Cinzas fotográficas
Nunca uma equação matemática definiu o Carnaval tão bem.
“365 – 65 = NADA”, livro de fotos do fotógrafo paulistano Manuk Poladian define o período de tempo mais importante para os sambistas: sem os 65 minutos de duração de um desfile pelo sambódromo, os 365 dias do ano deixam de ter sentido.
Só quem faz parte de uma escola de samba tem a dimensão dessa conta.
Lançado na segunda metade dos anos 90, “365” é um passeio pelas figuras importantes do samba paulistano. Seu Nenê da Vila Matilde, Carlão da Unidos do Peruche, Dona Lurdes da Camisa Verde e Branco e outros tantos personagens lendários estão contemplados em um ensaio que flutuou por todos os processos do Carnaval.
Dos integrantes da comunidade até a passarela, barracões, quadras de ensaio e a concentração formam a linha do tempo que vive no coração dos passistas.
Nesta edição do material de Manuk, os rostos dos integrantes das escolas aparecem, inicialmente, fortes e definidos.
Aos poucos vão se soltando, desintegrando, até um momento em que os grãos da película se confundem com os movimentos dos sambistas, fundindo instrumentos, adereços e o grito numa única forma.
Forma indefinida, como as cinzas da quarta-feira de Carnaval.
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Amanhã, o Entretempos publica um incrível ensaio inédito de Alex Majoli, fotógrafo italiano membro da Magnum, nosso último suspiro de Carnaval.
Até lá.