Entretempos https://entretempos.blogfolha.uol.com.br Artes visuais diluídas em diferentes suportes, no Brasil e pelo mundo Sun, 28 Nov 2021 14:42:12 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Após saída de diretor, Paraty em Foco promete ‘volta às origens’ com edição mais conservadora https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/09/09/apos-saida-de-diretor-paraty-em-foco-promete-volta-as-origens-com-edicao-mais-conservadora/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/09/09/apos-saida-de-diretor-paraty-em-foco-promete-volta-as-origens-com-edicao-mais-conservadora/#respond Fri, 09 Sep 2016 18:05:34 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/1993040HJ-180x118.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18725 O cenário era incerto, mas a 12ª edição do Paraty em Foco será realizada entre os dias 14 e 18 de setembro. Mais tradicional festival de fotografia do Brasil, o evento sofreu um baque no fim de 2015, quando Iatã Cannabrava, então diretor da mostra há nove anos, resolveu deixar o cargo depois de uma série de desentendimentos com o criador do Paraty, o italiano Giancarlo Mecarelli.

Responsável por dar forma ao festival, Cannabrava criou o modelo de cinco dias de debates e oficinas que atraiu à cidade fluminense público e nomes nacionais e internacionais, como o francês Antoine D’Agata, a espanhola Cristina de Middel e o brasileiro Miguel Rio Branco. Ele também tornou o evento mais contemporâneo e expandiu o perfil dos convidados para além da fotografia.

Fora da grande maioria das decisões desde que Cannabrava assumiu o controle do festival, Mecarelli volta a organizar a programação do Paraty, algo que já havia feito na primeira edição da mostra, em novembro de 2005. Com 34 convidados, selecionados em parceria com o fotógrafo Paulo Marcos de Mendonça Lima, a edição 2016 do Paraty promete ser uma “volta às origens”.

No texto publicado no site do festival, a organização diz que a mostra será “dedicada à valorização da fotografia feita com excelência e voltada para questões essenciais, uma fotografia que sensibilize pela qualidade e também pelo conteúdo”. Em dezembro, quando Cannabrava anunciou a saída, Mecarelli disse que a linha mais conceitual do ex-diretor estava “fora de foco”.

Também na nota de apresentação, a direção diz que vai “abrir mão de artifícios pirotécnicos em nome de uma relação mais íntima com a cidade” e que o local das mesas voltará a ser a Casa da Cultura de Paraty. “Em lugar de uma grandiloquente (e por vezes invasiva) tenda central, projeções tomarão diversos pontos da cidade”, informa o comunicado, em outra alfinetada ao antigo diretor.

Cannabrava, que em outubro estreará um novo festival de fotografia sob sua direção, o Valongo, a ser realizado em Santos, diz que “não havia pirotecnia, e sim democracia”. “A tenda central, gratuita, comportava 600 pessoas, a Casa da Cultura, 160. Vou continuar apoiando o festival, mas não dá para centrar a edição do evento na saída do antigo diretor. Isso é incontinência verbal.”

A curadoria do Paraty deste ano vai mesclar artistas conhecidos do cenário brasileiro, como Eustáquio Neves, Walter Carvalho e Luiz Garrido, e fotógrafos mais ligados a trabalhos comerciais, casos de Tony Genérico, de imagens de splashes e voltado ao mercado publicitário, e de Renato Rocha Miranda, responsável por muitas das fotos de divulgação de séries e novelas da TV Globo.

O festival também se volta mais a Paraty. Trineto de dom Pedro 2º e bisneto da princesa Isabel, o fotógrafo Dom João de Orleans e Bragança, que mantém uma casa histórica na cidade, participará de uma mesa com Pedro Vasquez. Também estarão na mostra o empreendedor social Daniel Cywinski, que se mudou para Paraty em 2010 e dirige a associação Cairuçu, e o mineiro Gabriel Toledo, especializado em fotografia de aves e que vive no município desde criança.

Por outro lado, o evento traz como principal destaque o russo Gueorgui Pinkhassov (imagem acima), membro da agência Magnum desde 1988. Ele fará um debate junto à fotojornalista carioca Ana Carolina Fernandes. Radicado em Paris, o fotógrafo construiu nas últimas décadas um trabalho com imagens de cores vivas que transforma momentos do cotidiano em quase abstrações.

CANCELAMENTO

A exposição do homenageado deste ano, o nonagenário Assis Horta, que fez o primeiro retrato de centenas de pessoas após a obrigatoriedade da carteira de trabalho, foi cancelada devido “a impossibilidade de um patrocinador em disponibilizar o montante necessário para o transporte de um acervo delicado e muito antigo, além da montagem”. Questionado por e-mail sobre o cancelamento, Mecarelli foi evasivo e disse que “ruim para um festival é não acontecer ou oferecer parcas possibilidades de interação com quem busca desenvolver técnicas e um novo olhar”.

“O maior patrimônio do Paraty em Foco são as pessoas que trocam conhecimento e experiências”, acrescenta. “Ao longo de 12 anos construímos uma relação com o mercado de fotografia que está acima de personalidades, inclusive a minha, como fundador do encontro. Lamentamos a ausência do Assis Horta, mas certamente ainda exibiremos sua obra.” No lugar da mostra do mineiro, o Paraty vai apresentar uma exposição do paulistano Paulo Friedman, com 17 retratos de trabalhadores de diferentes áreas e nacionalidades em seus respectivos locais de trabalho.

