Mostra em São Paulo exibe lado fotógrafa da atriz Jessica Lange
O texto abaixo foi publicado na Ilustrada de domingo (14).
Nem mesmo quem vai trazer a exposição de fotos de Jessica Lange para o Brasil acreditou que se tratava da atriz americana vencedora de dois Oscar. Acharam que era uma homônima. A dúvida surgiu quando a direção do MIS (Museu da Imagem e do Som) de SP buscava novas mostras de fotografia para 2015 e se deparou com o nome da atriz em um catálogo de exposições.
Faceta obscura de Jessica Lange, 65, sua atuação como fotógrafa é pouco conhecida. Assim como Dennis Hopper (1936-2010), que dividiu a carreira de ator e diretor com a obsessão por retratos e paisagens, a atriz de “Tootsie”, “Céu Azul” e da versão de “King Kong” de 1976 –quando estreou e se tornou símbolo sexual– tem um forte relacionamento com a fotografia.
Ela vai mostrar no MIS, em fevereiro, imagens da exposição “Unseen”, com fotos de seu cotidiano com a família e de viagens para México, Finlândia, Etiópia e Rússia, além de registros de Minnesota, Estado onde nasceu.
Lange foi casada com o fotógrafo espanhol Francisco “Paco” Grande durante a década de 1970, mas só começou a fotografar muito tempo depois. Após 15 anos produzindo suas imagens, ela lançou seu primeiro livro, “50 Photographs”, em 2008, base da mostra que virá ao país.
Nas fotografias em preto e branco, a atriz privilegia composições geométricas e cenas espontâneas, muito diferentes das filmagens cheias de preparação em Hollywood. Embora tenha trabalhado com diretores como Sydney Pollack e Tim Burton, a atriz diz não ter nenhum cineasta como influência. Por outro lado, não hesita em listar o interesse pelo trabalho de fotógrafos clássicos: Henri Cartier-Bresson (1908-2004) e Walker Evans (1903-1975).
MOSCA
Em entrevista por e-mail à Folha, Lange compara a maneira como realiza suas imagens à discrição de uma “espiã”. “Quando fotografo, sou observadora do mundo, livre de toda a identidade que poderia interferir”, explica.
“Eu tento passar despercebida, por isso não uso flash. Para ficar na penumbra e captar a luz natural sem chamar a atenção.” A definição ganha força nas palavras da cantora e poeta Patti Smith, que assina a introdução do livro da atriz. Para ela, Lange se move como uma mosca para captar as imagens.
Segundo a curadora da exposição, a francesa Anne Morin, 41, há uma divisão bem clara no trabalho de Lange. O México –país que a atriz visita há mais de 20 anos– representa um momento destoante, com texturas e aproximações muito particulares. “Lá, ela não toma distância do assunto, está nas festas, nas casas, nas rodas de dança. Jessica quase dança com eles.”
A importância da fase mexicana é tão grande que, segundo Morin, das 135 imagens da exposição, cem são do país latino. Lange virá ao Brasil para a abertura, onde espera encontrar os mesmos elementos que a seduzem no México. Questionado sobre o que mais a atriz poderia fazer no país, o diretor do MIS, Andre Sturm, respondeu na lata: “Além de casar comigo?”.
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