Mais do que livros, sensações

DAIGO OLIVA

Finalmente uma das metades do Entretempos conseguiu assistir ao documentário “How to Make a Book With Steidl”, filme de 2010 sobre o alemão Gerhard Steidl.

Feito originalmente para a TV, “How To Make a Book” acompanha, durante um ano, a vida de um dos maiores editores de livros de fotografia do mundo.

Por meio da Steidl, gigantes como Martin Parr, Guy Bourdin, Philip-Lorca diCorcia e William Eggleston foram publicados em edições minuciosamente estudadas e com alta qualidade gráfica, construindo um império de artistas estrelados.

Numa comparação genérica, assim como importantes selos de música, Steidl inventou não só uma editora, mas também uma marca.

Quem compra Steidl, não compra apenas uma publicação sobre um fotógrafo, mas é atraído pela curadoria de seu dono e os cuidados milimétricos na impressão e desenho de suas obras.

De uma outra maneira, Steidl está dentro da sua própria lista de artistas.

Uma mistura da fisionomia de Mr. Bean com os trejeitos esnobes de Karl Lagerfeld, o alemão visita inúmeros artistas ao redor do mundo para negociar como essas publicações serão feitas.

São essas viagens que dão um tempero a mais para o documentário.

Para quem acha uma chatice conhecer a vida de um editor de livros obsessivo com a qualidade e a forma com que trabalha, o filme revela também os perfis de grandes fotógrafos.

O humor tranquilo de Martin Parr, a indecisão interminável de Joel Sternfeld, a precisão de Ed Ruscha, a simpatia de Günter Grass e o chato, chatíssimo chatismo de Jeff Wall.

Mesmo para um cara difícil como Steidl, não deve ser fácil lidar com uma gama tão grande de egos e polaridades.

Entre suas viagens, Steidl está em meio a concepção de “iDubai”, livro de Joel Sternfeld com fotos feitas a partir de seu iPhone. O fotógrafo, pentelho, quer chegar a todo custo ao mesmo tipo de visualização que se tem na tela do celular.

Mesmo para um livro de tamanho modesto, a energia despendida é absurda.

Steidl tem uma vontade muito maior do que apenas produzir publicações. O objetivo de sua editora é fazer com que uma obra seja capaz de realizar uma experiência em todos os sentidos.

Como o próprio alemão diz, ao tocar um livro, é preciso sentir o cheiro da tinta, a textura do tipo do papel ou até mesmo o som que as páginas produzem ao serem viradas.

Livros, qualquer um faz. O difícil é criar sensações.

Em abril, “How to Make a Book” foi lançado em DVD. Tomara que tenha legendas. Se você não está no modo advanced na aula de inglês, alguns momentos são dificílimos de entender, muito por conta do sotaque alemão ou o jeito horroroso de alguns dos artistas.

Mas vale a pena.

Atualização – Segundo o leitor Claudio Silvano, para quem é assinante do Netflix, o documentário está disponível com legendas em inglês. Melhor ainda.

As fotos desta postagem são de Gerald von Foris/Divulgação.

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