permanecem realizando as lições. Assim, Benohoud resignifica objetos cotidianos ao mesmo tempo em que explora a relação professor-aluno e cria situações surreais. A série realizada desde a década de 90 guarda conexões conceituais próximas a outro trabalho do marroquino exibido na mostra, no qual moradores criam buracos em suas casas e os ocupam com o próprio corpo.

“Nao sei como ele convenceu essas pessoas a quebrarem suas casas”, diz, rindo, a curadora Cristina De Middel. “Só por isso já me fascina.” “Grande Final Mundial” fica em cartaz no centro cultural Fernán Gómez, em Madri, até 29 de setembro.

O jornalista viajou a convite do PHotoEspaña.

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Magnum desfaz carranca e mostra lado risonho em exposição em Madri https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/05/magnum-desfaz-carranca-e-mostra-lado-risonho-em-exposicao-em-madri/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2018/06/05/magnum-desfaz-carranca-e-mostra-lado-risonho-em-exposicao-em-madri/#respond Wed, 06 Jun 2018 00:04:42 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/image-6-320x213.jpeg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=20054 O fotógrafo alemão Thomas Dworzak quase fez um registro solene do túmulo de Robert Capa. Só que na imagem apareceu um Pokémon. Ele também quase fez um retrato singelo da fachada do Bataclan, clube parisiense onde 90 pessoas foram mortas por terroristas do Estado Islâmico. Só que na imagem apareceu um Pokémon.

As reproduções de telas do jogo de celular, no qual criaturinhas japonesas são caçadas virtualmente em lugares públicos, fazem parte da exposição “Players – Os Fotógrafos da Magnum Entram no Jogo”, que explora o lado divertido da lendária agência fundada por Capa e Henri Cartier-Bresson há mais de 70 anos.

Conhecida por registros de eventos históricos, principalmente guerras e pautas sociais, a Magnum revela agora, no Espacio Telefónica, em Madri, uma parte de seu arquivo centrada no lazer, na descontração e em cenas que escorrem sarcasmo. Junto às reproduções de telas, por exemplo, Dworzak documentou os caçadores de Pokémon em ação. Ali, os retratados aparecem como se fossem zumbis, com as cabeças sincronizadamente inclinadas para ver seus telefones.

Jogadores de Pokémon Go! em Paris, na França

As quase 200 fotografias de 46 autores foram selecionadas por Cristina de Middel, que recebeu carta branca do festival PhotoEspaña para realizar a escolha de artistas e curadores de cinco mostras durante o evento realizado a partir desta quarta (6) a 26 de agosto. Ela é a segunda fotógrafa espanhola indicada a integrar a Magnum, mas, diferentemente da primeira, Cristina García Rodero, que possui o status de membro permanente, De Middel está em período de aprovação –a exposição em Madri faz parte desse processo. Quem divide a organização da mostra é o britânico Martin Parr, ex-presidente da cooperativa e conhecido por fotos sobre consumo em massa.

“Estou em fase de descobrimento”, explica a autora de fotolivros celebrados, como “The Afronauts” e “Party”. “Descobri diversos nomes da Magnum que não conhecia, afinal são mais de 90 fotógrafos. E, desde que fui nomeada, tudo que faço tem mais transcendência, ao mesmo tempo que sinto uma pressão sem igual em minha carreira.”

Foto do italiano Paolo Pellegrin de atleta olímpico

De Middel conta que, quando sugeriu a exposição a Parr, o britâncio associou a palavra “players” literalmente a esportes, embora o significado do termo seja mais amplo. Há, é verdade, muitas cenas esportivas na mostra, como uma série de atletas em contra-luz realizada pelo italiano Paolo Pellegrin ou capturas de telas de TV da Olimpíada de Munique feitas por Harry Gruyaert –o que comprova a diversidade estética da Magnum–, mas a exposição se desdobra em outros universos.

É possível encontrar fotos dos jazzistas Charles Mingus, Birdland e John Coltrane pelo francês Guy Le Querrec, close-ups de membros de bandas de black metal pelo norueguês Jonas Bendiksen e cenas tomadas por Elliott Erwitt, a personificação da fotografia feita para rir.

Erwitt, no entanto, não é fotógrafo de gargalhadas. É fotógrafo da risada de canto de boca, de cenas tão ridículas que só resta rir. O autorretrato que fez com a cabeça de um gorila está na entrada da exposição, em tamanho gigante. Dali se alternam imagens, grandes e pequenas, de diferentes tipos de impressão, e também vídeos, “sem uma narrativa que os una”, diz De Middel, porque quer o espectador seja jogado no espaço como se fosse uma bola de máquina de pinball.

