Transexuais no Irã e no Brasil
No último domingo, o correspondente da Folha no Irã, Samy Adghirni publicou uma interessante reportagem sobre transexuais em Teerã.
Lá, “o governo incentiva e subsidia cirurgias de mudança de sexo em nome de uma política que considera todo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado”, relatou o repórter.
Trocando em miúdos, oficialmente, o Irã não admite a existência de gays no país e a transexualidade é tratada como uma doença que pode ser curada através de procedimento cirúrgico.
Junto ao texto, quatro lindas imagens da fotógrafa iraniana Maryam Rahmanian ilustraram a matéria. São fotos melancólicas de jovens em busca de sua identidade, carregadas de olhares perdidos. “Não teria mutilado meu corpo se a sociedade tivesse me aceitado do jeito que eu nasci“, setencia uma transexual operada.
Desde agosto do ano passado, a agência de fotografia Noor vem realizando uma série de ensaios no Brasil como parte de seus projetos anuais. Nomes que colecionam uma tonelada de World Press Photo como Yuri Kozyrev, Jon Lowenstein e Stanley Greene vieram ao país para registrar o crescimento econômico e os contrastes do país às vésperas da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
A grande maioria dos temas abordam o crescimento econômico das cidades, o surgimento de uma classe média brutalmente consumidora e as complicadas relações de segurança que permeiam não só as pacificações das favelas cariocas, como também o imaginário temeroso dos paulistanos.
Entre todos eles, um ensaio corre fora da curva. O espanhol Pep Bonet registrou o cotidiano de trangêneros do Rio de Janeiro e de Fortaleza, ampliando a pesquisa que iniciou em Honduras.
“All imperfect things: Brazil’s transsexuals”, de Pep Bonet, julho de 2012
“Pep ficou perto de um de seus interesses, que são as comunidades transexuais em diferentes partes do mundo, mostrando um lado da sociedade que não mudou dramaticamente e continua a lutar por seus direitos”, explica Claudia Hinterseer, então administradora da agência.
As fotos do espanhol formam um curioso contraste com as imagens do Irã.
Aqui, embora igualmente marginalizadas, as transexuais brasileiras dificilmente integram profissões socialmente aceitas, como médicos, advogados e professores, ficando relegadas a prostituição e/ou outros trabalhos em clubes noturnos. É justamente esse recorte que o fotógrafo espanhol escolheu para contar as histórias dessas pessoas.
“All imperfect things: Brazil’s transsexuals”, de Pep Bonet, julho de 2012
Os limiares dessas definições são praticamente impossíveis de serem explicadas com exatidão, mas tanto as imagens de Pep quanto de Maryam revelam similaridades marginais e diferenças em como expressar quem realmente são.
Ou querem ser.
Para ver toda a série “The New Brazil”, da Noor, é só clicar aqui.
A reportagem sobre as transexuais no Irã você confere aqui.