Calendário de borracharia
O calendário de borracharia mais ausente de oficinas mecânicas pelo mundo completa 50 anos em 2014. Associado a elegância, glamour e publicidade disfarçada, o anuário da fábrica italiana de pneus Pirelli se consagrou na fórmula de fotógrafos renomados e top models nuas.
Naomi Campbell, Gisele Bündchen e a atriz Milla Jovovich, entre muitas outras modelos e estrelas do cinema, já figuraram nas páginas da publicação em locações inusitadas e imagens sensuais.
Na celebração da efeméride, a marca surpreendeu. Em vez de um ensaio novo, resgatou a série de imagens produzida pelo fotógrafo alemão Helmut Newton para o calendário de 1986 e nunca antes publicada –durante a produção, a mulher do artista sofreu um ataque cardíaco e ele interrompeu as sessões. Os assistentes de Newton terminaram as fotos sob sua supervisão.
Unanimidade entre profissionais de moda, Newton ficou conhecido pela valorização do desenho feminino e a leveza nas composições: mulheres nuas, apenas com saltos altíssimos, se transformaram em estudos corporais.
Nos registros do calendário, sempre em preto e branco, Newton documentou desde cenas banais –como a de uma mulher que carrega uma bicicleta pelo campo na região da Toscana, na Itália–, até uma modelo trajando uma saia lápis, apoiada sensualmente em um pneu de um Fórmula 1.
Nesta edição, de proporções grandiosas (70 cm de altura por 50 cm de largura), não há nudez, mas todas as fotografias delineiam a forma feminina.
Em três das imagens, a brasileira Betty Prado é uma das fotografadas. À Folha, a ex-modelo afirma que a recuperação do trabalho realizado há quase 30 anos é um “acerto de contas da marca com um fotógrafo genial, que fazia com que eu me sentisse em uma cena de filme”, diz.
“Era como se a imagem mostrasse que algo já aconteceu e que ainda vai ocorrer outro movimento”, completa. Após desentendimentos internos na empresa, no lugar das imagens de Newton, a Pirelli distribuiu em 1986 o calendário com fotografias do norte-americano Bert Stern, cujo ensaio não tem nenhuma relação com a proposta resgatada agora.
Os registros, coloridos, acompanham o exagero do estilo “new wave” que dominou toda a década de 1980. Nos retratos de Stern, mulheres posam na frente de pinturas poluídas e aparelhos de TV, estética muito distante da sutileza do fotógrafo alemão. Segundo Prado, a discrepância entre os dois ensaios se deve à liberdade dada pela marca aos artistas.
Assim como Newton e Stern, outros fotógrafos célebres puderam aplicar suas assinaturas nas fotos do calendário, que não é vendido, apenas distribuído em ação institucional. Richard Avedon, Terry Richardson, Annie Leibovitz e Steve McCurry elevaram a peça ao status de item colecionável.
Tanto pela forma de fotografar quanto pelo desfile de mulheres lindas. E sempre com um pedacinho da marca do pneu aqui e ali.
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Simplesmente maravilhoso…sem mais comentários
Pura arte
A delicadeza a dar um forte tom ao que se torna impossível de não ser olhado com admiração.
Sem excessos para “vandalizar” a imagem do corpo e sem “apelos” sensualizados desnecessários.
Em toda a obra o fotógrafo mantinha tal postura estética?
Se assim o for, ele era bem mais que um documentarista da imagem, sem dúvida nenhuma. Maria Helena