Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Holandesa materializa sensação de descobrimento do corpo a partir da história de transgêneros https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/12/08/holandesa-materializa-sensacao-de-descobrimento-do-corpo-a-partir-da-historia-de-transgeneros/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/12/08/holandesa-materializa-sensacao-de-descobrimento-do-corpo-a-partir-da-historia-de-transgeneros/#respond Fri, 08 Dec 2017 14:10:56 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/Sequência-01.00_01_04_16.Still001-180x101.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19842

Hoje trago um fotolivro que aborda tema muito recorrente em vários trabalhos nos últimos anos: a transexualidade. A quantidade de obras que debatem a questão de gênero é tão grande quanto o número de ensaios sobre familiares doentes e, no Brasil, sobre a questão indígena.

O que então me faz trazer esse trabalho? A maneira como a artista discorre sobre essas questões. “Mandy and Eva” foi feito pela fotógrafa Willeke Duijvekam, que acompanha, durante seis anos, as transformações de duas meninas que ao nascerem foram designadas meninos.

O que faz esse ensaio ser um grande ensaio é a maneira com o fotolivro foi desenhado. Primeiro de tudo, as histórias são intercaladas. É como se fossem dois livros separados cujas páginas foram colocadas uma sobre a outra. Isso tem dois efeitos. Com uma página tampando a imagem da página seguinte, você força o leitor a experimentar a sensação de descobrimento. No final das contas, é sobre isso que estamos falando.

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No fotolivro ‘Sobretempo’, Mariana Tassinari faz engenhosas colagens de memórias com fotos do avô https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/03/28/no-fotolivro-sobretempos-mariana-tassinari-faz-engenhosas-colagens-de-memorias-com-fotos-do-avo/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/03/28/no-fotolivro-sobretempos-mariana-tassinari-faz-engenhosas-colagens-de-memorias-com-fotos-do-avo/#respond Tue, 28 Mar 2017 16:27:58 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/03/IMG_3553-180x135.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19517 ‘Sobretempo’, de Mariana Tassinari (Olhavê) – Mariana Tassinari é uma artista que me fascina pela maneira sofisticada com que conjuga referências de arquitetura e design em seus trabalhos fotográficos. A paulistana cria obras silenciosas, de ritmo bem lento, invadidas por interferências que causam estranhezas bem-vindas. Anteriormente, essas intromissões eram mais explícitas e agressivas: na maioria das vezes, materializavam-se em formas geométricas pesadas sobre paisagens ou cenas urbanas. Em outros momentos, elas apareciam de uma maneira mais discreta, com elementos –também geométricos– vazados, que cercavam detalhes das imagens. Em ambas as estratégias, Tassinari parece atuar como uma arquiteta que trabalha na reforma de um prédio histórico. Ali, todas as modernizações precisam ser alterações claras do projeto original, e não imitações do que foi construído antes. A influência da arquitetura se explica por meio de uma breve passagem pelo curso de arquitetura do Mackenzie, o que segundo ela, foi fundamental na formação de seu olhar. Em 2015, produziu o documentário “Eduardo de Almeida: Arquiteto da Medida Justa” (Eduardo é pai do fotógrafo da Folha Lalo de Almeida). Agora, em “Sobretempo”, a artista faz uma transição dentro de seu modo de produzir. Por isso, diferentemente do miolo desse fotolivro, a capa e a contracapa ainda trazem as formas geométricas pesadas que obstruem partes de uma mesma imagem –uma brincadeira entre positivo e negativo de uma fotografia.

