Líbano, é uma honra conhecê-lo

DAIGO OLIVA

Quando o Entretempos começou, no longínquo dezembro de 2012 ;), nossa primeira postagem foi sobre a nova pesquisa do mineiro Gui Mohallem.

Enquanto lançava “Welcome Home”, seu livro de estreia, Gui já desenrolava “Tcharafna”, uma tentativa de aproximação de suas origens libanesas.

Durante uma residência artística, o fotógrafo aproveitou uma viagem ao Líbano para encontrar parentes e assim desvendar a figura do próprio pai.

Seis meses depois da publicação das primeiras imagens no Entretempos e alguns retornos a vila Fakiha, no nordeste do Líbano, a exposição de “Tcharafna” já passou por Belo Horizonte e chega agora em São Paulo, na galeria Emma Thomas, onde estreia a partir da próxima quinta-feira (06).

“O que é novo agora é esse lugar do outro que eu consigo entender melhor. Esse outro, o meu pai”, diz o fotógrafo em entrevista por e-mail.

Embora Mohallem exalte a procura do entendimento sobre “o outro”, tanto “Welcome Home” como agora em “Tcharafna”, seu trabalhos parecem viabilizar a experiência de autoconhecimento do próprio artista.

Por meio de laços familiares ou experiências intensas em comunidades é a visão em primeira pessoa que predomina na obra do fotógrafo mineiro.

“Quando comecei a me interessar por fotografia, notei que os trabalhos ora tinham uma cara de espelho, ora de janela. Quando não se tinha esse acesso ao outro, a fotografia de janela tinha uma função de expandir horizontes, aumentar repertório, no sentido que a gente conhecia mais realidades, como o trabalho da Claudia Andujar sobre os Yanomamis, ou da Mary Ellen Mark sobre aquela rua de prostitutas na Índia, coisas lindas”, explica o artista.

Mas me pegava o trabalho do [Jan] Saudek, da Laurence Demaison, da Francesca Woodman, que eram puramente espelho. Não sei ver se a janela tem menos apelo hoje por conta do grau de compartilhamento que a gente conseguiu. Sei que sempre gostei dos ‘trabalhos espelho’ ou dos híbridos“.

A nova mostra é formada por 13 obras –fotografias, objetos feitos com parafina e vídeos, um deles um tríptico– mas o projeto inteiro ainda não está finalizado. Em agosto, Gui voltará para o Líbano por mais um mês.

Lá, poderá coletar mais traços do povo libanês, construindo indiretamente um perfil de quem realmente é seu pai, que imigrou para o Brasil há cerca de 60 anos. O imigrante, fora do seu local de origem, se adapta, se transforma e, por vezes, é obrigado a comprimir traços característicos de seu povo em favor da nova cultura. É este rastro perdido que talvez Mohallem esteja investigando.

No Líbano, o mineiro passou a entrevistar familiares em Fakiha, no vale do Bekaa, nordeste do país. O passado paterno foi se aproximando não só por meio das conversas com membros remanescentes da família mas também na medida em que melhorava seus conhecimentos no idioma local. Foi a partir de um poema que seu pai ouviu quando tinha dez anos que “Tcharafna” nasceu.

“O que me interessa é tentar juntar o espelho e a janela, é estar com o outro dentro da imagem, se é que isso é possível”, finaliza Mohallem.

“‘Tcharafna’ é um termo de cumprimento similar a “prazer em conhecê-lo”. Mas está relacionada à honra e a tradução literal seria “estamos honrados”.

Líbano, é uma honra conhecê-lo.

TCHARAFNA
AUTOR 
Gui Mohallem
QUANDO 
6/6, às 18h; até 18/7 (seg a sex, das 11h às 19h, sáb, das 11h às 17h)
ONDE 
Galeria Emma Thomas (Rua Estados Unidos, 2205, Jardins)

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