World Press Photo retira prêmio dado ao fotógrafo italiano Giovanni Troilo
O júri da 58ª edição do World Press Photo, maior competição dedicada ao fotojornalismo no mundo, decidiu retirar o prêmio dado ao italiano Giovanni Troilo em fevereiro. O fotógrafo havia vencido na categoria de ensaios contemporâneos com o trabalho “La Ville Noir – The Dark Heart of Europe”, em que, supostamente, ele teria registrado a cidade belga de Charleroi.
Na descrição sobre sua série, Troilo diz que a região “sofreu o colapso da produção industrial, o aumento do desemprego, da imigração e o surto de micro-criminalidade”. “As estradas, que um dia foram frescas e puras, aparecem hoje desoladas e abandonadas, as indústrias estão fechando e a vegetação cresce nos velhos distritos industriais”, completa o italiano.
A polêmica em torno do trabalho começou após declarações do prefeito de Charleroi, Paul Magnette, que enviou uma carta à organização do prêmio. O político afirma que viu o ensaio com surpresa e consternação: “O objeto fotográfico construído pelo fotógrafo é uma grave distorção da realidade, que mina a cidade e seus habitantes, bem como a profissão de fotojornalista.”
Ainda na carta enviada pelo prefeito, revelada pela revista americana “Time”, ele diz que Troilo utiliza técnicas que contribuem para a dramatização das imagens –como iluminação artificial–, o que caracterizaria uma cena montada. “Se fosse uma obra de arte, não seria uma problema. Mas o fotógrafo não apresenta seu trabalho como tal. Ele afirma fazer jornalismo investigativo; um ensaio fotográfico que reflete uma realidade simples. Mas isso está longe de ser o caso: as legendas são falsas, é uma caricatura da realidade, uma construção de imagens impressionantes e encenadas”, defende. “É desonesto e não respeita os códigos de ética jornalística”.
Em seguida, Magnette chama a atenção para uma das fotos enviadas ao World Press Photo, em que um casal faz sexo dentro de um carro. A legenda que acompanha a imagem informa que “locais conhecem estacionamentos famosos por casais que querem ter relações sexuais”. Porém, em seu site, Troilo admite que a cena foi construída. “Meu primo aceitou ser fotografado enquanto transava com uma garota no carro de um amigo.”
Mas segundo o júri da organização, o que foi determinante para a retirada do prêmio foi outra fotografia. O registro de um pintor criando uma obra com modelos vivos foi produzido na região de Molenbeek, próximo à Bruxelas. Troilo confirmou por telefone e e-mail que a imagem não foi feita em Charleroi, ao contrário do que ele havia informado anteriormente.
“O World Press Photo precisa se basear na confiança nos fotógrafos que enviam seus trabalhos e em suas éticas profissionais”, diz Lars Boering, diretor do concurso. “Agora nós temos um caso claro de informação
enganosa e isto muda a maneira como a história é percebida. Uma
regra foi quebrada e uma linha foi cruzada”, completa ele.
A decisão de retirar o prêmio de Troilo acontece dois dias depois de o Visa Pour L’Image, tradicional festival francês de fotojornalismo, criado em 1989 e que atrai cerca de 300 mil visitante em casa edição, afirmar que não exibiria nenhuma imagem vencedora do World Press Photo em 2015 em protesto às cenas montadas pelo fotógrafo italiano.
Em entrevista ao jornal americano “The New York Times” na quarta (4), Troilo afirma que a decisão é uma “grande injustiça”. Ele diz que a controvérsia começou quando o próprio World Press Photo reescreveu as legendas originais das imagens, o que interpretou como uma “saída estratégica” da organização. Sobre a foto em que registrou um pintor, o fotógrafo diz se tratar de um “erro técnico, e não deturpação”.
“Eu cometi um erro, não posso negar isso”, admite Troilo.
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Errar é humano, mas não dá direito a prêmios. Quanto aos outros fotógrafos premiados, terão as informações de seus trabalhos checadas?
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