Na trienal de fotografia de Hamburgo, Phillip Toledano digere o seu futuro
O texto abaixo é de Manoella Barbosa. Muito obrigado!
Terminou no último domingo (28), a 6° edição da Trienal da Fotografia de Hamburgo, evento que acontece desde 1999 na cidade portuária no norte da Alemanha. Sob o tema “the day will come” (o dia virá), o festival discutiu o futuro da fotografia e o futuro da própria fotografia e atraiu 65.000 visitantes.
O público pôde visitar mais de 70 exposições, distribuídas em 59 galerias, museus e espaços de arte. Para discutir a influência da fotografia digital nos dias de hoje, a trienal realizou 90 atividades, entre palestras, discussões e visitas guiadas. Dentro deste contexto, havia mostras como “Snapshot”, do Museu Finlandês de Fotografia, na qual os visitantes eram incentivados a fazer “selfies”. Anna-Kaisa Rastenberger, curadora do museu, defende a exposição como uma forma de reflexão da ideia de que hoje já “não se fotografa por fotografar, mas para compartilhar”. “Será que realmente queremos compartilhar todas essas fotos? Tem como desfazer isso?”
O festival também refez a montanha de 350.000 fotos do holandês Erik Kessels, reunidas a partir de imagens publicadas no Flickr em um período de apenas 24 horas. A instalação já havia sido montada em Arles, na França, há dois anos. A curadora chama a atenção para a metáfora da instalação do artista, que traduz o volume absurdo de fotografias postadas na internet diariamente. “Poderíamos ter usado as paredes para expor as fotografias, mas optamos por deixá-las assim, porque o visitante não sabe o que ver primeiro”.
Esta foi a primeira vez em que a trienal contou com um curador externo, papel até então realizado pelo Deichtorhallen, centro de arte e fotografia local e principal endereço da evento. A escolha de Krzysztof Candrowicz, fundador do Fotofestiwal Łódź, mostrou-se correta: aos 35 anos, o polonês trouxe leveza e irreverência ao festival e buscou atrair um público mais jovem.
No pátio do Deichtorhallen, Candrowicz mandou instalar uma vila com 40 contêineres dispostos em círculo, nos moldes do que acontece no Photoville, festival de fotografia de NY, e no último Encontro de Coletivos Fotográficos Ibero-Americanos. Dentro das caixas havia mostras de dez festivais europeus e nove escolas de fotografia. Mas a proposta do curador não se limitou aos espaços internos. Durante os dez dias de festival, ocorreram festas com DJs e noites destinadas a um tema específico com projeções ao ar livre. O clima em Hamburgo, porém, não colaborou, e alguns dos eventos tiveram de ser remanejados para locais fechados, embora não menos interessantes.
Uma das noites do Containerdorf, como foi batizada a vila dos contêineres, foi dedicada à “New York Night of Photography”, assim como também houve uma “French” e uma “Asian Night”. Em um dos dias mais divertidos, o público foi incentivado a trazer algo para comer, enquanto a série “Medianoche”, do fotográfo espanhol Rafael Arocha, era exibida.
Com uma grande exposição e uma palestra, o fotógrafo londrino Phillip Toledano foi um dos destaques do festival. A mostra, entitulada “When Man Falls” (quando o homem cai, em tradução livre), apresenta cerca de 160 fotografias de seis séries, além de dois curtas e um documentário. O trabalho “Maybe” (2011-2015) é o carro-chefe da exposição e deu origem ao documentário “The Many Sad Fates of Mr. Toledano”, também exibido.
Para o trabalho, Toledano imaginou diferentes cenários para o seu futuro: “Como serei em 15, 20, 40 anos? Estarei rico, pobre? Serei feliz, estarei realizado? Estarei com saúde ou doente?”. Em testes de DNA e consultas com cartomantes e psicólogos, o britânico topou com várias possibilidades. Decidiu digeri-las em forma de fotografia com a ajuda de um time de maquiadores e atores. Segundo ele, a ideia para “Maybe” veio depois da morte do pai, que foi tema de um ensaio, também exposto em Hamburgo, o emocionante “Days With My Father” (2006–2009).
Toledano, que deixou Londres aos 18 para trabalhar como diretor de arte em Nova York, produz uma fotografia extremamente intimista –uma forma de digerir encruzilhadas pessoais. Durante a palestra, ele explicou por que decidiu fotografar temas íntimos como a morte do pai ou a dificuldade em amar a própria filha, tema de “The Reluctante Father”. “A maioria dos artistas não fala muito sobre a sua arte. Eu tento dialogar comigo mesmo e me livrar de qualquer amarra que me impeça de lidar com meus sentimentos”.
O artista também deu pistas sobre seu próximo projeto: “O título provisório é “The Hand of God” [a mão de Deus] e envolverá cerca de 20 personalidades do mundo artístico, entre músicos, artistas plásticos, atores hollywoodianos e fotógrafos badalados”, explicou. “Quero dizer que, no mundo das artes, você só é alguém se alguém que já é alguém afirmar isso. Vou brincar e produzir um projeto conceitual que envolverá mais do que somente fotografias”. Questionado sobre que fotógrafos chamam a sua atenção, Toledano despita.
“Para ser sincero, eu não tenho o hábito de me ocupar com o trabalho de colegas. Não me considero uma pessoa inteligente o suficiente para discutir fotografia ou arte. Faço uma exceção para o trabalho do mexicano Alejandro Cartagena, que realmente gosto muito. A verdade é que estou muito focado nas minhas próprias coisas, em compreender o meu próprio trabalho. Este é o meu ponto principal: entender as coisas que acontecem na minha vida.”
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Muito pobre sobre um assunto tão relevante e pertinente. Não têm o que acrescentar em minha carreira. Absolutamente nada.