De Dentro #27

DAIGO OLIVA

Quem acompanha o blog desde o início deve se lembrar da seção De Dentro. Um convidado elege uma imagem importante em sua vida –uma foto, uma pintura, uma capa de disco, um cartão postal, o que vier a cabeça– para relembrar memórias ou relatar o porquê daquela figura ser tão fundamental.

A última vez em que publicamos um relato desse tipo foi há mais de dois anos, em julho de 2013. Agora, o artista plástico e arquiteto Almandrade, que expõe a partir de sábado (22) em São Paulo, na Galeria Baró –veja as informações sobre a mostra no fim da postagem–, enviou-nos um texto sobre a escultura que instalou no campus da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, parte da terceira edição da Bienal da Bahia, realizada no ano passado.

Essa escultura era um sonho de artista e estudante de arquitetura. Desde o final da década de 1970, pensei em instalar em Salvador uma escultura pública que levasse em conta a luminosidade da cidade. Quando a curadoria da 3ª Bienal da Bahia, em 2014, me convidou para realizar um dos meus estudos de escultura como um legado para a cidade, nem acreditei.

Pensei que não seria realizada. Os curadores fizeram a escolha da maquete, e partimos para encontrar o local ideal, o campus da UFBA (Universidade Federal da Bahia) –sugestão que deu certo. O artista tem responsabilidade e cumplicidade quando leva seu trabalho para a rua. Não é simplesmente colocá-lo na praça sem passar por um processo de reflexão e de adaptação ao espaço público. Vivemos num mundo dominado pela imagem, e a arte deve ser a imagem que desvia o olhar para o pensamento e para o poético.

A escultura foi pensada para um lugar onde o transeunte pudesse interagir. Com as cores primárias –azul, vermelha e amarela–, os planos se encaixam para ocupar um lugar no espaço. Os acasos da natureza não foram desprezados, luz e sombra participam da composição da peça e colaboram na sua dimensão lúdica. Como não lembrar as fantásticas peças de Franz Weissmann ou os labirintos de Hélio Oiticica? A arte tem sua memória.

No lugar onde foi colocada, a escultura dialoga com os prédios ao redor e o verde da paisagem. Entre escultura e arquitetura, um abrigo para o olhar e o corpo. Sem dentro nem fora. A depender de onde se olha, pode-se estar dentro ou fora. Abrigos não habitáveis, arquitetura do acaso, leve e lúdica.
Os planos se interpenetram e se apoiam mutuamente, criando uma situação de equilíbrio. Coloridas, divertidas, não negam uma sintonia com a tradição construtivista, o minimalismo e a arte conceitual.

DO POEMA VISUAL À POÉTICA DO PLANO E DO ESPAÇO
ARTISTA
Almandrade
QUANDO abertura no sábado (22), às 11h, de ter. a sex., das 10h às 19h,
sáb., das 11h às 16h; até 17/10
ONDE Baró Galeria – Galpão, r. Barra Funda, 216, tel. (11) 3666-6489
QUANTO grátis

Curta o Entretempos no Facebook clicando aqui.

Comentários

  1. É um enorme prazer poder apreciar a imagem de tão bela obra e acompanhada de um texto mediador,tão bem elaborado e esclarecedor.

Comments are closed.