Em 2015, a antiga organização do Paraty divulgou o custo de R$ 1,1 milhão para realizar o evento. Agora, o diretor diz que não divulga valores. “Num momento em que todas as iniciativas culturais estão com enormes dificuldades de captação de patrocínio, estamos assinando um contrato que nos permitirá oferecer um Paraty em Foco ainda melhor”, diz ele. A menos de uma semana do início do evento, Mecarelli afirma que está aguardando “a autorização do patrocinador para dar a devida visibilidade”. “Independentemente de patrocínio, o festival foi viabilizado graças ao apoio inestimável de empresas como a Canon, Magnum, Canson Infinity e revista ‘Fotografe Melhor'”.

Veja a programação completa do Paraty em Foco 2016 aqui.

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Festival Valongo anuncia curadores, debate com Oscar Muñoz e mostra de Alejandro Chaskielberg https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/08/29/festival-valongo-anuncia-curadores-debate-com-oscar-munoz-e-mostra-de-alejandro-chaskielberg/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2016/08/29/festival-valongo-anuncia-curadores-debate-com-oscar-munoz-e-mostra-de-alejandro-chaskielberg/#comments Mon, 29 Aug 2016 20:06:57 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/OTSUCHI_FUTURE_MEMORIES_03_WEB-180x144.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=18586 Concebido a partir da saída de Iatã Cannabrava da direção do Paraty em Foco, o festival Valongo terá em sua primeira edição mostras do cineasta americano Bill Morrison, do argentino Alejandro Chaskielberg (foto acima) e dos brasileiros Julio Bittencourt e Cássio Vasconcelos, entre outros, anunciou nesta segunda (29) a organização do evento. As exposições serão organizadas pelo historiador espanhol Horácio Fernandez, autor da coletânea “Fotolivros Latino-Americanos” e curador entre 2004 e 2006 do PhotoEspaña, série de encontros realizada em Madri.

Diretor de filmes como “Decasia”, “Light is Calling” e “The Film of Her”, o nova-iorquino Bill Morrison foi tema de uma mostra no MoMA há dois anos. A música é parte central da obra do cineasta, que também faz experimentações com químicos sobre negativos. Já Alejandro Chaskielberg ficou conhecido pelo trabalho realizado na cidade japonesa de Otsuchi, um dos locais destruídos pelo terremoto que varreu o país em 2011. O argentino fotografou pessoas entre os muros que sobraram de suas casas, alternando fotos de longa exposição e colagens.

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A curadoria dos debates, por sua vez, será de Thyago Nogueira, coordenador de fotografia contemporânea do Instituto Moreira Salles e editor da revista “ZUM”. Entre os destaques das mesas está Oscar Muñoz (foto acima), artista colombiano que investiga a memória e os resquícios deixados por atos efêmeros. O fotógrafo japonês radicado no Brasil Tatewaki Nio, cujo trabalho sobre a arquitetura da periferia de La Paz estampou a capa da edição mais recente da “ZUM”, também fará parte da programação. O roteirista argentino Miguel Machalski, a chilena Paz Errazuriz e o paulistano Felipe Russo, autor do fotolivro “Centro” e da mostra “Garagem Automática”, em cartaz na Casa da Imagem, completam a escalação confirmada até agora.

Iatã, que dirige a programação geral do Valongo junto a Thamyres Viegas Matarozzi, afirma que o objetivo é não se limitar à fotografia e abordar outros suportes como cinema, vídeo e “todo tipo de ações contemporâneas que utilizem a imagem”. “É o mínimo de maturidade ampliar o nosso campo de discussão para além da fotografia”, diz ele. Assim como no modelo adotado no Paraty em Foco, o festival terá workshops ministrados por nomes como Bob Wolfenson, Tuca Vieira, Letícia Ramos, o coletivo Garapa, a editora Vibrant e a dupla Walter Costa e Ivan Padovani. Haverá ainda uma edição especial da Feira Plana, evento de publicações independentes organizado por Bia Bittencourt e cuja quinta edição será realizada no prédio da Bienal de São Paulo, em 2017.

Todas mostras e debates serão gratuitos, à exceção dos workshops. Para custear o evento, além de patrocínios, o Valongo abriu campanha de financiamento coletivo que oferece, como recompensa, fotografias de Claudio Edinger, Rosangela Rennó, Anna Kahn e André Penteado, entre outros. O festival ocorre entre os dias 12 e 16/10 no centro histórico da cidade de Santos.

Veja a programação confirmada até agora:

* Exposições:
– Juan Valbuena
– Roberto Huarcaya
– Bill Morrison
– Alejandro Chaskielberg
– Federico Rios Escobar
– Homenagem a Roy de Carava
– Julio Bittencourt
– Cassio Vasconcelos

* Mesas:
– Paz Errazuriz
– Tatewaki Nio
– Miguel Machalski
– Oscar Muñoz
– Felipe Russo

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Saída de Iatã Cannabrava da direção do Paraty em Foco ameaça realização do festival de fotografia https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/12/22/saida-de-iata-cannabrava-da-direcao-do-paraty-em-foco-ameaca-realizacao-do-festival-de-fotografia/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2015/12/22/saida-de-iata-cannabrava-da-direcao-do-paraty-em-foco-ameaca-realizacao-do-festival-de-fotografia/#comments Tue, 22 Dec 2015 05:40:19 +0000 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/files/2015/12/9818177275_678aaf4e7e_o-180x120.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=16899 O texto abaixo foi publicado na edição desta terça (22) do caderno “Ilustrada”.

