Caio Reisewitz abre exposição no ICP

DAIGO OLIVA

O texto abaixo foi publicado na Ilustrada de 17/5 por Isabel Fleck.

Uma favela carioca que, de cabeça para baixo, vira uma raiz no interior da mata atlântica. Plantas tropicais que, deslocadas de outras fotografias, “invadem” a Casa das Canoas de Oscar Niemeyer.

Esse é o Brasil de “caos e harmonia” que Nova York conhecerá, nos próximos meses, por meio das fotografias e colagens do brasileiro Caio Reisewitz, na galeria principal do ICP (Centro Internacional de Fotografia).

A exposição, aberta na última sexta (16), segue até 7 de setembro. Para Reisewitz, que conversava havia quase nove anos com a curadoria do centro —-fundado pelo irmão de Robert Capa (1913–1954), Cornell, um dos mais importantes em estudo de fotografia do mundo-—, houve uma coincidência feliz com outras mostras de brasileiros na cidade, como a retrospectiva de Lygia Clark no MoMA e a exposição de Tunga, na galeria Luhring Augustine.

O “boom” de brasileiros em NY também coincide com a expectativa pré-Copa. Para Reisewitz, a oportunidade é boa para mostrar outras faces do país.

“Aqui eu não estou mostrando o futebol, mas o sertão, a seca, a forma descontrolada como a gente cuida da nossa natureza. Há uma mistura de tudo isso: a floresta junto com a cidade, junto com o lixão”, diz.

Conhecido no início da carreira por um trabalho de fotografia mais documental, Reisewitz passou a trabalhar com colagens em 2009. A maior parte do trabalho apresentado em Nova York é reflexo dessa fase.

“Em 2013, começamos a planejar uma exposição que destacasse a obra recente de Caio, a sua mais original. Os visitantes vão ficar admirados com a sutileza da sua visão”, diz o curador da mostra, Christopher Philips, à Folha.

As colagens são praticamente todas feitas com partes de fotografias de Reisewitz sobre imagens maiores, geralmente da mata atlântica, também feitas por ele. “Às vezes, ele monta as colagens à mão com tesoura e cola, e, às vezes, usa técnicas digitais para inserir elementos em grandes impressões coloridas”, explica Philips. Para Reisewitz, seu processo é muito mais próximo hoje do trabalho de um pintor do que do de um fotógrafo.

“Eu sempre digo que é mais uma pintura, porque não estou enganando, não estou fazendo Photoshop. É um processo de construção da imagem”, afirma.

A mata atlântica acaba tendo um destaque maior na obra pela relação com ela na infância, quando visitava a serra da Cantareira ou passava pela serra do Mar, rumo ao verão em Santos na casa da madrinha. Já a favela, segundo Reisewitz, exerce atração por sua estética. “Vejo uma beleza nas favelas. Não é o clichê de um filme que representa essas favelas, está num lugar completamente diferente. É uma leitura de uma estética que existe lá.”

A exposição, no entanto, também traz imagens fortes feitas pelo fotógrafo no sertão da Paraíba, que mostram os efeitos da seca na região. “Queríamos mostrar que o Brasil não é só tropical, mas também é muito seco”, diz.

A mostra contempla ainda a série sobre a representação do poder no Brasil a partir da arquitetura, levada para a Bienal de Veneza em 2005. Nela estão imagens de igrejas barrocas de Minas, do Itamaraty, em Brasília, do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

Para o fotógrafo, no entanto, essa não pode ser considerada uma “retrospectiva” de sua carreira, mas sim um apanhado de vários momentos. “Eu nem tenho idade ainda para ter uma retrospectiva”, diz ele, aos 47.

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