O estudo da natureza das imagens, aliás, é um dos principais pontos dessa obra. A partir de colagens com slides fotografados pelo avô da artista entre 1968 e 69, Tassinari constrói novas geografias, desenha paisagens e imagina lugares que poderiam ter existido. Ainda que seja possível identificar as emendas das fotografias, as junções começam suaves, e o leitor mais desavisado talvez nem perceba que se trata de uma ficção. É bonito como ela se arrisca no jogo da fotografia: aquilo que supostamente serve para registrar fatos, torna-se confuso, sobreposto. Não é assim que funcionam as memórias? Será que estive mesmo ali? Aquela história ocorreu mesmo na Espanha? Tudo, afinal, não faz parte da mesma vida? Com o passar das páginas, tudo vai ficando mais explícito, com cortes aparentes, sem a preocupação de “enganar” o leitor. Tassinari tem a sorte de contar com lindas imagens, que lembram o estilo do italiano Luigi Ghirri, pioneiro do uso da cor na fotografia, seja pelas paletas, seja pelo tipo de paisagem registrada (os slides originais, belíssimos, aparecem nas guardas do fotolivro). Uma pena, porém, que os materiais escolhidos para a capa do “Sobretempo” não tenham a mesma sofisticação das imagens. Esse tipo de obra, parece-me, remete a uma pequena caixa de memórias que pede capa dura e visual de um objeto antigo. O design do trabalho, feito por Tassinari junto a Bianca Muto, uma das metades da editora Pingado-Prés, até aponta nesta direção, com uma aplicação na borda que lembra etiquetas de arquivos, mas essa relação poderia ser muito mais intensa. O fotolivro falha como objeto, mas se sobressai quando visto como uma série fotográfica. O lançamento de “Sobretempos” ocorre nesta terça-feira (28), das 18h às 22h, no ateliê da artista (r. Lemos Conde, 36, Alto de Pinheiros).

SOBRETEMPO
AUTORA Mariana Tassinari
EDITORA Olhavê
QUANTO R$ 80 (104 págs.)
AVALIAÇÃO muito bom

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Produção gráfica competente garante êxito da proposta de Elaine Pessoa no fotolivro ‘Nimbus’ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/02/10/producao-grafica-competente-garante-exito-da-proposta-de-elaine-pessoa-no-fotolivro-nimbus/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/02/10/producao-grafica-competente-garante-exito-da-proposta-de-elaine-pessoa-no-fotolivro-nimbus/#respond Fri, 10 Feb 2017 18:03:37 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/IMG_2931-180x135.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19405 ‘Nimbus’, de Elaine Pessoa – Entre as muitas razões que impulsionaram a volta dos fotolivros neste período dominado por formatos digitais está a necessidade de manuseá-los. Ainda que boas iniciativas como o site espanhol Have a Nice Book satisfaçam a curiosidade de quem vive longe dos grandes centros produtores de fotolivros, ver uma publicação por meio de uma tela não entrega o que um trabalho pode ser em sua totalidade. Aqui, não são só as fotos que importam, mas também o tipo de papel utilizado, a qualidade da impressão, o tamanho da obra e de que forma a narrativa proposta pelo artista é explorada. (Alguns diriam ainda que o cheiro da tinta é relevante, mas aí já acho que é tara de obcecados como Gerhard Steidl.) Enfim, não se trata apenas de virar páginas, não é algo que possa ser saciado só no computador. Temos de tocar os objetos, senti-los. Lembro isso porque a foto acima não corresponde ao que é a capa de “Nimbus”, de Elaine Pessoa, um dos primeiros lançamentos da Fotô Editorial, casa criada em outubro pelo curador e jornalista Eder Chiodetto junto à pesquisadora Fabiana Bruno e à própria autora deste fotolivro. Se as imagens no miolo são todas em preto e branco, predominantemente sombrias e muito granuladas, a capa de “Nimbus” é um negativo do restante do trabalho. Ali, por meio de uma textura creme sobre o papel branco, Elaine introduz a linguagem da obra, mas de maneira luminosa. O relevo, que lembra a marca deixada por um rolo de pintar parede quando já não há mais muita tinta no cilindro, oferece a primeira oportunidade de interação ao leitor, que toca a obra como se fosse um livro em braile.

Dentro, o branco da capa permanece por páginas e páginas até que as fotografias monocromáticas começam a explodir. As pausas também são um ponto importante em “Nimbus”: sequências de imagens são intercaladas por períodos de silêncio, o que dá ritmo ao trabalho, ainda mais quando se trata de registros que caminham para a abstração. Mesmo que seja possível identificar, aqui e ali, cenas da natureza, a granulação intensa faz com que fotografias se transformem em gravuras, e árvores e plantas se tornem a nuvem do título. O segundo momento de interação ocorre por meio das dobras francesas, tipo de acabamento em que as páginas ficam “coladas”. O leitor tem de cortá-las para encontrar as imagens escondidas. Esse tipo de recurso, comum em livros japoneses, cujo design prima pela sutileza, ficou um tanto deslocado nessa obra. Uma vez que as fotos de “Nimbus” giram em torno de uma mesma estética, sem grandes quebras –o que incorre no risco de a obra se tornar monótona–, rasgar ou deixar de rasgar as páginas do livro é indiferente. Por outro lado, a dobra francesa e a transparência do tipo de papel escolhido permitem que a impressão da imagem oculta vaze para a foto aberta, o que intensifica a mistura de rastros entre fotos. Estamos sobretudo no campo do estudo da natureza das imagens, tema que deveria ser ainda mais explorado em trabalhos brasileiros. Para isso, é preciso ter excelência na produção gráfica, caso desse fotolivro.

