Mãe-objeto

DAIGO OLIVA

Dia das mães é sempre aquele comercial de margarina.

Para que o pão tenha ainda mais sabor, o Entretempos embarcou na data festiva e pediu para que 6 artistas nos dissessem: Qual objeto representa sua mãe?

Verena Smit, Rafael Jacinto, Renata de Bonis, Maysun, Xavier Martín e Breno Rotatori são os convidados dessa vez.

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Verena Smit

“Minha mãe é como um cristal. Uma rocha dura. Dificilmente lasca e não quebra nunca.

Ela segura tudo, é o centro da família inteira. Todo mundo vai até ela para pedir conselhos, ajuda, resolver problemas, e é como esse poder energético de um quartzo; um amuleto que limpa o campo negativo.

Que emana uma energia própria, de cura e equilíbrio.”

Verena Smit, 29, é uma artista visual paulistana. Formada em cinema pela Faap e graduada pelo International Center of Photography em Nova York; onde morou, estudou, trabalhou e viveu praticamente vinte anos em apenas dois anos e meio.

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Rafael Jacinto

“Na casa dos meus pais sempre teve muita planta.

Minha mãe mantinha samambaias penduradas nas vigas de concreto do apartamento em que morávamos, além de outras espécies em vasos de diversos tamanhos.

Nunca perguntei, mas acho ela que prefere plantas a flores. Pode ter a ver com o verde dos olhos dela.

Trouxe isso comigo quando saí da casa deles. E, mesmo morando em apartamento, sempre mantive samambaias, que adoro, e outras plantas em vasos espalhados.

Gosto de ter “cantinhos” verdes pela casa, pequenas florestas. Quando elas estão meio fraquinhas, vão pra área de serviço, onde pegam mais luz e mais umidade.

Depois voltam pro lugar.

Na casa da minha mãe, o “rehab” é feito na varanda.

Essa foto é de um cantinho da minha sala, no caminho pra cozinha. À noite, com a luz acesa, essas plantinhas, que acabaram de voltar da “reabilitação”, formam uma sombra bonita na parede.

Micha, minha mulher, gosta muito de flores e um dia moraremos em uma casa um belo jardim, com uma floresta maior”.

Rafael Jacinto, 37, integrante do coletivo Cia de Foto, que completa 10 anos em 2013, é casado com a Micha, tem um filho de 9 anos e uma cadela de 8.


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Renta de Bonis

“Este trabalho consiste em 3 pinturas a óleo e cera sobre tela e papel.

Nele estão presentes elementos que remetem a minha relação com a minha mãe: seu sangue forte e intenso espanhol que dá nome ao conjunto.

Ela é uma amante da literatura e sempre me incentivou a ler muito; está retratado um dos seus autores preferidos, Paul Auster, de quem me tornei grande apreciadora, muito por causa dela.

Tenho uma lembrança de uma árvore da felicidade na casa que morava na infância. Essa árvore continua na casa dos meus pais, sendo cuidada pela minha mãe até hoje.

O ato silencioso e delicado de plantar e cuidar do jardim adquiri e trago comigo; dedico esse trabalho a minha mãe Olga, por estar presente em pequenas ações silenciosas da minha rotina, diariamente”.

Renata De Bonis, paulistana, é bacharel em artes visuais pela FAAP. Representada pelas galerias Transversal, em São Paulo, e Laura Marsiaj, no Rio de Janeiro, integra o livro Pintura Brasileira no Séc XXI, lançado pela editora Cobogó.

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Maysun

“Minha mãe é uma canção, uma canção calma em uma tarde tranquila. Minha mãe é um café da manhã de domingo, sem pressa, repleto de risadas, doçura e recordações de criança. Ela é a música que aprendi, a arte, a vontade de aprender, a curiosidade. Minha mãe é “A day in the life” dos Beatles, “If” do Bread, o “Alone Again” de Gilbert O’Sullivan. Minha mãe é a música em si, todas as notas, é o zumbido suave enquanto lê o jornal. Minha mãe é o olhar cúmplice, compartilhada em silêncio, sem necessidade de falar, é dizer a mesma palavra, frase, gesto, com a mesma cadência, o mesmo tom, como se tratasse de um eco. Como se de nossas cabeças espreitase um pequeno fio de energia que nos une e nos faz compartilhar pensamentos. Minha mãe é de Leão, a luz do meio dia, a cor laranja, as flores amarelas de cinco pétalas nas montanhas nevadas. É o café carregado com leite e o passeio interminável aos domingos. Os livros incunábulos de “A Ilha do Tesouro”, “O clube dos cinco”, de Enid Blyton. Minha mãe é “Monty Phyton” e os eternos encontros de “Um peixe chamado Wanda”. Minha mãe é a perseverância, o gênio, a inteligência, a ética personificada. É a investigação infinita de ancestrais em busca de respostas, da própria identidade, nossa identidade. Ela é a porta que se abre em um tilintar de chaves voltando do trabalho a cada dia. Minha mãe está aí quando vê minhas mãos, igualmente ossudas, de dedos largos e finos, como a sua, como as de minha vó. Minha mãe é o cochilo em uma tarde de verão, quietude e sorrisos, a carícia no cabelo, a canção de ninar inventada, eterna e diferente cada vez. Minha mãe é minha amiga, a melhor”.

A espanhola/palestina Maysun é fotógrafa sem lugar estabelecido no momento. Desde 2005 vem cobrindo diferente temas políticos, conflitos sociais e desastres naturais em lugares como Birmânia, Tailândia, Palestina/Israel, Líbano, Jordânia, Egito e Síria.

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Xavier Martín

“Maria del Carmen Miguez -minha mãe- em um momento feliz, é das imagens mais alegres que tenho dela, solta, contente. A escolhi e agora é um quadro que habita minha casa. Sempre que o vejo, esse pequeno lugar de felicidade me cerca”.

O argentino Xavier Martín, 38, é fotógrafo. Em 2010, realizou a exposição “La Estación de los Deseos”, em San Telmo. Foi também assistente da fotógrafa Adriana Lestido.

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Breno Rotatori

“No quarto da minha mãe, um coração.”

Breno Rotatori trabalha com fotografia e vídeo. Realizou em 2011 sua primeira exposição individual, Habitar o tempo, no Fotografie Museum, em Amsterdam. Integrou a exposição coletiva “O Elogio da Vertigem: Coleção Itaú de Fotografia Brasileira” e da seleção What’s Next?, do festival Les Rencontres d’Arles, na França.

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Comentários

  1. Belíssima homenagem, nestas palavras…

    estão todas as Mães.

    Carinho, afeto carregado de AMOR.

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