Cristiano Mascaro chega aos 70 anos com livro e exposição na Pinacoteca

DAIGO OLIVA

Um halterofilista à la Freddie Mercury, um rapaz de black power com uma tela de silkscreen, um jovem de boné do Flamengo recheando sonhos na década de 1970. Estes são alguns dos retratos que integram o novo volume da Coleção Ipsis de Fotografia Brasileira, dedicado à obra de Cristiano Mascaro.

No livro, com edição do curador e pesquisador Eder Chiodetto, as imagens mais conhecidas do também arquiteto, como os registros geométricos de São Paulo e os elegantes interiores de casas do centro, se misturam a retratos —grande parte inéditos—, que mostram trabalhadores e transeuntes da cidade.

A maioria das fotos foi tomada nas décadas de 1970 e 1980, época que Mascaro relembra como “período em que o pedido de um retrato deixava as pessoas envaidecidas”. Para ele, entrar na casa de desconhecidos para registrá-los era “estranhamente fácil”, diferente dos dias atuais, em que a fotografia parece devassar a intimidade do retratado.

A publicação também contempla imagens realizadas nos últimos anos, como as panorâmicas do Hospital Matarazzo —reaberto ao público há pouco para uma megaexposição—, intercaladas com interiores do Hotel Ribamar, em São Luís (MA). Mas os registros da arquitetura de SP, onde ele joga com sombras e formas sinuosas, elementos que tornaram o paulista um dos maiores nomes da fotografia brasileira, ainda são o maior destaque desta retrospectiva.

Junto com a foto mítica da avenida São João, vista do edifício do Banespa, há também a imagem quase delirante das escadas rolantes de uma galeria do centro. Aos 70, completados em outubro, Mascaro considera que SP “continua feia”. “Mas interessantíssima também. É como a [atriz] Anna Magnani, que fez ‘Roma’, do Fellini: feia, mas com personalidade forte.”

“Mas têm absurdos. Essa lei da Cidade Limpa, que todo mundo acha bacana… São Paulo é isso, não dá para querer que seja bonita”, defende ele. “Gostava de ver aqueles painéis do Jockey. Você tá ali parado no trânsito mesmo.”

Mascaro conta que há pouco esteve em Tóquio, uma cidade “poluída visualmente e sensacional”. “E lá tem Minhocão para todo lado, mas aqui querem derrubá-lo. Ficam macaquiando o Highline de Nova York.” Na Pinacoteca, o fotógrafo vai remontar a partir deste sábado (29), com curadoria de Pedro Nery, 29, uma série de imagens registradas em 1976 no entorno do museu, nas regiões do Bom Retiro e da Luz.

A exposição foi uma tentativa da ex-diretora Aracy Amaral para trazer os bairros próximos ao museu para dentro da instituição. Com registros mais soltos, mostram retratos de meninos judeus e vitrines de lojas da rua das Noivas e formam o primeiro conjunto fotográfico da Pinacoteca.

COLEÇÃO IPSIS DE FOTOGRAFIA BRASILEIRA 
AUTOR Cristiano Mascaro
EDITORA Ipsis
QUANTO R$ 49 (218 págs.)

CRISTIANO MASCARO E A SÉRIE BOM RETIRO E LUZ
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 17h30; qui., até 22h; até 29/3
ONDE Pinacoteca, praça da Luz, 2, tel. (11) 3324-1000
QUANTO R$ 6; grátis aos sábados
CLASSIFICAÇÃO livre

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