Membro de banda norueguesa de black metal em foto de Jonas Bendiksen

A fotografia mais clássica do acervo da Magnum sobre diversão, contudo, não está na mostra. O retrato feito por Cartier-Bresson, de um menino sorridente desfilando pelas ruas de Paris com garrafas quase maiores que ele, teve de ficar de fora da exposição. Uma série de condições técnicas para exibir as imagens do fundador da agência faria com que as impressões ficassem caríssimas.

Há ainda um outro eixo da exposição que, de alguma forma, junta guerra e diversão. O americano Peter van Agtmael, por exemplo, registra uma cena de aparente normalidade. Um pai brinca com os dois filhosm com sabres de luz e máscara da saga Star Wars. O homem, porém, tem uma perna mecânica, pois é veterano da Guerra no Iraque. Já Moises Saman fotografou um apoiador de Muammar Gaddafi ao segurar um retrato do ex-ditador líbio, enquanto fogos de artifício explodem atrás. Embora a celebração tenha sido encenada para jornalistas, a imagem parece Gaddafi fungindo de ataques –algo que viria a ocorrer.

Apoaiador de Gaddafi segura retrato do ex-ditador líbio. Foto de Moises Saman

A cena foi documentada em 2011. Desde então, a situação política mundial parece tão ou mais intensa do que na época da Primavera Árabe. Se a polêmica em torno da eleição de Trump nos EUA, a deterioração da crise da imigração, as discussões comportamentais sobre gêneros e até a troca recente no governo espanhol parecem pautas mais urgentes, De Middel discorda. “Relaciono-me com a realidade a partir do humor”, diz. “A realidade chegou a um ponto que ou você faz piada ou tudo será insuportável. A ver se por meio da quebra da lógica encontramos ideias novas. Nunca vi na fotografia a função de salva-vidas. Se ela tem, não a quero mais. Que cada um encontre a linguagem que mais o agrada e assim esteja tudo bem.”

O jornalista viajou a convite do festival PhotoEspaña

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Cristina de Middel inverte papéis da prostituição e paga para retratar clientes de garotas de programa https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/04/01/cristina-de-middel-inverte-papeis-da-prostituicao-e-paga-para-retratar-clientes-de-garotas-de-programa/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/04/01/cristina-de-middel-inverte-papeis-da-prostituicao-e-paga-para-retratar-clientes-de-garotas-de-programa/#comments Fri, 01 Apr 2016 05:38:35 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/03/gentlemen_club_08-135x180.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=17675 O texto abaixo foi publicado na versão impressa da “Ilustrada” desta sexta-feira (1º).

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Se um extraterrestre viesse à Terra e tentasse compreender o que é a prostituição baseando-se em imagens, chegaria à conclusão de que esse é um serviço composto apenas por mulheres nuas em quartos sujos. Enquanto as garotas de programa são temas de reportagens, documentários e ensaios fotográficos, quem usufrui desse tipo de negócio quase sempre permanece oculto.

Qual seria então a melhor forma de conhecer rostos, razões e preferências de quem paga para gozar o corpo alheio? Pagando. Por meio de anúncios publicados nos jornais cariocas “O Dia” e “Extra”, Cristina de Middel, 41, conseguiu reunir 12 homens que com frequência recorrem a prostitutas.

Na série “Gentlemen’s Club”, a espanhola inverte papéis e faz com que eles se tornem garotos de programa, enquanto ela é a consumidora. Em vez de sexo, porém, busca apenas fotografá-los.
Nas sessões, que não passam de 15 minutos, ela os retrata vestidos sobre as camas dos mesmos locais onde as transas ocorrem —prostíbulos nas regiões das praças Mauá e Tiradentes, no Rio.

Também barganha valores: caso o personagem permita mostrar o rosto, o serviço vale R$ 150. Já os mais tímidos, dispostos a exibir o corpo, mas sem revelar a face, recebem R$ 100. Todos eles, no entanto, compartilham seus nomes e um pouco de suas histórias. Foi assim que a fotógrafa conheceu o segurança Daniel, 34, casado e pai de oito filhos, que não gasta nada pelos serviços pois trabalha no mesmo clube das prostitutas. Ou ainda o garçom Walter, 50, que começou a sair com garotas de programa aos 30 anos porque não tinha uma namorada. Dez dos retratados não
se importaram em expor a identidade completamente.

“Não pretendo me posicionar sobre a prostituição nem dizer que deve ser legalizada ou proibida. Quero oferecer um retrato completo da atividade”, afirma De Middel. “A segunda metade do negócio é simplesmente esquecida, não se sabe que cara os clientes têm. Parece até que as mulheres estão nuas esperando alguém que nunca vem, porque os clientes não existem.”

