5 câmeras quebradas

DAIGO OLIVA

Atenção! Esta será uma das poucas postagens no estilo “não vi, mas vou falar sobre” que você encontrará no Entretempos.

Emab Bornat e seus equipamentos. “Tenho 5 câmeras quebradas, cada uma conta uma história”

Na esteira da cerimônia do Oscar, que acontece neste domingo, e, puxando algumas das discussões que foram levantadas a partir dos vencedores do World Press Photo, ficou tentador comentar sobre “5 broken cameras” (5 câmeras quebradas, em português), indicado ao Oscar de documentário.

Emab Bornat é um palestino que vive em Bil’in, na Cisjordânia. Em 2005, com o nascimento de seu filho Gibreel, Bornat compra uma câmera para registrar os primeiros passos da criança, que cresce quase ao mesmo tempo em que o exército israelense começa a construir uma barreira entre Bil’in e um assentamento de colonos judeus.

As gravações, de caráter estritamente familiar, passam a documentar a resistência e os protestos dos moradores da região palestina ao bloqueio, indignados com suas oliveiras derrubadas pelos militares.

Durante todo o tempo em que capturou as imagens, Bornat teve cinco câmeras quebradas. Balas de borracha, soldados que não gostaram de ser filmados, gás lacrimogênio… Inúmeras eram as ameaças as quais os equipamentos/testemunhas estavam expostos. A cada vez que uma delas era destruída, comprava outra.

Com a ajuda do cineasta israelense Guy Davidi, que co-dirige a obra, “5 broken cameras” se situa na mistura entre vida-diário e “crônica de protesto”, ótima denominação usada pelo New York Times.

Curiosa é a “participação” brasileira no filme. Em pouco mais de 6 minutos do trailer oficial do documentário, ao menos duas vezes a bandeira do Brasil surge por algum quadro solto, além de um dos manifestantes palestinos trajar a camisa do Palmeiras (?!).

Explica-se: brasileira, a mulher de Bornat ainda solta algumas frases em português em momentos de nervosismo.

Gibreel, filho mais novo de Emab Bornat

Detalhes ufanísticos a parte, “5 broken cameras” tem em sua gênese o oposto do que foi premiado pelo World Press Photo. Apresenta uma outra faceta da mesma guerra entre palestinos e israelenses, mas que está fora da faixa de Gaza.

Ignorando todas as milhares de argumentações e justificativas pró ou contra Palestina e Israel, o filme pode ser uma lembrete amargo que, por trás de todas as lutas ideológicas e decisões governamentais existem pessoas de verdade e seus cotidianos.

São episódios desconhecidos de pequeno raio de alcance, porém imersos num grande conflito histórico. Essas pequenas histórias relegadas em favor de uma única imagem são aquelas que contam a História em sua totalidade.

Momentos decisivos menores diluídos e deixados para trás na maioria das vezes.

Muitas das câmeras usadas no filme são de baixa qualidade fotográfica, mas trazem o espectador para uma realidade absurdamente próxima e tangível, para muito longe dos tratamentos de imagem que procuram jogar a guerra para outra esfera artística e artifical.

É um ponto fora da curva e que muito tem a ver com o momento atual do jornalismo cidadão tão propagado por agências de notícias.

Não sei se o filme merece ou não o Oscar e, sinceramente, vencer é irrelevante. Mas o argumento de “5 broken cameras” é interessantíssimo.

Meu sábado terá um tempo dedicado ao filme.

Para ver o trailer é só clicar aqui*

* Com a colaboração de Filipe Redondo

Comentários

    1. Pois é, Najma, ainda não há uma “versão brasileira oficial” para assisistir ao documentário.

      Estamos em contato com os representantes do filme para saber se haverá exibição no país. Por enquanto, só aquelas arquivos “soltos” na internet.

      Obrigado pela mensagem.

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