Novo livro de Cássio Vasconcellos desliza ao parecer banco de imagens

DAIGO OLIVA

“Aéreas do Brasil”, novo livro do paulistano Cássio Vasconcellos, que será lançado neste sábado (17) junto a uma exposição no Paço das Artes, reúne 153 imagens tomadas pelo fotógrafo desde 1996 em diferentes céus do país.

A vista aérea, marca já consagrada de Vasconcellos, percorre lindas paisagens brasileiras, desde cenários urbanos de São Paulo à natureza de dunas e praias vertiginosas do nordeste, além de fotos do carnaval paulistano.

A nova obra é uma extensão de “Aéreas”, livro anterior, de 2010, em que o fotógrafo imprime o mesmo olhar ágil e geométrico do alto, atento a repetições e contornos harmoniosos, mas agora restrito ao território nacional.

Vasconcellos é um dos nomes mais importantes da fotografia contemporânea brasileira. Em 2001, lançou “Noturnos – São Paulo”, livro em que cria uma cidade imaginária usando a linguagem das polaróides. São Paulo é violentada com cortes abruptos e enquadramentos que soam como delírios de um homem à deriva pelas ruas. As cores aparecem estouradas e distorcidas.

A experimentação com formatos ganhou potência mais acentuada em seus trabalhos seguintes. Na magnífica série “Múltiplos”, o fotógrafo construiu gigantescos painéis a partir de diferentes imagens que também havia registrado do alto. Ao somar a visão aérea de uma praia vazia a outra foto de uma orla lotada, Vasconcellos seguiu sua pesquisa de invenção de paisagens. Colou registros digitalmente e criou praias e aeroportos “repetidos”.

Em “Aéreas do Brasil”, tanto o desprezo pela visão “cartão-postal” de “Noturnos”, quanto a surpresa com o processo de colagem de “Múltiplos” não estão presentes. Embora espetaculares, os registros da nova obra se guiam por uma fotografia mais tradicional e presa à realidade. A força estética do livro se concentra na combinação do olhar privilegiado de Vasconcellos com a perspectiva singular do alto, sem grandes incursões por novas linguagens.

O que não há mal algum. É possível gastar horas observando os entremeados cruzamentos de rodovias em São Paulo, o fiapo de estrada coberto de areia no Ceará e a mata carioca que abraça as casas de moradores do Rio. A avenida Paulista e o cruzamento da Brigadeiro Faria Lima com a Rebouças, completamente perpendiculares ao chão, oferecem uma sensação de um Google Maps real. Quanto mais urbano, mais interessante “Aéreas” se torna.

Mas em alguns momentos, nas tomadas de áreas rurais, litorâneas ou onde a natureza predomina, a publicação desliza para o padrão de banco de imagens. Mesmo lindas, são fotografias que poderiam figurar em anúncios de preservação ambiental e propagandas de empresas. O traço autoral se esconde e o livro fica mais comum. Como o próprio texto de introdução diz, Cássio é muito requisitado por agências de publicidade e incorporadoras.

“Aéreas do Brasil” é um ode de Cássio Vasconcellos ao seu amor por helicópteros. Ele acumula mais de 700 horas de voo, sendo que parte delas aconteceram com o próprio fotógrafo como piloto. O caráter biográfico do livro está nessa relação. Ao que parece, nesse momento, Vasconcellos está mais interessado em voar do que em experimentar novas linguagens. OK.

AÉREAS DO BRASIL
AUTOR Cássio Vasconcellos
ABERTURA sábado (17), às 11h
ONDE Paço das Artes – Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária
EDITORA BEĨ
QUANTO R$ 120 (236 págs.)

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