A espanhola, cuja habilidade com o idioma local varia “de acordo com o nível de caipirinha no sangue”, teve o auxílio do fotógrafo carioca Bruno Morais, 40, que ajudou na produção da obra.
A partir do anúncio que procurava “homens para trabalho remunerado em projeto artístico sobre prostituição”, a dupla recebeu retornos de gente que achava se tratar de uma proposta para gravação de filme pornô, ensaios fotográficos de nu ou até mesmo para se prostituir.

Segundo Morais, mais de 40 pessoas os procuraram, mas foi necessário fazer uma seleção dos personagens –além de esclarecer que a busca era por clientes de prostitutas, escolheram os homens a partir de diferentes idades, classes sociais e ocupações, ou então “quase todos seriam seguranças de boates”, afirma De Middel. Antes das fotos, eles se reuniam com os homens em bares próximos aos locais das fotos para explicar que os registros poderiam aparecer na imprensa ou em galerias de arte e pediam autorizações de uso de imagem.

Maginô, 46 years old. He works in intenational commerce. He is dovorced and has one daughter. He goes with prostitutes twice a week and normally pays 80 Reais for a session. He canñt remember the first time he went with a prostitute but does it to get some variety without commitment.
Maginô, 46, que trabalha com comércio exterior, é divorciado. Ele sai com prostitutas 2 vezes por semana. Foto: Cristina De Middel

Este não é o primeiro trabalho da artista no Brasil. Principal nome do boom da fotografia espanhola após lançar o cultuado fotolivro “The Afronauts”, De Middel costuma criar a partir de pequenas subversões —ela já apagou parágrafos do livro vermelho de Mao Tse Tung para formar frases irônicas, por exemplo. Há dois anos, registrou a Rocinha como se estivesse no fundo do mar.

Ali, os moradores da favela viraram peixes pequenos que fogem da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), representada por um balão em formato de tubarão comandado por controle remoto.
No novo trabalho, retoma uma ideia explorada pelo fotógrafo norte-americano Philip Lorca-diCorcia, que, no começo da década de 1990, realizou retratos com michês. Da mesma forma, o artista também custeava os garotos de programa apenas para serem fotografados.

Agora, a espanhola quer levar a mesma ideia para cidades como Amsterdã e Bancoc. “O nível de hipocrisia sobre o assunto é vergonhoso. Os jornais denunciam a prostituição e tratam as prostitutas como párias, mas, páginas depois, anunciam o serviço e lucram com as atividades.”

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Encontro de fotolivros em SP terá Gerhard Steidl e Cristina de Middel https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/03/13/encontro-de-fotolivros-em-sp-tera-gerhard-steidl-e-cristina-de-middel/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/03/13/encontro-de-fotolivros-em-sp-tera-gerhard-steidl-e-cristina-de-middel/#respond Fri, 13 Mar 2015 13:55:52 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=13163 Encontro – Entre os dias 8 e 10 de abril, o Sesc Vila Mariana, em parceria com a empresa espanhola La Fábrica, realiza a primeira edição do Encontro de Fotolivros. O evento trará ao país nomes como o alemão Gerhard Steidl, dono da lendária editora que leva seu nome, o fotógrafo americano Alex Webb e o brasileiro Miguel Rio Branco, ambos membros da agência Magnum, e Daniel Power, da Powerhouse Books. Eles farão palestras e oficinas sobre
o universo das publicações de fotografia, junto a uma extensa lista de participantes. Enquanto a fotógrafa espanhola Cristina de Middel, autora de “The Afronauts” e “Party”, volta ao país para um curso em que vai trabalhar com imagens de livros e revistas antigos, os editores Elaine Ramos, Álvaro Matías e Dewi Lewis vão discutir modelos de produção e distribuição de fotolivros. Durante o encontro, haverá também uma exposição com 146 obras –nacionais e internacionais– que formam um panorama dos trabalhos lançados nos últimos anos. Para saber todas as informações é só clicar aqui.

Íntimo – O vencedor do Hasselblad Award deste ano é o fotógrafo alemão Wolfgang Tillmans, que receberá cerca de 110 mil euros (R$ 364 mil) pelo prêmio. Ao lado de Jürgen Teller e Terry Richardson, Tillmans ficou conhecido nos anos 1990 ao fotografar editoriais de moda como se estivesse fazendo registros de sua intimidade, de forma descontraída e solta. Segundo a fundação que organiza a premiação, Tillmans “se consolidou como um dos artistas mais originais de sua geração, constantemente colocando a fotografia em novas direções”. Em dezembro, o alemão vai abrir uma retrospectiva de seu trabalho no Hasselblad Center, em Estocolmo, na Suécia, junto ao lançamento de um novo livro. Para saber mais é só clicar aqui.

