Lucas Lenci exclui protagonismo das paisagens para se centrar no humano
Há dois anos, quando Lucas Lenci lançou o fotolivro “Desaudio”, as imagens do paulistano exibiam paisagens calmas e monumentais. A presença humana, destacada em uma fotografia ou outra, aparecia sempre como coadjuvante.
Agora, na exposição e livreto que o fotógrafo lança nesta terça-feira (11), suas atenções recaem sobre como o homem interage com o ambiente que habita e como nossas atitudes interferem na evolução de cada um. Para isso, produziu registros que tivessem elementos cortando as imagens e dividindo-as em dois.
É como se Lenci tivesse demarcado os territórios de acordo com os espaços escolhidos por seus personagens. Num zoológico, dez pessoas observam um animal invisível no quadro, ao mesmo tempo em que a jaula do bicho parece encarcerar os espectadores da cena. Em outra imagem, um homem aparece fazendo palavras cruzadas rodeado pela vegetação de um parque em Chicago.
No caminho contrário às imagens coloridas, o paulistano ainda trabalha sobre o espaço com uma série de composições em que empilha panorâmicas em preto e branco, como se brincasse com a tradição da fotografia de rua.
“Hominini”, como o trabalho foi batizado, refere-se a uma tribo de primatas que inclui chimpanzés e o próprio homem. Mas, embora o nome faça ilusão a algo grandioso, como se tratasse da evolução da espécie “desde que a Terra é Terra”, o fotógrafo diz que seu tema é o progresso do comportamento humano no nível diário. Contribuiu para isso o nascimento de sua segunda filha, pela qual foi possível traçar um paralelo com atitudes tomadas no cotidiano.
“Filhos mudam totalmente sua perspectiva. Você começa a ver que toda a fichinha que coloca neles, todo dia, toda hora, vai contribuir para aquilo que eles serão”, derrete-se Lenci. “Estou no segundo, mas todo dia é como se fosse um filho novo.” Se as imagens em “Desaudio” eram centradas em horizontes de uma maneira quase impessoal, outra mudança na abordagem do fotógrafo neste trabalho é a inclusão de imagens que fazem parte de sua vida íntima.
O que antes era tratado como tabu ainda não foi quebrado por completo, mas Lenci passou a usar fotos de seus filhos na série agora exposta. Essa “barreira mental”, como ele define, só não foi derrubada por receio de sua mulher, que se sentiu desconfortável com a inclusão de uma imagem em que sua filha tomava banho de luz na maternidade observada pelo filho de um amigo.
Embora o registro esteja na exposição, ela não foi parar no livreto de 16 páginas, que vem dentro de um envelope com mais 14 fotografias soltas.
“No ambiente da galeria, você controla tudo. A foto está exposta para contar a história, as pessoas vêm, entendem e tudo bem”, explica o fotógrafo.
“Mas no livro, ainda mais sendo uma lâmina solta, cai um pouco na vida. Como artista, não me incomodo, mas sou casado e tenho que administrar a censura domiciliar”, continua ele, com bom humor. “Minha mulher demostrou desconforto e a gente teve que… Tudo bem. Mas, sinceramente, esquecendo que sou pai, usando o chapéu de artista, a mensagem é muito mais importante do que a criança que está lá. Infelizmente, ou felizmente,
sei lá, a gente trabalha com o mundo real, com o tudo que está lá.”
“Hominini” marca também a estreia da série “Pequenos Formatos”, publicado pela editora Madalena. Na feira SP-Arte/Foto, entre os dias 20 e 23 de agosto, outras publicações da série estarão disponíveis para venda. Além de Lenci, há exemplares de Claudia Jaguaribe e do uruguaio Christian Rodriguez.
HOMININI
ARTISTA Lucas Lenci
QUANDO abertura na terça (11), às 18h, de segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, apenas por meio de agendamento; até 4/9
ONDE Galeria ArtEEdições, r. Estados Unidos, 1162, tel. (11) 3031-0142
QUANTO grátis
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A primeira imagem é bem interessante. Parabéns pelo post. Valeu pela dica!
também é a que mais gosto, caio. abraços!