Correspondências
———- Mensagem encaminhada ———-
De: Daigo Oliva
Data: 1 de julho de 2013 11:08
Assunto: Paraty em Foco
Para: gui mohallem, Breno Rotatori
Gui e Breno, tudo bem?
Não sei se vocês sabem, mas o Entretempos é o blog oficial do Paraty deste ano. Como a gente sabe que vocês farão uma das mesas do festival, pensamos em fazer uma previa no blog, como se fosse uma troca de emails.
Vocês topariam?
Seria uma coisa meio que discutindo um pouco o que será falado, uma pequena ideia, mas com mais intimidade e coloquial. A ideia é também colar os cabeçalhos dos emails, com data, hora e assunto (Res: Res: Res:…)
Que acham? Vamos?
Abraços!
———- Mensagem encaminhada ———-
De: gui mohallem
Data: 3 de julho de 2013 10:53
Assunto: Re: Paraty em Foco
Para: Daigo Oliva
Cc: Breno Rotatori
querido
conversamos ontem e topamos ver o que que dá.
( não dá pra ser exatamente o que a gente vai falar porque a gente nem foi brifado)
mas a gente pensou em discutir por escrito e por imagem, com a gente fez uma vez pro incubadora, a partir de um inquietação de um e de outro.
A gente tem intimidade, gosta de trocar, então a idéia é aproveitar esse estímulo seu pra desenvolver isso em outra plataforma.
a idéia é a gente começar isso agora e ver onde dá.
se ficar legal a gente manda, se ficar ruim, não hahahaa
que que vc acha?
abração
———- Mensagem encaminhada ———-
De: Daigooliva
Data: 3 de julho de 2013 10:55
Assunto: Re: Paraty em Foco
Para: gui mohallem
Cc: Breno Rotatori
Então tem que ficar legal! Hehe
Vamos combinar para a próxima quarta feira??
Abraços!!
***
2013/7/11 Breno Rotatori
oi gui, estava pensando como poderiamos começar essa conversa.
acho que fica um negocio bem forçado por email, não é?
o que acha se nos encontrarmos para um café e gravamos a conversa ou é pior ainda?rs
preciso pegar a foto do trem – que foi para casa tomada – está na sua casa?
abraço
Em 12 de julho de 2013 00:04, gui mohallem escreveu:
brenao
nao consegui te ligar hj. dia maior corrido.
vamos encontrar pra conversar então. A gente propoe isso pro daigo. De repente duas cameras? tela dividida? uma filmanda cada um de nós? hahaha não vai ficar mega estranho. hahaha cafona.
eu to com uma inquietação já pra te mandar que é o seguinte.
To vendo vc trabalghar com sua vó, e tem aquele lance super forte do seu vô.
Você sempre usou de certa forma imagens da sua família e dos seus próximos, mas sempre preservando. Com excessão do Manélud, no bloco, no sopro ou mesmo naquele livro que vc imprimiu lá na Casa Tomada, sempre teve seu tio, a Jéssica, mas tb não eram eles, ou eram eles ressignificados.
A minha dificuldade é que meu trabalho tá chegando perto das pessoas que são caras pra mim, da família, o pai, o tio a prima.
Tem momentos que eles tão ali mas estão fazendo um papel, tão representando uma coisa, algo abstrato. E com isso to sussa. Mas tem hora que são eles mesmo ali e é deles, daquele indivíduo que o trabalho fala.
Isso tá me deixando bastante inseguro, sobretudo na questão da exposição dessas pessoas e de uma intimidade que, a rigor, não interessa a mais ninguém.
Como vc pretente trabalhar esse novo material da sua avó, e do seu avô. Você pensa nessas questões?
Acabei de filmar meu pai nesse finde. Foi muito forte, mas tudo isso não sai da minha cabeça. ( um monte a ver com a Tcharafna tb em que as duas coisas estão ali coexistentes)
me diz o que vc acha?
beijo beijo
2013/7/15 Breno Rotatori
gui, não consegui responder antes. uma correria por aqui.
mas vamos lá.
pois é, em alguns trabalhos a minha família está presente. no manélud de uma maneira diferente dos outros e naquele novo – que faço com ela também – que você chegou a ver, com mais intensidade nesse aspecto familiar.
posso já responder sobre o trabalho novo que estamos fazendo. ele tem um outro viés, agora é sobre a vida dela e seu entorno. é um trabalho mais delicado por um lado mas eu vejo isso da seguinte forma: a minha relação emocional e afetiva existe, é claro, mas sinto que é necessário criar uma barreira para ela enquanto ele é feito.
