‘Island in My Mind’ é como um carro descendo uma ladeira na banguela

DAIGO OLIVA

‘Island in My Mind’, de Irina Rozovsky (editora Verlag Kettler) –
Irina Rozovsky parece um carro desgovernado, descendo uma ladeira na banguela. “Island in My Mind”, que venceu o Dummy Award –prêmio dedicado a bonecos de fotolivro– do ano passado, é solto, fluído e ao mesmo tempo imprevisível e sem controle. Passa longe de todos os estereótipos possíveis de um trabalho sobre Cuba. Nada de fachadas ou carrinhos antigos e coloridos. Tampouco há referências ao comunismo. A decadência da ilha não aparece aqui saudosista e charmosa, mas crua, suja e torta, como se tudo estivesse, de alguma maneira, fora do lugar. Os cortes dos enquadramentos são abruptos e um elemento banal e tosco sempre aparece para nos lembrar de que o magnífico já se foi. Em uma foto, um enorme espelho de moldura rococó está sobre uma mesa com tampo de mármore. No chão, ao lado, uma garrafa pet em um saco plástico “estraga” tudo. Vira-se a página e o que se vê é uma pequena bailarina: mãos e uma das pernas no chão, olhar vazio, nada da elegância ou leveza que se espera. Esta sensação de ruído é reforçada pelo encadernamento com espiral, que divide e fura as páginas duplas. Por outro lado, o que explica a potência criada ao juntar imagens improváveis? Irina, nascida em Moscou mas criada nos Estados Unidos, desfila dezenas de exemplos de como editar fotografias. Cria novas cenas, faz humor, transforma horizontal em vertical, indica pausas precisas. Sobre o que é o livro? Não sei. Reproduzo a frase do escritor cubano Reinaldo Arenas que abre “Island in My Mind”: “E então, no final, eles viram o país e o contrapaís —porque todo país, como todas as coisas neste mundo, tem o seu contrário…”

Avaliação: ótimo 

Haikai: em críticas curtas, o blog comenta fotolivros lançados neste ano.

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