Coletivos – Neste sábado (14), às 13h, o Museu da Casa Brasileira inaugura a exposição de coletivos fotográficos ibero-americanos. A mostra é fruto do encontro de 20 grupos de 12 países que se reuniram em Santos em setembro do ano passado. Na orla santista, em um espaço construído com conteinêres, eles realizaram debates e produziram ensaios sobre a cidade sede. Entre as ideias propostas para mapear a cidade estão o registro da casa onde caiu o avião do então candidato Eduardo Campos e a relação de moradores de Cubatão com a natureza. Para saber mais é só clicar aqui.

Haikais – O blog reforça o pedido feito no ano passado. Se você quer ter seu trabalho resenhado na seção Haikai, o Entretempos pede aos fotógrafos que enviem obras lançadas apenas neste ano para al. Barão de Limeira, 425,
5º andar, CEP 01290-900, São Paulo – SP, A/C Daigo Oliva. O envio do fotolivro ou fanzine não garante a publicação da crítica. Também não aceitamos portfolios nem trabalhos em vídeo ou sites. A ideia é formar
um panorama das obras impressas lançadas em 2015.

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Cristina de Middel transforma favela em fundo do mar e polícia em tubarão https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/10/15/cristina-de-middel-transforma-favela-em-fundo-do-mar-e-policia-em-tubarao/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/10/15/cristina-de-middel-transforma-favela-em-fundo-do-mar-e-policia-em-tubarao/#respond Wed, 15 Oct 2014 15:04:06 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=10914 Durante a última edição do festival Paraty em Foco, em setembro, uma visita ilustre apareceu no centro histórico da cidade. Destaque do evento em 2013, a espanhola Cristina de Middel voltou ao litoral do Rio, mas agora para passear. A fotógrafa também está no Brasil para realizar um novo trabalho. Após os fotolivros “The Afronauts”, “Party” e o terceiro volume da série produzida pela editora Self Publish Be Happy, De Middel participa ao lado da britânica Jennifer Pattison de uma residência promovida pelo Instituto Inclusartiz.

Em “Sharkification”, a espanhola transforma a favela carioca da Rocinha em fundo do mar e a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), projeto da Secretaria de Segurança do Rio, em um tubarão –representado por um balão de gás hélio comandado via controle remoto. “A ideia é converter a comunidade em um ambiente subaquático, onde há peixes predadores e peixes pequenos, que se escondem e ‘lutam’ com suas estratégias para se manterem vivos”, explica. De Middel trouxe de Londres, onde vive, três balões em forma de tubarão e os pintou com as cores da UPP. Assim, documentou a reação dos moradores da favela e pediu a eles que interpretassem os peixes pequenos que fogem de seu predador. Um vídeo do trabalho também está sendo produzido.

A fotógrafa ainda acaba de lançar seu primeiro fotolivro como editora. “Everything Will Be OK”, do também espanhol Alberto Lizaralde, é a prova de que tem uma espécie de toque de Midas. Sem contar a indiscutível qualidade do livro e de suas fotografias, o apadrinhamento deu ares de sucesso instantâneo à publicação. Um pouco do que ocorreu com ela mesma ao lançar “The Afronauts”, a história de um professor de ciências na Zâmbia que quer criar a primeira agência espacial de seu país e fotolivro que se tornou desejado em todo o mundo.

O Entretempos conversou com a fotógrafa, que discorreu sobre o novo projeto e as críticas que recebeu ao lançar o fotolivro “Party” –em que apaga parágrafos do livro vermelho de Mao Tse Tung, ironizando a censura do partido comunista chinês–, além de falar sobre as três publicações que editará até 2015.

Entretempos – Como está sendo a residência artística no Brasil?

Cristina de Middel – É um projeto do Instituto Inclusartiz durante quatro semanas no Rio de Janeiro. Somos duas fotógrafas desta vez: Jennifer Pattison, uma fotógrafa britânica muito interessante e eu mesma. A residência ocorre em um bairro muito exclusivo e é uma mudança de ares importante. E com vistas estupendas. 😉

Como aconteceu o convite? 