até mesmo se eu quiser falar desse sentimento mais profundo, não posso no momento de realização estar impregnado por ele se não aquilo pode ficar jocoso.
o seu trabalho que tem feito, tem uma coisa investigativa, buscar informações do passado com pistas do que restou do presente. essa forma é o que difere os nossos trabalhos ou não?
com relação a exposição da intimidade da sua família, agora além de você descobrir mais suas origens e ao mesmo se entender um pouco mais nesse mundo, eles viram uma matéria-prima de onde você vai tirar o que é necessário para questões suas virarem questões para outros. é claro que o trabalho é bom estéticamente, mas ele não segura só por isso – já conversamos disso – e é nesse ponto que penso, sim você está se envolvendo com sua família e com pessoas próximas ou que ficaram próximas – a vida delas está cada vez mais a mostra – e talvez isso faça parte do processo e do resultado mas o ponto é quando e como isso chega para o espectador com abertura suficiente para entrarmos no trabalho e nos apropriarmos dele.
acho que podemos ver nostalgia do tarkovski para aprender um pouco como ele lida com isso. rs
2013/7/17 gui mohallem
nossa brenao, pensando mil coisas aqui.
Quando você fala de estar impregnado da emoção e dos laços afetivos no momento da realização do trabalho, de qual momento você está falando?
nesse trabalho novo com a vó imagino que seja na edição, porque esse é principalmente aí que você age, né?
Tenho pensado muito nessa coisa do momento de execução do trabalho. No meu caso, pelo menos, a captura tem uma coisa de impulso, inquestionável, não racional. (nesse sentido, acho a captura muitas vezes embriagada de sentimento.) É na edição, seja do vídeo ou das imagens, que pra mim o trabalho acontece. É nesse momento que existe tempo e espaço pra racionalização.
Mas a dificuldade é: como calcular quanto o outro precisa? Se mostro demais, o trabalho se fecha e se empobrece. Se mostro de menos, o trabalho dica distante, inacessível. Qual a medida pro trabalho realmente ACONTECER dentro do expectador? é disso que to falando.
Acho que a grande dificuldade está aí, e é daí que vem a origem do meu questionamento.
quando voltei do Líbano, estava todo caótico, tentando entender tudo aquilo que tinha vivido. Tomei um café com o mestre Carlos Moreira, que me disse o seguinte:
” Você só vai entender essa sua história quando você conseguir ficcionalizá-la “.
Achei que era pertinente pra nossa conversa, talvez uma nova provocação.
beijo
———- Forwarded message ———-
From: Breno Rotatori
Date: 2013/7/22
Subject: Re: Paraty em Foco
To: gui mohallem
sim, é no momento de pensar e organizar o trabalho, no caso deste é a edição como falou.
tenho pensando nisso também, não sei bem se é uma racionalização esse momento para mim, vejo mais como um tempo onde a concentração está toda ali, e tento controlar tanto o sentimentalismo e a racionalização excessiva para levar adiante o trabalho. cair muito para esses dois lados me trava.
entendi o que falou sobre revelar ou não o outro. é difícil pensar nisso quando você esta tratando de pessoas próximas, mas acho que o parâmetro é a necessidade do trabalho, o que ele pede.
acho interessante pensar que esconder é uma possibilidade quase igual a de mostrar. esse jogo de escolhas que vai formando a narrativa.
tem aquela coisa que se fala que o importante mesmo é o que se esquece da vida e não o que se lembra. me parece que o jogo do seu trabalho é caminhar por esses dois lados.
sobre a frase do carlos moreira, concordo, na verdade acho difícil contar qualquer historia que for e não ficcionalizá-la, inclusive quando o assunto é tão próximo do locutor. seja por vaidade, necessidade…
então acho coerente encarar isso abertamente, mesmo que só para você.
beijo
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Os fotógrafos Gui Mohallem e Breno Rotatori farão um dos encontros da edição deste ano do Paraty em Foco, onde discutirão as formas do processo de seus respectivos trabalhos.
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As duas metades do Entretempos são os curadores convidados do blog oficial do festival de fotografia Paraty em Foco 2013.
Durante o evento e o período que antecede sua realização, toda vez que você visitar nossa página e visualizar a vinheta acima, já sabe que quem fala aqui não é apenas o Entretempos, mas também os curadores do blog do festival.
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