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NIMBUS
AUTORA Elaine Pessoa
EDITORA Fotô Editorial
QUANTO R$ 90 (68 págs.)
AVALIAÇÃO muito bom

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Imagens instigantes e bom projeto gráfico perdem para sensação de déjà-vu no fotolivro ‘Sunyata’ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/02/06/imagens-instigantes-e-bom-projeto-grafico-perdem-para-sensacao-de-deja-vu-no-fotolivro-sunyata/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2017/02/06/imagens-instigantes-e-bom-projeto-grafico-perdem-para-sensacao-de-deja-vu-no-fotolivro-sunyata/#respond Mon, 06 Feb 2017 22:46:44 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/IMG_2907-180x135.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=19344 ‘Sunyata’, de Rafael Roncato – Grande parte do ano que passou parece ter sido, ao menos para quem publica fotolivros no país, um período mais calmo. Após diversos lançamentos excelentes em 2014 e 2015, veio o silêncio para produzir novas imagens e novos trabalhos. O ritmo foi retomado nos últimos meses de 2016, quando a Ubu fez sua estreia na fotografia com “Ressaca Tropical”, de Jonathas de Andrade, a Editora Madalena publicou o novo de Lucas Lenci, “Movimento Estático”, e a Fotô Editorial, capitaneada pelo curador Eder Chiodetto, começou com impacto ao lançar três obras em sequência –sobre elas voltarei a escrever em breve. A boa onda de 2014 e 2015 também se transformou em estímulo a jovens autores que ainda não haviam experimentado o formato de fotolivro, caso de Rafael Roncato, que apresentará “Sunyata” como trabalho de sua pós-graduação. Embalado em uma sobrecapa vermelha que se desdobra e se torna o principal espaço para texto na obra, a publicação mostra que o design é um de seus maiores atrativos. O projeto gráfico, criado por Milena Galli, tem tanto sutilezas quanto intervenções mais explícitas. Entre as minúcias, por exemplo, há o detalhe sofisticado de um retângulo vermelho que funciona como negativo da tira branca da sobrecapa. Por outro lado, folhas vegetais soltas no miolo jogam ao leitor citações de obras que vão do dramaturgo italiano Luigi Pirandello ao brasileiro Lourenço Mutarelli. Há muito texto em “Sunyata”. Na parte interna da sobrecapa, muitas e muitas palavras discorrem sobre o “vazio”, tema da obra. Nunca escondi o incômodo com motes abertos a tantas interpretações como é o “vazio”. Muitas vezes, esse tipo de assunto aparece como muleta para imagens abstratas e que ainda não fazem sentido ao artista. Aí o vazio pode ser tudo e, peço desculpas pelo clichê, nada.

Ainda que Roncato justifique o vazio a partir do conceito budista segundo o qual nada tem natureza própria –daí o título, “Sunyata”–, sinto-me à deriva. De que vazio o autor está falando? O que afinal ele quer nos dizer? Mais: penso se, neste caso, um tema realmente se fazia necessário. Por que raios um fotolivro precisa ser sobre algo? “Sunyata” é bem fotografado, com imagens instigantes, modernas e boa edição. O fotógrafo intercala registros urbanos com texturas de cores vibrantes. A obra ficaria em pé mesmo se não tivesse uma só palavra para justificá-lo. Apreciar como as fotografias se encaixam e se repelem já não seria poético o bastante? Em alguns momentos, suas associações lembram “Colors”, do japonês Yoshinori Mizutani. Em outros, devido à narrativa guiada por cores, recorda-me “BR Motels”, dos brasileiros Alexandre Furcolin Filho e Jazzie Moyssiadis. Também por isso, “Sunyata” é daqueles fotolivros que se parecem com vários outros trabalhos publicados recentemente, o que traz uma sensação de déjà-vu. A obra tem muitas citações, muitas referências a pensadores e traços de outros fotolivros. Percebe-se, porém, pouco de quem é o autor de “Sunyata”. Se essa estreia mostra um capricho admirável em seu projeto gráfico e uma edição competente para boas imagens, será muito bom acompanhar o crescimento de Roncato e o florescimento de sua personalidade no próximo lançamento.

