Revista ‘Zum’ lança décimo número com bate-papo no MAM de São Paulo; leia trecho de reportagem
No sábado (9), a revista “ZUM” promove o lançamento de sua décima edição com um bate-papo entre os fotógrafos Tatewaki Nio e Michael Wesely e o crítico de arte Guilherme Wisnik. O evento ocorre no auditório do MAM-SP (Museu de Arte Moderna), durante a feira SP-Arte.
No mesmo dia, o IMS (Instituto Moreira Salles), responsável pela publicação da revista, anuncia a abertura das inscrições para a 4ª edição da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS. Cada bolsa tem o valor de R$ 65 mil, e os selecionados terão oito meses para a entrega dos projetos, que serão incorporados ao Acervo de Fotografia do IMS. O objetivo é selecionar dois projetos inéditos, sem restrição de tema, perfil ou suporte. A bolsa já premiou nomes como Barbara Wagner, os coletivos Trema e Garapa, além de Letícia Ramos. As inscrições vão até vão até 24 de junho.
O novo número da revista traz uma série inédita de Odires Mlászho, os experimentos fotográficos de José Oiticica Filho e a íntegra do já clássico ensaio “As Irmãs Brown”, de Nicholas Nixon, acompanhado de entrevista realizada por Sarah Meister, curadora do departamento de fotografia do MoMA. Outros destaques são a série “Escritório”, do sueco Lars Tunbjörk, morto no ano passado e venerado pelo blog, e “Sobreposições”, trabalho do ucraniano Boris Mikhailov.
A “ZUM” ainda publica um texto sobre o Canal Motoboy, projeto desenvolvido pelo artista espanhol Antoni Abad entre 2004 e 2015. Abad criou o Megafone.net, um canal de internet que dá voz a grupos discriminados socialmente, como taxistas na Cidade do México e imigrantes em Nova York. Na versão brasileira, o artista entregou celulares com câmera a motoboys de São Paulo para que registrassem sua rotina. Fotos e vídeos expunham em tempo real o cotidiano da rua e os momentos de lazer. O projeto ajudou a dar visibilidade ao grupo e redefinir alguns estereótipos. O texto é de Daigo Oliva, autor do Entretempos. Leia abaixo um pequeno trecho da reportagem.
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Próximo à avenida Rudge, na região central de São Paulo, o motoboy Ronaldo Simão da Costa publica a foto de um cachorro que encara a câmera de seu telefone celular. Ele anexa à imagem um arquivo de áudio de apenas seis segundos. “Alô, alô, teste?”, ensaia, verificando o funcionamento do sistema do canal*Motoboy, um publicador on-line de áudio, foto e vídeo que faz parte do projeto Megafone. A pergunta, feita em 1 de agosto de 2015, fecha o ciclo iniciado por Ronaldo quase nove anos antes, quando inaugurou sua participação na iniciativa do artista catalão Antoni Abad com a foto de um bebê de óculos escuros e com a língua de fora. Na legenda, uma frase mais imponente do que a da fotografia do cão: “Essa é a minha vida”.
Daquele momento em diante, imagens de sua família intercalaram-se com milhares de registros da cidade, de cenas que se repetem diariamente – engarrafamentos e acidentes envolvendo colegas de profissão – a eventos singulares, como uma tentativa de suicídio numa ponte da zona oeste de São Paulo, de onde um homem, “cansado dessa vida louca”, ameaçava se atirar abraçado a uma garrafa de pinga. Assim como Ronaldo, outros 16 motoboys se tornaram cronistas da metrópole a partir do final de 2006, quando Abad deu a eles telefones celulares com câmera, algo que começava a se popularizar na época, e os incentivou a documentar em tempo real o cotidiano de uma classe detestada no imaginário comum da cidade.
O paulistano ama odiar os motoboys. Ao mesmo tempo imprescindíveis, graças à agilidade nas entregas que realizam em meio ao truculento trânsito de São Paulo, esses profissionais se tornaram sinônimo do comportamento agressivo que se disseminou entre parte significativa da classe.
A “vida loka” dos cachorros loucos tem números impressionantes. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego do município, dos 28.618 acidentes de trânsito com vítimas em 2014, 49% envolveram motociclistas. Na média de vítimas fatais desse mesmo ano, 1,2 das 3,4 mortes diárias foram de pessoas que dirigiam motos. Embora o estudo use a palavra “motociclista”, e não “motoboy”, no dia a dia não faz muita diferença: a ligação entre a imagem da categoria e os acidentes com motocicletas está cristalizada há anos.
Ao olhar para grupos como esse, Abad vislumbrou a criação do projeto Megafone.net, no qual um conjunto de ferramentas de comunicação era oferecido a categorias marginalizadas para que pudessem se expressar. Além do trabalho com os motoboys, ele distribuiu celulares e montou um publicador de áudio, foto e vídeo para prostitutas em Madri; imigrantes nicaraguenses em San José, na Costa Rica; ciganos em León e Lérida, na Espanha; e cadeirantes em Barcelona, Genebra e Montreal. Mas foi em 2004, com 17 taxistas, na Cidade do México, que Abad colocou o projeto em prática pela primeira vez. A experiência serviu de ensaio para a ação em São Paulo, cidade na qual o Megafone havia sido idealizado um ano antes.
Leia a matéria na íntegra na edição #10 da revista “ZUM”.
ZUM #10
LANÇAMENTO sábado (9), às 15h, no MAM (Museu de Arte Moderna), pq. Ibirapuera, portão 3
QUANTO R$ 57,50 (184 págs.)
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