‘A Grande Seca’, de Ronald Ansbach

DAIGO OLIVA
Fotos: Eduardo Knapp/Folhapress

“A Grande Seca”, de Ronald Ansbach (Editora Madalena) –
Dá dó abrir a embalagem do fotolivro de Ronald Ansbach. Embrulhada à vácuo, a publicação é um objeto muito curioso, daqueles que dá vontade de ter dois exemplares: um para manter sua concepção intacta, e outro para a leitura. Embora o título do trabalho faça relação com a atual crise da água em São Paulo, seu sentido é mais amplo, e engloba –por meio de antagonismos– muitas outras características da capital paulista. Assim, em vez do trânsito caótico, quase não se vê carros em movimento; em vez do mar de gente que circula todos os dias pela cidade, não há ninguém transitando pelas ruas.
Os registros concentram esse silêncio monumental de edifícios e concreto. Mas o que poderia ser mais uma série sobre as mesmas questões sobre São Paulo foi salvo pela forma como a publicação foi estruturada, proporcionando novas possibilidades de encaixe entre as imagens. Com o mesmo raciocínio de “(based on a true story)”, fotolivro do americano David Alan Harvey, cujas páginas foram publicadas soltas, “A Grande Seca” também mistura paisagens. É um jogo muito interessante, com combinações espertas e outras um tanto óbvias. Nesse ponto, a obra de Harvey, com fotografias do Rio completamente diferentes entre si, causa um impacto maior, pois suas conexões são milagrosas. Já no livro de Ansbach, na maioria das vezes, rua encaixa com rua, prédio encaixa com prédio, parede encaixa com parede. Ainda assim, a obra é uma síntese muito bonita sobre como São Paulo é um lugar construído sem nenhum planejamento urbano, onde casas e prédios se encavalam sem sentido, além do acabamento editorial primoroso.

Avaliação: bom 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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