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SUNYATA
AUTOR Rafael Roncato
EDITORA autopublicado
QUANTO R$ 120 (72 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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‘Untourist’ mostra que fotos, assim como pessoas, só se completam quando estão ao lado de outras https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/08/10/untourist-mostra-que-fotos-assim-como-pessoas-so-se-completam-quando-estao-ao-lado-de-outras/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/08/10/untourist-mostra-que-fotos-assim-como-pessoas-so-se-completam-quando-estao-ao-lado-de-outras/#respond Wed, 10 Aug 2016 16:58:14 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/IMG_1087-180x135.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18366 ‘Untourist’, de André Matarazzo e Guilherme Abuchahla – Mesmo sem querer, o tino comercial do publicitário André Matarazzo, autor de “Untourist” ao lado do biólogo Guilherme Abuchahla, manifesta-se. Na capa do fotolivro que reúne imagens de quatro viagens do casal ao Japão, uma pessoa veste roupa inspirada no Pikachu, personagem de “Pokémon”. O lançamento da obra ocorre no mesmo momento em que o desenho volta a ser uma febre por meio de um jogo no qual milhares de pessoas caçam bichinhos coloridos por aí. “Untourist”, no entanto, oferece um brincadeira mais divertida. A obra parte de um trabalho apurado do fotógrafo Lucas Lenci, autor de trabalhos como “Desaudio” e “Hominini”, que editou um arquivo de 2.000 imagens. Mais do que selecionar fotos, Lenci deu sentido a um acervo feito sem pretensão, mais como o registro de uma cultura que oscila entre a sutileza e o exagero do que como algo que nasceu para se tornar um livro. Se o clichê é dizer que fotógrafos devem buscar maneiras de se destacar dentro de um universo em que todos são produtores visuais, a resposta a esse “problema” está na edição. Desenhar um fio que conduza o leitor de uma imagem a outra parece-me muito mais importante do que a velha concepção de fotografias feitas para serem vistas como peças únicas, isoladas de um grupo a sua volta. “Untourist” destaca-se por criar um caminho coerente e divertido.

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Os vínculos entre as fotos são facilmente reconhecidos: um globo terrestre é seguido da imagem de um mapa exibido em telas de assentos de aviões, que por sua vez conecta-se à capa de um guia de turismo sobre o Rio. A imagem de um aeroporto leva a uma vista aérea no qual o sol aparece ao canto. O sol volta a surgir no registro posterior. Esse tipo de associação lembra o fotolivro “This Equals That”, de Jason Fulford e Tamara Shopsin, graciosa publicação editada pela Aperture e dirigida a crianças. A correlação de formas e cores serve de primeira lição de como narrativas podem ser construídas. “Untourist”, porém, não se limita a esse tipo de fusão. O close de uma mosca está ao lado da imagem de uma pessoa em frente a uma janela, o que faz o leitor ouvir o zunido do inseto. Um bebê japonês –quem resiste?– ganha um banho de luz da foto à direita. Um casamento oriental cujo noivo é ocidental carrega a comicidade de uma aula de japonês via Skype. Ainda que a edição tenha feito com que as imagens de André e Guilherme se transformassem em algo além de seus anseios iniciais, a sensação de que essas fotos são registros da cumplicidade de um casal durante suas viagens permanece. Eles se fotografam, são personagens da foto de um e do outro. No final, o fotolivro mostra que, assim como as imagens, nós só somos completos quando estamos ao lado de outras pessoas. A tiragem inicial de “Untourist” é de 60 exemplares. O editor da obra, Lucas Lenci, diz que tanto ele quanto os autores buscam uma forma de viabilizar mais cópias. Por enquanto só é possível comprar o fotolivro por meio do e-mail lucas@lucaslenci.com.