Convidaram-me porque conheceram o projeto que estou quase acabando na Nigéria, em Lagos, onde trabalhei em um bairro parecido com uma favela. Perguntaram-me se eu estaria interessada em fazer algo similar no Rio, onde as situações são muito próximas. Na Nigéria estou produzindo um história sobre fantasmas, nas favelas do Rio é um documentário de tubarões. Consegui começar o trabalho e me dei conta de que há muitas outras possibilidades que desenvolverei quando voltar, no ano que vem.

Já existe algum plano para que o trabalho seja exposto?

É possível que seja parte do [festival] FotoRio em junho do ano que vem, ainda que eu tenha que terminar a série antes. É uma prioridade minha que esta série seja vista no Brasil, ainda mais no Rio.

Você já tinha uma ideia da situação das favelas pacificadas antes de vir ao Brasil ou foi algo que descobriu aqui? 

Conhecia a situação por cima, porque apareceu na imprensa internacional com as intervenções prévias ao Mundial de futebol e as manifestações no Rio. É um tema interessante porque tem dois ângulos muito claros. A polícia é boa ou ruim, dependendo de onde você se situa, e o que pode parecer uma solução se converte em um novo problema. Em qualquer caso, quando cheguei ao Rio entendi melhor a complexidade do assunto.

Você esteve em qual favela?

Estive na Rocinha, mas a ideia é voltar a fazer o mesmo em outras favelas no começo do ano que vem.

Como foi a interação com os moradores? Aceitaram rapidamente a ideia de interpretar pequenos peixes fugindo do tubarão da UPP?

Trabalhei poucos dias para ter uma ideia completa de como funcionam as coisas, mas o pessoal respondeu bem ao jogo que propus, porque é isso: um jogo que jogamos juntos. Neste caso, foi bastante fácil explicar, e esses dias em que estive fotografando serviram para confirmar que não seria muito complicado fazer o resto. Os moradores pareciam dispostos a jogar, e a acolhida foi muito boa, ainda que eu insista em dizer que tenho de trabalhar muito para completar a série. Isso é como um aperitivo.

Há uma parte dos moradores das favelas que acreditam que a vida melhorou depois da instalação das UPPs, que agora a vida é mais segura. Qual é a sua opinião sobre esta política de segurança? O que você quer dizer com esta série?

Bom, eu escolho os meus temas quando há uma realidade e não a entendo. Aí quero me aproximar dela. Quando terminar a série, poderei te responder muito melhor a essa pergunta, mas no momento o que posso notar é que o estado de tensão que se vive, de vigilância contínua, é uma mudança incômoda para comunidades tão espontâneas. Converter-se em suspeito ao sair da porta de casa não deve ser bom para ninguém. O que é melhor: entorno violento ou entorno continuamente vigiado? Ainda não sei a resposta… Ainda não tenho uma opção, só sei que essa é a pergunta essencial.

Houve críticas de que em “Party” você estaria tratando um assunto muito sério com ironias e piadas. A questão da UPP também passa por algo assim. Há muitos abusos da polícia, mas o tráfico de drogas também acaba com a vida de muitas pessoas. O humor é uma parte essencial do seu trabalho. Como vê as críticas?

As críticas são sempre boas, ainda que sejam ruins. Para mim, o sentido do humor não é uma ferramenta para ridicularizar ou faltar com respeito. É uma ferramenta para entender o mundo. Há muitos tipos de sentido do humor e, se os utiliza bem, pode ser uma mensagem muito eficaz. Tal e como vejo, as reportagens que foram feitas sobre favelas anteriormente, e eu estou generalizando muito, baseiam-se em culpa ou em acusação. Pergunto-me se esta estratégia é o melhor sentido do humor. Culpa-se o governo, culpam-se os traficantes, culpa-se o leitor que não faz nada… Trata-se de informar e de compartilhar um ponto de vista, de lançar o debate sem que ninguém tenha que se defender. O sentido do humor para mim facilita isso: o debate.

Você vai lançar três livros em 2015, é verdade?

Na feira Paris Photo [em novembro], apresento uma pequena edição de “Polyspam”, muito artesanal, apenas 150 cópias. Também apresento o livro de Alberto Lizaralde, que publico como editora. E antes do fim do ano, com a [editora] AMC, publico “Jan Mayen”, um projeto falido de expedição ao Pólo Norte. E, antes de março, se tudo correr bem, o livro sobre a Nigéria que se chamará “This Is What Hatred Did”, também com a AMC.

Depois de uma viagem espacial, agora você vai ao fundo do mar. Para onde quer ir depois?

