Em ‘Parallaxis’, Vicente de Mello mistura linguagens fotográficas

DAIGO OLIVA

O texto abaixo foi publicado na “Ilustrada” desta sexta (21).

A ideia inicial para o novo livro de Vicente de Mello, 47, era publicar 14 séries desenvolvidas pelo fotógrafo desde o começo do ano 2000, organizadas em cadernos separados e reunidas dentro de uma caixa. A multiplicidade de estilos entre os trabalhos e a divisão em cadernos, porém, não permitiriam
a leitores desavisados ligar as diferentes coleções ao mesmo artista.

No final, os cadernos soltos foram abandonados em favor de um único livro compacto, mas a ideia de variedade de linguagens e de formas, proposta por esse artista paulistano radicado no Rio, se manteve intacta. Nas 320 páginas da nova obra de Mello, recém publicada pela editora Cosac Naify, é possível passear pelas diversas facetas do fotógrafo.

“Parallaxis”, palavra grega que significa alteração, dá nome à nova obra e é também a pegada que guia a publicação. O fotógrafo vai das experimentações na série “Noite Americana”, em que usa um polarizador para transformar a luz diurna em noite, passando pela reinterpretação das formas de objetos cotidianos em “Galáctica”, às explosões de cores de “Strobo” e “Sete Dias”.

“Queria criar a sensação de que são vários fotógrafos dentro de um só. É uma súmula de quem eu sou”, filosofa o artista. “Abro uma janela dentro da fotografia em preto e branco, de um pensamento quase modernista, para ir a uma fotografia colorida usando uma câmera de bolso, digital”, explica ele.

PAPEL-BÍBLIA
Todas as páginas têm o título da série à qual cada imagem pertence. Com design de Maria Carolina Sampaio, a publicação tem uma capa destacável que concentra os textos explicativos sobre as coleções. As diferenças entre os trabalhos são percebidas não só pela mudança nas linguagens, mas também pelos vários tipos de papel, formando uma narrativa além das imagens.

Em “Sete Dias”, série que remete à criação da Terra —com imagens que lembram corpos celestes vistos por um microscópio—, as fotos foram impressas em papel-bíblia, finíssimo e com cor de pele.

Em algumas séries de Mello, há uma forte ligação com os fotógrafos modernistas brasileiros Geraldo de Barros (1923-1998) e José Oiticica Filho (1906-1964), que nos anos 1940 e 1950 subverteram o registro da arquitetura, transformando-a em formas geométricas no limite do abstrato.

Barros e Oiticica, ao lado de Thomaz Farkas (1924-2011), fizeram parte do Foto Cine Clube Bandeirante, núcleo célebre por reunir a elite da fotografia brasileira à época. Assim como Farkas, Mello também registrou Brasília, mas se distanciou do olhar documental do húngaro radicado no Brasil para recriar a cidade de um modo quase irreconhecível. “Quando eu faço Brasília, eu sou o vingador do ‘fotoclubismo’”, brinca ele.

“Para não cair no lugar comum, construí uma ‘transvisão’ do modernismo, busquei ângulos que quebrassem ainda mais a arquitetura de Niemeyer”. Essa mesma “transvisão” permeia todas as séries da obra, com Mello transitando entre diferentes linguagens com a mesma intensidade.

PARALLAXIS
LANÇAMENTO
sexta (21), às 19h30, na Fnac do Park Shopping, Área 6580, Piso 01, Brasília, tel. (61) 2105-2000; terça (25), às 19h30, na Livraria da Travessa, r. Visconde de Pirajá, 572, Rio de Janeiro, tel. (21) 3205-9002
AUTOR Vicente de Mello
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$130 (320 págs.)

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