Ouça seus olhos

DAIGO OLIVA

“Quando toco o dó menor, enxergo o preto. O ré menor é azul”, disse a pianista Hélène Grimaud à revista Serafina de abril.

Na última segunda-feira, na Sala São Paulo, uma das metades do Entretempos pode vivenciar figuras ao ouvir o concerto do violoncelista Yo Yo Ma.

Músico extraordinário, francês com ascedência chinesa, ganhador de mais de quinze prêmios Grammy, Yo Yo é o grande nome da música erudita.

Ao lado da pianista Kathryn Stott, sua parceira musical de longa data, o músico entregava delicadeza ao violoncelo, combinando perfeitamente com o toque suave de sua dupla.

Embora possa parecer absurdo visualizar cores e formas através de sons, é possível abstrair e enxergar imagens, mesmo que apenas dentro de nossas cabeças.

O universo imagético se estende por todos os cantos do cotidiano, mesmo quando não estamos ali para observar representações gráficas.

A Sala São Paulo, por ela mesma, já é uma inspiração. O ritual de assistir a um concerto de música erudita é um ótimo refúgio para uma noite no começo da semana.

Ao comprar o ingresso e escolher seu canto em meio àquela construção grandiosa, você se sente isolado do mundo ao seu redor, pelo menos por duas horas.

Quer dizer, isolado do mundo lá fora, porque enquanto ouvia aquelas melodias, era como se diferentes mundos e diferentes personagens passassem pela cabeça e pelo coração.

Cada nota parece possuir uma frequência que chega dentro do corpo por diferentes formas. É quase imposível descrever as sensações ao ouvir uma música que emociona.

Ou bate ou não bate.

O concerto foi como entrar em uma bolha e não querer que nada interferisse nela.

Mesmo sem ver imagens reais, era possível montar uma projeção de fotos com aquela trilha.

A vontade é de não esvaziar todas aquelas sensações imaginadas e recriadas, desligar o som do mundo e fechar os olhos até chegar em casa.

E foi mais ou menos o que essa metade do Entretempos fez para conseguir dormir com aquela sensação que só uma música te traz.

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Comentários

  1. Que coisa maravilhosa deve ter sido assistir/ouvi-lo ao vivo, ainda mais naquela monumental sala que mesmo grande é aconchegante e acolhedora.

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