Após nove anos, Iatã Cannabrava, um dos organizadores do festival de fotografia Paraty em Foco, rompeu a parceria com o fundador do evento, o italiano Giancarlo Mecarelli. Mais importante festival do país na área, o “Paraty” foi liderado por Iatã nos últimos anos. Depois de sua entrada na administração da festa, junto a Luiz Marinho e Marcelo Greco, em 2006, a mostra ganhou forma e relevância. Sob direção do empresário e fotógrafo, o evento cresceu em tamanho e em público e passou a receber importantes nomes nacionais e internacionais, como o americano David Alan Harvey, a canadense Penelope Umbrico e o brasileiro Miguel Rio Branco. Foi também com Iatã que o “Paraty” ganhou o modelo que perdura até hoje, com palestras e oficinas durante cinco dias.

A decisão ainda implica na saída do estúdio Madalena, responsável por toda a produção do festival. Enquanto Mecarelli cuidava da relação institucional com a prefeitura de Paraty (RJ), a empresa de Iatã tratava da estrutura do evento e da obtenção de verbas via de leis de incentivo. A última edição da festa, em setembro, reuniu 6.000 pessoas e custou R$ 1,1 milhão, segundo a organização.

Entre as razões alegadas para o fim da parceria está o custo para realizar um festival em Paraty. Tanto o agora ex-diretor quanto o fundador do evento reclamam dos preços de hotelaria e alimentação na cidade, o que afeta tanto a organização quanto o público. O secretário local de turismo, Wladimir Santander, prometeu responder entrevista por e-mail, mas, até a publicação da reportagem, não o fez. A principal razão da saída de Iatã está na disputa pela marca do evento. Nos últimos anos, ele tentou comprar o nome Paraty em Foco. “Eu estava construindo um festival que não ficaria comigo”, diz o empresário. “Mas tenho certeza absoluta de que quem criou o ‘Paraty’, quem deu cara a ele, quem o configurou, tijolo por tijolo, fui eu.”

Mecarelli, fundador do encontro, conta que Iatã fez duas propostas “malucas” pela marca, algo que “era melhor não ter feito”. “Não quero brigar com o Iatã, mas é muita arrogância dizer que foi ele quem construiu o festival. Não sei dizer por que quis romper. Me mandou um WhatsApp dizendo que era melhor fechar o ‘Paraty’. Recomendou cautela ‘pois a situação do país está feia’.”

O italiano afirma que o festival continuará sendo realizado, agora com rodízio de curadores, o que inclui ele próprio. Para o italiano, o que acabou foi “a gestão Iatã”. Embora Mecarelli assegure a sequência do festival, fotógrafos e curadores que participaram do Paraty em Foco avaliam que, caso não consiga uma outra parceria, dificilmente terá condições de organizar uma nova edição.

Fontes envolvidas com o festival não souberam definir quais eram as funções do italiano no evento e apontam uma desconexão entre o estilo de foto exibido na mostra e o que Mecarelli gostaria de ver. Nas últimas edições, o “Paraty” apresentou nomes mais conceituais, além de artistas de outras áreas, como cinema e performance. O fundador admite que, para ele, a festa estava “fora de foco”, mas rebate os comentários sobre sua atuação. Mecarelli diz que, como diretor artístico, era “exigente” e que “opinava no que não gostava”, além de ter criado uma seleção de portfólios.

Essa não é a primeira vez que Iatã rompe com Mecarelli. Em 2008, o paulistano deixou o festival por divergências com o fundador, mas retornou na edição seguinte. Naquele ano, o italiano produziu o Paraty em Foco ao lado de Luiz Marinho, representante da marca alemã Leica no Brasil, e do fotógrafo Marcelo Greco. Segundo Marinho, a relação terminou após restarem R$ 3 mil do orçamento daquela edição, o que irritou o criador do “Paraty” e o fez resgatar a parceria com Iatã.

Marinho define Mecarelli como uma “figura alegórica”, alguém que criou o festival, mas nunca o administrou. Para ele, mais do que as disputas pela marca —“Num orçamento de R$ 1 milhão, pagar 5% para usar a marca não é nada”—, o fator preponderante para a saída de Iatã é a situação econômica do país. “Todos os apoios e patrocínios estão sendo cortados. O fim do “Paraty” é a falta da lição de casa feita. É a história do Brasil”, afirma ele. “Eles não têm contrato, CNPJ, endereço, é um circo mambembe. O ‘Paraty’ é uma kombi com uma tenda de circo em cima.”

VALONGO

Embora a situação do país esteja feia, Iatã já prepara um novo festival. Programado para o fim de agosto, o Valongo, nome que remete a um bairro no centro de Santos, onde o festival será realizado, seguirá a estrutura do “Paraty”. A curadoria, entretanto, segundo o empresário, não se limitará à fotografia e vai abordar cinema, vídeo e televisão. Iatã dividirá a direção da mostra com a curadora Thamyres Viegas Matarozzi, 28. Ela é filha dos donos da Unimes (Universidade Metropolitana de Santos), que apoia o evento. Além da faculdade, o Itaú, antigo patrocinador do “Paraty” e que pagou R$ 400 mil na última edição, negocia parceria com o Valongo. Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, confirma, mas não descarta seguir patrocinando o antigo festival.

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Rinko Kawauchi: ‘Eu era uma onda, uma montanha-russa de sensações. Estou melhorando, mas sou caótica’ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/29/rinko-kawauchi-eu-era-uma-onda-uma-montanha-russa-de-sensacoes-estou-melhorando-mas-sou-caotica/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/29/rinko-kawauchi-eu-era-uma-onda-uma-montanha-russa-de-sensacoes-estou-melhorando-mas-sou-caotica/#respond Mon, 29 Sep 2014 16:55:20 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=10689
Foto: Cassiana Der Haroutiounian

O lugar escolhido para a entrevista combina com o clima delicado das fotografias de Rinko Kawauchi. Um passarinho pia sem parar, como os preciosos pontos de luz das imagens da artista, que chega silenciosamente no saguão do hotel em que estava hospedada, no centro histórico de Paraty.

