Imagens do jornal ‘Última Hora’ quase viram lixo e ganham exposição em SP
O texto abaixo foi publicado na “Ilustrada” por Fernanda Mena.
Elas quase viraram lixo, mas foram salvas, primeiro por uma operação clandestina e agora por uma digitalização a ser concluída em abril de 2016, mas que já ganhou exposição em São Paulo. São 166 mil ampliações e 600 mil negativos resgatados da massa falida da “Última Hora”, jornal criado em 1951 por Samuel Wainer que revolucionou o jornalismo da época ao abusar de fotos e apostar nas coberturas esportiva, policial e de música popular.
Noventa imagens foram selecionadas para a mostra “Última Hora – Imagens de um Acervo”, no Arquivo Público do Estado, com curadoria de Vladimir Sacchetta, que descobriu, ao pesquisar o material, a imagem da presidente Dilma, aos 22, sendo interrogada numa Auditoria Militar em 1970. “Diante da quantidade de imagens maravilhosas e das surpresas que o acervo revela, criei uma narrativa possível a partir de temas”, explica Sacchetta.
Nem ele sabia, no entanto, que essas 166 mil ampliações representam só um terço do total de imagens do arquivo da sede do jornal, no Rio. Fundado para dar sustentação ao segundo mandato de Getúlio Vargas (1951-1954) e se contrapor ao discurso de seu principal antagonista, Carlos Lacerda (1914-1977), membro da UDN, o jornal foi perseguido a partir do golpe militar.
Sua sede foi invadida, a redação, destruída, e seu diretor, exilado. Poucos anos depois, o título era vendido e a sede, abandonada, abrigava a massa falida da empresa. Quando foi noticiado que o acervo seria vendido como papel velho, Pinky Wainer, filha de Samuel Wainer, e seu marido à época, o produtor de TV Roberto Oliveira, criaram uma operação clandestina para salvá-lo.
“Alugamos uma jamanta e levamos os armários de metal para um sítio”, revela Pinky. Lá, o material foi selecionado com a ajuda de estudantes de jornalismo. Um terço foi guardado. Eram fotos de política, cultura, Carnaval e esporte –o restante voltou ao Rio, para não levantar suspeitas.
As fotos foram adquiridas em 1989 pelo então secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Fernando Morais, e enviadas ao Arquivo Público do Estado. Em 2012, com financiamento de R$ 585 mil da Petrobras, passaram por um processo de catalogação, higienização e digitalização, que deve disponibilizar todas as imagens on-line em 2016. “O mais marcante no acervo são as marcas de edição nas fotografias: dobras, realces, iluminação e montagens”, explica Jacira Berlink, uma das responsáveis pelo processo. A Folha é detentora de outro acervo da “Última Hora”, com 420 mil negativos de 1960 a 1969.
Curta o Entretempos no Facebook clicando aqui.