UNTOURIST
AUTORES Andre Matarazzo e Guilherme Abuchahla
EDITORA autopublicado
QUANTO R$ 90 (118 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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Overdose de subjetividade oculta boa história de ‘Topographies du Mensonge’, de Sue-Elie Andrade https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/22/overdose-de-subjetividade-oculta-boa-historia-de-topographies-du-mensonge-de-sue-elie-andrade/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/07/22/overdose-de-subjetividade-oculta-boa-historia-de-topographies-du-mensonge-de-sue-elie-andrade/#respond Fri, 22 Jul 2016 20:25:19 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/07/IMG_1009-180x135.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18157 ‘Topographies du Mensonge’, de Sue-Elie Andrade-Dé – O estranhamento começa no título, em francês. Mas, logo em seguida, vem um texto introdutório em português. Antes que alguém acuse a autora de “Topographies du Mensonge” de ser pedante, é preciso esclarecer que Sue-Elie Andrade Dé é franco-portuguesa. E, neste caso, as palavras são cruciais para entender a obra lançada em 2015 e cuja tiragem tem apenas cem cópias: o fotolivro conta a descoberta, em fevereiro de 2010, quando a fotógrafa tinha 23 anos, da existência de um irmão mais velho. O que levou a uma redescoberta de seu próprio pai. Embora a tradução do título seja “topografias da mentira”, o irmão, segundo a artista, foi originado a partir de um relacionamento anterior de seu pai e desconhecido até mesmo por ele próprio. A “mentira” do título parece revelar um rancor compreensível ao ser surpreendida pela notícia. Voltar à Ilha da Madeira, em Portugal, para que o novo irmão conhecesse a terra do pai, impôs um olhar diferente da fotógrafa sobre um lugar já visitado outras vezes. Para expressar como encarou a nova situação, Sue-Elie então exibe paisagens, rachaduras, buracos e, por exemplo, uma escada que não leva a lugar algum. É impressionante como fotografar a natureza tornou-se um artifício ultrarecorrente –e vago– para espelhar sentimentos confusos. E, assim como disse ao comentar o fotolivro “Hart”, as abordagens geralmente utilizadas para discorrer sobre elementos impalpáveis fazem com que qualquer imagem possa representar tudo e ao mesmo tempo nada. As fotografias de “Topographies” são lindas, e o livro é muito bem feito, mas me levam a perguntas sobre obras que contemplam a vida íntima do autor: “Essa experiência particular importa aos outros? O que essa passagem da minha vida tem de universal?”. Afinal, de que forma algo que faz tanto sentido para mim será refletida nos leitores? Parece-me óbvio que há muitos nomes que conseguem superar a barreira do umbigo –Nan Goldin, num exemplo rápido e rasteiro–, mas para cada exceção há dezenas de contra-exemplos. A vantagem de Sue-Elie é ter em mãos uma história muito interessante, que atrai mais do que temas batidos como “a passagem da infância para a adolescência”. Além disso, a maneira como a fotógrafa nos conta que “Topographies du Mensonge” se origina a partir da descoberta de um irmão é muito inteligente. A brincadeira com as datas, no final da obra, faz com que o leitor solte um “aham!” ao captar o tema. Mas, para chegar até lá, ele tem de passar por um jornada visual que muitas vezes se encaixa apenas na cabeça de seu autor. É natural que muitos fotógrafos se afastem da realidade ao usar um suporte tão literal quanto a fotografia. O resultado disso, no entanto, deságua numa overdose de subjetividade, e pouco é dito com contundência.

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Atualização: A primeira versão do texto afirmava incorretamente que o irmão da fotógrafa havia nascido na Ilha da Madeira. O texto também dizia que a viagem feita pela família da artista para Portugal tinha como objetivo conhecer o novo parente. Na verdade, a viagem foi realizada para mostrar a terra natal do pai de Sue-Elie ao irmão. O texto foi corrigido.