Camiseta branca, echarpe clara –quase invisível–, calça de alfaiataria azul e sandália de salto grosso. Salto em Paraty? Só mesmo uma japonesa conseguiria desfilar com elegância pelo tortuoso chão de pedras da cidade.

Desde a chegada da fotógrafa, o assunto mais comentado do Paraty em Foco, que terminou sua décima edição neste domingo (28), era a sua maneira monossilábica de se comunicar, limitando-se a movimentos com a cabeça para dizer “sim” ou “não” e poucas expressões faciais. Diante da situação, o Entretempos pensou em um caminho pouco usual para a conversa.

Se o diálogo estava restrito a poucas frases, que tal um rápido jogo de palavras? Para cada cor ou objeto citado, ela teria que dizer qual é a sensação correspondente que lhe vem à cabeça. Uma das metades do blog explicou o método para a fotógrafa e ela achou graça. Ufa, um sorriso! A proposta parece ter funcionado e ela se soltou, até mesmo para questões mais compridas.

Ariana, Rinko nasceu em um 6 de abril, há 42 anos. Ela se define como uma pessoa caótica, o que contrasta com as imagens delicadas e harmoniosas de seus livros. “Além de sua personalidade, você também define suas fotos assim?”, pergunta a reportagem. “Com certeza!”. Principal nome da fotografia de seu país, Rinko produz registros do cotidiano que estabelecem relações entre vida, morte e a destruição como sinal de renovação. Em 2001, lançou três livros de uma vez só, que se tornaram clássicos contemporâneos. Momentos efêmeros e fenômenos da natureza são registrados de forma sutil.

“Quando eu era mais nova, era como uma onda, uma montanha-russa de sensações. Agora estou melhorando um pouco, ou pelo menos tentando”. A japonesa diz que pratica ioga e que tenta fazer –em alguns momentos– com que a sua respiração seja um processo racional. E terapia? “No Japão, isso é muito raro. As pessoas não têm o hábito de falar sobre as suas vidas. Falo dos meus sentimentos com amigos próximos”, conta. “Mas leio livros sobre psicologia e diários de pessoas que admiro. Isso me ajuda, eu acho.”

O passarinho no saguão do hotel tenta competir com a voz de Rinko. O blog embala na piração e pergunta se é possível fotografar sons. “Um som pode mudar a percepção de uma cena. Eu fotografo todos os dias da minha vida, muitas vezes apenas como ecos na minha cabeça. Não são sessões de fotos, mas apenas sensações de uma foto.” Começamos o jogo das palavras.

Branco? Nirvana. Vermelho? Energia. Azul? Calma. Amarelo? Meu sobrinho. Verde? Conforto. Preto? Solidão. Cristal? Esperança. Arco-íris? Perfeição. Busca a perfeição? Às vezes, muitas vezes. Trilha sonora para o seu trabalho? Tchaikovsky. Um cineasta? Pedro Almodóvar. E para dirigir um filme sobre a sua vida? Hirokazu Koreeda. Um escritor? Banana Yoshimoto. Um fotógrafo? Pode ser fora da fotografia também? Gabriel Orozco, James Turrell, Rei Naito, Leiko Ikemura e Terri Weifenbach. Praia ou montanha? Montanha, pelo silêncio e pelo verde. Para nadar? Piscina, sempre. Café ou chá? Café. Mundo real ou imaginado? Uma realidade imaginada. Realidade, porque fotografo o meu mundo e onde vivo. Imaginada, porque é o meu recorte. Fotografia? Espelho. Selfie? Só quando eu era mais nova. O futuro? Tarô.

Rinko conta que está aprendendo a ler o tarô. Uma das metades do blog provoca e joga charme para conseguir com que ela leia seu futuro, mas está sem as cartas, o que rende uma boa gargalhada. Depois de alguns devaneios místicos sobre o tema, a japonesa conclui que as cartas podem ser como a fotografia. Você escolhe acreditar naquele futuro promissor, assim como escolhe acreditar em uma imagem fotográfica, que é um recorte da realidade.

Para terminar, é possível fazer um retrato da fotógrafa? “Ih…”. Ela para na cadeira, com o corpo reto e um sorriso tímido. Não gosta muito do resultado, e pede para fotografá-la de novo, agora com ela operando o celular. Rinko sorri e tenta me alcançar com os braços, como se fosse guiar.

A foto é aprovada e a conversa acaba. Mas ela continuou ali, sentadinha com seu livro. Minutos depois, levantou-se e foi até a beira da piscina para fotografar. O dia estava nublado e, quem sabe, um outro pássaro não tenha cantado e a inspiração momentânea, que ela havia confessado, aparecido?

A jornalista Cassiana Der Haroutiounian viajou a convite do festival.

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Palestra incendiária de Alex Flemming marca último dia do Paraty em Foco https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/29/palestra-incendiaria-de-alex-flemming-marca-ultimo-dia-do-paraty-em-foco/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/29/palestra-incendiaria-de-alex-flemming-marca-ultimo-dia-do-paraty-em-foco/#comments Mon, 29 Sep 2014 04:53:52 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=10626 O último dia do festival Paraty em Foco ficou marcado pela fala agitada de Alex Flemming. Sempre de pé, o brasileiro –conhecido pelos retratos na estação Sumaré do metrô de SP– provocou com ideias assertivas sobre arte, foi aplaudido pelo público mais de uma vez e chamou Tarsila do Amaral (1886-1973), símbolo da pintura modernista do país, de “péssima artista”. “Artista é quem produz a vida inteira. Ela pintou durante cinco anos.”

