Mais real que a ficção

DAIGO OLIVA

Só há um momento da vida pior que a adolescência: a pré-adolescência. As turbulências da transição da infância para o começo da vida adulta, cheia de certezas precipitadas e questionamentos, é tema do ensaio “La Casita de Turrón”, do fotógrafo mexicano Roberto Tondopó, 35.

Ao registrar as transformações de seus sobrinhos Andrea e Ángel, quando eles tinham entre oito e 12 anos, Tondopó reforça a abordagem mais usada na fotografia contemporânea, que derruba barreiras entre documental e ficção.

No caso do mexicano, justifica-se com uma doce desculpa: o mundo de fantasia da infância vai se transformando em realidade na medida em que envelhece. Para o fotógrafo, “[a pré-adolescência] é um período em que construímos quem somos e quem queremos ser. Onde o espaço é reconfigurado a partir da nossa própria imaginação”.

Assim, Tondopó aproveita as composições com os sobrinhos para inserir referências autobiográficas encontradas em álbuns de família. Estampas de cortinas e colchões servem de cenário para poses que se confundem com gestos espontâneos das crianças.

“Para mim, foi um período muito intenso, de muitas experiências interiores. Ao mesmo tempo, foi difícil, e, agora, tento trazer à tona esses fantasmas para fechar ciclos”, diz Tondopó. Embora os garotos apareçam sempre brincando, eles carregam expressões sérias, marca de uma infância que permanece em passatempos nada tecnológicos –como simples balões ou um cavalo de pau–, mas vai, aos poucos, se esvaziando.

“La Casita de Turrón”, nome em referência à casa de doces do conto infantil “João e Maria”, está em cartaz na mostra “(Re) Presentaciones”, no Sesc Consolação, em São Paulo, como parte do festival PHotoEspaña.

(Re) presentaciones – Fotografia latino-americana contemporânea
QUANDO: de seg. a sáb., das 10h às 21h30h, até 25/01
ONDE: Sesc Consolação, rua Doutor Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000
QUANTO: grátis
CLASSIFICAÇÃO: livre

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