‘Until Death…’, de Thomas Sauvin

DAIGO OLIVA

‘Until Death Do Us Part’, de Thomas Sauvin (Jiazazhi Press) – A realidade é sempre maior do que a ficção. Sempre. Neste caso, ao menos aos olhos ocidentais. Nos casamentos chineses, há uma tradição em que a noiva deve acender os cigarros de todos os homens convidados da festa. A partir daí, tanto ela quanto o noivo iniciam uma série de brincadeiras que envolvem desde garrafas pet, com furos para acomodar vários cigarros ao mesmo tempo, até disputas por uma maçã amarrada a uma corda. Muitos dos jogos têm cenas indescritíveis, tamanha a bizarrice. “Until Death Do Us Part” é parte da pesquisa “Beijing Silvermine”, do francês Thomas Sauvin, que recuperou 500 mil negativos produzidos entre 1985 e 2005 e condenados à reciclagem de prata em um lixão em Pequim. Ao fazer seu fotolivro nas mesmas proporções de um maço de cigarros, Sauvin oferece mais do que a reunião e a edição do material recuperado. Ele proporciona ao leitor uma experiência similar à aquela vivida nas cerimônias. A marca Shuangxi, que estampa a embalagem da publicação, é de fato uma empresa de cigarros chinesa. O significado da palavra é “dupla felicidade vermelha” e, por isso, é associada aos matrimônios. Não consegui confirmar se a caixa foi feita para o livro ou se o autor utilizou embalagens usadas. No caso da segunda opção, a experiência é total, incluindo o cheiro dos cigarros. É provável que este seja o menor fotolivro que já comprei, mas a relação custo-benefício é garantida. Ainda que tenham proporções diminutas, as imagens podem ser visualizadas sem problemas, e a forma como a obra foi estruturada faz com que suas páginas abram sem esforço. Nostálgicos celebrarão um tempo em que cigarros eram onipresentes e o mundo não era tão cheio de regrinhas.

Avaliação: ótimo 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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