Com excelente mediação do pesquisador Ronaldo Entler, Flemming, 60, distribuiu aspas polêmicas, sempre de um jeito despojado, jogando com o bom público que ocupava a Tenda Multimídia na manhã deste domingo (28).

Intervenções com tinta acrílica sobre fotografias, pinturas e fotocópias são a base do artista radicado em Berlim há 23 anos. O blog separou as principais falas de Flemming, em uma ótima mesa realizada no festival. Enquanto explicava sua produção, ele metralhou formulações sobre o que é ser um artista, a proibição do restauro de sua obra, a perda dos cromos originais dos painéis no metrô e por que deixou de destruir seus próprios trabalhos.

Artista é a pessoa que produz muito. Você tem que ser extremamente organizado, rigoroso e fazer. A vida é fazer, fazer e fazer. Ou você fez ou você não fez. Não existe meio termo ou portas meio abertas. Arte não tem piedade. Ou você faz bem ou não faz. Ou você decidiu e enfrentou, ou você morreu. E, além de produzir muito, artista é quem produz coisas diferentes. Não quero chegar ao fim da vida com uma retrospectiva que é um tédio.

Eu quero fazer coisas diferentes, quero a pesquisa do material e da linguagem. E pode soar egocêntrico, mas quero a pesquisa de mim mesmo. Porque eu faço a obra para mim. Não interessam os críticos, não interessa o mercado, faço a obra para mim e quero que vá para a puta que pariu.

Eu deixei no meu testamento que eu proíbo o restauro das minhas obras. Elas têm que ter a cicatriz do tempo, tem que ter os baques, o que vai acabando. Porque o grande destruidor não é a morte, é o tempo. O tempo vai além da morte. É importante que a obra vá morrendo com o tempo.

A minha conversa é a seguinte: Você tira o papa e é você e deus. Eu e a arte. Não interessa o resto. No Brasil, nós temos uma arte de classe, de cartas marcadas. Eu acho que a Tarsila do Amaral é uma péssima artista, que estudou em Paris e fez poucos quadros. Artista é quem produz a vida inteira. Tarsila pintou durante cinco anos. E para provar que aqui é um país de cartas marcadas, de arte para a elite e pela elite, Tarsila se casou com Oswald de Andrade. Dois grandes caras da elite paulista que, naquela época, se diziam comunistas. Quem foi o padrinho de casamento da puta que pariu? Foi o presidente da República! Vai para a puta que pariu, gente!

Eu sei que sou artista desde os cinco anos de idade. Eu não acredito em pessoas que deixaram suas visões na gaveta, não acredito em pessoas que fizeram meia coisa, meia verdade. Muitas vezes, a gente fala: “Ah, coitadinho, o cara é coveiro porque a sociedade não deixou ele ser outra coisa”. Não! Ele é coveiro porque gosta de cadáver, não há dúvida.

Os cromos originais do “Sumaré” estavam em duas caixinhas. Uma delas eu perdi. Fiquei triste que isso aconteceu, mas realmente tanto faz, porque a estação Sumaré tá ali. O original acabou. Todo mundo faz coisas boas, menos boas e muito ruins. Eu fiz muitas coisas muito ruins. E eu destruí muitas coisas que fiz. Na década de 1970, produzi sete curtas-metragens em Super 8. Ganhei festivais e saiu na TV Cultura. Depois eu achei que aquilo tudo era ruim, não-profissional e queimei os filmes. Durante mais de duas décadas, eu queimei, destruí e joguei fora várias coisas, até que tive um namorado que escondia as minhas obras. O que foi legal, porque hoje eu consigo me entender melhor na sequência da vida. Hoje eu espero e tento não destruir, mas de vez em quando eu destruo. Acho importante destruir. 

O jornalista DAIGO OLIVA viajou a convite do festival.

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Modelo do ‘Paraty’ torna festival pouco participativo para o público https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/27/modelo-do-paraty-torna-evento-pouco-participativo-para-o-publico/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/27/modelo-do-paraty-torna-evento-pouco-participativo-para-o-publico/#respond Sat, 27 Sep 2014 16:31:46 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=10591 Aconteceu no ano passado e volta a se repetir em 2014. A formatação da maioria das mesas do festival Paraty em Foco promove longos monólogos de artistas e pouca participação do público. Ao menos quatro palestras deste ano seguiram um roteiro pouco convidativo para a audiência que acompanha o evento e que vem enchendo a Tenda Multimídia.

Após uma breve apresentação feita pelos mediadores, o fotógrafo convidado assume o microfone para explicar sua obra e, sem interrupções, segue uma jornada solitária e monótona, sem a dinâmica de perguntas, confrontos e dúvidas que podem surgir durante a explanação.

Ao terminar a fala –de 20 minutos, em média– a palavra volta ao mediador, que faz comentários e perguntas, para enfim, passar a vez ao público. Nas mesas em que o blog esteve presente, muita gente deixou o lugar antes mesmo do final da explicação dos artistas. Quem ficou, pouco perguntou, o que torna a plateia um mero espectador.

Na quinta (25), os trabalhos dos excelentes Rodrigo Braga e Pedro Motta foram mostrados quase como uma apresentação de portfolio. O público sai da palestra sabendo descrever a obra dos artistas, mas sem uma reflexão do que ela significa, em que contexto se insere, nem o que as pesquisas realizadas por eles podem representar no futuro. Um desperdício ter fotógrafos tão articulados e usá-los apenas para descrever um arquivo com seus trabalhos.

