A fotografia ativista de Samuel Aranda
Desde que ganhou o prêmio principal do World Press Photo em 2012, quem não conhecia, acabou por descobrir o catalão Samuel Aranda.
A imagem no Iêmen, de uma mulher segurando seu filho ferido nos braços dentro de uma mesquita usada como hospital, se tornou um dos símbolos da Primavera Árabe.
Aranda sempre buscou retratar conflitos.
Documentou os embates entre Palestina e Israel, as revoluções árabes na Tunísia, Líbia, Iêmen, Egito e os imigrantes africanos que tentam chegar a Europa.
Por e-mail, o fotógrafo conversou com o Entretempos.
A fotografia premiada foi feita em seu segundo dia no Iêmen, em meio a bombardeios e caos. Naquela ocasião, doze pessoas morreram e trinta ficaram feridas.
“Todo mundo estava chorando. Mas Fatima, a mulher da foto, estava completamente calma enquanto esperava por um médico para ver seu filho, de 18 anos. A perna do rapaz foi ferida e pensei que tivesse sido baleada, mas ele estava caído, intoxicado por gás lacrimogêneo.
Depois que tirei a foto, ele passou três dias em coma. Quando Fátima ouviu que os manifestantes haviam sido mortos, ela foi direto para a mesquita ver se Zayed estava lá. Este é o momento em que ela encontra seu filho vivo.”
Samuel passou mais de dois meses no Iêmen fotografando para o New York Times. O fotógrafo protesta que na Espanha “a situação é triste e não há oportunidades”, o que o leva a trabalhar para publicações na França, Alemanha, Reino Unido e nos EUA.
“Nos dias de hoje, são poucos os países onde ainda existem meios que investem na fotografia, incentiva reportagens internacionais”, reclama Aranda. “E não é apenas pela situação econômica espanhola, mas como, por exemplo, o New York Times planeja as reportagens, a confiança que te dão, o tempo para produzir”, continua.
Há dois meses, ao lado dos também multi-premiados Pep Bonet, Olmo Calvo e Guillem Valle -todos espanhóis- Samuel realizou a mostra “Inéditos”, uma provocação contra a “falta de interesse das instituições e meios de comunicação em criar uma cultura gráfica, crítica e social”.
Todos os ensaios presentes em “Inéditos” possuem forte conteúdo político. Aranda exibiu sua documentação dos países rebeldes durante a Primavera Árabe.
“Acredito muito em ser fotojornalista, ser neutro, ou pelo menos tentar ser. Mas tem vezes que a situação é tão clara, que o simples fato de mostrar a realidade é um ato de ativismo.
Gente como [Sebastião] Salgado ou James Natchwey, estão tão envolvidos com o fotojornalismo que, no fim, se tornam ativistas, mas sempre sendo muito fiéis com a verdade”, explica o catalão.
Samuel acaba de abrir uma galeria/estúdio no norte de Barcelona para grupos de estudos, vendas de fotos, workshops e está envolvido na produção de um livro sobre o Iêmen.
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“Lens”, precioso blog de fotos do New York Times, publicou o encontro posterior de Samuel Aranda com os personagens de sua já clássica foto no Iêmen. Você pode conferir aqui.
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