Voyeur

DAIGO OLIVA

O texto abaixo e um dos trabalhos que integram essa pequena coletânea do olhar do voyeur é de Felipe Morozini.

Boa sexta-feira!

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Susan Sontag escreveu: “Fotografia é um momento privilegiado”

Concordo e explico.

O voyeur. Inerente ao ser humano. Um eterno curioso.

Ele nasce voyeur. Que nada mais é que o ato de espionar a vida alheia.

De querer saber o que acontece com o outro. De quem é o outro.

Se ele é feliz. Ou não. Se ele tem algum segredo.

Num jogo perigoso que praticamos. O voyeur come com os olhos.

Parte disso vem do desejo de estabelecer semelhanças e diferenças, daí querer ver as pessoas sem que elas saibam que estão sendo vistas, porque é na intimidade que elas são elas mesmas.

O frio no estômago de ser descoberto, e, no caso dos fotógrafos, de ser rápido o suficiente para registrar esses momentos tão significativos na vida dos outros, mas que se não fosse pela olhar atento deste ou daquele, a beleza passaria desapercebida. E esses são os momentos privilegiados que Susan citou.

Freud já dizia: “ver é tocar”.

E quando você vê, você sente.

Certa vez, um escritor escreveu sobre o meu trabalho, e gosto dessa definição: “Que bom que existe um fotógrafo como este que nos permite ficar olhando a vida alheia sem nos sentir culpados. Sem medo de sermos revelados”.

Talvez esteja aí o sentido do voyeurismo.

Tentar se enxergar através do outro.

Como em uma metáfora para a própria existência.

“Sempre pensei em fotografia como uma maldade – esse era um dos meus pontos prediletos. Quando fotografei pela primeira vez, me senti muito perversa.” – Diane Arbus

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Felipe Morozini

Morador dos arredores do Minhocão, o fotógrafo e artista plástico fotografa há 11 anos essas janelas e continuará por tempo indeterminado. “Por que preciso fazer. E dialogar, mesmo invisível”, explica.

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Kohei Yoshiyuki

Japonês, fotografou casais geralmente acompanhados por espectadores desconhecidos, em dois parques de Tóquio, durante os anos 70. Utilizando películas infravermelhas, conseguia passar despercebido em meio a escuridão nipônica.

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John Schabel

Com uma lente para grandes distâncias, o fotógrafo nova-iorquino demorou 3 anos para concluir seu trabalho de retratos de passageiros anônimos, em aviões que estão partindo. O resultado: grãos, muitos grãos.

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Andre Kertész

O húngaro Kertész registrou a relação de amor das pessoas com a palavra escrita, em momentos introspectivos, entre 1920 e 1970, na própria Hungria, Japão, Argentina, França e Estados Unidos.

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Walker Evans

Em 1938, o artista escondeu uma câmera em seu casaco para fotografar passageiros no metrô da cidade de Nova Iorque. Espontâneas, sem defesa, “os rostos das pessoas estão em repouso nu no metrô”, escreveu.

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Em quase 4 meses de existência, esse modesto blog atingiu cerca de 70 mil visitas. Para muitos, pode parecer pouco, mas é de grande valia para os editores deste espaço.

Obrigado!

Comentários

  1. Concordo que a fotografia inesperada sem arrumação, é a mais linda pureza da beleza e sua doce espontaneidade. Ver com o olhar do fotografo é mais gratificante pois nos livra da culpa da invasão de privacidade.

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