Já na tarde de sexta (26), a paulista Sofia Borges realizou uma fala teatral em que distribuiu advertências sobre sua obra para o público –num tom levemente infantil–, reclamou de um galerista que a tolheu numa exposição em Los Angeles e desfilou aspas pouco compreensíveis como “meu trabalho tenta abarcar o inabarcável”. Quem não conhece sua obra, impressionante e perturbadora, saiu perdido em meio ao discurso empolado da artista.

Grande parte do problema está na configuração que deixa o artista solto, sem direção, falando o que quiser –e sem contestação, sem a presença de outros pontos de vista. As palestras parecem celebrações da obra do convidado em que ele mostra imagens e todo mundo bate palmas. Enquanto a formatação e a escalação do festival continuar sem a intenção de provocar o debate, o público vai continuar cheio de repertório visual, mas vazio de reflexões sobre o que está acontecendo na fotografia contemporânea.

Por outro lado, o melhor do evento está na Casa Paraty em Foco. Desde quinta (26), a livraria montada no espaço vem recebendo atividades ligadas ao universo dos fotolivros e com muita participação do público.

Na noite de sexta (26), o fotógrafo belga Max Pinckers –cuja ausência na programação principal do Paraty em Foco é incompreensível– falou sobre seus livros “The Fourth Wall” e “Will They Sing Like Raindrops or Leave Me Thirsty” e sobre o que considera essencial na construção de um fotolivro. Respondeu a perguntas e discutiu outras obras. A mesma situação aconteceu com a seleção de fotolivros do Dummy Award, com muita gente manuseando as obras e Walter Costa e Fabio Messias, da Trama, explicando detalhes das publicações. Neste sábado (27), o holandês Niels Stomps repetirá a atividade.

Formatos mais soltos trariam o público interessado para dentro do festival. É o contato direto com os artistas para tirar dúvidas –ou só tietar mesmo– que fariam do festival uma experiência diferente para quem o frequenta.

O jornalista DAIGO OLIVA viajou a convite do festival.

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David Alan Harvey exibe filme pornô por engano durante aula em Paraty https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/27/david-alan-harvey-exibe-filme-porno-por-engano-durante-aula-em-paraty/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/27/david-alan-harvey-exibe-filme-porno-por-engano-durante-aula-em-paraty/#respond Sat, 27 Sep 2014 13:21:05 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=10576 Oooops – O masterclass do fotógrafo norte-americano David Alan Harvey, na manhã desta sexta-feira (26) no Paraty em Foco, corria na maior calmaria até ele procurar um vídeo específico para explicar uma passagem do curso. O autor de “Based on a True Story” pediu a seu assistente que abrisse arquivo por arquivo, quando, de repente, a imagem de duas mulheres e um homem em meio a um filme pornô apareceu na tela. “Desculpe, é o computador do meu assistente”, justificou o membro da agência Magnum, que ficou levemente constrangido para depois dar risada.

Vocês, não – Por conta de um problema pessoal, o professor da Faap Rubens Fernandes Jr. cancelou sua participação no festival. Ele iria entrevistar a artista paulista Sofia Borges na tarde desta sexta (26). Para substituí-lo, o diretor do festival Iatã Cannabrava chamou as meninas do grupo 7Fotografia –que está tocando o blog oficial do “Paraty” deste ano– e uma das metades do Entretempos. Acontece que, segundo a organização do evento, a artista não aprovou a mudança. Exigiu que a palestra fosse feita pelo curador Agnaldo Farias. E assim foi. Ele acabou por emendar duas palestras em sequência. ps. Eu também escolheria o Agnaldo Farias.

Minimalista – Na edição 2013, uma das marcas do festival foi a vinheta hilária em que “atores” interpretavam fotógrafos e a explicação de seus trabalhos para um curador. Longa, roteirizada e muito bem produzida, virou sensação antes do início de cada palestra, sempre arrancando risadas da plateia. Neste ano, a vinheta oficial é minimalista. Em 20 –no máximo 30– segundos, uma foto de Rogério Reis é usada de fundo para o slogan do Paraty 2014 –“Dez anos em foco. Ou quase”– ao som de um violão. Ao ser exibida na abertura do evento, muita gente perguntou: “Mas já acabou?”. Já.

O jornalista DAIGO OLIVA viajou a convite do festival.

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Jeito austero de Rinko Kawauchi esfria noite de abertura do Paraty em Foco https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/25/jeito-austero-de-rinko-kawauchi-esfria-noite-de-abertura-do-paraty-em-foco/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/25/jeito-austero-de-rinko-kawauchi-esfria-noite-de-abertura-do-paraty-em-foco/#respond Thu, 25 Sep 2014 12:22:51 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=10567 O clima era de comemoração, mas o jeito austero da fotógrafa Rinko Kawauchi esfriou a abertura da edição 2014 do Paraty em Foco. Logo após o discurso de Iatã Cannabrava, diretor do festival, em que celebrou uma década do evento, Rinko subiu ao palco para apresentar seus trabalhos.

Durante pouco menos de uma hora, ela manteve a mesma expressão facial fechada e centrada. Também não alterou o tom de voz. A fotógrafa descreveu seus livros sem tecer comentários mais longos e profundos sobre as obras, protagonizando um monólogo pouco convidativo.

