Fotografia documental é o gênero preferido para o público brasileiro de fotolivros, revela pesquisa

DAIGO OLIVA

Um fotógrafo profissional, entusiasta de fotolivros, mas que compra publicações ocasionalmente, geralmente até cinco por ano, quase na maioria das vezes com base em informações que consegue em blogs ou sites sobre fotografia, aos quais recorre semanalmente. Este é, grosso modo, o perfil de quem consome fotolivros no Brasil de acordo com pesquisa coordenada por Carlos Henrique de Siqueira, professor visitante do departamento de história da Universidade de Brasília, junto aos fotógrafos Felipe Abreu, Fabio Messias, Silvino Mendonça e a bibliotecária Renata Baralle.

O levantamento tomou como base um questionário britânico lançado em novembro pela fotógrafa canadense Tiffany Jones que, segundo Siqueira, explorava quase exclusivamente a questão do consumo. “Na nossa pesquisa procuramos ampliar o escopo. Além do consumo, que é importante, acrescentamos questões para tentar captar os hábitos de leitura ou usos do fotolivro. E também tentamos traçar um perfil socioeconômico deste leitor”, explica o professor de 42 anos.

Duzentas e vinte pessoas responderam ao questionário, inédito no país, número que, para Siqueira, representa uma amostra significativa do universo das publicações, levando em conta a “extrema segmentação desse gênero de livros”. “Uma pesquisa feita pela internet, no entanto, sem uma metodologia pré-definida de controle de amostragem por renda, idade ou localização geográfica tem suas limitações, e os resultados devem ser analisados tendo esse fator em mente”, diz.

Entre os dados que mais chamam a atenção está a confirmação de que o público de fotolivros é composto, em sua imensa maioria, por pessoas que têm ligação umbilical com a área. Apenas 11,5% dos respondentes afirmaram não exercer atividades relacionadas às artes visuais ou à fotografia ou escolheram a opção “outros”. Já artistas e fotógrafos –amadores ou profissionais– somam 60% do total, enquanto professores, estudantes de fotografia e curadores são responsáveis por 28,5% das respostas. Para o coordenador da pesquisa, a leitura desses dados confirma a tese de que as fronteiras entre produtor e consumidor no campo da arte são cada vez menores.

Embora a maioria dos respondentes se localize nas faixas mais altas de renda, “de três a oito vezes maior que a média nacional de 2015, de R$ 1.113”, como conta Siqueira, 40,5% dos entrevistados disseram comprar cinco fotolivros por ano, seguidos de uma parcela de 21,5% que consome até dez publicações no mesmo período. Na média anual, para desespero deste setor editorial, 62% dos respondentes não chegam a comprar nem um livro por mês.

Em relação ao design das publicações, a pesquisa indica predileções interessantes. Os brasileiros gostam de livros de capa dura, com projetos gráficos inovadores e edições feitas de modo artesanal. Entre os gêneros, a fotografia documental é a preferida (48,2% disseram se “interessar muito”), seguida de perto por livros de arte baseados em fotografia (44,1%), o que “desfaz um pouco a ideia de que são gêneros antagônicos”, explica Siqueira. Logo depois vêm obras sobre fotografia de rua (42,7%). Mas qual é o tema mais impopular? Moda: 30,9% disseram não gostar do gênero.

E o que seria essencial para incentivar um possível consumidor a comprar um fotolivro? Para 54% dos respondentes, a indicação de um amigo. Conhecer o autor, assim como a sua reputação, também são vitais para mais de 40% dos entrevistados. Nada, porém, chega perto de conhecer a obra fisicamente, que arrebata 75%. A falta de livrarias especializadas no país pode explicar o baixo consumo interno, ao mesmo tempo que responde pelo sucesso das feiras como a Plana e a Tijuana.

Para 41,8% dos entrevistados, a faixa de preço ideal para um fotolivro de alta qualidade é entre R$ 80 e R$ 100, enquanto 24,5% responderam que o valor mais alto que pagariam por uma obra pela qual teriam grande interesse está entre R$ 120 e R$ 150. O preço é o fator que mais dificulta a compra de títulos. “Há algo na ligação afetiva entre o leitor e o fotolivro que é diferente da relação usual com os livros. Tudo isso parece indicar um cenário favorável para expansão da produção, coisa que parece estar acontecendo, mas a crise econômica atual pode fazer esse entusiasmo retroceder bastante, já que uma parte importante desse setor é dolarizada”, afirma Siqueira.

Para ver a pesquisa completa é possível fazer o download do arquivo clicando aqui.