World Press Photo surpreende ao premiar fotografia sobre imigração

DAIGO OLIVA

A imagem de um grupo de imigrantes somalis em busca de sinal de celular na costa de Djibuti, no leste da África, foi a vencedora do prêmio principal do World Press Photo deste ano.

A fotografia, de autoria do norte-americano John Stanmeyer, fundador da agência VII, para a revista National Geographic, também ganhou o primeiro lugar na categoria de “assuntos contemporâneos”.

Diferente da linha adotada pela instituição ao premiar os últimos vencedores do concurso, “Sinal”, como foi batizada a imagem, não retrata conflitos sangrentos nem cenas chocantes de mortes e violência.

Em 2013, o ganhador foi o sueco Paul Hansen com o registro do funeral de duas crianças palestinas mortas em um ataque aéreo israelense. No ano anterior, o espanhol Samuel Aranda se consagrou ao documentar, no Iêmen, uma mulher segurando o filho ferido dentro de uma mesquita improvisada como hospital. A imagem se tornaria um dos símbolos da Primavera Árabe.

A fotografia vencedora deste ano mostra um grupo de imigrantes na tentativa de estabelecer contato com seus familiares em uma zona onde também se reúnem outras populações africanas em busca de trabalho.

Ao premiar uma imagem considerada “fria” no jargão jornalístico e que vai além da questão pontual da imigração, o WPP avança na discussão do que o fotojornalismo pode representar atualmente. “Sinal” aborda também a disseminação da tecnologia em todo o mundo e a globalização, sem deixar de ser uma imagem esteticamente forte e com peso editorial.

Me senti como se estivesse fotografando um de nós, desesperadamente tentando se conectar aos nossos entes queridos“, declarou Stanmeyer sobre a fotografia em sua página no Facebook.

No entanto, o concurso seguiu sua linha histórica nas outras divisões do prêmio. O primeiro lugar dado a Goran Tomasevic na categoria “Spot News”, com mais uma sequência de fotos sangrentas na Síria –em que rebeldes são mortos por tropas do governo– deixou para trás um dos favoritos da antiga lógica da premiação: o norte-americano Tyler Hicks e as imagens do massacre em um shopping center no Quênia invadido por terroristas.

Seguramente uma das melhores histórias de 2013.

Junto às imagens de Hicks, outras histórias consagradas durante o ano também foram premiadas. A fotografia de John Tlumacki, do atentado durante a maratona de Boston, o fantástico abraço de Taslima Akhter e o ensaio sobre violência doméstica, de Sara Lewkowicz –todos compartilhados à exaustão nas redes sociais–, mostram que o WPP também se tornou uma instituição que chancela o que já foi celebrado pelo público.

Mas ainda há outras lindas imagens e ensaios que passam ao largo da grande audiência e que se mostram importantes pelas mãos do júri.

Essa ainda é a principal função do concurso.

Ao premiar uma imagem surpreendente e inusual como a de Stanmeyer, em que se faz necessária uma leitura menos direta e mais vagarosa da notícia, o próprio World Press Photo se faz relevante.

* dois links interessantes sobre o World Press Photo pós-publicação:

– o sempre relevante Jorg Colberg faz uma bela análise sobre o prêmio (que, de certa maneira, vai na contramão deste blog): clique aqui.

– 8% dos finalistas do WPP foram eliminados por manipulação das imagens utilizando o Photoshop: clique aqui.

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