‘Ramos’, de Julio Bittencourt
‘Ramos’, de Julio Bittencourt (Cosac Naify e Editora Madalena) – É curioso como trabalhos importantes da fotografia brasileira publicados há alguns anos vêm sendo relançados como fotolivros. Ocorreu dessa forma com “Albinos”, de Gustavo Lacerda, ganhador do Conrado Wessel em 2011 e publicado no ano passado pela editora Madalena, e ocorrerá da mesma maneira com “Ninguém É de Ninguém”, de Rogério Reis, prestes a virar livro pela edições Olhavê. “Ramos”, de Julio Bittencourt, segue essa trajetória.
Em 2009, o ensaio sobre o piscinão de Ramos, no Rio, começou a aparecer com frequência na imprensa e logo conquistou o prêmio Porto Seguro de Fotografia. Agora, por meio de uma parceria entre Cosac Naify e editora Madalena, a série feita de tintas sarcásticas e de formas generosas que transbordam de biquínis e sungas torna-se livro. Enquanto o blondor escorre pelas páginas, e um sem número de corpos suados desfilam, a capa estampa letras douradas –bem no estilo ostentação. É um acerto do projeto gráfico –de ótima qualidade de impressão–, embora carregue o pesadelo constante das publicações brasileiras: as páginas não abrem por inteiro, e é preciso forçar o livro para ver as fotos. No pior caso, a imagem de uma mulher de costas, com litros de bronzeador e usando fio-dental, está exatamente no centro de uma página dupla. O registro virou qualquer outra coisa que não a foto pensada pelo artista –parece que a personagem fez uma lipoaspiração. Se as imagens remetem à acidez e à temática da obra de Martin Parr, a referência é declarada. O próprio britânico escreve o texto do livro, no qual coloca Bittencourt entre os dois fotógrafos de praia que o impressionou. Há muitos que reclamam desse tipo de abordagem sobre camadas populares, que traria um olhar supostamente de superioridade sobre os retratados. Discordo. Em várias imagens, Bittencourt opta por esconder os rostos. Em outras, é inevitável não mostrar suas expressões. Quando feitas com consentimento dos personagens, as fotos me parecem ainda mais justas. Além disso, em lugares públicos como o piscinão, não vejo como ser completamente honesto, justo ou qualquer outro adjetivo que contemple a sanha do politicamente correto. Talvez quem critique essa abordagem acredite que ser flagrado com blondor, comendo farofa ou dando uns malhos na areia diminua alguém.
Avaliação: bom
Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.
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Bem observado quanto as edições brasileiras não levarem em conta a dificuldade da dobra da página em apresentar fotografias cujo elemento principal fica no centro da imagem. Isso quebra várias possibilidades de apresentação do trabalho e diminui em muito a interação com quem está vendo o livro.