Daqui a duas semanas vou de novo à Nigéria, a uma selva habitada por fantasmas. Halloween time! 🙂

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‘Party’, de Cristina de Middel https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/06/10/haikai-party-de-cristina-de-middel/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/06/10/haikai-party-de-cristina-de-middel/#respond Tue, 10 Jun 2014 23:23:10 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=9070 Não será propriamente um haikai, mas o conceito da forma literária japonesa será aplicado aqui. Em resenha curtas e concisas, o Entretempos vai comentar, na medida do possível, alguns lançamentos de fotolivros recentes.

Foto: Avener Prado/Folhapress

“Party”, de Cristina de Middel (RM Editorial) – Litros de corretivo líquido são usados para apagar parágrafos do livro vermelho de Mao Tse Tung. A fotógrafa edita frases da obra original e combina as novas sentenças a imagens feitas na China. Assim, “reproduz” a mesma tática de censura do partido comunista local. É legal fazer piadinha de um governo que matou milhares de pessoas? Ah, não é. Mas como disseram Os Replicantes: “Resolver os problemas do mundo é coisa de vagabundo”. Ao menos é um protesto bem-humorado e mergulhado em aura pop. Você também pode transformar o livro em um biscoito chinês. Abra numa página qualquer e ali estará sua sorte (ou azar) do dia. Desde que a espanhola se tornou um nome hiperpopular após o sucesso de “The Afronauts”, virou mania olhá-la com desconfiança. O fato é que Cristina de Middel fotografa demais e seus trabalhos provam o tamanho de sua sagacidade para criar obras com ideias complexas e bem executadas.

Avaliação: muito bom

Veja o livro: http://vimeo.com/89492588

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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Vem aí https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/01/13/vem-ai/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/01/13/vem-ai/#respond Mon, 13 Jan 2014 15:37:40 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=6107 Voltamos!

Para começar, alguns dos destaques que você vai topar por aí em 2014.

Gustavo Lacerda
A série de imagens de albinos fotografados pelo mineiro Gustavo Lacerda deve finalmente ser lançada em forma de livro pela editora Madalena. As fotografias, que foram selecionadas pela coleção Pirelli/Masp em 2010, são um trabalho bonito sobre a relação entre fotógrafo e personagem. O livro vai para gráfica em fevereiro e deve ser lançado até o mês de abril deste ano.

Alberto Lizaralde
Em 2013, o espanhol Alberto Lizaralde produziu o protótipo de um fotolivro chamado “Everything Will Be OK”, que conta a história da morte de um amigo. A obra é feita de dípticos de objetos quebrados e registros de rostos tristes. O projeto, finalista do concurso da editora RM, deve se tornar livro.

Cristina de Middel
O frisson em torno da autora de “The Afronauts” não deve acabar tão cedo. No primeiro semestre, a fotógrafa espanhola vai lançar, pela editora mexicana RM, o fotolivro “Party”, uma brincadeira com “O Livro Vermelho”, de Mao Tse Tung. A ironia das possíveis traduções para “party” (pode ser tanto “festa” quanto “partido”) se arrastam pelas imagens. Para completar, a diretora Frances Bodomo está produzindo “Afronauts”, filme baseado na mesma história do professor de ciências da Zâmbia que sonhou construir o primeiro projeto espacial da África. O que deixa tudo ainda mais interessante é que a própria de Middel está dirigindo um filme sobre os afronautas ao lado do fotógrafo Pep Bonet e do editor Jose Bautista. Os dois trailers você vê abaixo.

Martin Parr e Gerry Badger
Os ingleses Martin Parr e Gerry Badger lançarão em março a terceira e última parte do índex gigantesco de fotolivros que a dupla vem catalogando desde 2004, quando saiu a primeira parte de “The Photobook: A History”. As imagens e  fichas explicativas sobre as obras são uma enorme contribuição para a fotografia e já geraram filhotes como “Fotolivros Latino-Americanos”, de Horacio Fernández, lançado nos mesmo moldes pela Cosac Naify.

Walker Evans e Seydou Keïta
A editora Cosac Naify vai lançar em abril mais dois volumes da coleção Photo Poche, composta por fotógrafos clássicos editados em pequenos livros que cabem no bolso. Dessa vez serão Walker Evans e Seydou Keïta. De um lado, um dos fotógrafos americanos mais cultuados de todos os tempos. De outro, o malinense que produziu retratos fantásticos de sua comunidade local.

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Crise desperta fotografia espanhola https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/12/22/crise-desperta-nova-fotografia-espanhola/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/12/22/crise-desperta-nova-fotografia-espanhola/#comments Sun, 22 Dec 2013 14:22:19 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=6041 Uma das metades do Entretempos viajou a Madri e Barcelona para entender o que se passa com a badalada fotografia espanhola. O resultado da investigação está na capa da “Ilustrada” deste domingo, mas o blog publica aqui uma versão um pouquinho maior. Um bom final de ano a todos!

