Jeito austero de Rinko Kawauchi esfria noite de abertura do Paraty em Foco
O clima era de comemoração, mas o jeito austero da fotógrafa Rinko Kawauchi esfriou a abertura da edição 2014 do Paraty em Foco. Logo após o discurso de Iatã Cannabrava, diretor do festival, em que celebrou uma década do evento, Rinko subiu ao palco para apresentar seus trabalhos.
Durante pouco menos de uma hora, ela manteve a mesma expressão facial fechada e centrada. Também não alterou o tom de voz. A fotógrafa descreveu seus livros sem tecer comentários mais longos e profundos sobre as obras, protagonizando um monólogo pouco convidativo.
Antes do início de sua fala, Rinko lembrou a duração da viagem entre Japão e Paraty –cerca de 35 horas– e disse que ia se “esforçar para não cair no sono”. Mediadora da mesa, a curadora Rosely Nakagawa tentou criar um diálogo, mas para cada pergunta quilométrica, a japonesa respondia em centímetros.
Principal nome da fotografia de seu país, Rinko é responsável por imagens do cotidiano que estabelecem relações entre vida, morte e a destruição como sinal de renovação. Em 2001, lançou três livros de uma só vez –“Utatane”, “Hanabi” e “Hanako”–, que se tornaram clássicos instantâneos. Momentos efêmeros e fenômenos da natureza são contemplados de forma delicada.
Dez anos depois de suas primeiras obras, a fotógrafa publicou “Iluminance”, seu fotolivro mais celebrado e que apresenta uma absurda “luz eclipsada” –como definiu o diretor Iatã Cannabrava na apresentação da artista.
Muito da austeridade e timidez da fotógrafa vem de sua origem japonesa. Em 2013, a abertura do festival foi marcada pela espanhola Cristina de Middel, que distribuiu piadas e comentários irônicos, comportamento típico de latinos calorosos. Rinko faz o caminho inverso. Diz pouco, se expõe pouco e deixa que suas imagens falem por si mesmas. Se por um lado seu jeito econômico não faz decolar uma palestra para cerca de 400 pessoas, o trabalho maravilhoso da artista compensa a falta de expressões corporais e palavras.
Rinko fala por meio de suas fotografias. Não à toa, ela repetiu a vontade de visitar mais uma vez as cataratas do Iguaçú, no extremo sul do Brasil, onde o barulho intenso das águas é uma das coisas mais silenciosas do mundo.
O jornalista DAIGO OLIVA viajou a convite do festival.
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