Em livros, Polidori e Ferrez dialogam sobre transformações urbanas no Rio

DAIGO OLIVA

“O ar era mais limpo. Agora há mais carros, mais marcas internacionais no shopping e a cidade começou a parecer com o resto do mundo.” O diagnóstico do Rio dos últimos anos é de Robert Polidori, 64, fotógrafo canadense que acaba de lançar um dos dois livros produzidos pelo Instituto Moreira Salles com a editora alemã Steidl em comemoração aos 450 anos da cidade.

Conhecido pelas imagens de espaços devastados pelo furacão Katrina, nos EUA, Polidori se dedica agora às mudanças da paisagem carioca, em que a mata exuberante se confunde cada vez mais com favelas e construção civil.

Corte do Cantagalo e Lagoa Rodrigo de Freitas, por Robert Polidori (2014)

Embora tenha começado os registros há cinco anos, o livro que publica é também um diálogo com o trabalho de Marc Ferrez (1843-1923), um dos principais cronistas visuais do Rio de Janeiro no século 19 e responsável pelas imagens que compõem o outro lançamento.

Em dois livros chamados “Rio”, os fotógrafos se encontram tanto na tomada dos contornos da cidade quanto no processo de imagens panorâmicas, revelado em vasta pesquisa no acervo do fotógrafo franco-brasileiro. Mariana Newlands, 41, responsável pelo design dos livros, afirma que as fotografias super-horizontais funcionaram como guia para as publicações.

“O Ferrez era um mestre desse formato. Algumas de um negativo só, e outras de vários, incríveis, porque não tinham identificação de que eram uma coisa só”, explica. “A gente olhava uma foto e falava: ‘Ele não faria esse enquadramento só para isso, tem que fazer parte de um panorama’. Você começa a entender a cabeça dele”, diz.

Também com o uso de câmeras de filme de grande formato, Polidori fatiou paisagens para reuni-las posteriormente, em processo digital. “Eu não quis copiá-lo nem me afastar daquilo que ele fez, mas o contexto da paisagem do Rio se impôs sobre nossa metodologia de trabalho. Respeito muito o que Ferrez produziu”, afirma Polidori.

CHEIRO DA TINTA
O lançamento dos livros também marca a parceria inédita entre IMS e Gerhard Steidl, lendário impressor alemão que controla gráfica e editora que levam seu sobrenome. Conhecido pelo perfeccionismo levado ao extremo na qualidade de impressão, em que até o cheiro da tinta importa, Steidl tem trabalhos com o estilista da Chanel Karl Lagerfeld e lançou títulos clássicos da fotografia como “The Americans”, de Robert Frank.

O preciosismo e o jeito afetado do alemão foi tema do documentário “How to Make a Book with Steidl” (como fazer um livro com Steidl), em que, numa passagem, o britânico Martin Parr elege Steidl como o melhor editor da primeira década deste milênio. Perguntado pela Folha quem seria até agora o principal editor desta década, ele responde: “Se eu continuar trabalhando duro, talvez seja o suficiente para ser o melhor destes dez anos também”.

RIO
AUTOR Robert Polidori
EDITORA Steidl/IMS
QUANTO R$ 195

RIO
AUTOR Marc Ferrez
EDITORA Steidl/IMSalles
QUANTO R$ 195

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