Entretempinhos

DAIGO OLIVA

Recentemente, o British Journal of Photography publicou um interessantíssimo artigo sobre livros de fotos para crianças.

Para aqueles que estão com preguiça, o texto fala sobre o grande número de imagens que os jovens encontram todos os dias e o acesso precoce a câmeras e smartphones, contaminando também as publicações que lidam com alfabetização visual.

Cada vez mais os livros infantis terão fotografias, tomando um pouco do espaço até então dominado pelas ilustrações.

Autores como Jan von Holleben -que já havia publicado anteriormente um fantástico livro sobre puberdade e adolescentes– e Lorna Freytag lançarão/lançaram, ainda em 2013, novas obras para o público infantil.

Acima, a máquina de identificação de gênero. Abaixo, “no que pensar quando se está fazendo sexo”, ambas imagens presentes em “Does Everybody Get Puberty”, de Jan von Holleben.

Além dos artistas, é natural que o mercado editorial de fotografia passe a direcionar seus esforços para este nicho. A “Little Steidl”, divisão da tradicional Steidl (não se engane pelo “little”, essa filial não é especializada em crianças), está se reintroduzindo como uma editora independente, onde dois de seus futuros lançamentos serão o novo livro de Holleben e outro da americana Tierney Gearon, ambos com temáticas infantis.

O grande entrave para o crescimento dos fotolivros para crianças é a ideia tradicional de que a fotografia está relacionada com representações reais, como em enciclopédias, em oposição à narrativa ficcional, onde tudo é possível através de desenhos e ilustrações.

Porém, os lançamentos deste ano contrariam essa ideia engessada de divisão dos suportes artísticos para contar uma história ficcional ou mesmo uma metáfora.

Seja por grandiosas produções ou colagens, a fotografia contemporânea e documental vem agregando elementos lúdicos que se comunicam diretamente com o universo infantil.

Imagens de “Explosure”, da ex-modelo americana Tierney Gearon.

Para além das inúmeras séries que circulam pelas redes sociais ligando crianças e seus objetos, há também ensaios como o best-seller “Where Children Sleep”, de James Mollison, que faz quase uma análise psicológica de como as crianças, e também seus pais, se relacionam com os espaços em suas casas.

Por meio de dípticos, Mollison retrata, separadamente, crianças e seus quartos, em associações cromáticas e expressivas. É praticamente possível enxergar a habitação no pequeno personagem, assim como o contrário. É sobre crianças, mas não só para crianças.

O movimento em direção ao mundo infantil mostra que a fotografia contemporânea vem se desprendendo do real para ganhar novos contornos rumo ao imaginário em todos os campos.

E nada mais fantástico do que se comunicar com crianças.

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