Tá todo mundo nu
A fotógrafa Mona Kuhn é brasileira, mas um pouco americanizada.
Nascida em São Paulo em 1969, de ascendência alemã, a artista se mudou para os EUA ainda criança para estudar fotografia em San Francisco.
Mona falou ao Entretempos por telefone, em português, e por e-mail, em inglês. Por quê?
Segundo ela, porque o teclado é americano. Para logo em seguida justificar, em inglês: “Você pode me tirar do Brasil, mas não tira o Brasil de mim”.
Sua família está espalhada pelo mundo, assim como ela.
“Acredito em ser eu mesma além de nacionalidades. É claro que tenho traços dos lugares em que vivi e isso pertence ao meu coração. Talvez eu seja mais alemã e americana durante a semana e, definitivamente brasileira nos fins de semana”, define.
Mona gosta de retratar corpos nus.
Seu trabalho está sempre ligado a uma delicadeza das formas e das cores. Com sua primeira câmera, aos 12 anos de idade, começou a fotografar os amigos e parentes em suas intimidades.
Sua relação com o nu começou 15 anos atrás, quando foi apresentada a Médoc, uma comunidade naturista na costa da França.
Desde então, tem seu bangalô, meio ateliê, na região e passa todos os verões por ali.
Suas imagens são predominantemente de pessoas jovens. “A juventude tem uma espontaneidade linda”, diz ela.
Mesmo assim, cada série da artista tem ao menos um idoso. “Quando peço permissão para fotografar alguém mais velho, geralmente recebo uma negativa”, justifica.
NATIVA DE MUITOS LUGARES
“Fotografo o humano em nós, sem vergonha, sem arrependimento, livre. As cores vêm antes para mim. Daí amarro as emoções, depois a locação e por último a pessoa”, explica.
Influenciada pelos fotógrafos Mario Cravo Neto e a americana Nan Goldin, os filmes de Julian Schnabel (“O Escafandro e a Borboleta”) e o universo preto e branco do fotógrafo americano Leon Levinstein (1910-1988), Mona já expôs na Alemanha, Espanha, França, Estados Unidos e Austrália.
Quase sempre com a mesma fórmula, seus cinco livros contam pequenas histórias com uma mescla equilibrada de paisagens, interiores e nus.
Em “Native” (Ed. Steidl, não disponível no Brasil), Mona retorna ao Brasil, como um exercício de memória para tentar encontrar-se entre seu passado e o presente na natureza e na cidade.
Para as imagens do mato, escolheu uma região ao norte de São Paulo e se instalou em uma chácara, sozinha, por um mês.
Saía todos os dias para descobrir a luz da região, apenas acompanhada por sua câmera e dois cachorros.
Na temporada de dois meses na cidade, se instalou em um apartamento no centro paulistano. Fotografava amigos de amigos.
“Aprendi que o passado sempre permanecerá como passado”, diz ela sobre a experiência no país onde nasceu e para onde quer voltar muitas vezes.
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e é contemporânea da malerie marder, que tem um trabalho parecido com esse da mona.