Novas árvores

DAIGO OLIVA

Houve um tempo em que até televisão dava câncer.

Verdade ou não, jamais saberemos. Há teorias populares que não necessitam da ciência.

A precisão dos pesquisadores invalidaria os debates mais acalorados em mesas de bar e pulverizaria conversas de elevador, assim como mães zelosas perderiam uma preocupação a mais com seus filhos.

Vida triste.

Os mitos urbanos são necessários para a continuação da humanidade divertida e do viver psicológico das certezas que não necessitam da racionalidade para serem colocadas em prática.

Besteiras à parte, o perigo do câncer nas ações cotidianas da vida realmente foi um pavor durante décadas passadas.

De microondas ao uso contínuo de telefones celulares, o mal invisível estava em toda parte.

Mesmo que atualmente esse temor tenha diminuído, essa pode ser uma explicação para as “novas árvores” registradas pelo fotógrafo alemão Robert Voit.

Desde 2003, Voit vem viajando o mundo atrás de torres de antenas de celulares que são disfaçadas de árvores e outras denominações botânicas.

Ao realizar uma pesquisa sobre produção de artigos de natal, o fotógrafo se deparou não só com árvores falsas, mas também coníferas, pinheiros, palmeiras e cáctus. Todas de mentira.

Espalhadas por cidades dos EUA, Inglaterra, África do Sul, Itália, Portugal, Coréia do Sul e outros países, é difícil entender o porquê das camuflagens.

Seria mesmo para evitar o boato de ondas nocivas à população local? Imagine o quanto um imóvel pode ser desvalorizado por possuir uma gigantesca antena pela vizinhança…

Ou então, para não constrastar violentamente com a paisagem natural de cidades ainda não completamente alteradas pelo homem?

Surreal pensar que os cenários seriam preservados pela construção de plantas artificiais.

Em entrevista ao site americano Pop Photo, Voit explicou que a África do Sul instala essas árvores falsas para evitar o vandalismo contra telefones celulares. “É totalmente absurdo e é assustador, nós todos temos telefones móveis em nossos bolsos!”, diz o fotógrafo.

De fato, é absurdo.

Mas, voltando aos mitos em geral, é desnecessário entender. Devem se manter como mitos.

Essas pequenas loucuras non-sense é que dão o tom da irracionalidade da vida.

Às vezes, elas se transformam em imagens.

Para ver mais do trabalho de Robert Voit é só clicar aqui. Há ainda um outro fotógrafo, o americano Dillon Marsch, que também passou a documentar as bizarrices dos disfarces botânicos em torres de celular. Para ver suas imagens é só clicar aqui.

Essa postagem partiu de uma dica do fotógrafo Gabo Morales, quase uma terceira peça do Entretempos. Obrigado!

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