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A crise que se arrasta há cinco anos na Espanha teve ao menos um aspecto positivo. Se nos anos seguintes à ditadura franquista, terminada em 1975, Madri teve um renascimento cultural -a chamada “movida madrileña”- agora a recessão impulsiona uma nova geração de fotógrafos.

“Entre os anos 1990 e o começo da última década, qualquer um que quisesse ser artista tinha facilidade para realizar exposições”, diz o historiador Horacio Fernández. “Quando há muita oferta, é difícil que se façam coisas brilhantes”, completa o espanhol, que é autor da compilação “Fotolivros Latino-americanos”, mostrada recentemente no Instituto Moreira Salles.

Já a escassez de recursos ajuda no surgimento de novas vozes, segundo artistas locais. “A falta de apoio institucional e do governo fez com que fotógrafos soubessem que os frutos só viriam de esforços próprios. Para mim, a crise foi maravilhosa”, diz Fosi Vegue, 37, do coletivo BlankPaper.

Criado há dez anos, o grupo virou escola em 2006 e é hoje, ao lado do também coletivo NOPHOTO, uma das principais referências dessa renovação.

“Poder compartilhar ideias e motivação com outras pessoas que estão na mesma frequência de onda é importante. Exige mais de você, te faz menos conformista e traz a necessidade de ir constantemente um pouco mais a frente”, explica Inãki Domingo, membro fundador do NOPHOTO.

No terceiro andar de um pequeno prédio no bairro boêmio de Malasaña, em Madri, as paredes da BlankPaper são cobertas de publicações e projetos de fotolivros -obsessão desses novos autores. Reflexo da fixação, o museu de arte contemporânea Reina Sofia inaugurou na última semana a exposição “Livros que São Fotos, Fotos que São Livros”, com cerca de 150 obras de 114 fotógrafos, lançadas a partir dos anos 2000. Com curadoria de Fernández, a mostra revela um traço comum a muitos destes livros: a autopublicação. “Os computadores, aliados à crise, permitiram esta independência”, diz o curador.

Entre os fotógrafos que já utilizaram desta prática estão Julián Barón, 35, e Ricardo Cases, 42, autores de “C.E.N.S.U.R.A” e “Paloma Al Aire”, ambos lançados em 2011 e com edições esgotadas.

O reconhecimento dessas obras só não foi maior que o atingido por “The Afronauts”, de Cristina de Middel. Seu fotolivro sobre a história de um professor da Zâmbia que sonha em viajar ao espaço fez muitos olhos se voltarem à nova fotografia espanhola. Os mil exemplares acabaram logo, e hoje a obra é raridade. Uma cópia usada sai por cerca de R$ 4.600 –nova, pode custar o dobro. Para Vegue, a disseminação do fotolivro ocorre porque “compreende o que o fotógrafo concebeu. Poderia acontecer com uma exposição, mas ali você vê e vai embora. O livro é uma visita constante”, diz ele. As narrativas se tornaram tão visuais que é possível encontrar obras em que o único texto é o nome do autor –e, ainda assim, discretamente.

“Parece que é uma espécie de livro mudo, como o cinema mudo, característica da cena internacional”, reclama Fernández. “Uma saída para que isso não seja uma moda é que existam mais obras como filmes, um pouco mais complexos e quem intervenha não sejam fotógrafos, mas escritores. Não sei”.

No térreo da Tabacalera, antiga fábrica de fumo transformada em centro de atividades culturais em Madri, a curadora Rosa Olivares realiza a montagem da exposição “Contexto Crítico – Fotografia Espanhola Século XXI”.

A mostra, que fica em cartaz até 23 de fevereiro, reúne 20 fotógrafos com menos de 40 anos e diferentes vertentes dessa geração de artistas espanhóis. Em comum, o que o trabalho desses novos autores têm, para a curadora, são características cada vez mais globais.

As linguagens reunidas vão desde uma estética pop e quase publicitária, como no caso dos painéis de carros destruídos fotografados por Jorge Fuembuena, até os retratos de Ali Hanoon, artista que mostra influência da fotografia alemã. “Eles já não estão tão apegados ao local. Estes fotógrafos abriram janelas, e isso é muito importante”, avalia Olivares. Ao mesmo tempo em que exalta a internacionalização desses artistas, ela faz um contraponto.

“É preciso levar em conta que a maioria desses jovens repete os esquemas de gerações anteriores”, afirma. “É uma repetição em torno de temas como a autobiografia, o mundo interior, o álbum familiar, a memória, a representação do real e do falso, todo esse tipo de estrutura.”

