Mostra paralela ao festival de Arles exibe curadoria menos burocrática

DAIGO OLIVA

Mês de julho, início do verão europeu e fotografia. A primeira lembrança é Arles, na França, cidade da casa amarela de Van Gogh e do Rencontres d’Arles, um dos festivais de fotografia mais influentes do mundo.

Neste ano, o evento começou na última segunda (7) e, embora se estenda até 21/9, a semana de abertura é a mais divertida. Quanto mais perto do primeiro final de semana do festival, mais gente chega à pequena cidade de 52 mil habitantes e se joga nas exposições, nos encontros causais e nos vinhos.

Além de poder conversar sobre fotografia com gente do mundo todo, o início dos “Encontros” se transforma em um evento social. Muita gente bonita, com vestidos de veraneio e camisas de linho. Finos sem fazer esforço. Em 2013, 96 mil pessoas passaram por lá, quase o dobro da população local.

Um dos editores do blog vai ao festival há oito anos. Porém, desde a primeira vez, mais do que o evento oficial, o que mexeu com essa metade do Entretempos foram as noites de projeções com incríveis trilhas sonoras.

São as exibições da mostra paralela Voies Off, organizada por um grupo independente que atua em Arles desde 1996. De maneira tímida, o coletivo começou a fazer eventos em uma praça da cidade. Hoje, eles recebem apoio de instituições de fotografia e são patrocinados pela prefeitura local.

Além de montar exposições e gerenciar uma galeria, o ponto alto do Voies Off são as projeções no antigo tribunal de Archevêché. Em todas as noites da primeira semana do festival, muita gente se reúne com vinhos e cervejas para assistir à exibição de fotografias em um telão. São 1500 inscritos, de 70 países, para uma seleção final de 60 fotógrafos. Os fundadores do evento, Christophe Laloi e Aline Phanariotis, fazem a curadoria dos trabalhos.

Eles contam que não há temas pré-estabelecidos, mas selecionam as obras e elaboram a edição de cada dia a partir de assuntos parecidos. Depois de escolhidos os artistas, eles enviam as imagens para o diretor de audiovisual Fred Roussel. Há dez anos, ele é o responsável por mixar as fotos com trilhas incríveis. Descobrir que bandas foram escolhidas é maravilhoso.

Cada noite tem uma hora e meia de duração e, depois, sempre rolam festas com algum DJ convidado e muita paquera. Ao final da semana, um júri escolhe o melhor trabalho e o vencedor ganha 2500 euros.

Por 70 euros (cerca de R$ 210), qualquer artista e galeria pode propor ao Voies Off um projeto de exposição. Eles são responsáveis por três mostras na cidade durante o festival e, caso a proposta seja aceita, o coletivo ajuda a encontrar um lugar para a exposição, além da divulgação em sua revista.

Diferente da programação oficial de Arles, mais burocrática, menos ousada e com cobrança de ingresso, o Voies Off é gratuito e preza por nomes promissores e ainda desconhecidos. Enquanto os “Encontros” exibem trabalhos do brasileiro Vik Muniz e do britânico David Bailey –famoso pelos retratos de moda e pela inspiração que levou ao protagonista de “Blow Up”, de Antonioni–, a mostra paralela é um momento de descoberta e visibilidade para autores ainda anônimos. É a hora de encontrar novas referências.

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Comentários

  1. Este ano meu trabalho foi um dos 60 selecionados pelo Festival Voies Off! E é uma honra representar o Brasil!!!

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