TOPOGRAPHIES DU MENSONGE 
AUTORA Sue-Elie Andrade-Dé
EDITORA #iamnotfrench / Noiz É Book
QUANTO R$ 60 (62 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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‘Moisés’ arremessa leitor no labirinto da mente ao ter de lidar com a perda https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/12/02/moises-arremessa-leitor-em-labirinto-da-mente-ao-ter-de-lidar-com-a-perda/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/12/02/moises-arremessa-leitor-em-labirinto-da-mente-ao-ter-de-lidar-com-a-perda/#respond Wed, 02 Dec 2015 19:41:54 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2015/12/moises-mariela-sancari-spread-3-180x120.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16738

‘Moisés’, de Mariela Sancari (La Fabrica) – Presente em muitas listas de melhores fotolivros de 2015, “Moisés”, de Mariela Sancari, justifica sua fama. Ancorado em um projeto gráfico inteligente, a obra emula o labirinto íntimo da fotógrafa argentina ao imaginar como estaria seu pai se estivesse vivo. A projeção ganha força —e foge da pecha de ser apenas mais um drama familiar— porque a artista não conseguiu ver o corpo do pai morto, o que reflete a sensação incômoda, paranoica, de enxergar em todo lugar a pessoa querida que supostamente se foi. Quase sempre num fundo azul, Sancari retratou diversos homens de 70 anos, idade que Moisés teria caso não tivesse se suicidado. As imagens vão se intercalando em páginas que abrem para lados opostos, que se empilham e se desagrupam em cortes por vezes radicais. O leitor é jogado num liquidificador insano da perda e das falhas da memória, algo que, de alguma forma, em maior ou menor grau, todos nós já sentimos. “Moisés” também pode ser interpretado como um exercício sobre o retrato na fotografia, como ele se relaciona com identidades e o que pode representar. Tudo isso por conta de um design que existe para dar forma a um conceito bem elaborado, que passa longe do exibicionismo gráfico apenas para parecer moderno. Ali, o desenho é eficiente e existe para dar sentido ao trabalho. Uma vez visto, porém, a mecânica do livro perde a graça e a surpresa. Difícil retornar a ele para desfrutar mais do que algumas poucas lidas.

Avaliação: muito bom 

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‘Island in My Mind’ é como um carro descendo uma ladeira na banguela https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/island-in-my-mind-e-como-um-carro-descendo-uma-ladeira-na-banguela/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/11/13/island-in-my-mind-e-como-um-carro-descendo-uma-ladeira-na-banguela/#respond Fri, 13 Nov 2015 20:11:39 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16412

‘Island in My Mind’, de Irina Rozovsky (editora Verlag Kettler) –
Irina Rozovsky parece um carro desgovernado, descendo uma ladeira na banguela. “Island in My Mind”, que venceu o Dummy Award –prêmio dedicado a bonecos de fotolivro– do ano passado, é solto, fluído e ao mesmo tempo imprevisível e sem controle. Passa longe de todos os estereótipos possíveis de um trabalho sobre Cuba. Nada de fachadas ou carrinhos antigos e coloridos. Tampouco há referências ao comunismo. A decadência da ilha não aparece aqui saudosista e charmosa, mas crua, suja e torta, como se tudo estivesse, de alguma maneira, fora do lugar. Os cortes dos enquadramentos são abruptos e um elemento banal e tosco sempre aparece para nos lembrar de que o magnífico já se foi. Em uma foto, um enorme espelho de moldura rococó está sobre uma mesa com tampo de mármore. No chão, ao lado, uma garrafa pet em um saco plástico “estraga” tudo. Vira-se a página e o que se vê é uma pequena bailarina: mãos e uma das pernas no chão, olhar vazio, nada da elegância ou leveza que se espera. Esta sensação de ruído é reforçada pelo encadernamento com espiral, que divide e fura as páginas duplas. Por outro lado, o que explica a potência criada ao juntar imagens improváveis? Irina, nascida em Moscou mas criada nos Estados Unidos, desfila dezenas de exemplos de como editar fotografias. Cria novas cenas, faz humor, transforma horizontal em vertical, indica pausas precisas. Sobre o que é o livro? Não sei. Reproduzo a frase do escritor cubano Reinaldo Arenas que abre “Island in My Mind”: “E então, no final, eles viram o país e o contrapaís —porque todo país, como todas as coisas neste mundo, tem o seu contrário…”

Avaliação: ótimo 

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‘O Vazio É um Espelho’, de C. Wallauer https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/10/27/o-vazio-e-um-espelho-de-c-wallauer/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/10/27/o-vazio-e-um-espelho-de-c-wallauer/#comments Tue, 27 Oct 2015 10:00:23 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16272

