SP-Arte/Foto tenta contornar crise com séries mais baratas e fotolivros
O texto abaixo foi publicado na “Ilustrada” desta quinta por Silas Martí.
Um pescador que vendia peixes na zona sul do Rio há quatro décadas não sai da cabeça de alguns marchands poderosos. Modelo de Alair Gomes, famoso por suas fotografias de belos rapazes cariocas, ele pode ter guardado alguns retratos feitos pelo artista que hoje valeriam fortunas.
Um dos nomes mais caros da SP-Arte/Foto, Gomes é um fenômeno que domina a feira de fotografia, agora no shopping JK Iguatemi –enquanto artistas consagrados nos últimos anos atingem preços sem precedentes, boa parte do mercado faz malabarismos para garantir vendas em tempos de crise, com séries a preços baixos ou editadas em livros.
Ou seja, o evento chega à sua nona edição com 31 galerias divididas entre atender um novo público colecionador, que busca obras de até R$ 10 mil, e aqueles com acervos mais robustos, dispostos a desembolsar até R$ 280 mil por uma série de Alair Gomes, artista morto aos 70, em 1992.
Mesmo com certo nervosismo diante da alta do dólar e da economia em retração, é provável que a obra de Gomes, que ocupa todo o estande da galeria Bergamin & Gomide, saia dessa edição da feira em seu patamar de preços mais alto –seu recorde em leilão, há sete anos, foi de R$ 16 mil. Esse valor agora não compra nenhuma obra do autor, cujos trabalhos com peso histórico ou impressões feitas por ele próprio são as mais caras no circuito.
FOTOLIVROS
Na tentativa de manter o mercado no azul, galerias têm aumentado a tiragem de algumas imagens para baixar os preços –a Luciana Brito criou para a feira edições especiais de séries de artistas como Rochelle Costi, Caio Reisewitz, Héctor Zamora e João Luiz Musa –com 60 exemplares, cada fotografia sai
por R$ 2.500. Também mais baratos que impressões para pendurar na parede, os fotolivros têm mais peso nesta SP-Arte/Foto.
“É um interesse crescente”, diz Fernanda Feitosa, diretora da feira. “Isso está se expandindo e encontrando ressonância entre os colecionadores.” Não por acaso, duas editoras marcam presença no evento neste ano –a Schoeler e a Madalena, que faz sua estreia na SP-Arte/Foto. Esta última, aliás, tem algumas das opções mais em conta do evento, com livros de pequenas tiragens de 200 exemplares por R$ 60. Entre os artistas, nomes como
Claudia Jaguaribe, Lucas Lenci e o uruguaio Christian Rodriguez.
Na galeria Carbono, Gustavo Speridião cria um híbrido dessa tendência. Ele vende um livro de artista com intervenções fotográficas e, ao mesmo tempo, ampliações individuais de cada página, que podem ser penduradas na parede como uma foto –o livro sai por R$ 18 mil e cada ampliação custa R$ 1.200.
Curta o Entretempos no Facebook clicando aqui.