Por que fotografias não funcionam em galerias de arte?
Na última quinta (13), o jornalista Jonathan Jones, em seu blog no diário britânico “The Guardian”, publicou um artigo polêmico sobre mostras de fotografia. No texto, Jones, que também é crítico de arte, defende que fotos podem “capturar o imediatismo de um momento como nenhum outro suporte, mas produzem arte pobre quando penduradas como pinturas.”
“É estúpido quando uma foto é emoldurada e exibida em uma mostra.
Uma fotografia em uma galeria de arte é uma substituição sem alma
e superficial de uma pintura. É um desperdício de espaço enquanto curadores poderiam ceder iPads e nos deixar navegar em galerias digitais que poderiam ser tão bonitas e constrangedoras quanto impressões caras.”
Além do tom exagerado da publicação –que parece ter sido escrita apenas para repercussões na rede–, Jones centra toda a sua argumentação no embate entre fotografia e pintura. Para ele, enquanto telas levam tempo para serem feitas, com complexidade material e profundidade de texturas, fotografias têm apenas uma camada de conteúdo. “Está tudo na superfície”, diz o crítico.
O jornalista erra ao menosprezar a complexidade de uma fotografia e as possibilidades que surgem ao ver grandes impressões de perto. Mostras como a do americano Gregory Crewdson, em cartaz há pouco tempo no MIS, e do canadense Robert Polidori, em 2009, no Museu da Casa Brasileira, são lembranças rápidas que facilmente derrubam as opiniões do britânico.
Registradas em câmeras de grande formato, as sofisticadas construções dos artistas têm detalhes que só podem ser percebidos em dimensões grandiosas. Fora a obviedade da diferença entre encontrar alguém ao vivo e pelo Skype.
No entanto, mesmo que pelas razões erradas, Jones tem razão ao apontar limitações desta maneira de exibir fotografias. Com a crescente “era de ouro” dos fotolivros, ficou cada vez mais estranho e desconexo visitar mostras que apenas sequenciam obras em um fundo branco e asséptico. Não é exagero dizer que, cada vez mais, artistas pensam seus projetos, prioritariamente,
na forma de publicações impressas. Imagens que existem em um formato específico, com narrativa e design concebido para este suporte.
Essa interação com o leitor e o uso de diferentes materiais para criar o diálogo proposto por artistas contemporâneos devem ser adaptados para as suas exposições em galerias e museus. Como diz Jones, pendurar fotos da maneira como pinturas tradicionalmente são expostas não faz sentido.
Prova disso são as mostras de dois trabalhos de destaque nos últimos anos: “Dalston Anatomy”, do italiano Lorenzo Vitturi, exibido no Foam Museum
em 2013, e “Redheaded Peckerwood”, do americano Christian Patterson,
que ficou em cartaz na Transformer Station neste ano. São fotolivros que exploram aspectos tridimensionais da fotografia, com muitos objetos e letreiros. Não poderiam ser transpostos para galerias de forma planificada.
Assim como estes livros propõem, a curadoria desenhou as exposições como instalações. Será que pintura, fotografia e outros tantos suportes estão tão distantes? Pura besteira enxergar o mundo de um jeito tão compartimentado.
Jones anda visitando as mostras erradas. Há uma pororoca de trabalhos atuais que inspiram diferentes formas de montagem e interação; fotografias, assim como pinturas, possuem muitas camadas; tempo de produção nunca deveria ser o parâmetro para avaliar a qualidade de nenhuma obra.
Mas o britânico acerta ao apontar a falta de alma de algumas exposições.
O foco do melhor da produção de fotografia contemporânea está nos fotolivros e não em exposições anêmicas e tradicionais como as de pintura.
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Ele não sabe tirar fotos!!!! kkkkk