Sobre Claudia Jaguaribe

DAIGO OLIVA

Reproduzimos aqui o texto que uma das metades do Entretempos escreveu para a Ilustrada de domingo, sobre o novo livro de Claudia Jaguaribe.

“Sobre São Paulo”, novo livro da fotógrafa Claudia Jaguaribe, lançado na última sexta-feira, tem apenas uma única folha.

Desenhado em formato sanfona, a obra reúne, em sequência, cinco vistas panorâmicas fotografadas e construídas digitalmente pela artista, totalizando quase 20 metros de comprimento.

As perspectivas gigantes, registradas a partir de helicópteros ou do topo de prédios históricos como o edifício Martinelli e a Fiesp, foram manipuladas posteriormente para reunir em uma única imagem diversas fotos do mesmo espaço sobre diferentes ângulos.

“A gente fica vendo pedaços de São Paulo. É difícil entender essa geografia. Imagine como se eu pegasse um novelo de lã e fosse abrindo a cidade, desvendando. Vamos ver o que é São Paulo? Aí você abre e não vê só pedacinhos, vê um conjunto”, explica a fotógrafa.

“Sobre São Paulo” é a primeira publicação do Estúdio Madalena, dirigido por Iatã Cannabrava e Claudi Carreras, responsáveis pelo tradicional festival de fotografia Paraty em Foco.

A obra vem na sequência de “Entre Morros”, livro da artista sobre as diferentes paisagens do Rio de Janeiro e a relação da natureza com a cidade, onde utilizou o mesmo processo de sobreposição digital para construir paisagens a partir de assombrosas perspectivas.

“A fotografia digital me deu um grau de liberdade muito grande. A exploração dessa infinitude de processos refletem na realidade o mundo contemporâneo. Isso não é um adereço, não é uma decoração que você coloca em cima da porta. Isso é, para mim, intuitivo da forma como a gente vive”, divaga a fotógrafa carioca que vive há 24 anos em São Paulo.

No verso das panorâmicas monumentais, Jaguaribe intercalou trechos de textos e músicas sobre a cidade com pequenas vistas e pedaços de prédios de São Paulo, onde, nem assim, a presença humana se destaca.

A ausência de pessoas não foi intencional, garante a artista. É o próprio gigantismo da cidade, vista de cima, que anula a escala humana. “Por mais próximo que esteja, visualmente não está perto. É como se fosse uma ilusão. O longe e o perto, pela própria arquitetura da cidade, não traz o elemento da intimidade”, explica Jaguaribe, que pretende recuperar o mundo interior dos paulistanos num próximo livro.

Por enquanto, “Sobre São Paulo” dá conta de ilustrar o desdobramento infinito da cidade e entender que, por trás do crescimento desordenado, há uma padronização das grandes metrópoles onde tudo se encaixa.

“Arte interessante não é aquela que aponta soluções, mas caminhos de percepção. Você tem que ter um discurso visual muito forte e muito conciso. Isso é o que faz a força do livro. Não adianta falar 30 mil coisas. Tem que dar uma visão muito clara sobre uma coisa e aquela uma coisa vai gerar 30 mil outras coisas na cabeça das pessoas”.