Mostra desvenda metrópoles globais
O texto abaixo foi publicado na Ilustrada de 14/6 por Silas Martí.
Metonímia é o nome do jogo. Fotografias de metrópoles globais, de São Paulo a Paris, agora na mostra “Cidades Invisíveis” no Masp, tentam sintetizar o espírito desses lugares com uma única visão mais ou menos arrebatadora.
No conjunto de 70 imagens de 50 dos maiores fotógrafos do país, não há um fio condutor muito claro —talvez pela pluralidade das cidades que revelam, talvez pela elasticidade intencional da curadoria de Teixeira Coelho.
Mas pouco importa. Da mesma forma que o Masp exibe no segundo andar seu acervo permanente, a exposição no subsolo do museu pinça algumas obras-primas de sua coleção fotográfica. Na mostra, há desde clássicos, como as imagens da construção de Brasília, a exemplos da novíssima geração, como a obra do grupo Cia de Foto sobre a 25 de Março, em São Paulo.
Um dos maiores fotógrafos da metrópole, Cristiano Mascaro, ecoa em imagens da Galeria do Rock e da avenida 9 de Julho o brutalismo da arquitetura paulista —linhas duras que desenham uma cidade estéril.
Fotografia de Walter Carvalho, da série ‘Cidade Anunciada’
Mas a cidade também vibra. No flagra de um senhor de chapéu esperando o metrô, de Egberto Nogueira, nos tobogãs do Sesc Itaquera, clicados por Tuca Vieira, ou no vaivém de viciados na cracolândia, de Marlene Bergamo.
Duas séries, de Nair Benedicto e Carlos Goldgrub, dos tempos em que outdoors cobriam SP, chamam a atenção —Benedicto mostra garotos no Minhocão diante de um anúncio de lingerie, num contraponto entre inocência e luxúria, e Goldgrub revela olhos anônimos fitando tudo do alto dos prédios.
Em imagens dos anos 1950, José Medeiros, um dos mais célebres fotógrafos da extinta revista “O Cruzeiro”, retrata o Rio da bossa nova, de senhoras bem vestidas diante do morro Dois Irmãos a um rapaz nadando em Ipanema.
‘Miragem’, de José Yalenti, na mostra ‘Cidades Invisíveis’
Também está na mostra uma imagem dele que sintetiza mudanças no país —um índio na Amazônia ao lado de um avião, símbolo da indústria que transformaria uma nação ainda rural. Enquanto isso, modernistas como Thomaz Farkas, German Lorca e Geraldo de Barros ergueram as fundações da fotografia moderna em SP, com imagens de forte contraste e ângulos retos.
Lorca mostra meninos brincando diante de uma fachada sem ornamentos, e Farkas transforma a empena cega de um prédio numa tela abstrata, onde a sombra de um poste e fios elétricos se projeta como fantasma.
CIDADES INVISÍVEIS
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., até 20h
ONDE Masp, av. Paulista, 1.578, tel. (11) 3251-5644
QUANTO R$ 15
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