‘O Vazio É um Espelho’, de Carine Wallauer (autopublicado) –
Uma linha torta divide os trabalhos que se conectam aos seus leitores e os
que são anódinos para aqueles que os leem. Em muitas vezes, tramas pouco familiares seduzem pela forma como são contadas. Em tantas outras, uma série de imagens soa como algo que só faz sentido na cabeça de quem a concebeu. A fotografia é um embate interessante justamente porque, embora seja ligada ao registro do real, opera em níveis muito subjetivos. “O Vazio É um Espelho”, de Carine Wallauer, é uma peça delicada. Embalado em papel arroz, o trabalho tem costuras que atravessam o fotolivro, desde o título na capa até as últimas páginas, unidas por uma linha preta. Ainda que seja produzido de maneira artesanal, foge do padrão de publicações que deixam um aspecto desleixado, tosco. Segundo a autora, a obra é “um exercício sobre o modo como nos projetamos em outras pessoas”. “A resistência em confrontar o próprio vazio. Autorretrato em espelho, através dos olhos de um outro.” Não me parece uma tarefa simples. A estratégia de usar uma outra pessoa para fazer uma autorrepresentação, embora não seja original, é formidável. Trabalha com o jogo de espelhos do retrato. Para isso, Carine recorre ora a quadros bem abertos, de paisagens áridas e delirantes, onde uma mulher aparece nua, ora a uma sucessão de fotos de um mesmo rosto. A maior parte de “O Vazio…” está nesta suposta repetição, já que as fotos não são iguais, algo que poderia sugerir ao livro a estrutura de um flipbook. A repetição de imagens é um recurso fantástico, que dá ritmo à edição, reforça argumentos, une pontas soltas que se encontram em algum momento. Nesse caso, no entanto, seu uso foi excessivo, principalmente porque este é um fotolivro curto, de apenas 30 páginas. Aqui, a repetição fez com que a obra ficasse presa a uma ideia que não decola. O espelho se tornou um vazio.

Avaliação: regular 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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‘Until Death…’, de Thomas Sauvin https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/08/11/until-death-do-us-part-de-thomas-sauvin/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/08/11/until-death-do-us-part-de-thomas-sauvin/#respond Tue, 11 Aug 2015 13:19:40 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=15196

‘Until Death Do Us Part’, de Thomas Sauvin (Jiazazhi Press) – A realidade é sempre maior do que a ficção. Sempre. Neste caso, ao menos aos olhos ocidentais. Nos casamentos chineses, há uma tradição em que a noiva deve acender os cigarros de todos os homens convidados da festa. A partir daí, tanto ela quanto o noivo iniciam uma série de brincadeiras que envolvem desde garrafas pet, com furos para acomodar vários cigarros ao mesmo tempo, até disputas por uma maçã amarrada a uma corda. Muitos dos jogos têm cenas indescritíveis, tamanha a bizarrice. “Until Death Do Us Part” é parte da pesquisa “Beijing Silvermine”, do francês Thomas Sauvin, que recuperou 500 mil negativos produzidos entre 1985 e 2005 e condenados à reciclagem de prata em um lixão em Pequim. Ao fazer seu fotolivro nas mesmas proporções de um maço de cigarros, Sauvin oferece mais do que a reunião e a edição do material recuperado. Ele proporciona ao leitor uma experiência similar à aquela vivida nas cerimônias. A marca Shuangxi, que estampa a embalagem da publicação, é de fato uma empresa de cigarros chinesa. O significado da palavra é “dupla felicidade vermelha” e, por isso, é associada aos matrimônios. Não consegui confirmar se a caixa foi feita para o livro ou se o autor utilizou embalagens usadas. No caso da segunda opção, a experiência é total, incluindo o cheiro dos cigarros. É provável que este seja o menor fotolivro que já comprei, mas a relação custo-benefício é garantida. Ainda que tenham proporções diminutas, as imagens podem ser visualizadas sem problemas, e a forma como a obra foi estruturada faz com que suas páginas abram sem esforço. Nostálgicos celebrarão um tempo em que cigarros eram onipresentes e o mundo não era tão cheio de regrinhas.

Avaliação: ótimo 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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