Uma conversa com Jörg M Colberg

DAIGO OLIVA

A melhor definição sobre o crítico Jörg Colberg veio na primeira vez em que ouvi falar sobre o alemão: “Ele é Ph.D em astrofísica, não pode ser burro”.

Não pode e não é. Colberg é uma das maiores referências atuais sobre fotografia no mundo. Ganhou visibilidade a partir do blog Conscentious, em que, desde 2002, publica pensatas, críticas e entrevistas com os principais nomes da fotografia contemporânea. A forma fácil e sem rococós com que escreve o projetou como um pensador acessível, que traduz o universo imagético atual para perto dos leitores. “Não quero confundir o que estou dizendo e também não quero dar a impressão que escrevo apenas para parecer esperto”, explica Colberg em entrevista por e-mail.

“Termos técnicos são utilizados por pequenos grupos, como insiders ou especialistas. Acho que tudo bem usá-los em publicações que servem para esse tipo de público, mas tenho um grande problema com jargões quando se quer uma audiência mais ampla. Vamos falar a verdade, textos pretensiosos não vão fazer de suas fotografias algo melhor”, continua.

O esforço do crítico logo foi reconhecido e se alargou para outras áreas. Em 2006, a revista “American Photo” nomeou Colberg um dos nomes inovadores na fotografia, assim como a “Life” premiou “Conscentious” o fotoblog de 2011.

O alemão passou a curar exposições, colaborou para revistas como a holandesa “Foam”, o “British Journal of Photography” e começou a lecionar fotografia na Hartford Art School, nos EUA. “Em geral, sempre tento fazer com que os alunos olhem para as fotos com mais cuidado, independentemente se é uma imagem sua ou de outras pessoas. O que as fotos dizem e como elas fazem para se comunicar? Como fotógrafo, você tem que entender como funciona. Isso é muito importante”, ensina o crítico.

Talvez esse seja um dos trunfos de Colberg. Deixar claro que os processos fotográficos passam por preceitos básicos de significação. A grande maioria dos textos publicados em seu site fala muito mais sobre construção, caminhos e o que o artista tenta comunicar em suas obras do que maneirismos de interpretações vagas sobre fotografias.

‘American Pixels’, trabalho da faceta fotógrafo de Colberg

E como falar de um mundo contemporâneo que se alimenta pela resignificação de imagens? O número de trabalhos que vêm sendo realizados a partir da coleta de arquivos, recortes e o aproveitamento de milhares de fotografias que são espalhadas e carregadas na internet todos os dias parece ter aumentado incontrolavelmente dentro da produção artística.

“Os artistas são muitas vezes os primeiros a explorar novas possibilidades, por isso não surpreende que os trabalhos têm sido feitos a partir das novas ferramentas disponíveis. Essa mania de “found photography”, acho que, em grande parte, é regida por este período muito improdutivo, retrógrado em nossa cultura”, opina Colberg.

“Nós somos governados, quase esmagados, pela nostalgia – de um passado que não existe dessa forma. Acho que há uma falta geral de imaginação no mundo da fotografia, com muito poucos artistas realmente empurrando e olhando para a frente, e não para trás”, continua.

Acima, “Uncle Ralph”, obra de Colberg a partir de slides encontrados ou comprados. A nostalgia criticada pelo alemão também está presente em seus trabalhos…

Na enxurrada de fotógrafos que antes mesmo de entender o porquê de suas produções já estão publicando ou expondo seus trabalhos, a fala do alemão significa que é preciso dar um passo atrás no processo e, antes de tudo, refletir como estamos fotografando. E ainda mais, o que estamos fotografando? Ao ser perguntado por que a fotografia contemporânea está cheia de trabalhos que falam sobre o próprio autor, Colberg foi categórico.

“Certamente é um mundo cheio de narcisismo. O mundo da fotografia se tornou cheio de egocêntricos. E uma vez que todos nós temos uma história pessoal para contar, acho que perdemos um senso de comunidade. Ok, tenho os meus problemas, mas talvez registrar as possessões de minha avó não seja exatamente o mesmo que fotografar a família ao lado que tem passado por tempos difíceis. Em vez disso, estamos fingindo que é basicamente a mesma coisa. Nós parecemos ter ido de um extremo para o outro. Espero que o pêndulo balance para trás e nos leve a um nível mais igual, porque se isso não acontecer, um monte de arte auto-centrada ficará mais frequente e mais insípida. A história da fotografia está em constante fluxo, e não deve se tornar complacente. Há novos desafios o tempo todo e nós devemos estar preparados para enfrentá-los. A fotografia não é mais, é apenas diferente. Assim como tem sido diferente em tantos períodos anteriores de tempo.”

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