Antes do início de sua fala, Rinko lembrou a duração da viagem entre Japão e Paraty –cerca de 35 horas– e disse que ia se “esforçar para não cair no sono”. Mediadora da mesa, a curadora Rosely Nakagawa tentou criar um diálogo, mas para cada pergunta quilométrica, a japonesa respondia em centímetros.

Principal nome da fotografia de seu país, Rinko é responsável por imagens do cotidiano que estabelecem relações entre vida, morte e a destruição como sinal de renovação. Em 2001, lançou três livros de uma só vez –“Utatane”, “Hanabi” e “Hanako”–, que se tornaram clássicos instantâneos. Momentos efêmeros e fenômenos da natureza são contemplados de forma delicada.

Dez anos depois de suas primeiras obras, a fotógrafa publicou “Iluminance”, seu fotolivro mais celebrado e que apresenta uma absurda “luz eclipsada” –como definiu o diretor Iatã Cannabrava na apresentação da artista.

Muito da austeridade e timidez da fotógrafa vem de sua origem japonesa. Em 2013, a abertura do festival foi marcada pela espanhola Cristina de Middel, que distribuiu piadas e comentários irônicos, comportamento típico de latinos calorosos. Rinko faz o caminho inverso. Diz pouco, se expõe pouco e deixa que suas imagens falem por si mesmas. Se por um lado seu jeito econômico não faz decolar uma palestra para cerca de 400 pessoas, o trabalho maravilhoso da artista compensa a falta de expressões corporais e palavras.

Rinko fala por meio de suas fotografias. Não à toa, ela repetiu a vontade de visitar mais uma vez as cataratas do Iguaçú, no extremo sul do Brasil, onde o barulho intenso das águas é uma das coisas mais silenciosas do mundo.

O jornalista DAIGO OLIVA viajou a convite do festival.

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Guia do Paraty em Foco 2014 https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/24/guia-do-paraty-em-foco-2014/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/09/24/guia-do-paraty-em-foco-2014/#respond Wed, 24 Sep 2014 13:57:11 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=10465 O Paraty em Foco, maior festival de fotografia do país, começa sua 10ª edição a partir desta quarta-feira (24). Ao todo, serão cinco dias de palestras, oficinas, encontros e exposições na cidade litorânea do Rio de Janeiro.

Com expectativa de público de 6.000 pessoas –mesma marca do ano anterior, segundo o setor hoteleiro de Paraty– e orçamento de R$ 1,3 milhão, o festival realiza uma mudança importante: As palestras agora serão apresentadas na Tenda Multimídia, espaço que exibiu vídeos e abrigou performances em 2013. Gratuitos, os eventos não precisarão mais de retirada de ingressos.

Como o blog já havia adiantado, a japonesa Rinko Kawauchi e o americano David Alan Harvey são os principais destaques. Aos visitantes que irão ao evento, o Entretempos faz um roteiro com o melhor da programação.

– Quarta (24)

– ‘Sob a luz eclipsada’, com Rinko Kawauchi

OK. É a única mesa do dia, não dava mesmo para indicar outra coisa, mas é o encontro com uma das maiores fotógrafas da atualidade. Com mediação da pesquisadora Rosely Nakagawa, a japonesa Rinko Kawauchi abrirá o festival. Ela é o principal nome da fotografia contemporânea de seu país, cujo trabalho é marcado por imagens poéticas de natureza e de contemplação. Chance para conhecer a autora por trás de pequenas sutilezas do cotidiano. Às 19h.

– Quinta (25)

– ‘Novos naturalistas’, com Pedro Motta e Rodrigo Braga

O encontro dos fotógrafos amazonense e mineiro se dá pela natureza. Motta já a representou enterrada, cortada e com raízes expostas. Já Braga produz interessantes cenas de natureza-morta com animais… mortos. Ele ficou conhecido ao simular uma cirurgia em que médicos costuravam o focinho de um cachorro ao seu próprio rosto. São fotógrafos brasileiros jovens, mas com carreiras consolidadas e trabalhos consistentes. Às 15h.

– Encontro TRAMA: Photobook Dummy Award 2014

Trama, grupo de estudos sobre fotolivros, vai fazer uma edição especial –dividida em três dias– durante o festival. Na quinta (25), às 18h, haverá uma exposição comentada dos trabalhos finalistas do Photobook Dummy Award, premiação dedicada a projetos de publicações. O blog até já noticiou o resultado do concurso, lembra? Na sexta (26), também às 18h, o belga Max Pinckers, autor do ótimo fotolivro “The Fourth Wall” fará um bate-papo.

– Lançamento de “Intergalático”, de Guilherme Gerais

Junto a outros cinco títulos, o paranaense lança o fotolivro “Intergalático” na Livraria Madalena montada na Casa Paraty em Foco. Às 20h.

– Sexta (26)

– ‘A Tensão no nada ou uma nova taxonomia visual’, com Sofia Borges

Com mediação do professor da Faap Rubens Fernandes Jr., a artista paulista apresenta suas obras de investigação sobre a natureza da própria fotografia. Em autorretratos ou registros que dialogam com a pintura, Sofia Borges faz reflexões e perguntas sobre o que é uma imagem. Uma das metades do blog adora as perturbadoras imagens da artista, mas espera que a conversa no festival ajude na compreensão total de sua obra. Às 17h.

– “Masao Yamamoto: anotações sobre um fotógrafo”, com Agnaldo Farias

O curador Agnaldo Farias fará uma conversa sobre o fotógrafo Masao Yamamoto, cuja exposição em São Paulo, em abril, teve o texto de apresentação escrito por ele. Em pequenos formatos, o japonês registra animais, árvores e pessoas, revelando o que o cotidiano torna banal. Às 19h. No domingo (28), o curador faz uma oficina com o maravilhoso título de “Lições de um outro lugar ou análises de obras fotográficas por parte de um ignorante em fotografia, mas não de todo em imagens, fotográficas ou não”.

