‘A Natureza das Fotografias’, de Stephen Shore

DAIGO OLIVA

‘A Natureza das Fotografias’, de Stephen Shore (Cosac Naify) — No fim do ano passado, ao comentar o fotolivro “A Period of Juvenile Prosperity”, de Mike Brodie, o fotógrafo da Magnum Alec Soth disse a seguinte frase: “Tentei de todas as formas não gostar dessa publicação, mas fui vencido”. Com “A Natureza das Fotografias”, livro teórico de Stephen Shore, lançado agora em português, tive a mesma sensação. Mas ao contrário. Tentei amar este clássico de todas as maneiras, mas não consegui me apaixonar. O que me deixou com sérias preocupações se eu estaria louco. Como negar a qualidade de um texto considerado essencial para entender a fotografia?

Shore analisa aspectos técnicos das imagens numa visão quase científica. Hiper didático, explora o foco, o enquadramento, o tempo e a bidimensionalidade das imagens destacando seus aspectos físicos, descritivos e mentais por meio de exemplos de nomes importantes. Porém, algumas dessas passagens soam como uma série de obviedades para quem não é um iniciante. Acredito que exista um espaço intermediário entre o texto que peca pelo excesso de didatismo e aquele que se torna um punhado de poesias sem objetividade, escritos com a única finalidade de parecer inteligente. “A Natureza das Fotografias” está na primeira ponta deste estranho jogo textual. Por outro lado, quando Shore debate questões mentais da leitura fotográfica, ele destrincha ideias complexas de forma simples e agradável.

Ao abordar pontos de observação, compara duas imagens de diferentes autores feitas em um mesmo local. Assim, ele decreta a atividade do fotógrafo como a ordenação do caos em meio à paisagem. Isto é lindo. Por se tratar de uma reedição –o livro foi publicado pela primeira vez em 1998–, poderia ter havido um esforço para atualizar alguns dos verbetes. Fala-se muito sobre cópias impressas e Shore apenas toca no campo digital. Deixa a sensação de obra datada. Indico o livro para quem nunca fotografou, mas tem vontade de iniciar na atividade. Começar o estudo a partir de exemplos como Thomas Struth, Garry Winogrand, Guido Guidi e tantos outros é a melhor introdução possível ao assunto. Paro aqui, pois já deixou de ser um haikai há séculos.

Avaliação: bom 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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