De fato, o trabalho do teórico e fotógrafo catalão Joan Fontcuberta é citado com frequência no meio, quando se trata de explicar o crescimento da geração surgida após os anos 2000. Fontcuberta, 58, iniciou suas atividades artísticas no final da década de 1970. Desde então, segue publicando livros e textos.

Para o fotógrafo Toni Amengual, além da ideia disseminada pelo teórico de que a fotografia, em última instância, representa sempre uma mentira, a atitude de Fontcuberta também serviu de inspiração. “Independentemente das temáticas, ele é um exemplo claro de que a dedicação, o esforço e a perseverança acabam por dar resultados”, conta ele, que é criador do festival de fotografia Visionaris. Fontcuberta recebeu neste ano o Hasselblad Award, prêmio que distribui cerca de R$ 353,5 mil e, em edições passadas, contemplou a norte-americana Nan Goldin e a francesa Sophie Calle.

A presença de artistas espanhóis em premiações vem crescendo desde o ano passado, quando Cristina de Middel foi finalista do Deutsche Börse Photography, concurso importante dedicado às maiores contribuições para a fotografia na Europa. Em novembro, Óscar Monzón, 32, autor do fotolivro “Karma”, que documenta a suposta intimidade de motoristas e passageiros no interior de seus carros, ganhou a disputa promovida pela feira de arte Paris Photo na categoria destinada às publicações de estreia.

Ricardo Cases, autor de “Paloma Al Aire”, destaca que, para além do viés crítico sobre a sociedade espanhola presente em algumas das obras, o interessante, para ele, “é a variedade de propostas dessa nova geração”.

Enquanto a crise reaparece em “The Pigs”, de Carlos Spottorno –que simula uma edição da revista “The Economist” para satirizar a visão estereotipada da mídia sobre os países europeus empobrecidos–, fotolivros como o de Cases partem de uma história divertida sobre uma corrida de pombos para então virar um estudo sobre as cores. A diversidade de técnicas e temas marca a nova fotografia espanhola.

Há tanto trabalhos subjetivos que buscam se aproximar de assuntos imateriais, como a distância, em “Almost There” de Aleix Plademunt, quanto obras de acento mais documental, caso dos retratos de prostitutas em “The Waiting Game”, de Txema Salvans. “Há uma concepção muito mais livre de criar, não há medo de romper a imagem e fraturar a fotografia como se fosse colagem”, diz o fotógrafo e professor Fosi Vegue.

O jornalista DAIGO OLIVA viajou a convite da Accion Cultural Española.

ps. Há ainda uma análise escrita por Jörg Colberg que você pode conferir clicando aqui.

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Golinhos de cachaça https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/09/19/golinhos-de-cachaca/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2013/09/19/golinhos-de-cachaca/#respond Thu, 19 Sep 2013 14:29:14 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=5177

Durante o Paraty, as Instantâneas do Entretempos se transformam em golinhos de cachaça, a bebida mais tradicional desta cidade…

Lost in… – Passaram apenas duas perguntas para que o público pedisse a Cristina de Middel um ritmo mais calmo em sua fala. O espanhol aceleradíssimo e o pensamento rápido da fotógrafa ganhou uma resposta à altura: “querem mais devagar? o-k”, com tracinho e tudo.

…Translation – Mais tarde, no coquetel de abertura, Cristina confessou a amigos que quando se dirigiam a ela em português, não estava entendendo nada. Passou despercebido. Sempre que questionada, as respostas faziam sentido. Vai saber…

Queimadas – Pouco antes do início do festival, um pequeno incidente. Uma das fotos da exposição de Jorge Fuembuena, montada na praia, foi derrubada em cima do refletor. Resultado: uma imagem queimada e um refletor quebrado.

Foto/TV – Uma apresentadora está circulando por Paraty para gravar o piloto de um programa de TV sobre fotografia. A ideia é transpor a linguagem fotográfica para a tela.

Por fora – Embora o discurso de que a fotografia se aproxima cada vez mais da arte contemporânea, o convidado Guilherme Peters repetiu por duas vezes que estava se sentindo “um peixe fora d’água”. Artista da Galeria Vermelho ligado a produção de instalações e performance, Peters vai realizar uma intervenção na Tenda Multimídia agora pela manhã.

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As duas metades do Entretempos são os curadores convidados do blog oficial do festival de fotografia Paraty em Foco 2013.

Durante o evento e o período que antecede sua realização, toda vez que você visitar nossa página e visualizar a vinheta acima, já sabe que quem fala aqui não é apenas o Entretempos, mas também os curadores do blog do festival.

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