– Lançamento de “Centro”, de Felipe Russo

Junto a outros quatro títulos, o paulistano Felipe Russo lança o fotolivro “Centro” na Livraria Madalena montada na Casa Paraty em Foco. Às 20h.

– Sábado (27)

– “Ninguém é de ninguém”, com Rogério Reis

Rogério Reis, o John Baldessari brasileiro, será entrevistado pelo fotógrafo Claudio Edinger às 17h. O trabalho do carioca, que discute o direito de imagem em lugares públicos, é permeado por formas geométricas coloridas nos rostos de seus personagens. Ele esconde identidades, mas escancara contextos. Seu passado de fotojornalista é essencial para entender questões do que é permitido fotografar em uma época de câmeras para todos os lados.

– “Based on a true story”, com David Alan Harvey

Um dos maiores destaques do Paraty em Foco deste ano, o fotógrafo da Magnum falará sobre o livro que dá título ao encontro, realizado no Rio de Janeiro e aclamado em todo o mundo por sua edição e montagem ousada. Solto, sem grampos, o fotolivro pode ser montado de diferentes formas, oferecendo ao leitor múltiplas possibilidades narrativas. Às 19h.

– Lançamento de “Albinos”, de Gustavo Lacerda

Junto a outros quatro títulos, o mineiro Gustavo Lacerda lança o fotolivro “Albinos” na Livraria Madalena montada na Casa Paraty em Foco. Às 20h.

– Domingo (28)

“Zoo e Microfilme”, com João Castilho e Letícia Ramos

Thyago Nogueira, coordenador de fotografia contemporânea do Instituto Moreira Salles, realiza bate-papo com os ganhadores da primeira edição da bolsa ZUM. O mineiro João Castilho e a gaúcha Letícia Ramos falarão sobre os processos e a realização final de seus trabalhos durante o ano passado. Enquanto Castilho fotografou animais selvagens em ambientes domésticos, Ramos investiga o suporte fotográfico. É a última mesa do festival, às 13h.

Esta é apenas uma sugestão de roteiro proposta pelo Entretempos. A programação completa do festival você encontra em paratyemfoco.com.

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Rinko Kawauchi e David Alan Harvey são convidados do Paraty em Foco https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/07/01/rinko-kawauchi-e-david-alan-harvey-sao-convidados-do-paraty-em-foco/ https://entretempos.blogfolha.uol.com.br/2014/07/01/rinko-kawauchi-e-david-alan-harvey-sao-convidados-do-paraty-em-foco/#respond Tue, 01 Jul 2014 12:00:10 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://entretempos.blogfolha.uol.com.br/?p=9233 Em setembro, o norte-americano David Alan Harvey, 70, estará no Brasil para participar do festival Paraty em Foco. O evento comemora neste ano sua décima edição e acontece no litoral fluminense entre 24 e 28 de setembro.

Segundo o curador Iatã Cannabrava, organizador do festival, Harvey virá discutir a diferença entre “como o Brasil se mostra e como é visto”.

Atualmente, o fotógrafo membro da Magnum participa do projeto “Offside Brazil”, intercâmbio entre fotógrafos da agência e artistas brasileiros para documentar o país durante a realização da Copa do Mundo. Em 2012, Harvey publicou o livro “(based on a true story)”, com imagens que produziu no Rio.

As páginas da obra, todas soltas, podem ser reorganizadas pelo leitor. Assim, metade da imagem de um policial armado pode ser combinada com outra parte de uma foto de uma mulher de biquíni. No festival, além de participar de uma palestra, Harvey irá fazer uma oficina para cerca de 60 pessoas.

Também estará no evento a artista Rinko Kawauchi, 42, principal nome da fotografia contemporânea japonesa, cujo trabalho é marcado por imagens poéticas da natureza e momentos de contemplação.

Em entrevista à Folha, a fotógrafa afirma que suas fotos devem ser “uma oportunidade de olhar ao redor em um mundo onde as imagens são usadas como itens de consumo e compartilhadas com tanta frequência”.

Em 2007, Kawauchi expôs no MAM de São Paulo uma série de fotos produzidas durante três viagens ao Brasil. A mostra “Semear”, com registros sobre a imigração japonesa no país também gerou um livro de mesmo nome.

É a primeira vez que a artista volta ao Brasil desde então. Kawauchi conta, sobre a primeira passagem, que se lembra da “dificuldade para se deslocar de um lugar para o outro” e das cataratas do Iguaçu, que ela define como “espetaculares”. “Seu trabalho é delicado e muito contundente, como só uma japonesa poderia entender o conceito de delicadeza”, diz Cannabrava.

REFLEXÕES

Para a edição deste ano, o organizador afirma que, além de artistas, o festival terá a presença maior de “gente que pensa a fotografia”.

“As pessoas estão tão interessados nas histórias dos fotógrafos quanto nas reflexões feitas sobre eles”, afirma ele. O crítico de arte e um dos curadores da Bienal de SP de 2010 Agnaldo Farias e o historiador Maurício Lissovsky são alguns dos teóricos já confirmados para o evento.

Também estará em Paraty o norte-americano Fred Ritchin, professor de fotografia da Universidade de Nova York e fundador do programa de fotojornalismo do Centro Internacional de Fotografia. “Defendemos os festivais como um processo de educação”, conclui Cannabrava.

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